Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Publicidade compartilhada engorda a receita de sites

A internet é considerada um eldorado para empreendedores com “a cabeça cheia de ideias e o bolso vazio”. São inúmeros os casos de pessoas que, usando o computador de casa, deram início a negócios online milionários. Obter uma receita relevante com anúncios online ficou mais fácil nos últimos anos com os serviços de compartilhamento de publicidade oferecidos por grupos como Google e BuscaPé. Para muitos sites, esses programas se tornaram a sua principal fonte de receita.

O casal de curitibanos Tania e Guilherme Barthel passou por todas essas experiências. Gui Barthel, como é mais conhecido, fundou o Baixaki, um site de download de programas e jogos, em 2000, quando estudava Ciência da Computação na Universidade Federal do Paraná (UFPR). Ele e a mulher usavam o computador de casa após a meia-noite – horário em que a conexão discada era mais veloz – para administrar o site. “Só em 2003 o site começou a atrair anunciantes”, diz Barthel. Quando o Baixaki atingiu uma audiência de 2 milhões de usuários únicos por mês, Barthel recebeu uma proposta para hospedar o site no portal iG. Em 2004, ele adotou o serviço AdSense, do Google, recém-lançado no Brasil. “No primeiro ano, o programa respondeu por mais de 90% da receita do site.”

Com o caixa reforçado, o casal abriu outros sites: Tudo Gostoso, Baixaki Jogos, Minha Série, Tecmundo e Toda Ela. Juntos, os seis sites têm uma audiência de 60 milhões de visitantes únicos por mês, segundo Barthel. Em 2011, a empresa registrou receita de R$ 20 milhões, com crescimento de 40%. “Atualmente, 30% da receita é obtida com o programa do Google. Mas no começo, a adesão ao AdSense foi fundamental à nossa sobrevivência”, diz Barthel. A maior parte de sua receita é obtida com venda direta de publicidade ou por meio de portais.

Venda de espaço publicitário

Os empreendimentos de Barthel estão entre mais de 2 milhões de sites incluídos no programa do Google. Todos são cadastrados, com informações sobre o tipo de conteúdo publicado e de publicidade desejada. O Google distribui entre esses sites os anúncios oferecidos pelas agências de publicidade, conforme o perfil de cada site e o público que os anunciantes desejam atingir. Os anunciantes pagam por cliques, e essa receita é compartilhada. O Google repassa aos sites entre 51% a 68% da receita obtida com o anúncio.

O programa do Google movimentou no mundo US$ 10,4 bilhões em 2011, com crescimento de 18,1% em relação ao ano anterior. A companhia não divulga dados de receita por país. Mas, conforme dados do Ibope Nielsen, a publicidade total na internet brasileira atingiu R$ 5,4 bilhões no ano passado, 69% acima de 2010. De acordo com dados da consultoria comScore, 95% dos sites brasileiros participam do programa de publicidade do Google. O Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) estima que existam no país 2,7 milhões de sites ativos com a extensão “.br”.

Alberto Menoni, diretor de parcerias online do Google para América Latina, afirma que o número de adesões ao AdSense cresce a uma taxa média de 30% ao ano. “Dificilmente um site médio ou pequeno contrata equipe comercial para vender espaço publicitário, o que torna o programa atrativo”, afirma. O programa é mais procurado por sites de conteúdo, embora empresas de comércio eletrônico também participem.

“50% da receita foi obtida com anúncios”

O principal concorrente do Google é o BuscaPé, que lançou há três anos o serviço de compartilhamento de anúncios Lomadee. O programa conta com 80 mil afiliados, entre blogs e sites de notícias, e cresceu 143% em 2011, segundo Guilherme Stocco, vice-presidente de desenvolvimento de negócios do BuscaPé e responsável pelo serviço. “A distribuição de publicidade é feita para sites e também para perfis do Twitter e do Facebook, o que torna o serviço mais atrativo para blogueiros”, afirma Stocco.

Menoni, do Google, diz que o AdSense recebe uma grande procura de sites fora do eixo Rio-São Paulo, onde se concentram as agências de publicidade. Do total de sites cadastrados no programa, 56% estão fora desses estados.

O Jus Brasil, especializado em notícias jurídicas, com sede em Salvador, está entre eles. Fundado em 2008, iniciou as operações cadastrado no programa do Google. “Nos primeiros dois anos, mais de 50% da receita foi obtida com o programa de anúncios”, diz Luiz Paulo Pinho, sócio do Jus Brasil.

Fonte de atração de anúncios e audiência

O site reúne informações como decisões judiciais, legislações publicadas nos diários oficiais e artigos da área jurídica. Por dia, o site registra uma média de 100 mil novos documentos jurídicos. De acordo com Pinho, o site tem 6 milhões de usuários únicos por mês. Além da publicidade, a Jus Brasil tem como fonte de receita a assinatura com serviços para escritórios de advocacia. Atualmente, a empresa possui 600 escritórios associados, que pagam uma mensalidade de R$ 49,90 por mês.

Edson Bergamo, sócio do site de entretenimento Kboing, observa que os serviços de compartilhamento de anúncios também favorecem a expansão de empresas localizadas fora das capitais. O Kboing foi fundado em 2000 e tem sede em São José do Rio Preto (SP). “É muito difícil conseguir negociar com agências de publicidade estando fora de São Paulo e do Rio. Os programas de compartilhamento facilitam essa aproximação com os anunciantes”, afirma.

O Kboing está incluído no programa do Google desde 2005. Bergamo diz que 70% da receita do site é obtida com o programa. O site também está filiado ao programa Lomadee, do BuscaPé, e está hospedado no portal Terra. “A hospedagem em portais é outra fonte importante de atração de anúncios e de audiência, para os sites que não têm recursos para investir em publicidade na internet”, afirma Bergamo.

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[Cibelle Bouças, do Valor Econômico]