A prisão, durante o fim de semana, de cinco jornalistas de alto escalão do tabloide The Sun, da News Corp., suspeitos de terem subornado funcionários públicos, aumentou ainda mais a crise na divisão inglesa do conglomerado americano de comunicações, pois as acusações agora vão além do jornal que originou o escândalo. As prisões podem levar Wall Street a debater novamente se a News Corp. deve desmembrar seus negócios de jornais, dizem os analistas. Embora a News Corp. tenha começado com jornais, eles hoje desempenham um papel relativamente pequeno na empresa, que se tornou basicamente um conglomerado de cinema e televisão. “Eu não vejo lógica em manter o negócio de jornais dentro de uma News Corp. consolidada”, disse Michael Morris, um analista da empresa Davenport & Co.
A resistência do diretor-presidente Rupert Murdoch descartou qualquer perspectiva de separação no passado, disseram pessoas a par da situação. Uma porta-voz da News Corp. não quis comentar o assunto. A News Corp. também é dona do jornal The Wall Street Journal. As revelações de práticas ilegais de reportagem no hoje extinto tabloide News of the World já custaram US$ 100 milhões à News Corp. com acordos judiciais e despesas de processo, além de ter forçado vários altos executivos a se demitirem.
The Sun é o jornal de maior circulação entre os publicados pela News Corp., com uma circulação diária de cerca de 2,7 milhões de exemplares. Além dos cinco jornalistas, a polícia metropolitana de Londres prendeu, no sábado, um oficial de polícia, um funcionário do Ministério da Defesa e um membro das Forças Armadas britânicas, sob suspeita de corrupção. Todos foram liberados na noite de sábado após pagamento de fiança e sem ter sido indiciados. A expectativa é de que Murdoch vá a Londres no fim da semana para conter as especulações de que The Sun pode ter o mesmo destino do News of The World caso mais irregularidades venham à tona. Uma pessoa a par da situação disse que Murdoch pretende assegurar aos empregados de The Sun que ele não tem nenhum plano de fechar o jornal.
Possíveis processos nos EUA
Em um e-mail enviado sábado a seus subordinados, Tom Mockridge, diretor-presidente da News International, a divisão britânica de jornais da News Corp., disse: “Vocês precisam saber que eu recebi garantias pessoais de Rupert Murdoch sobre seu total compromisso em continuar sendo o dono e a publicar o jornal The Sun.”
O analista da RBC Capital Markets David Bank disse que o debate sobre a separação provavelmente vai esquentar, se surgir a necessidade de isentar os outros negócios da News Corp. de obrigações legais oriundas das investigações. Promotores nos Estados Unidos enviaram uma carta à News Corp. no ano passado, solicitando informação sobre possíveis pagamentos feitos pelos tabloides da empresa a policiais ingleses. A iniciativa deveu-se ao Departamento de Justiça dos EUA estar investigando se a News Corp. não teria violado a lei americana sobre práticas de corrupção no exterior. Mas especialistas jurídicos disseram que a intensidade das investigações no Reino Unido afetaria qualquer processo nos EUA.
“Se as autoridades do Reino Unido tentarem obter condenações de peso baseadas em pagamentos indevidos da News Corp. a funcionários públicos do Reino Unido, isso deve ir contra os EUA buscarem suas próprias condenações”, disse Steven Tyrrel, ex-chefe da seção de fraudes do Departamento de Justiça dos Estados Unidos e sócio do escritório de advocacia Weil, Gotshal & Manges LLP. Um funcionário do Departamento de Justiça não quis comentar o assunto.
Lucro de jornais pode cair para até 11%
Os jornalistas de The Sun presos no fim de semana são o vice-editor, Goeff Webster, o repórter John Kay, o correspondente Nick Parker, o editor de fotografia John Edwards e John Sturgis, um integrante da redação. Nenhum deles estava disponível para comentários. “Estou chocado, como todo mundo, com as prisões de hoje, mas estou determinado a conduzir The Sun durante esses tempos difíceis”, disse o editor do jornal, Dominic Mohan, em um comunicado no sábado (11/02).
Na semana passada, o diretor de operações Chase Carey disse que o lucro operacional dos jornais britânicos da News Corp. deve cair “US$ 150 milhões ou mais” neste ano fiscal em meio às duras condições econômicas, enquanto a divisão de jornais australianos e o negócio de marketing integrado devem ter uma queda de cerca de US$ 100 milhões cada um. Isso sugere que a contribuição total do segmento de jornais pode cair para até 11% do lucro operacional, baseado nas diretrizes da empresa para crescimento e lucro. Em comparação, seu negócio de TV a cabo foi responsável por 55% da receita operacional, no ano fiscal de 2011.