Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Perda de tempo e de imaginação

Não consigo entender por que os intelectuais falam tanto do Big Brother Brasil, que é uma essência real de que nossa sociedade está doente, sem educação e completamente aculturada. De que adianta falar, escrever ou discutir se o programa faz tanto sucesso entre as diversas classes sociais no Brasil? Em muitas famílias, a grande discussão não é os rumos da economia, a corrupção desenfreada, nem as crises mundiais, e sim, o tal paredão que lembra assassinato, execução. A pergunta é o que esses intelectuais fazem para mudar a realidade do analfabetismo funcional num país onde temos pessoas letradas, porém ignorantes, em todos os lugares. Por que não se faz uma mobilização real e sem marketing para dificultar o sucesso com bizarrices e idiotices que são comuns na televisão brasileira?

De nada adianta falar, tem que adentrar nas escolas públicas,verificar os contextos da educação, fazer pesquisas reais e não apenas para abiscoitar as bolsas da universidade e das instituições de pesquisa, cujos resultados são pouco aplicados e os pesquisados são apenas objeto de pesquisa, sem envolvimento real nem intervenção na realidade constatada. Vemos em todo país a ignorância de um povo que vota em pessoas processadas pela justiça por roubo e todos sabem que isso deriva, principalmente, da falta de educação política, da falta de cultura da crítica e da reflexão. Infelizmente, nosso intelectuais são burgueses, não têm cheiro de povo nem conhecem a realidade das ruas, dos guetos, do êxodo rural, do favelamento e da violência e têm a função específica de produzir textos que são escritos e publicados sem nenhum questionamento.

Nossas universidades estão produzindo reprodutores de pensamento que apenas compilam teorias e não são originais em suas teses, reflexões e artigos que hoje são exigidos nos cursos de mestrado, doutorado e nas seleções das universidades públicas de nosso país. Os tais grupos de pesquisa são engessamentos que prejudicam a pluralidade de pensamento e os textos sem citações para os intelectuais são apenas textos, sem valor acadêmico. Triste, não?

O difícil é fazer a diferença

A realidade prova que programas como Big Brother farão grande sucesso, sim, pois temos um povo iletrado e com completa falta de intervenção na realidade, pois temos milhões de teóricos e poucos que realmente agem para a mudança. Nossa comunicação prefere figurinhas carimbadas para discutir os assuntos de hoje em dia, mas a realidade é que há pessoas pensando, fazendo cultura, discutindo a vida, lutando por um mundo melhor, mas, infelizmente, sem apoio, sem divulgação, sem reconhecimento acabam desistindo da luta e deixando tudo como está. Claro que haverá grande repercussão do sexo e da desgraça alheia na televisão e nos outros meios de comunicação, pois a má formação de grande parte dos jornalistas coloca uma espécie de viseira em seus olhos que não os deixa ver a realidade – não querem nem podem ser críticos no sentido de dar a notícia que o povo merece. Vivemos um caos de ignorância sem precedentes em que não há produção real inédita, e sim cópia de pensamentos de pessoas que viveram no século passado. Isso é ciência.

A educação perderá sempre para o sexo e para a desgraça, pois para a mídia é sempre melhor expor corpos ensaguentados do que ações de educação para o povo, o que reforça a ignorância e a completa falta de mobilização de nossa sociedade. Sugiro aos intelectuais que, ao invés de escreverem sobre o programa, intervenham na realidade, conheçam a vida nas favelas, apoiem e divulguem projetos eficientes nas escolas públicas e divulguem a boa educação, pois pode ser que através do exemplo alguém do povo se eduque. Sentar no computador e produzir textos é fácil, difícil é fazer a diferença.

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[Francisco Djacyr Silva de Souza é professor, Fortaleza, CE]