Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Conexão de egos

Manhattan connection, apresentado pela Globo News, revela um Brasil anestesiado. Um país de fim de expediente que, sentado à mesa, reflete sobre os problemas do mundo e do país com bom humor descompromissado, palavras ácidas e alguns argumentos pertinentes. Entre episódios bem orquestrados pelos jornalistas, há sempre o desagradável duelo de egos que subestima assuntos e prolonga comentários sobre temas menos relevantes. A conexão proposta nem sempre consegue estabelecer uma identidade entre os comentaristas e os locais de onde comentam. Leituras uniformes de um recorte do cotidiano (a partir de leituras de mídias) com pequenas divergências.

Há algumas semanas, a entrevista com Fernando Henrique Cardoso derrapava justamente quando deixava de ser entrevista, conversa, para ser uma troca de manifestação de egos. Na última semana, apresentou uma mídia cansada, sem identidade, perdida em comentários a conta-gotas, mais pautados pelo ego do que por uma análise de um profissional experiente em imprensa (como apresentam ser os apresentadores – e são, considerando o currículo de cada um).

Afora a conexão de egos, é de certa forma satisfatório percorrer os comentários, pois jogam assuntos no ventilador e narram o que observam acontecer, em ritmo frenético, deixando a sensação de que falta algo. Domínio próprio é estratégia para o bom narrador. O ego de um jornalista não deve conduzir sua narrativa ou análise do posicionamento midiático. A humildade, bom senso e estilo devem contribuir para a convergência de ideias e a conexão de olhares alhures.

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[Rudson Vieira é jornalista, Coronel Fabriciano, MG]