Um dos mais emblemáticos eventos da atualidade está para tomar lugar na cena mundial, mas independente de seu escopo e graves consequências as editorias de Internacional de nossos jornais parecem optar por, como dizemos, comer mosca.
Refiro-me à escalada do esforço de guerra a envolver o Irã, Israel e, de quebra, as nações mais militarizadas do Ocidente. A disposição das peças no tabuleiro prenunciam um capítulo extemporâneo à Segunda Grande Guerra, oficialmente encerrada em meados de 1945. Jornais israelenses dão conta que, ouvidas fontes militares em off, a ofensiva do país acontecerá em cerca de três meses e a imprensa estadunidense aposta suas fichas que o Israel bombardeará Qom – onde se situa o maior número de instalações nucleares do complexo persa – em no máximo seis meses. Mas todos soam unânimes na crença que de 2012 não passa.
E seria o momento de a grande imprensa aproveitar esses meses de uma hipotética contagem regressiva para analisar situações, prever desdobramentos, antever consequências financeiras e econômicas advindas do sensível mercado de petróleo e, também, qual seria a próxima configuração de forças na cena internacional.
Há de se convir que, devido a laços históricos, comerciais e financeiros teremos, de um lado, Estados Unidos, Israel, Reino Unido, França e outras coirmãs europeias. De outro, o Irã, que acompanhado de um punhado de pequenas nações de seu entorno formará uma tendência, uma ideologia, um credo. Resta saber como se alinharão a Rússia e a China, ambas grandes clientes da principal divisa iraniana, o petróleo.
Em miúdos
Com esses contornos, passou da hora de o assunto ocupar as capas das revistas semanais e dos jornais diários com maior circulação, e escalar as manchetes dos telejornais. Especialistas em Irã deveriam ser ouvidos. Aqueles em Israel, também. Mas o que temos é um simulacro de imprensa, abrindo espaço e tempo para matérias que em algum momento chegaram a ser importantes, mas agora têm apenas importância secundária: a crise grega, o desemprego espanhol, a insolvência de Itália e Portugal, a corrida pela Casa Branca. São crises que seguirão seu curso natural, atenderão às conveniências do calendário eleitoral de cada país e não passarão muito disso.
E algumas das veredas que permanecem intocadas pelos argutos comentaristas de política internacional são:
** Qual o poderio militar de Israel e como deveríamos supor um ataque bélico israelense às instalações nucleares iranianas?
** A que ritmo avança o domínio da tecnologia nuclear por parte de Teerã e qual seria a sua reação, considerando sua histórica pregação antissemita e os alardeados torpedos verbais do presidente iraniano propondo que “Israel seja varrido do mapa”?
** Em que difere a capacidade de reação militar do Irã daquela que mostrada pelo Iraque anos atrás?
** Existiria espaço para alguma atuação da Organização das Nações Unidas visando postergar (ou diluir) ao máximo o conflito?
A imprensa internacional não tem sido econômica em alinhar o avanço do terrorismo internacional, de matriz religiosa fundamentalista, com o financiamento e a proteção do regime iraniano. E, a se confirmarem tais ilações, precisamos saber o que esperar de um conflito armado envolvendo Israel e Irã.
Quanto à nossa imprensa, sabemos que a cantilena das próximas semanas deverá ser a de unir forças para que José Serra assuma de vez sua candidatura à prefeitura de São Paulo e abra, desde logo, clareiras para 2014. Mas é importante destacar que a Folha de S.Paulo acertou em cheio quando alocou um correspondente fixo em Teerã, o talentoso Samy Ardghini, que, em poucos meses, tem conseguido trocar em miúdos para os leitores brasileiros o que é a realidade iraniana, seus valores culturais e os meandros de sua política.
Mas ainda é pouco.
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[Washington Araújo é mestre em Comunicação pela UnB e escritor; criou o blog Cidadão do Mundo; seu twitter]