Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Predomina a inépcia jornalística

 

Jornais brasileiros, deixai por algum tempo de tremer: os portais ainda são uma ameaça frágil de concorrência no terreno da informação, da notícia – do jornalismo, então, nem se fala.

As seis imagens abaixo dizem tudo.

Só o G1 teve a competência de manter em manchete, por volta das 19 horas de quarta-feira (22/3), o grave acidente ferroviário em Buenos Aires, embora a notícia divida o espaço horizontal com o Carnaval.

Na mesma tela de computador, não é visível sem rolagem vertical a notícia argentina nos portais do Estadão (!!), do IG e do Terra (completamente perdido nas três primeiras telas da rolagem). Aparece em posição secundária no UOL (force a vista, leitor) e no Google Notícias.

 

 

 

 

 

 

 

Caminhada sem rumo certo

Conjugam-se, para esse resultado pífio, dois fenômenos. Primeiro, a concepção dos principais portais, que na maioria dos casos abandonaram, se é que tiveram, pretensões jornalísticas. Não sendo, não querendo ser, não devendo ser uma adaptação dos jornais à internet (para isso existem as edições digitais – entretanto pagas, ou de difícil acesso), ainda não conseguiram tornar-se alguma coisa convincente.

Talvez por isso, nos Estados Unidos, pesquisas indicam que um número crescente de indivíduos vão chegando à casa dos 30 anos e passando a assinar jornais, a “velha mídia”. Para adolescentes e jovens ainda não obrigados a “pensar na vida”, a mixórdia oferecida funciona.

O segundo fator é que os Web designers estão, na média, literalmente a séculos de distância dos diagramadores de jornais e revistas, que refinaram sua arte a cada inovação adquirida: fotografia, cor, eliminação de fios (reforma do Jornal do Brasil, década de 1950).

Em outras palavras: não conseguiram criar, ainda, algo que tenha qualidade visual equivalente à da mídia moribunda. Sua concepção é frágil e sujeita a espasmos: abre foto de carnaval, publica slideshow, tem que ter vídeo, e por aí afora.

Um enredo de promessas maravilhosas

Dentro desse sistema, os editores também ficam perdidos ao sabor das pesquisas, por refinadas que sejam. O número de cliques sempre terá vieses ditados por faixa etária, local de moradia, escolaridade, gênero, etc. Serve para fotografar um lapso de tempo, talvez não sirva para um entendimento menos fugaz.

Os responsáveis pelos portais não querem compromisso com o jornalismo convencional, mas não conseguem suprimi-lo. O mundo dos seus sonhos se reduz, diariamente, ou no fluxo contínuo do tempo, a uma realidade bem menos brilhante.

Sim, há maravilhas. A telemática é uma maravilha. Mas, uma vez transposta a fronteira do incogitado, a mente humana começa a perceber as deficiências da novidade.

A quantidade de promessas não cumpridas que este Observatório da Imprensa já viu desfilar na avenida das maravilhas tecnológicas, desde a chegada da internet ao Brasil, daria para encher um enredo inteiro.

Jornalistas, nada de sofrer por antecipação. O que desafia as redações – de jornais impressos ou distribuídos em plataformas digitais, tanto faz – não é exatamente uma novidade. Que seu produto tenha mais relevância, maior clareza, maior abrangência (pela generalização com método, não pela tentativa inútil de abraçar o mundo), mais respeito à inteligência dos leitores, mais serenidade para reconhecer erros (e aprender com eles), mais independência, menos entusiasmo diante de modismos.