A matéria deixou de chamar a atenção para a pífia cobertura que a imprensa (TV) de Florianópolis deu ao fenômeno, principalmente se considerado que, independentemente de intensidade, era algo novo e exaustivamente anunciado. Nota zero para a logística de RBS & Cia, que não tinham sequer uma unidade móvel destacada previamente para a área da ocorrência, equipada e em condições de alimentar uma cobertura ao vivo minimamente digna do nome e da importância que o fenômeno assumiu.
Isso fica tão mais evidenciado se considerarmos que o problema previamente anunciado coincidia com os 30 anos da enchente de 24/25 de março de 1974 em Tubarão, de longe a maior catástrofe natural ocorrida em Santa Catarina nos últimos 100 anos. A rememoração foi até objeto de várias matérias na mídia, mas não houve um jornalista capaz de estabelecer uma conexão noticiosa entre os dois episódios, praticamente localizados na mesma região. Durante o domingo (28/3), quem ligasse a televisão em Florianópolis nas matérias geradas localmente tinha acesso somente às trivialidades costumeiras, num total descaso de cobertura ao que de mais importante estava acontecendo no estado.
Por outro lado, fica notória a diferença no tratamento dado há pouco tempo ao chamado ‘apagão de Florianópolis’, quando houve um acidente que interrompeu o abastecimento de energia elétrica à Ilha por mais de 24 horas. Naquele episódio, como a cobertura podia ser feita ao pé do acontecido, ficou uma chatice só, repetindo-se n vezes as mesmas declarações, dadas por pessoas falando as maiores obviedades e tendo espaço permanente para divulgação. Constitui uma lástima esse desperdício de oportunidade, que nivela ainda mais por baixo uma imprensa de capital em que predomina a mediocridade de cobertura e de conteúdo. Lamentável!
Saul Odilon Gil Cardoso, engenheiro, Florianópolis
Meteorologistas nus
Ótimo o artigo do Sr. Eraldo B. Marques, comentando os eventos que cercaram a chegada do inusitado furacão que atingiu o Sul do país faz algum tempo. Disse tudo o que eu gostaria de dizer, mas de modo organizado, técnico e ao mesmo tempo escorreito, saboroso, com belas imagens e metáforas! Realmente, também fiquei pasmo com tudo o que aconteceu. No dia, na frente da tela, pensava: se eu, aqui de casa, com este mísero PC, estou vendo a novidade e o potencial destruidor ‘da coisa’, por que os profissionais não estão? E a mídia, onde está, que não larga desse maldito BB?
Concordo com que a maior causa da ‘mancada’ tenha sido essa malemolência, esse não admitir que as coisas mudam, e que o Brasil, pode sim, vir a ter, digamos, homens-bomba. Acho também que um elemento forte nessa inação surpreendente é o fato de ninguém aceitar pular à frente, gritar, afirmar que, fosse qual fosse o nome, o fenômeno era grande, e que ventos, mesmo que fossem ‘só’ de 80 km/h, já eram notícia quente o suficiente para um alerta geral.
Medo de passar vergonha… Enfrentar o riso dos inconseqüentes. Tenho certeza de que alguns meteorologistas devem ter percebido a gravidade do fenômeno que se aproximava, mas, silenciosamente, aguardaram que algum outro tomasse a iniciativa. Puro complexo de ostra. Temor ao ridículo. Seja por ‘aparecer’, no caso de acerto, seja pela execração, no caso de erro. Medo de ser ‘diferente’. De ser considerado excrescência pelo ‘espírito de corpo’…
E o pior é que é assim mesmo: se alguém tivesse se exposto depois ficaria ‘mal visto’, mesmo com sua previsão tendo sido confirmada. Aliás, justamente por isso. Estaria alijado do ‘clube’; o ‘metido’. Puxar-lhe-iam oportunamente o tapete, por inepto a ‘trabalhar em grupo’, ‘problemático’, carente de ‘ética profissional’, até… E assim ocorre em todos os âmbitos profissionais neste país. Apareça o mínimo, faça o mínimo, não erga a cabeça, ou lhe tosam a crina. Degradante…
Ramón A. Portal, Bauru, SP
Só os americanos se salvaram – Eraldo B. Marques
Para que imagens?
Estranho a necessidade quase imperiosa com a qual alguns leitores do OI condenam a falta de imagens sobre o furacão Catarina. Não obstante representar, ainda que duvidosamente, falha técnica da imprensa brasileira, em termos humanos as imagens não fazem qualquer falta. Há mesmo necessidade delas? Se houver, que sejam propriedade dos arquivos dos órgãos competentes, não para enlevo público. Acho que é o que pensam as vítimas do fenômeno.
Sergio dos Santos, São Paulo