Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Crítica à crítica (e aos críticos) da mídia

O professor Gilberto Maringoni, em artigo recente amplamente divulgado pela blogosfera que compõe a chamada “mídia alternativa”, lembrou aos maiores críticos da “grande mídia” que esta era em grande parte financiada pelo governo federal, por meio de cotas de patrocínio que, apenas para a Veja, rendiam perto de 1,5 milhão de reais por semana. Sua intenção era a de criticar os contumazes críticos da mídia que, mais ou menos alinhados com o governo federal e com o PT, gastavam horas de seus dias a enxovalhar a mídia, seja chamando-a de PIG (Partido da Imprensa Golpista) ou, agora, de PUM (Partido Único da Mídia – com direito a trocadilho proposital).

O primeiro termo, popularizado pelo jornalista Paulo Henrique Amorim, soa ainda mais irônico se contarmos que este trabalha para um notório membro do… PIG: a Rede Record, do bispo Edir Macedo. O segundo termo vem sendo usado pelo insuspeito professor Laurindo Lalo Leal Filho e, ao menos de sua parte, há consistência no uso do termo.

Não se trata de debater a validade dos termos ou mesmo o caráter da grande mídia, mas talvez de se entender quais interesses estão por trás da crítica. Não posso colocar em dúvida a idoneidade e honestidade do professor Lalo, mas começo a suspeitar de jornalistas alinhados à grande mídia e mesmo que recebem – por um meio ou por outro – financiamento estatal (caso, por exemplo, do sempre presente e atuante Luis Nassif, funcionário da TV Brasil) e que gastam boa parte de seu tempo e de seu espaço em seus respectivos blogs/portais para criticar veículos “inimigos” e políticos não-alinhados com o atual governo.

É sintomático o desaparecimento de certas críticas a políticos que passam para o lado governista e é notável o tom brando empregado contra o governo quando de atuações semelhantes ou mesmo mais acintosas que as do governo anterior, ou mesmo totalmente diversas daquelas prometidas em campanha.

Timidez patológica

Há, por parte de um crescente contingente daqueles defensores da “mídia livre”, um alinhamento automático com o governo federal que mascara erros, que abranda problemas e realiza uma defesa intransigente e inconsciente de todas ou da maior parte das atitudes governamentais, sem matizes ou ponderações. Há, dentre muitos governistas que continuam a reclamar da necessidade de uma democratização das comunicações, profundo silêncio sobre o emprego de nossos impostos em revistas da Editora Abril, mas ao mesmo tempo esses mesmos indivíduos que silenciam neste assunto reclamam e bradam contra as compras e contratos feitos entre o governo de São Paulo (do PSDB) e a mesma editora.

Está claro que, em ambos os casos, há o que se investigar e reclamar, mesmo repudiar, mas apenas um dos casos, ou um dos lados, acaba veementemente criticado.

Fala-se muito que as redes de TV, concessões públicas, têm um lado. Alguns afirmam claramente que Globo, Band e outras apoiaram claramente o candidato derrotado tucano José Serra nas eleições passadas, mas quando são perguntados sobre por que o governo federal não se move para rever as regras para concessões públicas, calam-se – dão desculpas pouco críveis ou simplesmente apelam para o velho chavão da “governabilidade”. Termo este, aliás, usado para explicar toda derrapada ou desastre patrocinado pelo governo federal. Se faz algo, merece aplausos, se errou, faz-se silêncio ou tira-se da cartola a palavrinha mágica que tudo explica.

Há, dentre os vários críticos da mídia, uma falta patológica de autocrítica e um excesso de subserviência e mesmo de umbiguismo. Chego até a considerar um certo duplipensar. Para mudar a mídia, é preciso constante pressão, mas o que vemos é uma timidez patológica quando o assunto vira um problema para seu próprio lado. Podemos avançar apenas até o ponto em que os interesses de um ou outro grupo – e são cada vez mais grupos – passam a ser a “vítima”. Sempre, claro, que o grupo se coloca ao lado do governo.

Enquanto os críticos da mídia forem apenas isso – críticos daquilo que não gostam, do outro lado – e não críticos de todo um conjunto de instituições, indivíduos, partidos e indústria, não haverá qualquer mudança significativa no caminho da democratização das comunicações no país.

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[Raphael Tsavkko Garcia é jornalista, blogueiro e mestrando em Comunicação]