A poucos meses da Lei de Acesso à Informação Pública entrar em vigor no Brasil, o diário O Estado de S.Paulo inaugurou um blog sobre política e transparência que pretende tirar dados das “caixas pretas” dos governos e levá-los aos leitores. Lançado nesta segunda-feira (27/02), o Públicos será atualizado pelos repórteres Fernando Gallo e Daniel Bramatti e abordará temas como dados abertos, governo eletrônico, software livre, direitos de autor, redes sociais e administração pública, uso de tecnologia para a modernização de políticas públicas, entre outros.
Também é intenção do blog estimular uma postura mais ativa da sociedade em relação ao Estado. “Faça um teste. Vá à Assembleia Legislativa de seu estado pedir acesso às notas fiscais apresentadas pelos senhores deputados para ressarcimento pela verba indenizatória de gabinete. Vá à prefeitura de sua cidade pedir informações detalhadas sobre as reclamações feitas pelos moradores sobre a coleta de lixo, problemas com iluminação ou poda de árvores. Vá até a delegacia mais próxima e peça para ver um boletim de ocorrência qualquer”, sugeriram os jornalistas em seu post de estreia.
Para Bramatti, apesar de um aparente compromisso pela efetiva aplicação da lei na esfera federal e em alguns estados, a pressão social é fundamental para que a lei “pegue”. “Daremos um passo gigantesco se a transparência se transformar em assunto de debate nas eleições”, salientou o jornalista em conversa com o Centro Knight para o jornalismo nas Américas.
“Fazer barulho e pressionar os governantes”
O blog é mais uma iniciativa que, assim como o site “Queremos Saber“, espera contribuir para o fortalecimento da cultura da transparência no país. Ele está aberto à participação dos leitores, que podem enviar para os e-mails dos repórteres do Estadão (daniel.bramatti@grupoestado.com.br e fernando.gallo@grupoestado.com.br) relatos de pedidos de informação negados, ignorados ou mal respondidos, por exemplo.
“Os governantes e funcionários públicos brasileiros não estão muito familiarizados com a noção de que é preciso prestar contas à população. A cultura do sigilo protege a ineficiência, a corrupção e outras pragas disseminadas em todas as esferas de governo. Não será fácil mudar esse quadro. Até quando peço dados a assessorias de comunicação de órgãos públicos, volta e meia ouço a pergunta ‘mas você quer isso para quê’? É como se a divulgação do dado estivesse condicionada à ‘boa’ ou à ‘má’ intenção do repórter. Se os jornalistas ainda encontram essas barreiras, é de se esperar que os cidadãos comuns (na falta de um termo melhor) tenham dificuldades ainda maiores. Olhando pelo lado positivo, esses cidadãos têm hoje, com a internet, meios para fazer muito barulho e pressionar os governantes”, observou Bramatti.
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[Natalia Mazotte, do blog Jornalismo nas Américas]