Friday, 29 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

A turma não quer educação de verdade

Incrível como o discurso da educação provoca um espetáculo de dizeres, fazeres e nenhuma ação lógica para que melhore, pois desde o primórdio de nosso país o processo educacional verdadeiro é coisa de rico. Pobre nunca teve, e pelo que estou vendo jamais terá, direito a uma educação pública, gratuita e de qualidade. Até onde vemos, ninguém ou poucos se importam com os personagens da escola hoje, pois professores e alunos são tratados como público de terceira categoria – os professores não têm salários dignos nem condições de trabalho e os alunos são tragados pela má formação, pela falta de recursos, pelo desinteresse dos gestores e, principalmente, pela desestruturação familiar, que várias vezes desmancha tudo que possa ser feito pela escola.

Recentemente, tive prova de que a educação é produto de terceira categoria até pelo povo, que prefere que as crianças expulsas pela má escola acabem nos noticiários policiais como jovens consumidos pelas drogas e mais tarde mortos pela incompetência de uma geração que não vê que precisa mudar sua concepção do que realmente é educação e sua importância. Tentei por várias vezes conseguir apoio para um projeto que denominei Ecopoesia Mulher onde pretendia fazer uma singela homenagem ao Dia Internacional da Mulher e pretendia entregar a cada aluna da escola onde trabalho um kit de maquiagem que, para muitos, pode ser estímulo ao consumismo, mas para quem tem sensibilidade é uma maneira de dar às jovens e adolescentes um pouco de autoestima. Tentei em várias empresas, associações de classe, grupos empresariais, cantores (tem um que canta até que deve fazer o bem) e o que consegui foi um belo não, pois sei que é demais querer que jovens e adolescentes de escola pública tenham um pouco de dignidade. Apelei também para as redes sociais (Facebook) e como tenho supostos 1.239 amigos pensava conseguir pelo menos a metade do que pretendia. Ledo engano. A solidariedade está apenas na ponta dos dedos e só três dos meus amigos virtuais aderiram ao processo, uma situação triste que prova que a turma não está nem aí para o que se passa com a educação e seus principais atores.

Sentido da vida

O que temos em educação hoje é um amontoado de jovens que vão á escola para simplesmente merendar, como já disse um juiz, e não há a educação de verdade, aquela que Paulo Freire preconizou, para intervir na sua condição de vida, baseada no diálogo, na amorosidade e no respeito mútuo.

Vivemos o tal tempo do murici onde cada qual cuida de si e sinto que sou um perfeito idiota ao pensar que posso mudar este mundo de injustiça, desamores e de individualismo, pois sei ser insignificante diante do simbolismo do capital e dos interesses que movem a sociedade onde o dinheiro é a mola-mestra das relações e do sentido da vida. Uma pena que seja assim, mas ainda acredito que tudo mudará.

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[Francisco Djacyr Silva de Souza é professor, Fortaleza, CE]