Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Karla Siqueira e Miriam Abreu

‘O jornalista de Curitiba René Ruschel está acusando o colunista e vice-presidente do conselho editorial do Jornal do Brasil e presidente da revista Forbes, Augusto Nunes, de ter copiado trechos e utilizado informações de uma crônica escrita por Ruschel sobre a passagem do ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, pela cidade de Cruzeiro do Oeste.

‘Há dias, o Augusto Nunes escreveu um artigo em sua coluna no Jornal do Brasil onde, entre outras coisas, contava passagens da vida do ministro José Dirceu na cidade de Umuarama. Em tom de brincadeira, enviei a ele um e-mail onde escrevi que, por questões de ‘bairrismo’ explícito, gostaria de corrigi-lo, uma vez que eu e meu ‘conterrâneo’ José Dirceu éramos de Cruzeiro do Oeste, cidade vizinha a Umuarama. Como havia escrito uma crônica sobre estes tempos, anexei e enviei junto. Para minha surpresa, ele retirou da minha história o que interessa, copiou e concluiu o que bem entendeu em outro texto (A arte da dissimulação)’, contou Ruschel ao Comunique-se. Ele enviou à redação os dois textos (o dele e o de Augusto Nunes), onde pode-se constatar os trechos copiados e claras alusões às informações que o curitibano registrou em sua crônica. Augusto Nunes, em seu texto, chega a fazer referência a um jovem de Cruzeiro do Oeste, que presenciou os fatos por ele narrado.

O que incomodou Ruschel foi o fato de Nunes não o ter procurado em nenhum momento para pedir para usar seu texto, ou para apenas informar que utilizaria as informações. ‘Confesso que não imaginei que ele fosse utilizar desta forma meu texto ou então, que iria, caso desejasse usá-lo, citar a fonte ou fazer uma consulta. Não recebi nenhuma resposta nem tive nenhum contato com ele. Na verdade, o que me deixou profundamente irritado foi pela questão ética, ou seja, meu e-mail estava ‘assinado’, com número do telefone e registro profissional. Este texto é parte de uma série que pretendo publicar no futuro quem sabe num livro. Não o proibi de publicar as informações’, disse Ruschel.

Procurado pelo Comunique-se, Augusto Nunes explicou que não publicou o nome de Ruschel na intenção de preservá-lo, porque, segundo o colunista, ele trabalha numa empresa estatal – na verdade, Ruschel é assessor de imprensa de um fundo de pensão. Nunes afirma que não copiou a crônica. ‘Não foi plágio. Apenas usei informações que li no texto por ele enviado. Você pode ler, não há repetição de uma só frase. Mas, se que quer que eu publique o nome dele, farei isso com a maior tranqüilidade na minha próxima coluna de domingo’.

Quando questionado por que não ligou para Ruschel pedindo autorização para publicar as informações ou parte da crônica, Nunes respondeu: ‘Tive medo de que ele não autorizasse’. O vice-presidente do Conselho Editorial do JB também disse que teria acesso às informações se mandasse um repórter do JB para Cruzeiro do Oeste. ‘Como não tinha tempo, nem condições, usei as informações da crônica do René. Essas informações são públicas’.’



Augusto Nunes

‘Namorar com o perigo é isso aí’, copyright Jornal do Brasil, 21/03/04

‘Por excesso de zelo, a coluna evitou atribuir ao jornalista René Ruschel, assessor de comunicação do fundo de pensão da Itaipu Binacional, algumas informações incluídas no artigo publicado há três semanas sobre o chefe da Casa Civil, ministro José Dirceu de Oliveira. Acabou acusada por Ruschel, que trabalha no escritório em Curitiba, de ter cometido plágio. É o Brasil.

Aos fatos. A uma simpática mensagem, enviada no começo de fevereiro, Ruschel anexou a crônica que escreveu sobre a passagem de Dirceu por Cruzeiro do Oeste, terra natal do jornalista. Embora não fosse lá essas coisas, tanto na forma quanto no conteúdo, fornecia informações novas a respeito do episódio. Estavam misturadas a outras já divulgadas pela imprensa ao longo do ano passado.

A mensagem e a crônica são anteriores à explosão do caso Waldomiro Diniz. Como Ruschel se irritou com o anonimato, presume-se que não mudou de opinião sobre José Dirceu. Segue-se, sem correções, o parágrafo final.

‘Quando acabou a missão do ‘Carlos’, Zé Dirceu pegou a matula e foi embora. Tenho a sensação que ao cravar a vista pela última vez no meu pedaço de mundo ele não teve coragem de se despedir, pois tudo aquilo já estava impregnado em suas entranhas. Agradeceu pelos dias, pelos anos de aconchego, pela proteção involuntária e até mesmo pela ignorância daquela gente. Valeu a luta; valeu a vida; valeram todos os esforços. Sem olhar para trás seguiu em frente e quem sabe só tenha tido tempo de murmurar baixinho para que ninguém ouvisse: ‘Com licença, eu vou à luta!’.

Ruschel considerava ‘missão’ a aventura que envolvera uma jovem desinformada e um bebê. Parecia sensato não envolver seu nome num texto que apresentaria a história, de novo, como exemplo de dissimulação. Já que a fonte seria camuflada, não havia motivos para consultar Ruschel sobre a publicação de informações. Ele poderia solicitar que evitasse mencionar algumas, temeroso de represálias prometidas por Dirceu a quem propagar fatos considerados parte do patrimônio íntimo.

Uma dedução errada, como se sabe agora. Vamos aos esclarecimentos necessários a dissipar as sombras do plágio. Foi Ruschel, por exemplo, quem contou que Dirceu (ou ‘Carlos Henrique’) passava horas sentado atrás do balcão da loja ou na porta, em pé, contemplando o nada.

Foi Ruschel quem contou que o forasteiro gastava as tardes de sábado folheando o semanário local no bar da sinuca. Foi Ruschel quem descreveu ‘destemperos emocionais’ de ‘Pedro Caroço’, apelido inventado por um sócio de Dirceu. Foi Ruschel quem viu Dirceu (ou Pedro Caroço, ou Carlos) irado com o menino que quebrara a bengala usada para brincar de mágico. Foi Ruschel quem ouviu os palavrões do agora ministro depois do sumiço de um cofrinho de moedas.

Ruschel talvez goste de namorar com o perigo, advertência reiterada por Dirceu. Quem decididamente gosta disso é Dirceu. Jovem líder universitário, ele namorou Heloísa Helena, a espiã ‘Maçã Dourada’, escalada pelo Dops para infiltrar-se no movimento estudantil de São Paulo. Dirceu caiu nessa.’



CLÔ vs. MARTA
Bia Abramo

‘Polêmica de Clodovil e Marta tem 20 anos’, copyright Folha de S. Paulo, 21/03/04

‘Apesar de não dar para levar muito a sério o bafafá provocado pela língua de trapo de Clodovil na semana passada, há uma barafunda de questões de gênero que vale a pena registrar em mais uma polêmica envolvendo apresentadores de TV. Até o fechamento desta coluna, foram dois os destampatórios que Clodovil dirigiu à prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, em seu programa ‘A Casa É Sua’.

Na quarta-feira, a propósito de uma entrevista em que cantor Agnaldo Timóteo contava ter sido proibido de vender seus discos na rua, como ambulante, Clodovil soltou cobras e lagartos contra Marta. No dia seguinte, depois que a prefeita anunciou a intenção de processá-lo, o apresentador aparentemente baixou o tom, pediu desculpas, mas acabou não resistindo e voltando à carga. Em tom de indignação, Clodovil disse que a prefeita não tinha cultura, pois ‘falava sobre sexo’ na televisão, afirmou que haveria algo de suspeito no fato de ela ainda usar o sobrenome do ex-marido, referiu-se às paradas gays e à proposta de união civil homossexual como ‘bandalha’ etc.

As diferenças entre Clodovil e Marta não são de hoje. Ambos estiveram na equipe de ‘TV Mulher’ nos anos 80, o programa feminino da Globo que adicionou temas como sexualidade e carreira ao tradicional leque de amenidades. Enquanto o quadro de Marta fazia uma espécie de pedagogia sexual feminista, Clodovil apostava na maledicência contra tudo e todos. Sua atuação era para lá de ambígua: embora ele desse vazão a trejeitos e impostação de voz tradicionalmente identificados e tantas vezes caricaturizados pela TV como típicos e constitutivos dos homossexuais, ele continuava no armário.

Digamos que, se Marta representava à época uma visão mais progressista da sexualidade e da relação entre gêneros que vinha se instalando na sociedade brasileira desde os anos 70, Clodovil mostrava a força que ainda tinha o estereótipo do feminino como o lugar da inveja, do ressentimento, da mesquinharia doméstica e da aspiração descerebrada por distinção e elegância.

Vinte anos mais tarde, a fúria de Clodovil contra Marta, para além dos reparos que podem ser identificados muito vagamente como políticos, ainda expressa esse antagonismo. Confortável no papel reservado pelo machismo mais tacanho aos homossexuais, ele cumpre à risca aquilo que se espera de uma ‘bicha’: sua persona televisiva é fofoqueira, venenosa, temperamental, fútil, vaidosa, misógina etc. A condenação que faz da união civil homossexual, projeto de lei de autoria de Marta quando deputada federal, vai no mesmo sentido que o pensamento mais retrógrado e menos tolerante.

É definitivamente um mundo de pernas para o ar este em que o conservadorismo mais besta encontra um porto tão seguro num personagem como Clodovil.’



O Estado de S. Paulo

‘Marta deve ir à Justiça contra Clodovil’, copyright O Estado de S. Paulo, 18/03/04

‘A prefeita Marta Suplicy deve entrar na Justiça contra o apresentador Clodovil Hernandes. Sua Assessoria de Imprensa informou que seus advogados ‘vão tomar as medidas cabíveis contra as declarações do apresentador’. Em seu programa ‘A Casa é Sua’, da RedeTV, Clodovil chamou a prefeita de ‘perua que teve sorte’, ao comentar um incidente com o cantor Agnaldo Timóteo.

Por volta do meio-dia, Timóteo foi surpreendido por fiscais da Subprefeitura da Sé e pela Guarda Civil quando vendia seus CDs na Praça da República. Por não ter licença de ambulante, foi ameaçado de ter a mercadoria apreendida, como qualquer camelô irregular. No fim, houve acordo.’