Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Guarde seus dados no banco

Tem-se falado – principalmente a partir do premiado portal de Fernando Rodrigues – em bancos de dados relacionando-os com o controle público dos órgãos do Estado, a partir da disposição do Império (Banco Mundial, FMI etc.) de perseguir os corruptos, aos quais atribui parte significativa da pobreza dos países do Terceiro Mundo (e só deles …).

No entanto, bancos de dados têm utilidade potencial muito mais ampla em jornalismo. Acredito que uma editoria de economia, de política, de assuntos da cidade, de esportes, sobretudo em veículos impressos, ganharia muito se destinasse parte de seu tempo e custos a montar bancos de dados e a colecionar os dados que o preenchem, o que pode ser feito, em parte, automaticamente.

Os bancos de dados representam, na verdade, o único instrumento capaz de tornar competitivos os jornais diários e revistas semanais não especializadas sem fazer de uns e outras depósito de palpites e opiniões abalizadas ou não, sobre os mais variados assuntos. Em suma, jornais de colunas assinadas por medalhões, políticos escolhidos a dedo ou sujeitos tidos por sábios, com algum espaço entre elas para press releases e matérias que reproduzem textos já divulgados, na essência, por páginas da internet ou programas de televisão. Talvez escapem a isso as páginas de economia com cotações e câmbio e as revistas de fofocas, como Caras.

Além da concorrência

Com bancos de dados será possível contextualizar e apresentar em poucas horas fatos anteriores articulados a partir de um fato gerador de interesse. Por exemplo, se a bomba atômica for algum dia utilizada, a história dos explosivos nucleares; se morreu o papa, uma revisão cuidadosa de sua gestão (no caso de João Paulo II, sua aproximação com a direita fundamentalista, Opus Dei, clero polonês) e seu esforço para apressar a derrocada do socialismo; se os preços do café atingem nível muito baixo, a busca de uma constante nas flutuações do produto diante de variáveis como a produção, os altos e baixos da economia mundial, as campanhas contra a cafeína etc. E correlacionar eventos simultâneos, como o tamanho do buraco de ozônio e a incidência de doenças causadas pela radiação solar.

Outra possibilidade é das próprias fontes, que tem interesse em divulgar fatos, montar seus bancos de dados, como fez, pelo que sei, o Tribunal de Contas de São Paulo.

Uma terceira, de jornalistas de dada área (digamos, mercado de capitais, ou moda e costumes) se associarem para construir o banco de dados independentemente de veículos. Acho que isso é menos provável por causa do clima de concorrência que se instalou na categoria, da dificuldade de discernir, num primeiro momento, o que é matéria exclusiva ou não; e do custo de suporte que, com a tecnologia atual, esses bancos exigem para ser construídos – assunto, basicamente, das ciências da informação, sucessores informatizados dos bibliotecários de antigamente. A aliança entre esses dois segmentos, ficando os jornalistas com a incumbência de acrescentar tratamento semântico aos thesaurus e acervos de acesso público ou restrito, ainda é um sonho que a comunicóloga impede de se implantar; é, no entanto, empreendimento empresarial de pequeno porte que pode se tornar auto-sustentável e até muito lucrativo.

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Jornalista, professor titular da Universidade Federal de Santa Catarina