Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Evento tratado com indiferença

Foi ao ar, no último dia 26, mais uma pseudo-transmissão do Oscar pela Globo, que conta desde 2006 com os comentários do ator José Wilker e de Maria Beltrão. Mais uma vez, é claro, a emissora preferiu dar preferência ao Big Brother Brasil e começou a exibição do Oscar por volta da meia-noite.

Tento entender o lado da emissora em querer dar preferência a um produto altamente rentável como o Big Brother, mas ao mesmo tempo busco compreender também que se trata do Oscar, o troféu mais almejado do mundo no universo do cinema, visto por milhões de pessoas em todo o planeta. A Globo, no entanto, trata o evento com certa indiferença e já chegou até a se desfazer da premiação, entregando-o de bandeja ao SBT, em 1994.

A Globo transmitiu o Oscar da década de 1970 até 1993, quando “misteriosamente” o SBT adquiriu os direitos de transmissão da cerimônia. Adhemar Dutra, gerente de divulgação do SBT na época, disse que a Globo simplesmente não aceitou uma condição imposta pela emissora americana ABC, detentora dos direitos de imagem do evento: o canal que transmitisse o Oscar levaria um pacote de 30 filmes, além de uma determinada quantia de produtos que a emissora vencedora dos direitos teria que comprar da ABC. Por isso, a Globo não quis saber e disse que levaria somente o Oscar, ou não levaria nada. Silvio Santos ficou sabendo do impasse e aceitou as condições impostas pelos americanos.

Ruim de audiência e de faturamento

Logo na primeira transmissão, em 1994, o SBT começou a transmitir imagens que a Globo nunca mostrava, como o movimento de entrada de artistas, diretores e as cenas de bastidores. Evidentemente, como o canal era marinheiro de primeira viagem, muitas falhas e gafes foram cometidas, mas pelo menos tentaram. Em 1997, a cerimônia do Oscar voltou à Globo, e essa política de exibirem o evento somente algumas horas depois continuava. Naquele ano, a premiação foi exibida quase no mesmo horário do último dia 26, só que ao invés do atraso ser em função do Big Brother, daquela vez a culpa foi de Whoopi Goldberg e do filme Mudança de Hábito. No ano de 2000, o SBT fechou um novo acordo com a Disney/ABC para a transmissão do Oscar até 2004 – último ano em que a emissora de Silvio Santos transmitiu a cerimônia.

Com relações um pouco mais estreitas em 2004, Globo e Disney retomaram uma parceria depois de sete anos – vale lembrar que a produtora foi para o SBT em 1997 e por lá exibiu seus filmes, séries e desenhos durante esse tempo. No entanto, os direitos de transmissão do Oscar não vinham no pacote e era necessário que fossem adquiridos à la carte. Após o anúncio de que a parceria fora retomada, ainda em 2004, correu a notícia de que a Globo não levaria o Oscar 2005. Foi quase verdade. A emissora carioca realmente não levaria o evento se a Disney quase não “desse” a premiação – e fechou acordo para a transmissão do mesmo às vésperas de acontecer.

A Globo sempre tratou o Oscar dessa forma. Em 1995, o diretor de programação Roberto Buzzoni chegou a explicar os motivos da rede: o produto é ruim de audiência e até de faturamento. Observando a história do Oscar na TV aberta, não é tão difícil de acreditar.

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[Thiago Forato é jornalista, Ribeirão Preto, SP]