O ombudsman do Washington Post, Patrick Pexton, analisa atentamente as reportagens investigativas publicadas pelo jornal. Investigação é uma parte importante do trabalho do diário e deve continuar sendo, não apenas por conta do legado Watergate, mas por esta ser uma das funções primordiais do jornalismo, comenta ele em sua coluna mais recente [2/3/12].
Pexton cita em seu texto uma matéria investigativa assinada por Cheryl Thompson e publicada na capa da edição de 19/2, sobre o índice de solução de casos de homicídio na capital dos EUA. Embora não houvesse nenhuma imprecisão factual – todos os números publicados eram verdadeiros –, o tom da matéria sugeria que a chefe de polícia de Washington, Cathy Lanier, havia divulgado números de maneira imprecisa para enganar o público sobre a solução de casos de homicídio. Em vez de sugerir que Cathy estava inventando os números, o ombudsman acredita que a matéria deveria ter dado uma explicação sobre como o Departamento de Polícia Metropolitana, outros departamentos policiais e o FBI mantêm as estatísticas de homicídios – e algumas das armadilhas destes métodos.
A matéria levou a uma nota atípica do editor-executivo Marcus Brauchli, publicada no dia 26/2, quando também foi publicada uma resposta de Cathy. Ela e alguns colegas de trabalho encontraram-se com Pexton e outros editores para fazer queixas válidas sobre a reportagem de Cheryl – dentre elas, a questão das estatísticas.
Mais clareza
Pexton explica que o problema com as estatísticas de homicídio é que não há um modo perfeito de expressá-las. Digamos que tenham ocorrido 100 homicídios em 2011 e a polícia prenda os responsáveis por 60 casos durante o ano. É um índice de 60% de solução de casos de homicídio. Mas se 10 dos assassinatos tiverem ocorrido em dezembro e as prisões só acontecerem em janeiro ou fevereiro de 2012, os grandes departamentos de polícia e o FBI não revisam os números para alterar o índice para 70%. Os casos resolvidos no começo de 2012 entram na contagem de 2012. Se um homicídio ocorrido em 1980 só for resolvido em 2012, entra também na contagem de 2012. Se o número de homicídios estiver declinando ao longo do tempo e o de casos resolvidos estiver aumentando, o índice aumenta – e foi exatamente o que aconteceu.
Uma das prioridades de Cathy desde que se tornou chefe de polícia, em 2007, é resolver casos antigos – os com mais de três anos. Por isso, o índice de 2011 chegou a 94% – foram 108 homicídios com 60 deles solucionados, além de quase 40 outros casos de anos anteriores. Para o ombudsman, a polícia deveria ser mais clara em seus índices, para que ninguém sugerisse manipulação; ao mesmo tempo, jornalistas deveriam explicar aos leitores como eles funcionam.