Como estudante de Jornalismo de uma universidade particular, quero colocar em debate a falta de vergonha dos administradores destas casas de ensino superior. A reclamação é a dispensa de professores antigos, considerados velhos, para a contratação de professores novos, recém-saídos da faculdade, sem a menor experiência de redação, mas com salários bem menores e contratos temporários. Não desmerecendo estes jovens professores, experiência é fundamental. Lógico que há exceções. Este corte, porém, vem acontecendo de forma progressiva e desregrada. Tudo para estas instituições que se dizem filantrópicas lucrarem como lanchonetes fat(fast)-food.
Moreno Bastos, estudante, Campinas, SP
Isolamento acadêmico
Sou daquelas remanescentes que acreditam no ensino público. Prova disso é que tenho 20 anos e passagem por duas universidades públicas: sou caloura do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Goiás, tendo antes passado pela Universidade de Brasília como aluna de curso que nem cheguei a terminar. Acho, então, que posso ser considerada ‘veterana’ nos problemas que acompanham as IES. Infelizmente, esse e-mail é para compartilhar uma decepção assombrosa com uma decisão discricionária do meu departamento. Vou contar uma historinha, com protagonistas de verdade e tudo. Desculpem entediá-los com o monótono cotidiano acadêmico, mas aí vai.
Era uma vez uma menina descontente com seu curso de graduação que teve uma epifania: largar tudo e fazer Jornalismo. Largou tudo e foi fazer Jornalismo. Passadas as agruras do vestibular, a saltitante futura jornalista queria ter contato o quanto antes com seu meio profissional e, para tanto, correu atrás de todos os possíveis e imagináveis estágios e núcleos de pesquisa da graduação. Acabou conseguindo um estágio remunerado – e há brigas de foice para isso – no servidor de internet da universidade (UFGnet), para fazer clipping de notícias e revisão de textos. Nada mal para se começar. Com a papelada e providências burocráticas tomadas, a menina tratou de fazer o último procedimento: pedir a assinatura da emérita coordenadora de curso. Qual não foi a surpresa da pobre e esforçada estudante ao receber o ‘não’ mais lavado da história de pedidos de estágio. Coordenadora e aluna olharam-se estupefatas, a primeira por considerar um pedido de estágio no primeiro período de curso a coisa mais absurda do universo, e a segunda por não entender como alguém poderia duvidar tão veementemente da capacidade de alguém de saber um pouco de português e lidar com internet.
Não contente em destruir os devaneios profissionais iniciais da garota, a coordenadora disse que o departamento queria construir uma política de só permitir estágios aos alunos do 7º período! Lembrando que o curso tem 8 períodos… Fora o fato de, claro, o aluno não ter a técnica necessária. Academia e vivência profissional pareceram dois barquinhos cortados por um oceano para a caloura veterana em decepções.
Moral da história: não é preciso ter competência, iniciativa e vaga garantida em estágio para conseguir o aval de um coordenador. Basta estar no sétimo período! Enquanto isso, a menina sentia as pernas bambas de pensar nos 50 alunos do 7º período da graduação procurando estágio, desesperadamente, para se formar! Já podia se ver com o diploma debaixo do braço e as ditas técnicas – ‘que só o meio acadêmico podia desenvolver’ – tendo que ser esculpidas anos a fio pela experiência que só o cotidiano profissional traz. Assustador, não?
Barbara Arato
Sem Adorno não dá
Essa dúvida tornou-se constante desde que entrei na faculdade de Jornalismo, partindo do pressuposto de que fazia parte dos 2% da população de brasileiros que freqüentam a universidade e pensando que em quatro anos poderia aumentar as estatísticas de desemprego. Paralelamente a essa questão, de ter diploma e não ter emprego, nós, os formadores de opinião e futuros jornalistas, teríamos de concorrer no mercado de trabalho com pessoas que nem sequer sabem da existência, por exemplo, de Theodor Adorno e outros ícones da comunicação. Não que isso atrapalhe ou ajude na hora de divulgar a notícia, a questão é que somos profissionais, bons ou medíocres, como em qualquer outra profissão. Acredito que não agride a liberdade de expressão a exigência de diploma para jornalista: a escolha de profissionais formados dá confiança aos leitores, ouvintes ou telespectadores.
Sarah Johnson, estudante de Jornalismo
Conhecimentos fugazes
Após ler as palavras de Ivo Lucchesi preciso agradecer por ainda existir uma pessoa, com sua carga e potência intelectual, que se preocupe com a situação dos cursos de Jornalismo. O que presencio, como aluno da mesma faculdade em que Ivo leciona, é que a mediocridade é entregue pela parte tecnicista dos professores aos alunos e estes, acostumados e assustados com as notícias expostas nas mídias sobre desemprego, vêem-se impulsionados a aumentar pontos em seu currículo mastigando estes conhecimentos fugazes. Mas a bagagem e a sagacidade que diz respeito ao olhar e à crítica não são tópicos de nenhum currículo. Mestres como Ivo Lucchesi ainda têm a humildade de tentar ensinar, por que não dizer, libertar, os jovens deste ciclo de mediocridade e que são a lenha para a fogueira do mercado atual.
Daniel Paes, estudante Jornalismo, Rio de Janeiro
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Com aval do professor
A comunicação constrói a realidade? Nesta segunda, dia 15, na faculdade onde estudo, assisti perplexo a uma apresentação de colegas de sala. O tema era ‘A comunicação’. O que me chamou a atenção foi que, tomando como base um autor de 1940, foi dito que a comunicação gera, constrói a realidade. Isso me parece um grande absurdo para ser dito por estudantes e profissionais de Jornalismo. Em minha opinião, o que a comunicação faz é afirmar situações de falta de educação ou consciência necessárias à compreensão de um fato. Mas não constrói uma realidade. Será correto dizer, por exemplo, que o caso Waldomiro só passou a ser realidade após ser divulgado na imprensa? Isso aconteceu com o aval de um professor.
Ricardo Moreira, estudante de Jornalismo, Brasília