Wednesday, 25 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Daniel Castro

‘No ano do 40º aniversário do golpe de 64, as duas próximas novelas da Globo terão suas primeiras fases ambientadas na ditadura militar (1964-1985). Além de ‘Dinastia’, próxima trama das 21h, ‘Romance’, que substituirá ‘Da Cor do Pecado’ às 19h, também passará pelos anos de chumbo.

A próxima novela das sete, segundo sua pré-sinopse, começa no início dos anos 70. Miguel é um jovem rapaz de uma cidade litorânea, filho do homem mais rico do local. Ele entra no movimento estudantil e se envolve em uma organização de esquerda clandestina. Acaba sendo preso e trocado por um embaixador seqüestrado por guerrilheiros.

Doente, o protagonista é exilado na Argélia, onde se apaixona por uma estudante de enfermagem, filha de um xeique. Eles têm uma filha. Ela morre, e ele herda os negócios do pai dela _o petróleo.

Trinta anos depois, Miguel volta à cidade onde cresceu para se vingar dos amigos e da mãe da ex-namorada que tomaram suas fazendas e lojas. A ex-namorada teve dois filhos. Miguel não sabe, mas é pai de um deles, Raí, com quem irá disputar um novo amor. A Petrobras negocia com a Globo patrocínio à novela, que terá locações em plataformas de petróleo.

Já ‘Dinastia’ terá em seus dez primeiros capítulos a efervescência de dezembro de 1968, quando foi decretado o AI-5. Tanques nas ruas, manifestações e prisões arbitrárias irão compor a trama.

OUTRO CANAL

Sucesso

Só na segunda-feira, 65 mil assinantes do portal Globo.com assistiram ao vídeo com a íntegra do barraco do último final de semana, entre Marcela e Solange, em ‘Big Brother Brasil’, cujos momentos mais fortes foram vetados na Globo. Para vídeos em internet, 65 mil é muita coisa. Foi o recorde de ‘BBB’ na internet.

Plágio 1

Telespectadores que assistiram a ‘Intersection – Uma Escolha, uma Renúncia’, de 1994, com Richard Gere e Sharon Stone, quarta na Rede 21, não têm dúvidas: as cenas de acidente de carro do primeiro capítulo de ‘Metamorphoses’ foram extraídas do filme. A denúncia havia sido feita na terça pela rádio Jovem Pan (SP).

Plágio 2

A Casablanca, que produz ‘Metamorphoses’ para a Record, não se manifestou até a conclusão desta coluna.

Suspiro

O ‘Show do Milhão’, que voltou em março, vai sair do ar de novo em abril, quando acaba o patrocínio do Bradesco. Na cúpula do SBT, há quem defenda um longo descanso para o programa.

Perigo

João Kléber quer causar polêmica com o novo programa que irá apresentar na Rede TV! em abril. Vários quadros terão matriz em ‘reality shows’. Um deles promete pagar cirurgias plásticas para pessoas carentes. O outro terá um tribunal que irá simular julgamentos populares de casos que estiverem na mídia.’



Folha de S. Paulo

‘História Oculta’, Editorial, copyright Folha de S. Paulo, 29/03/04

‘Às vésperas do aniversário de 40 anos do golpe de 1964, é bom lembrar que nem tudo o que se passou naqueles tenebrosos anos entrou para a história -infelizmente. É que muitos dos documentos à época carimbados como secretos ainda não se tornaram públicos, o que dificulta sobremaneira o trabalho de historiadores.

E os responsáveis por esse crime historiográfico são duas figuras que se julgariam insuspeitas: os presidentes Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e Luiz Inácio Lula da Silva. Na última semana de seu governo, FHC baixou o decreto 4.553, que permite, em princípio, que documentos de órgãos públicos permaneçam eternamente sob sigilo. Lula, apesar de diversos apelos, manteve a determinação fernandina, considerada ilegal por renomados juristas.

O famigerado decreto, que regulamenta a Lei de Arquivos (número 8.159/91), acabou por criar a figura do ‘sigilo eterno’. É que o dispositivo ampliou os prazos de segredo de todas as categorias de documentos e ainda permite, no caso de papéis considerados ultra-secretos, a renovação do sigilo por prazo indefinido.

Essa prescrição contraria a Lei de Arquivos, para a qual determinados documentos podem ser mantidos sob sigilo por no máximo 30 anos, prorrogáveis (uma só vez) por mais 30. Um decreto, como sabe qualquer aluno de primeiro ano de direito, não pode alterar uma lei.

É até natural que a chamada comunidade de informações procure ampliar ao máximo os prazos de sigilo dos documentos que produz. O que é particularmente chocante é que FHC e Lula, que têm, ambos, um histórico de defesa da democracia, tenham cedido à pressão da ‘comunidade’ e acatado um decreto tão acintosamente contrário aos princípios republicanos e democráticos.

É quase uma obviedade afirmá-lo, mas documentos públicos não podem ser mantidos escondidos do público senão em casos excepcionalíssimos e, assim mesmo, por prazo determinado. Não se pode privar um país de escrever sua própria história.’



Arnaldo Jabor


‘Em 64, acordo de um sonho para um pesadelo’, copyright O Estado de S. Paulo, 30/03/04


‘Estou no passado – há 40 anos. São onze e meia da noite do dia 31 de março de 64 e eu assisto a um show que inaugura o teatro da UNE, com Grande Otelo e Elsa Soares, para celebrar o socialismo. Acho estranho que festejem uma vitória sem poder ainda. Mas um companheiro me abraça eufórico: ‘Já derrotamos o imperialismo; agora só falta a burguesia nacional!’ Não vejo o Tio Sam de joelhos ali, mas fico animado: ‘Viva!’ Estou felicíssimo: tenho 20 anos, o socialismo virá, sem sangue, sem balas e com a ajuda do governo do Jango. ‘Minha vida está começando’, penso, ‘e conscientizarei as massas pobres do País.’ Vou para casa e voltarei cedo à sede, onde haverá uma reunião às 9 da manhã.


Estou de novo dentro da UNE, ouvindo as diretrizes do dirigente de nossa ‘base’ do PCB, um comuna velho de nariz de couve-flor e penso: ‘Como ele pode fazer revolução com esse nariz?’ Ele nos garante que o Exército está do lado do povo porque tem origem de classe média. Sinto-me protegido pelos bravos soldados do povo, quando começo a ouvir gritos e tiros lá fora.


Corremos todos para a sacada e vemos dezenas de estudantes que apedrejam a fachada, atirando para o alto. ‘São os estudantes de direita da PUC. Temos de reagir!’ – diz alguém. ‘Com quê?’, pergunto. Onde estão as armas revolucionárias? Nada. Ninguém tem uma reles Baretta. O dirigente da ‘base’ fica com o nariz muito branco, que antes era pink. Nuvens de fumaça entram pelas salas. A UNE está pegando fogo. Estudantes armados invadem a sede com garrafas de gasolina. O teatro queima. Fujo por uma janela dos fundos, onde rasgo a calça num prego. Apavorado, corro para a porta da UNE, ostentando naturalidade, para ver o que está acontecendo. Reconheço vários colegas ricos de minha faculdade, com revólveres na cinta, numa selvagem alegria destrutiva. Os móveis em fogo se amontoam na porta da UNE, enquanto outros caem da sacada.


Dois colegas da PUC me vêem. Eles vêm vindo, com armas na mão, afogueados pela guerra santa. ‘E aí, cara!? Grande vitória, hein! Acabamos com esses comunas sem-vergonha!’ – me gritam, arquejando de contentamento. Tenho vontade de matá-los. Se tivesse a automática 45mm de meu pai milico, entraria num duelo de western com eles. Eles me olham. Estou pálido, mas tenho a dignidade de não dizer nada. Viro as costas e saio andando pelo asfalto, sentindo minhas costas tremerem, esperando o tiro me derrubar.


Procuro com os olhos os bravos soldados do ‘exército democrático’. Surge um comboio de tanques. Passa por mim Vianninha que sussurra: ‘Some, porque o Exército virou a casaca!’ Vejo os tanques, com os ‘recrutas do povo’ montados em cima e entendo que minha vida adulta está começando, mas de cabeça para baixo. Outros companheiros se dispersam a distância, enquanto a UNE arde em fogo. ‘Ali, estão queimando os nossos sonhos’ – penso – ‘ali, queima a ‘libertação do proletariado’, ali morre em fumaça minha juventude gloriosa, queima um Brasil ‘cordial’, que me parecia fácil de mudar, um Brasil feito de slogans, idéias prontas e esperanças românticas.’


Lembro-me do comício da Central, 15 dias antes, quando senti um arrepio vendo o Jango falar em ‘reformas’ sem convicção, entre as tochas em fogo dos petroleiros e perto da mulher Tereza, vestida de azul, ausente e linda.


Lembro-me também das velas acesas nas janelas da cidade pela classe média, de luto contra Jango e lembro-me que pensei: ‘Isso vai dar bode!’ Agora, a UNE pega fogo como uma grande vela. Vou andando para o centro e as árvores do Russel me ameaçam com seus galhos, vejo a estátua de S. Sebastião flechado e me sinto mártir como ele, passo pela Praça Paris, onde Assis Valente se matou com formicida e penso em sua música: ‘Está na hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor!…’


Chego ao Passeio Público orlado de carros de combate e vejo que o mundo mudou. Sento-me perto de um laguinho e fico vendo os rostos das pessoas, mendigos com latinhas e sacos de aniagem, uma mulher bêbeda dançando, vejo o Rio pela primeira vez, como se tivesse acordado de um sonho para um pesadelo. As pessoas se movem em câmera lenta, as buzinas estão altas demais, no trânsito engarrafado, e eu me sinto exilado em minha própria terra. Na Cinelândia, grupos de soldados montam guarda. São recrutinhas fracos, com capacetes frouxos e cara de nordestinos analfabetos; o povo monta guarda contra nós. Numa vitrine, televisões mostram o Castelo Branco entre generais. Este é o novo presidente? Parece um ET de boné. Vou andando, sem lenço e sem nada. Paro na porta de um cinema onde passa Lawrence da Arábia. Finjo que olho os cartazes. Alguém me bate no ombro; viro em pânico e vejo um velhinho vendedor de loteria, que me segreda: ‘Sua calça está rasgada atrás…’ Apalpo o grande estrago do prego da UNE e saio mais tonto.


‘Meu Deus… eu que imaginava os grandes festivais do socialismo com Lenin e Fidel, eu que era um herói virei um bunda rasgada!’ Percebo que um Brasil ridículo, que sempre esteve ali, está vindo à tona. Ninguém quer me prender.


Sou invisível. Vejo um ônibus que vai para a minha casa. Me jogo dentro.


Passo em frente da UNE e não olho, pois sei que vou ver o fogo, bombeiros apagando. Não resisto, e o casarão preto passa, entre brasas e fumaça. Chego em casa, trêmulo. Minha mãe está com duas tias na sala. Uma delas, carola de igreja, que marchou pela Família, Deus e Liberdade, me beija muito e diz:


‘Toma aqui esta medalhinha de Santa Terezinha do Menino Jesus pra te proteger!’ E pespega em minha blusa a santinha com uma fita vermelha. Meu desespero é indescritível. Minha mãe me abraça chorando: ‘Ele não é comunista não!… Ele é bom, bom! Está pálido, meu filho… Come este bolinho de milho…’ Fico olhando os bibelôs da sala, mastigando o bolo.


Vejo os elefantes de louça, o quadro do Preto Velho, os plásticos nas poltronas, o lustre de cristal, orgulho de mamãe. E, afinal, entendo que minhas tias estão no poder e que eu não existo.’



Laurindo Lalo Leal Filho


‘As filhas do regime’, copyright Revista Educação, edição de março de 2004


O golpe se consumou em 1º de abril de 1964, mas não pegava bem comemorá-lo no dia da mentira. Ainda mais quando queriam chamá-lo de revolução. A data oficial ficou sendo 31 de março. Agora, 40 anos depois, as festas oficiais do início do regime estão esquecidas, mas não o retrocesso imposto ao país pela ditadura.


Em 1964, a televisão brasileira completava 14 anos e, em plena adolescência, começava a ser tratada pelo governo como se fosse filha de um pai rico e autoritário. De um lado, recebia incentivos, isenções de impostos, propaganda oficial e, principalmente, uma infra-estrutura moderna de telecomunicações, bancada pelo Estado, que lhe permitia chegar a todo o país. De outro, tinha que se comportar. Nada de críticas ao regime, de debates políticos e de maiôs muito curtos – Rita Cadillac apareceu com um no Chacrinha que tinha pano para fazer uns seis dos que são usados hoje e, ainda assim, foi parar na Polícia Federal.


A Globo, filha obediente, sobreviveu ao golpe e prosperou. Curvava-se às restrições oficiais e ia além, fazendo a sua própria censura. A estrondosa vitória do MDB, a oposição consentida, nas eleições para o Senado, em 1974, foi escondida. O noticiário global começava destacando sempre uma inexpressiva vitória da Arena (o partido do governo) numa pequena cidade do interior. Quando o ex-presidente Juscelino Kubitschek morreu num estranho acidente na via Dutra, a Globo ‘esqueceu’ de informar que ele estava com seus direitos políticos cassados. No final do regime, o comício pelas Diretas na Praça da Sé, em São Paulo (SP), foi anunciado como uma festa em comemoração ao aniversário da cidade. Não por acaso, a Globo passou a ter de três emissoras, em 1969, para 11, em 1973. O pai sabia recompensar a filha comportada.


Já a Excelsior, rebelde, nacionalista, fazendo um jornalismo independente e crítico, sucumbiu. Fundada em 1960, revolucionou a televisão brasileira ao criar faixas específicas de programação, com grandiosos espetáculos musicais, novelas, esportes e um telejornal inovador, o Jornal de Vanguarda. As notícias eram apresentadas ao vivo e comentadas por especialistas e críticos mordazes, como o cronista Sérgio Porto.


Outra que sucumbiu foi a Tupi, perdulária, mal administrada e deixada à própria sorte pelo governo. Sua concessão foi repartida entre Sílvio Santos (SBT) e Adolfo Bloch (Manchete), considerados mais dóceis e submissos ao regime do que os concorrentes Jornal do Brasil e Editora Abril. Bandeirantes e Record, sempre às voltas com problemas administrativos e financeiros, atravessaram a ditadura aos trancos e barrancos.


Hoje, 40 anos depois do golpe, a televisão que temos guarda as marcas da sua adolescência. Na meia-idade, comporta-se de maneira infantil, buscando a mesada do pai (conhecido como BNDES) e endeusando o governo de plantão. Pena que nesse caso só terapia não resolve.’




O Globo

‘Nunca mais’, Editorial, copyright O Globo, 29/03/04

‘Há 40 anos, os militares revogavam a ordem constituída numa ação preventiva contra uma alegada tentativa de golpe da chamada ‘república sindicalista’ – termo pejorativo que designava aquilo em que se transformara o governo de João Goulart. O compromisso dos militares era restabelecer o mais rápido possível a democracia. Para isso, o país esperou 21 anos.

A questão de saber se o chamado Movimento de Março de 64 – mais um dos curtos-circuitos institucionais que acometeram o país na sua atribulada história republicana – foi um golpe ou um contragolpe tornou-se tema de apaixonadas discussões políticas e de longos debates acadêmicos. Em certa medida, até hoje.

O importante é que ficaram lições. Uma delas é que se sabe como se entra numa ditadura; nunca como se sai. E foi assim que uma intervenção cirúrgica prevista para ser breve transformou-se num longo e traumático ciclo, em que a vida política do país ficou em coma por duas décadas.

Aquele grupo de oficiais que levou Jango, inúmeros políticos, intelectuais, estudantes e militantes sindicais ao exílio, na realidade iria tentar realizar um projeto de país acalentado pelos tenentes da década de 20 – uma ativa, nova e impaciente força política naqueles tempos. Vários dos generais de 64 estavam na estrada há décadas, e pode-se dizer que tinham uma visão de mundo plasmada a partir do tenentismo. Alguns, muito jovens, testemunharam quarteladas anteriores à Revolução de 30, militaram na queda da República Velha de Washington Luís, viveram por dentro as crises que acompanharam Getúlio Vargas e pontilharam a fase de redemocratização do pós-Guerra. Em 31 de março de 1964 se achavam prontos para construir o país que tinham na cabeça.

Com o poder nas mãos, os militares trilharam dois caminhos. Por um, obscuro, exercitaram o arbítrio e permitiram a violência do Estado até o ponto em que ela se voltou para dentro do próprio regime. Pelo outro, lubrificaram engrenagens da máquina pública, aproveitaram os tanques nas ruas para atualizar legislações – como a dos impostos – e ampliaram e modernizaram a infra-estrutura do país. Mas também foram eles que inauguraram um novo ciclo de endividamento externo, cujo desfecho foi a quebra do Brasil (por mais uma vez) no início da década de 80 – fato que acelerou a redemocratização, por abalar a sustentação que o regime militar tinha na sociedade. De acordo com o DNA do tenentismo, onde havia traços de uma ideologia nacionalista estatizante, o regime dos generais incentivou empresas públicas e cimentou algumas bases da atual crise fiscal. Conseguiu, ainda, fechar o país à competição externa, por meio de um programa autárquico de substituição de importações. E, com isso, semeou ineficiência na economia.

O Movimento de Março de 1964, o golpe do Ato Institucional n 5, desfechado em 1968 pelas facções radicais, na presidência do general Artur da Costa e Silva, e, depois, a pavimentação para a volta ao estado de direito empreendida pela dupla Geisel-Golbery chamam a atenção para os riscos que corre qualquer país com instituições manietadas. Quando se suspende o jogo democrático, fica-se na dependência de homens providenciais. O que teria acontecido com o Brasil se o presidente Ernesto Geisel e Golbery do Couto e Silva, seu principal auxiliar, chefe da Casa Civil, não tivessem vencido o confronto com o ministro do Exército Sylvio Frota, representante naquela época (77) da linha mais dura?

Daí a necessidade de se entender a relevância do processo histórico vivido após 1985, ano em que, mesmo por eleições indiretas, os civis voltaram ao poder, com a posse de José Sarney, vice de Tancredo Neves. Este tem sido um período rico para a sociedade brasileira, já sem as sombras do embate ideológico maniqueísta da Guerra Fria, entre direita e esquerda – o pano de fundo de praticamente toda a turbulência política que sacudiu o Brasil no século passado.

Nessa fase da História, em que o país passou com louvor, sem rupturas, pelo teste do impeachment do presidente Fernando Collor de Mello, destaca-se a mais civilizada transição de poder da República.

A forma como se deu a passagem da faixa presidencial de Fernando Henrique Cardoso para Luiz Inácio Lula da Silva, com a posse de um presidente vindo dos movimentos operários de esquerda, e eleito pelo povo, é um patrimônio do Brasil. Simboliza a convivência democrática entre todas as correntes políticas e consolida o princípio essencial da alternância de poder. É um patrimônio a ser zelado por todos, para que 31 de março de 1964 não se repita.’


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‘O ano que não foi lembrado’, copyright O Globo, 30/03/04

‘No dia 31 de março de 1964 um golpe militar derrubou o presidente João Goulart e mergulhou o Brasil numa ditadura que durou 21 anos. Apesar de ter marcado profundamente a História do país, a maioria dos jovens cariocas sabe pouco sobre o golpe, que completa 40 anos amanhã. Foi o que mostrou uma pesquisa feita para a Megazine pelo Laboratório de Pesquisas Aplicadas da UniCarioca, que ouviu 480 jovens de 15 a 21 anos de escolas e universidades públicas e privadas. Nada menos do que 72% dos entrevistados não souberam responder que episódio importante da História do Brasil ocorreu no dia 31 de março de 1964. Perguntados sobre quem era o presidente naquela data, 57,29% deram respostas erradas. Só 42,71% dos alunos assinalaram Jango. O restante dos entrevistados respondeu Jânio Quadros (34,79%), Juscelino Kubitschek (16,67%) e Tancredo Neves (5,83%). No dia 13 de dezembro de 1968, os militares editaram o mais drástico dos seus atos institucionais, o AI-5. Só 45,42% dos ouvidos citaram o fechamento do Congresso como uma das suas conseqüências. Os outros responderam que ele levou a eleições diretas (30,42%), ao confisco da poupança (12,28%) e ao aumento dos juros (11,88%).