Até onde as TVs abertas são capazes de chegar na guerra pelo Ibope? Presenciei, afundado de espanto no sofá de minha casa, a um merchandising que até então nunca tinha visto em horário nobre e de forma tão explícita: a venda de uma virgindade.
Não que eu tenha algo contra esse tipo de comércio, muito pelo contrário. Acredito que cada um sabe bem o que fazer com sua genitália. Mas daí a ligar para a produção de um programa de TV para anunciar o leilão da própria virgindade e ainda trazer uma ultrassonografia atestando a falta de uso…
A história foi apresentada em 31/3 no Superpop, programa sob comando da modelo Luciana Gimenez, na RedeTV!. Uma suposta modelo e atriz, que fez curso de atuação no núcleo de dramaturgia do SBT (?), decidiu, aos 28 anos, leiloar sua virgindade. E escolheu o Superpop para seu merchandising. Discutindo a atitude da moça, a cantora Vanusa, o locutor Paulo Barbosa e o sacerdote da Igreja Católica frei Paulo.
A "sebastiana" em questão, como a cantora Vanusa fez questão de chamar várias vezes a vagina da moça, será negociada com lance mínimo de R$ 100 mil.
O propósito da suposta modelo, segundo ela própria afirma, é o de "imitar a atitude" de uma jovem inglesa, pioneira no sebastiana’s business. A iniciativa, conta a jovem, já foi copiada por uma virgem chilena. "Aí tive a idéia de fazer também", explicou, com orgulho.
Que Mick-o!
O debate, é claro, acabou esquentando e se transformou numa arena, com direito a ataques verbais e acusações de prostituição. A igreja, representada por frei Paulo, também fez seu marketing, alegando que perdoa toda sorte de pecados, inclusive o dela. "Eu não estou me prostituindo", defendia-se a jovem. "Estaria se estivesse com alguém e traísse. Isso, sim, é prostituição".
Vanusa, que recusou recentemente – ao vivo – uma participação no programa Jogo da vida, da Band, por não querer participar de um quadro em que responderia a perguntas de foro íntimo, mostrou-se extremamente participativa no debate e chegou a desafiar os pais da garota a ligarem para a produção do Superpop. O assunto também estimulou as críticas do locutor Paulo Barbosa que, ao fim do programa, recebeu telefonema da filha dizendo ao povo brasileiro o quanto amava o pai e agradecendo pela educação exemplar que recebera de seus genitores.
O que me intriga, como profissional de comunicação, não é a cara-de-pau dessa gente querendo virar celebridade e disposta a tudo para aparecer na TV, mas sim o que leva uma jovem bem nascida, filha de um advogado e uma auxiliar de enfermagem, a chegar ao ponto de comercializar o hímen em rede nacional. Dinheiro? De acordo com a jovem, ele pode, sim, comprar o amor ideal. Indagada por La Gimenez sobre os motivos que a levaram a guardar sua virgindade até os 28 anos, a rapariga respondeu: "Até hoje não encontrei nenhum homem que me merecesse".
Sucesso? Bem, aparecer num programa como o Superpop, mesmo que para ser sparring dos demais convidados, é para poucos. Diversão? Para alguns, seria até mais lógico se a suposta modelo e atriz dissesse que fez tudo movida por uma fantasia sexual incontrolável de leiloar a virgindade. Mas ela sequer aventou essa possibilidade. Outra grande dúvida que fica sem resposta é o que leva uma emissora como a RedeTV! a promover um debate sobre a periquita alheia em horário nobre, com tantas coisas mais sérias do ponto de vista sociocultural acontecendo no Brasil e no mundo. Quando desliguei a TV, senti-me mais burro.
Por outro lado, como coincidência pouca é bobagem, divertido seria se um dia descobríssemos que o ganhador do leilão, que será realizado na internet, foi um sujeito de meia-idade, trovador de um reino distante e que confessa uma queda por modelos brasileiras. Que Mick-o!