Tuesday, 26 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Que mídia é essa?

Precisamos de algo mais inteligente. De uma televisão mais inteligente, de uma população mais inteligente. De uma mídia que seja motor de transformação social, e não uma fórmula eficaz de alienação. Precisamos de uma mídia com cara limpa, sem sujeira por trás das câmeras e acordos por baixo dos panos. De uma mídia onde o jornal seja livre para noticiar o que é notícia sem pensar nas perdas do governo e do empresário. De uma mídia livre para criticá-los, quando necessário.

O Rio de Janeiro vive, hoje, um apagão no transporte. Mas quem veicula isso? Mídia nenhuma. Sim, nos jornais estão estampados os rostos rebeldes, os defeitos nas máquinas, são descritos os atrasos e a revolta popular. Mas de forma alguma estampam o rosto da gravata que tem autonomia para explorar o serviço. Os transportes cariocas (Barcas S/A, SuperVia, MetrôRio), juntamente com outros serviços (Rede Globo, Light), são concessões públicas. E é o governador junto às agências reguladoras quem tem o poder de exigir um bom trabalho. Mas isso não acontece porque a população sofre sorrindo, até reclama num bar de esquina vez ou outra, mas no final das contas a falsa política de segurança é uma mudança para o estado, pensa ela, coisa que nenhum outro governo fez. Como não muda nada nunca, uma ilusão de mudança basta para a permanência de um poder.

Indigestão ao engolir qualquer coisa

Caso existisse uma mídia ética, tais indagações seriam (re)lembradas. Mas, como confiar em um jornal que diz que no próximo bloco terão notícias do Brasil e do mundo? Como confiar em um programa de entretenimento onde o erotismo é o atrativo? E em uma apresentadora que em trinta segundos comete três gigantescos erros de sua língua nativa? Ou em um apresentador que vive de absurdos? Ou em outro que diz a opinião de uma classe como sua e ao ingressar na política nada praticou?

Neste caso, parece que a tendência é piorar. Aos que reclamam do Big Brother, ou da Fazenda, algo pior vem por aí. Acredito, sim, que algo pior que um acordo de estupro em rede nacional para chamar atenção de um programa inicialmente sem audiência possa existir. Acho, ainda, que algo pior que a espetacularização de uma realidade possa existir. Parece que a tendência do descartável e do inútil ainda não chegou ao fim. Mas, os que veem as imagens e as leem – não estranhe, eu disse, sim, ler a imagem – não estão nada satisfeitos com sua fórmula. Aos que se satisfazem com ela, que ao menos saibam da indigestão ao engolir qualquer coisa da mídia.

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[Bianca Garcia é estudante de Jornalismo, Rio de Janeiro, RJ]