Tuesday, 26 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Lições de uma outra guerra

Nove anos depois do início da guerra do Iraque, as atenções se voltam para o Irã, e Tim McNulty, que era editor da seção internacional do Chicago Tribune durante o conflito iraquiano, tem hoje uma visão mais imparcial dos eventos, atuando como diretor da National Security Journalism Initiative, projeto da Universidade Northwestern para melhorar a educação e o treinamento em cobertura de temas de segurança nacional. Ele agora alerta jornalistas sobre o risco de se cair novamente na “narrativa de guerra”. “É mais fácil escrever sobre a previsão de uma guerra do que questionar se ela é mesmo necessária”, afirma.

O ombudsman do New York Times, Arthur S. Brisbane, conta em sua coluna [9/3/12] que, nos últimos meses, tem visto muitos leitores preocupados com a possibilidade de o jornalão cair neste “canto de sereia”, a narrativa de guerra, na cobertura sobre o programa nuclear do Irã. É frequente que leitores e críticos tragam à tona a desastrosa coberturada jornalista Judith Miller, no NYTimes, sobre a existência de supostas armas de destruição de massa de Saddam Hussein, como se temessem que o mesmo vá acontecer com o Irã.

Há acusações de que o NYTimes está dando muito espaço para a proposta israelense de um ataque a instalações nucleares iranianas; de que o jornal falhou ao não mencionar suficientemente que Israel tem armas nucleares; de que repetiu a declaração questionável de que líderes iranianos buscam a erradicação de Israel; de que exagerou nas informações da Agência Internacional de Energia Atômica; de que não analisou a declaração do supremo líder do Irã, que afirmou que armas nucleares eram um pecado; e de que publicou manchetes enganadoras.

Responsabilidade cívica

William O. Beeman, autor de The ‘Great Satan’ vs. the ‘Mad Mullahs’: How the United States and Iran Demonize Each Other (O Grande Satã vs. os Mulás Irados: Como os EUA e o Irã demonizam um ao outro, tradução livre)e professor do departamento de antropologia da Universidade de Minnesota, acredita que a cobertura do NYTimes contribuiu para uma má compreensão pública da situação, questionando a responsabilidade cívica do jornal. “A crença convencional é que o Irã tem um programa de armas nucleares, que vai atacar Israel e os EUA. Mas tudo isso é tendencioso e altamente questionável”, opinou.

Jill Abramson, editora-executiva do NYTimes, afirma que o jornal está ciente que muitos leitores podem ver um eco da cobertura falha do Iraque, mas defende que há diferenças distintas. Desta vez, o governo americano está expressando dúvidas sobre as armas de destruição em massa, e não pendendo para a guerra. Não há dúvidas de que o Irã tem um programa nuclear, diz Jill; só não está claro se ele existe para uso militar ou civil.

Jornalistas do NYTimes sabem da responsabilidade do jornal em ser vigilante, cético e justo. No mês passado, foram feitas reuniões para pautar matérias destinadas a examinar atentamente as declarações feitas por ambos os lados. Ter o ponto de vista iraniano, entretanto, vem sendo mais complicado devido à dificuldade de acesso ao país, que controla cuidadosamente a aproximação da mídia estrangeira.