O assunto do dia nesta terça-feira é a compra de 25% das ações ordinárias e o controle do capital votante da Fundação Ruben Berta-Par, a controladora da Varig, por US$ 112 milhões, pelo empresário Nelson Tanure, atual arrendatário dos jornais Gazeta Mercantil e Jornal do Brasil. Todos os grandes jornais brasileiros deram a transação realizada por Tanure em suas primeiras páginas. O Globo foi agressivo e avisou que a Justiça pode barrar oferta de Tanure pela Varig, conforme chamada no alto da capa. De todos, o mais discreto foi o rival Valor Econômico, que preferiu não dar o negócio como fechado e estampou a manchete “Tanure faz proposta pela Varig”.
Se acreditaram na concretização da compra, Folha, Estado e O Globo não pouparam o empresário em seus textos internos. Todos, e também o Valor, publicaram perfis sobre Tanure enfatizando o hábito que ele tem de fazer negócios “polêmicos” ou “pouco ortodoxos”, conforme texto de Raquel Balarin no Valor.
Outro assunto que entrou na pauta foi a nova acusação que o presidente Lula fez sobre o “golpismo” da oposição e das elites. Folha, Estado e O Globo dedicaram editoriais para criticar a postura de Lula.
O episódio da censura à Folha e do grampo na Rede Gazeta do Espírito Santo, por outro lado, ainda não deixou as páginas dos jornalões. A própria Folha traz uma entrevista com o juiz Sílvio Rocha, responsável pela determinação de proibir a divulgação de partes do processo criminal sobre a contratação da Kroll, pela Brasil Telecom, para investigar a concorrente Telecom Italia. Ele se defende e diz que a sua decisão “não pode ser vista ou encarada como censura à liberdade de expressão”. Já o Estadão informa que o governador capixaba Paulo Hartung mandou investigar o grampo na Rede Gazeta.
A TV Digital é outro tema que deve continuar na pauta até que a decisão final sobre o caso, em fevereiro, aconteça. Nesta terça, na Folha, o colunista Luís Nassif faz interessante análise sobre o modelo proposto pelo consórcio da União Européia.
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Leia abaixo os textos desta terça-feira selecionados para a seção Entre Aspas.
Folha de S. Paulo
Terça-feira, 13 de dezembro de 2005
TANURE COMPRA VARIG
Guilherme Barros
Empresário assume Varig por US$ 112 mi
“O empresário Nelson Tanure, dono da companhia Docas Investimentos S.A. e arrendatário do ‘Jornal do Brasil’ e da ‘Gazeta Mercantil’, comprou ontem, por US$ 112 milhões, 25% das ações ordinárias e o controle do capital votante da Fundação Ruben Berta-Par, a controladora da Varig. O negócio garante a Tanure a gestão da Varig.
Para ser sacramentada, no entanto, a proposta de Tanure precisa ser aprovada pela DAC (Departamento de Aviação Civil) e pelo comitê de credores da Varig. O Tribunal de Justiça do Rio já foi informado da proposta e ficou de se pronunciar. A Varig passa por processo de recuperação judicial.
O negócio foi apresentado ontem ao vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar, e ao presidente da Infraero, Carlos Wilson. A Infraero, que administra os aeroportos, é um dos principais credores da Varig. O anúncio da transação estava previsto para ontem depois de encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas foi adiado por problemas de agenda do presidente.
Participaram das reuniões, em Brasília, com José Alencar e Carlos Wilson, Nelson Tanure e Paulo Marinho, pelo grupo Docas, e Celso Rodrigues da Costa, presidente da FRB-Par, e César Cury, presidente do conselho de Curadores da FRB-Par, pela Varig.
Ao final das reuniões ontem, César Cury e Paulo Marinho informaram que o negócio foi fechado durante a madrugada passada. O grupo Docas se comprometeu a pagar a quantia de US$ 112 milhões em dez parcelas -a primeira foi desembolsada ontem. Com a aquisição, além dos 25% das ações ordinárias, o grupo Docas também terá direito a 67% do capital votante da FRB-Par em regime de usufruto por dez anos.
A proposta de Tanure também inclui a compra, por US$ 139 milhões, da VEM (Varig Engenharia e Manutenção) e da VarigLog, a empresa de logística da Varig.
O grupo Docas estava disputando a compra da Varig com a TAP, que chegou a acertar com a administração anterior da Varig a compra da VarigLog e da VEM por US$ 62 milhões. O não-fechamento do negócio com a TAP implicaria à Varig multa de US$ 12 milhões, que o grupo Docas afirmou que irá contestar na Justiça.
Segundo Paulo Marinho, diretor da Docas, o negócio com a Varig não prevê, pelo menos no primeiro momento, pedido de empréstimo ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). A operação com a TAP previa um financiamento de US$ 40 milhões do BNDES. ‘Não queremos dinheiro do governo’, disse Marinho.
O plano de reestruturação da Varig será apresentado pelos novos gestores neste mês ao comitê de credores da empresa. Para a recuperação da companhia, Tanure está confiante em conseguir abater parte dos mais de R$ 7 bilhões da dívida reconhecida pela Varig com os cerca de R$ 4,5 bilhões de créditos fiscais com o governo. A operação de encontro de contas enfrenta fortes resistências do Ministério da Fazenda e foi, até agora, um dos grandes empecilhos para que a venda da Varig acontecesse. Colaborou Cláudia Dianni, da Sucursal de Brasília.”
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Mercado esperava acerto com portugueses
“A crise da Varig se arrasta há anos, mas foi intensificada após os atentados do 11 de Setembro nos Estados Unidos, em 2001. Vários presidentes se sucederam desde então, mas nenhum conseguiu tirar a empresa da crise, que só se agravou e atingiu seu pico em julho deste ano, quando a companhia deu entrada no processo de recuperação judicial.
Uma solução para a crise da Varig chegou a estar próxima em novembro, quando um grupo liderado pela estatal aérea portuguesa TAP anunciou a compra da VEM (engenharia e manutenção) e da VarigLog (logística) por R$ 62 milhões, financiados parcialmente pelo BNDES.
Dado esse cenário, a opção da FRB (Fundação Ruben Berta, controladora de 87% das ações da Varig) por Nelson Tanure causou surpresa. Depois de a TAP fechar a aquisição das subsidiárias, esperava-se um desfecho com a companhia aérea portuguesa assumindo a companhia-mãe. Alguns executivos ligados à TAP chegaram a ser indicados para empresas do grupo Varig.
O ingresso da TAP no processo de reestruturação da Varig permitiu ainda que a Corte de Falências de Nova York protegesse o arresto de 40 aeronaves da Varig até 22 deste mês, quando, em tese, deveria estar detalhado e aprovado um plano de recuperação -inclusive a injeção de US$ 400 milhões a US$ 500 milhões até 2006 pela TAP, pelo fundo de investimentos Geocapital e outros parceiros.
Com a entrada da TAP nas negociações, o BNDES também se sentiu mais à vontade para entrar na recuperação da Varig. O banco oficial financiou a compra da VEM e da VarigLog. Sem a TAP, resta saber se estatais e BNDES darão o mesmo apoio ao plano de tirar a Varig do buraco.
A estatal aérea portuguesa teria até o próximo dia 19 para decidir se fica ou não com as subsidiárias da Varig. Segundo analistas, o negócio só seria vantajoso para a TAP se ela participasse da segunda fase do processo de recuperação, ou seja, se comprasse o controle da Varig. Procurada ontem, a TAP não se manifestou.
Conselho demitido
Nos últimos tempos, enquanto não se chegava a solução para a empresa, a temperatura da crise só aumentava. No último dia 18, foi demitido o grupo de executivos liderados por David Zylbersztajn, então presidente do conselho de administração da aérea.
Foi sob seu comando que, no final de junho, a Varig entrou em processo de recuperação judicial. Com isso, ficaram suspensas por 180 dias todas as ações ou execuções judiciais contra o grupo.
Por outro lado, a empresa ficou obrigada a apresentar um plano de recuperação, que seria aprovado pelos credores -estes teriam reunião hoje (veja texto ao lado).
A saída de Zylbersztajn ocorreu um dia após a Varig anunciar prejuízo de R$ 778,1 milhões de janeiro a setembro deste ano (155% mais do que em igual período de 2004) e a demissão de pilotos.
Na recuperação judicial, os credores reconhecidos foram classificados segundo a natureza das dívidas. Os credores estatais Infraero, BR Distribuidora e Banco do Brasil reúnem a maior parte da dívida. O principal credor privado é o fundo de pensão Aerus, dos funcionários. As pendências fiscais com o INSS e a Receita Federal não foram incluídas no plano de recuperação judicial. Colaborou a Folha Online”
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Polêmico, empresário atua em vários setores
“O empresário baiano Nelson Tanure, 53, é visto no mercado como um empresário que assume empresas falidas ou concordatárias e, de forma polêmica, tenta recuperá-las. Sua empresa de participações, a Docas Investimentos S.A., atua nos mais diversos setores, como portos, turismo e multimídia.
O empresário já adquiriu os estaleiros Emaq e Verolme, além do ‘Jornal do Brasil’ e da ‘Gazeta Mercantil’. No site do ‘Jornal do Brasil’, comprado por Tanure da família Nascimento Brito, em 2001, o empresário afirma que ‘a tarefa de reestruturar e consolidar’ o jornal poderia ser a última de sua vida profissional. A operação teria girado em torno de R$ 80 milhões. De acordo com o site, Tanure pretende se dedicar totalmente à ‘vida contemplativa’ antes de completar 60 anos.
No mesmo ano de 2001, Tanure se envolveu numa disputa com o grupo Opportunity, do banqueiro Daniel Dantas. O empresário representava o grupo canadense TIW (Telesystem International Wireless), que entrou na Justiça contra o Opportunity, reivindicando participar do controle acionário das empresas Telemig Celular e Tele Norte Celular, privatizadas em 1998. Tanure, porém, acabou afastado pela TIW depois que grampos telefônicos de conversas sobre a disputa vieram a público.
O empresário começou com uma pequena empresa de construção civil na Bahia, a Cinassa, que passou por dificuldades financeiras, fez dívidas e teve problemas com os clientes. No final da década de 70, comprou uma companhia de equipamentos de prospecção de petróleo, a Sequip. Nos anos 80, adquiriu a Sade, de equipamentos industriais, como turbinas para hidrelétricas.
Durante o governo do ex-presidente Fernando Collor de Mello (de 1990 a 1992), surgiram suspeitas de que a ex-ministra da Economia, Zélia Cardoso de Mello, amiga de Tanure, teria obrigado fundos de pensão a investir na Sade. Em 1991, um grupo de fundos de pensão de estatais comprou US$ 12 milhões em ações da Sade. Ele sempre negou suposto favorecimento.
No setor naval, Tanure investiu e, em seguida, fechou a Indústria Verolme Ishibrás (IVI). No site do ‘Jornal do Brasil’, ele diz que ‘o setor ficou inviável por culpa do governo, que decidiu fazer encomendas na Ásia e, além disso, mantém cargas tributária e previdenciária absurdas’. Foram demitidos cerca de 11 mil operários da indústria.
No ‘Jornal do Brasil’, o empresário também fez reestruturações e demissões. Enfrenta diversos processos judiciais de ex-funcionários, que reclamam na Justiça direitos trabalhistas que teriam sido violados.
Tanure é o caçula dos seis filhos de um comerciante libanês. Saiu de Salvador em 1977, aos 25 anos, para o Rio. Trazia um diploma de administração de empresas. Mais tarde, cursou história e filosofia na Universidade Columbia, em Nova York. O empresário é casado com Patrícia, tem quatro filhos e mora na Gávea (zona sul do Rio de Janeiro).”
CENSURA À FOLHA
Frederico Vasconcelos
Juiz diz que não pretendeu censurar Folha
“O juiz titular da 5ª Vara Federal Criminal de São Paulo, Sílvio Rocha, disse que sua decisão de proibir a divulgação de partes do processo criminal sobre a contratação da Kroll, pela Brasil Telecom, para investigar a concorrente Telecom Italia, ‘não pode ser vista ou encarada como censura à liberdade de expressão’.
‘Eu não impedi as empresas de comunicação de exercerem a possibilidade de expressar a sua liberdade de informação’, afirmou. ‘Em nenhum momento eu quis impedir a Folha de exercer livremente o seu ofício’, disse o juiz. Segundo ele, a medida atinge 13 empresas com sites na internet.
‘O teor da minha decisão é no sentido de que as empresas verificassem, dentro dos seus sites, eventualmente quais as informações que poderiam configurar violação ao sigilo, e providenciassem a retirada’, disse.
A decisão judicial obrigou a Folha Online a retirar, na última sexta, 165 páginas de seu noticiário que diziam respeito ao processo criminal que apura a contratação da Kroll pela Brasil Telecom.
Segundo o juiz, ‘a decisão foi tomada para preservar o segredo de informações acobertadas pelo segredo de Justiça’. Como exemplo, citou ‘a transcrição de intercepções telefônicas e telemáticas, declarações prestadas por investigados ou vítimas e também dados relativos à intimidade de acusados e de terceiros’.
O juiz afirmou que o teor do ofício enviado à Folha Online, assinado pela juíza substituta Margarete Sacristan, ‘não corresponde’ à decisão do juiz titular. Ontem, a Folha pediu à juíza a reconsideração do despacho.
Rocha explicou que deu a decisão no dia 7 de novembro e saiu de férias. ‘Não fui eu que expedi o ofício às empresas. Textualmente, não corresponde ao que decidi. No contexto, o que se pretende não é estabelecer a censura.’
Segundo Rocha, a juíza substituta não conhecia o processo. ‘Ela estava chegando para me substituir. Não quero transferir a responsabilidade, mas talvez o jornal tenha dado outra interpretação.’
Rocha disse que em nenhum momento proibiu que se fizesse menção a pessoas e nomes ligados ao caso Kroll.
O caso de espionagem revelado pela Folha em 1999 atingiu figuras do primeiro escalão do governo Lula. Rocha negou que o pedido de retirada de informações dos sites tivesse partido de pessoas ligadas ao governo. ‘Entre os sites que foram objeto de solicitação há sites governamentais que reproduziram as informações sob sigilo’, disse.
O magistrado relatou ter ficado ‘perplexo’ com a reação à medida. ‘Sou de uma geração de juízes que tem absoluto respeito pelos direitos fundamentais e pelas liberdades públicas, entre elas a liberdade de expressão. Acusar um magistrado de uma decisão nesse sentido é menosprezar a capacidade intelectual do juiz. Seria imaginar que, num Estado democrático de Direito, um juiz pudesse impor a censura a um órgão de imprensa’, afirmou.
Ele afirma ter atendido ao pedido de alguns advogados. ‘A violação estaria ocorrendo porque algumas empresas que têm site na internet estariam divulgando partes processuais, trechos dos autos, fazendo menção a relatórios policiais, documentos que foram supostamente apreendidos, transcrição de intercepções telefônicas e telemáticas, declarações prestadas por investigados ou vítimas e também dados relativos à intimidade de acusados e de terceiros.’”
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Decisão judicial é repudiada por comissão
A Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara divulgou nota em repúdio à decisão do juiz Silvio Luis Ferreira da Rocha, da 5ª Vara Criminal de São Paulo, que proibiu a Folha e a Folha Online de publicar reportagens sobre o processo que envolve a empresa Kroll e a Brasil Telecom.
A decisão do juiz foi baseada no argumento de que o caso encontra-se sob segredo de justiça.
A nota é assinada pela presidente da comissão, Iriny Lopes (PT-ES), e foi divulgada pelo site da Câmara (www.camara.gov.br). A parlamentar comparou a decisão com ações tomadas durante a ditadura militar (1964-1985).
‘Tal atitude só encontra parâmetros nos anos em que nosso país esteve imerso em um regime de exceção que muito prejuízo causou à nossa sociedade e ainda provoca seqüelas à plena vivência dos direitos humanos no Brasil’, diz o texto. Iriny diz ainda que a decisão também fere a Constituição e a liberdade de imprensa.
‘Tal determinação atenta contra a sociedade, em seu direito de ser informada, e à instituição ‘imprensa’, que, no uso de sua liberdade, garantida pela Carta Magna, desempenha papel fundamental na democracia.’
O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, e o ministro do STF Marco Aurélio de Mello já haviam criticado a decisão.”
CRISE POLÍTICA
Folha de S. Paulo, Editorial
Fantasia Golpista
“Ao deixar a 29ª Cúpula do Mercosul, realizada em Montevidéu, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que não age como seu colega venezuelano Hugo Chávez, mas que a oposição brasileira se comporta como a Fedecámaras, instituição empresarial do país vizinho que participou da orquestração de um golpe contra o presidente, em 2002. Nas palavras de Lula, setores oposicionistas estariam ‘tentando fazer golpismo’ contra ele no Brasil.
A tese de que as denúncias de corrupção envolvendo o governo e o PT seriam peças de uma conspiração golpista já havia surgido no início da crise. Era tão fantasiosa quanto atraente para os que preferiam ‘explicar’ os fatos de maneira esquemática e desconectada da realidade.
Hoje seria preciso um grau de alheamento descomunal para não perceber que a crise foi gerada pelo próprio governo, pelo PT e por seus aliados, que se enredaram numa trama de corrupção cujas características e dimensões poderiam perfeitamente estimular a oposição a se empenhar na abertura de um processo de impeachment do presidente. E ressalte-se que o impeachment não é uma aventura golpista, mas um instituto previsto pela Constituição.
Por cálculo político e conveniência, os adversários políticos de Lula têm, no entanto, preferido tratá-lo com benevolência. Visam ao desgaste da imagem do governo na expectativa de colher frutos nas eleições de 2006.
Se o presidente considera que há tentativas de golpe em cena, deveria apontar os conspiradores e o modo como pretendem removê-lo do poder. Mas é difícil crer que o primeiro mandatário se sinta realmente ameaçado por uma movimentação dessa natureza -antes de tudo porque ela não existe. Ao que tudo indica, a declaração de Montevidéu se inscreve numa estratégia de campanha.
De cima do palanque do qual, desde a posse, raras vezes desceu, Lula vai usando sua capacidade de comunicação para difundir sua fantástica versão dos acontecimentos: o ‘mensalão’ não existiu, o ex-ministro José Dirceu foi injustiçado e a oposição é golpista. É um caso em que o título da peça de Friedrich Dürrenmatt mais uma vez se aplica: seria cômico se não fosse trágico.”
TV DIGITAL
Luís Nassif
TV digital e o consórcio europeu
“Dentro do propósito de tentar entender os argumentos de todas as partes envolvidas na discussão sobre o padrão brasileiro de TV digital, vamos à corrente liderada pela Coalizão DVB Brasil (Sistema Brasileiro Padrão Mundial). Trata-se um consórcio mundial integrado por 260 organizações de telefonia, de radiodifusão e de fabricantes, entre os quais empresas como ST Micro Electronics, Siemens, Phillips, Nokia, Tales (empresa francesa da área de defesa), Rhodes & Schwartz e Samsung.
É um consórcio aberto, com um conjunto de desenvolvedores articulando-se nos moldes do sistema Linux, com as implementações sendo aprovadas por uma autoridade certificadora -o ETSI. A diferença é que as inovações aprovadas são incorporadas ao sistema e rendem royalties ao desenvolvedor, já que o pacote é negociado em conjunto.
Desenvolver um padrão mundial é tarefa difícil, porque há muita gente na mesa fechando soluções de compromisso. Nem sempre é ótimo do ponto de vista técnico, mas consegue ser superior do ponto de vista econômico, por ser necessariamente mais flexível, para comportar as realidades distintas de todos os países-membros, além de permitir a universalização.
Na época da disputa da telefonia, o CDMA (sistema proprietário da empresa Qualcomm) era apresentado como tecnologicamente superior. O modelo de negócios da GSM era superior -um consórcio global, dos moldes do DVB. Tinha abrangência maior, ganhou a guerra internamente e permitiu ao Brasil se tornar grande exportador de aparelhos celulares.
Hoje em dia, há três padrões básicos de transmissão de TV digital: o europeu (do DVB), o japonês (da mesma família, com implementações próprias) e o norte-americano (na verdade, da sul-coreana Samsung). E um conjunto de softwares proprietários utilizados por todos.
Segundo o consórcio DVB, o modelo americano ATSC e o japonês são restritos, criados para proteger o mercado interno da competição global. Seu foco é uma população de alta renda per capita. Sendo, ambos os países, os únicos mercados de seus respectivos padrões de TV digital, dificilmente o Brasil conseguiria exportar produtos baseados neles.
Além disso, o DVB é o modelo que melhor trabalha o conceito de convergência digital. Há um padrão DVB para satélites, para TV a cabo e para antenas terrestres. Essa lógica, além de garantir a convergência, permite ganhar escala e baratear os insumos.
As resistências contra o modelo DVB vêm das empresas de radiodifusão, já que é o padrão que mais facilita a entrada das empresas de telefonia no campo da transmissão de imagem.
A proposta da Coalizão Brasil DVB é que os institutos brasileiros reunidos no Sistema Brasileiro de TV Digital tragam suas implementações para dentro do consórcio DVB. O televisor brasileiro seria universal, permitindo exportar. E cada implementação desenvolvida pelo consórcio brasileiro -na forma de aplicativos ou de tecnologia-, se aprovada, seria imediatamente disponibilizada para um mercado global.”
Silvana Arantes
Ministério da Cultura convoca cineastas a discutir TV digital
“O Ministério da Cultura (Gilberto Gil) quer que os cineastas brasileiros ‘venham para o primeiro plano’ do debate promovido pelo Ministério das Comunicações (Hélio Costa) para definir o padrão de TV digital a ser adotado.
‘Estou sentindo falta dos cineastas na discussão sobre a definição do padrão da TV digital’, afirmou o ministro-interino da Cultura, Juca Ferreira, no encerramento do 6º CBC (Congresso Brasileiro de Cinema), domingo passado, no Recife.
Ferreira disse que a escolha, que cabe ao Ministério das Comunicações, ‘é estratégica para a produção de conteúdo no Brasil e não pode ser tratada como uma questão técnica’. A decisão ‘pode aumentar ou diminuir’ a participação do conteúdo de produção brasileira na TV, avalia o ministro-interino. O Ministério das Comunicações pretende ter a definição até fevereiro de 2006.
O MinC (Ministério da Cultura) abordou a digitalização, a distribuição de conteúdo audiovisual por celular e outros aspectos da convergência tecnológica em seu projeto de criação da Ancinav (Agência Nacional do Cinema e do Audiovisual), em 2004.
Vazado antes do envio ao Congresso, o projeto teve o rechaço de setores da sociedade, em especial das emissoras de TV aberta. O MinC foi acusado de ‘tentativa de cerceamento da liberdade de expressão’, como lembrou Ferreira. Com a polêmica, a Ancinav foi abortada pelo executivo, na maior derrota da gestão Gilberto Gil.
Embora não admita oficialmente, o MinC estima que o vazamento tenha partido do Ministério das Comunicações, que não apoiava o projeto.
‘Parte das dificuldades que tivemos com a Ancinav foi subestimar a importância da discussão pública. Esse erro não cometeremos mais’, disse Ferreira.
O ministro-interino caracterizou sua presença no CBC como sinal de reconhecimento ao apoio recebido do presidente da entidade, Geraldo Moraes. ‘Fiz questão de vir aqui, porque o CBC foi um aliado importante’, afirmou.
Moraes, 65, deu posse no domingo à nova diretoria do Congresso, com o produtor paulista Paulo Bocatto, 36, na presidência.
Embora congregue mais de 40 entidades da cadeia cinematográfica, o 6º CBC terminou esvaziado. A reunião que definiu as diretrizes da nova gestão teve pouco mais de 30 participantes e nenhum grande nome do setor. A jornalista Silvana Arantes viajou a convite da organização do 6º CBC”
MEMÓRIA
Carlos Heitor Cony
Luiz Alberto Bahia
“Com algum atraso, escrevo hoje sobre Luiz Alberto Bahia, falecido nos primeiros dias deste mês. Foi um tipo raro de jornalista, antes de mais nada pela formação humanística, que nele se sobrepunha aos macetes técnicos que fazem parte do equipamento básico de um bom comunicador. Conhecia os segredos e truques da profissão, foi um dos mais notáveis chefes de Redação de um grande e histórico jornal.
De formação católica (ex-aluno do Santo Inácio), ainda na mocidade abraçou a Vanguarda Socialista, de orientação trotskista. Nem por isso deixou de ser um dos maiores conhecedores da obra de Teilhard de Chardin, opondo a ‘O Fenômeno Humano’ do jesuíta francês o seu ‘O Fenômeno Divino’, um contraponto que considero magistral.
Quando fui trabalhar com ele, no ‘Correio da Manhã’, admirei-lhe a capacidade de encarar e descascar os abacaxis diários de um jornal que combatia Carlos Lacerda -nada mais, nada menos, um jornalista que governava o então Estado da Guanabara. E, ao mesmo tempo, dedicar à filosofia o melhor de si mesmo: a procura de um eixo espiritual, uma âncora moral que ainda nos falta.
Leitor de Marx, Sartre, Bobbio, tinha tempo e competência para dirigir um jornal e ser o principal editorialista de outro. ‘A Dimensão Injusta’, outro de seus livros, é um ensaio que o coloca entre os pensadores mais originais de nosso tempo.
Fui colega de Bahia duas vezes: no ‘Correio’ e no Conselho Editorial da Folha, no qual, quando falava, fazia análises além e acima das pontuações de cada dia, que muitas vezes impedem o jornalista de enxergar mais fundo e mais longe.
Foi chefe da Casa Civil do governador Negrão de Lima, aqui no Rio, quando se revelou um executivo de cúpula que nada ficava a dever ao intelectual e ao jornalista. Com sua vasta cabeleira revolta, que os anos tornaram maravilhosamente branca, Bahia foi um profissional que honrou o jornalismo e encantou aqueles que trabalharam e conviveram com ele.”
PUBLICIDADE
Luiz Francisco
Entidade critica interferência de ‘alheios à área’
“A Fenapro (Federação Nacional das Agências de Publicidade) encaminhou aos líderes de todos os partidos com representação em Brasília um manifesto criticando a interferência de pessoas ‘alheias à atividade’ na publicidade.
Sem citar nomes, mas deixando implícitas acusações ao empresário Marcos Valério de Souza, o texto da entidade, que deverá chegar ao presidente Lula até o final desta semana, revela que ‘a publicidade brasileira, malgrado a qualidade e o reconhecimento, passa por um momento delicado’.
O texto diz que a publicidade ‘foi envolvida por gente alheia à atividade e usada, de forma criminosa, em expedientes políticos, resultando disso um clima de desconfiança que atinge a todas as empresas’. Segundo a Fenapro, há 4.159 agências de publicidade no Brasil, que movimentam cerca de R$ 15 bilhões por ano -apenas as 30 maiores assinaram o documento distribuído aos líderes partidários. ‘Queremos separar o joio do trigo. É claro que as agências que trabalham para os governos foram prejudicadas com as denúncias de corrupção que surgiram em Brasília, envolvendo empresas de Minas Gerais, que não representam todo o contexto da publicidade brasileira’, disse o publicitário Sérgio Amado, presidente do grupo Ogilvy no Brasil. As empresas mineiras a que se refere são a DNA e a SMPB -que tinham Valério como sócio.
A Fenapro lembra que o Brasil tem a terceira melhor publicidade do mundo, ‘depois, apenas, dos EUA, os inventores do mercado moderno, e da Inglaterra, que respeita as tradições’. A Fenapro defende as filiadas. ‘Sem a agência, seria impossível ao ente público, qualquer que seja sua hierarquia, usar o mecanismo de comunicação, deixando-o, o que seria temerário, ao dispor do ponto de vista editorial de veículos privados, que assim se devem manter.’”
Adriana Mattos
Propagandas de cerveja voltam à TV
“No sábado, menos de 24 horas após a entrada da campanha de verão da Schincariol, a Antarctica veiculou um comercial que, indiretamente, faz referência aos ‘atributos’ da peça concorrente.
Nele, Juliana Paes e Bussunda apareçam cantando, de forma desafinada e sem ritmo, algo como eu prefiro ‘cerveja boa e música ruim’ ao contrário. Um dia antes, a Schin veiculou uma peça em que Roger, vocalista do Ultraje a Rigor, aparece cantando uma música inédita, criada pela agência Fischer America. Segundo a Antarctica, essa foi uma ‘coincidência’. A peça estava preparada havia mais de dois meses, diz.”
FSP CONTESTADA
Painel do Leitor
Banco Santos
“‘A respeito de reportagem ‘Edemar pagava propina a fundos de pensão’ (Brasil, 11/12), informo que a mesma é equivocada a partir do título. É necessário frisar que todas as operações descritas na reportagem foram efetivadas posteriormente a 3 de junho de 2004, portanto depois que o signatário deixou a presidência do Banco Santos, passando a ser apenas membro do Conselho Executivo. Ademais, o jornal assume como verdade o que não passam de suposições, acusações e ‘informações’ anônimas. Jamais paguei propina a funcionários de fundo de pensão. Não estive em instalações de qualquer fundo de pensão nos últimos cinco anos nem conheço seus dirigentes. O Banco Santos, pelo que se sabe, pagou comissões a seus executivos e a corretoras e distribuidoras de valores, como, aliás, é a prática no mercado. Não obstante esse fato, o que causa maior indignação ao signatário é a forma como foi colocado o título da reportagem. Mais uma vez, o jornalista aproveitou-se da confusão que se faz entre o nome Edemar Cid Ferreira e o nome do Banco Santos (instituição financeira extremamente estruturada, com mais de mil funcionários, com funções e responsabilidades definidas conforme exigência do Bacen). Edemar Cid Ferreira, repita-se, foi presidente do Banco Santos até o dia 3 de junho de 2004. A distância entre a notícia e a realidade demonstra absoluta má-fé do jornalista, que não tem qualquer prova de que as operações foram irregulares e muito menos de que tenha sido eu o agente das operações fantasiosas. O próprio texto, no terceiro parágrafo, desfaz a certeza do seu título ao basear toda a sua tese em depoimentos anônimos de supostos três ex-executivos do Banco Santos. Todas as aplicações de fundos de pensão no Banco Santos, sempre ou quase sempre em fundos ou em CDB, foram feitas dentro das regras de mercado e com remuneração sempre acima da média. Se alguém perdeu dinheiro aplicado foi em razão das condições desfavoráveis impostas pelo Banco Central, que levaram à falência do Banco Santos. Ademais, desmerecendo ainda mais o conteúdo da reportagem publicada de forma equivocada, os locais de entrega são mencionados como pretensamente suspeitos. Na realidade, são endereços do próprio Banco Santos ou de corretora de valores -o que não comprova absolutamente nada, muito menos suspeitas. Destaque-se, ainda, que o pagamento da comissão pela aplicação da Real Grandeza, conforme fac-símile publicado na reportagem, foi feito em 25 de junho, assinado pelo então vice-presidente de finanças do Banco Santos, senhor Clive Botelho, e entregue ao senhor Fernando Rossi, funcionário da área institucional e responsável pela conta da Real Grandeza, entre outras. O fato consta da planilha da operação, mas foi omitido na notícia, que só se utilizou de parte da verdade para se sustentar. É muito estranho que tais documentos, que estão no processo com segredo de Justiça, tenham ido parar na mão do jornalista, que tira ilações além do que a documentação comporta. Na página seguinte, em texto intitulado ‘Fundos dizem desconhecer as comissões’, com subtítulo ‘Advogado de Edemar nega pagamentos…’, há uma firme declaração dos fundos negando essa prática, demonstrando mais uma vez a lisura do procedimento. Por derradeiro, a citada Vera Lúcia, nos últimos três anos, foi assistente da diretoria. Vera Lúcia não participava do pool de secretárias da presidência e, pelo que tenho conhecimento, Vera Lucia sempre teve conduta exemplar e ética nos últimos 30 anos. O jornalista Mario Cesar Carvalho usa o Banco Santos como sinônimo de Edemar, como tem feito em sucessivas ocasiões. Esse jogo semântico despreza a realidade e mostra o desprezo pelo leitor que acredita estar recebendo notícias, e não um panfleto.’ Edemar Cid Ferreira (São Paulo, SP)
Resposta do jornalista Mario Cesar Carvalho – O banqueiro Edemar Cid Ferreira dirigiu o Banco Santos até a intervenção do Banco Central, em 12 de novembro do ano passado, segundo a Polícia Federal e a Comissão de Inquérito do BC. Por isso é réu numa ação da Justiça Federal por gestão fraudulenta do banco, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro.”
TV GLOBO
Daniel Castro
PM prende dublê da Globo por carro com placa fria
“O dublê Rafael Oliveira Melo de Sá, 27, foi preso em flagrante sábado à tarde, em São Paulo, quando se preparava para gravar uma cena de ‘Belíssima’, novela das oito da Globo. Sá foi indiciado por falsidade ideológica (disse que era funcionário da Globo) e por adulteração de placas de carro, crime que prevê até seis anos de prisão.
O dublê ficou preso durante 28 horas. Só foi libertado às 17h do domingo, por ação de advogado particular. A Globo se diz indignada com a ação da polícia.
Na cena que iria gravar, Sá dublaria Carolina Ferraz (que entrará em ‘Belíssima’ como dona de uma agência de modelos). Ao ser preso, usava peruca de mulher. Ele dirigiria um Volvo, com película escura no vidro, pela avenida Paulista. As câmeras estavam posicionadas na entrada do túnel que liga a Paulista à Doutor Arnaldo. Ao seu lado, no carro, estava um dublê de Reynaldo Gianecchini. Atrás, um contra-regras.
Os três ficaram parados dentro do carro, durante 20 minutos, na rua Ministro Rocha de Azevedo, enquanto aguardavam ordens. Mas vizinhos estranharam a ação, chamaram a polícia e eles foram levados ao 78º DP (Jardins).
As placas originais do Volvo eram da Bahia. Foram trocadas por outras, de São Paulo. A polícia não sabia disso e suspeitou que os dublês eram bandidos.
A prisão mobilizou advogados e produtores da Globo. Mas eles não conseguiram impedir a prisão de Sá. ‘Fiquei desesperado quando vi que o boletim de ocorrência não falava em gravação. Não tenho nada a ver com o carro’, diz Sá, que trabalha para uma empresa do Rio e ganha de R$ 500 a R$ 3.000 por trabalho.
A Globo, por meio de sua central de comunicação, informou que ficou ‘surpresa e indignada com a reação do delegado [de plantão no 78º DP], que não aceitou as explicações de que eram uma gravação, confundindo realidade com ficção’. Segundo a emissora, as placas usadas não eram adulteradas, mas cenográficas (feitas só para gravações).
Elisabeth Sato, delegada-titular do 78º DP, disse que o delegado plantonista cumpriu a lei e que a Globo só esclareceu os fatos após o flagrante ter sido registrado.
OUTRO CANAL
Reação 1 A Record protocolou ontem na Corregedoria do Ministério Público Federal representação contra o procurador Sérgio Suiama, que move ação contra a emissora por ‘demonização’ dos cultos afros. Diz que, em audiência dia 28, seus advogados foram ofendidos por Suiama, que os chamou de ‘representantes da intolerância e do ódio religiosos no país’.
Reação 2 Suiama afirma não temer a representação. ‘Falei mesmo’, diz.
Começo O ‘reality show’ ‘Casamento À Moda Antiga’ registrou média de 17 pontos, contra 26 da Globo, em sua estréia no SBT, anteontem.”
DRAMATURGIA NA TV
Folha de S. Paulo
Nelson Rodrigues ganha ‘retrato’ e mostra na TV
“‘Você imagina: um menino de 13 anos, vivendo com cadáveres, no necrotério, nas casas de família com assassinos, cobrindo pactos de morte, que naquela época era muito comum. Meu Deus, isso com 13 anos! Como é que esse menino vai raciocinar sobre a vida’, pergunta o cineasta Joffre Rodrigues, primogênito de Nelson Rodrigues.
O dramaturgo morto há quase 25 anos, em 21 de dezembro de 1980, dizia que ‘três meses de reportagem policial dão a experiência de um Balzac’.
Foi por aí que se safou: pelas palavras. Ele que, aos 15, viu uma mulher entrar na Redação, irritada com uma matéria sobre desquite, e matar o irmão Roberto a tiros, para citar uma das fatalidades recorrentes na família Rodrigues. Deixou de ser repórter para virar personagem do crime, como diz Nelson Rodrigues Filho.
Uma concisa, mas representativa cinebiografia do autor de ‘Vestido de Noiva’ estréia hoje no Canal Brasil, dentro da série ‘Retratos Brasileiros’.
O canal aproveita para homenageá-lo com um panorama alentado de suas peças ou crônicas adaptadas para o cinema. Serão exibidos dois curtas e 11 longas-metragens. Entre os filmes, estão ‘Boca de Ouro’ (1962), de Nelson Pereira dos Santos; ‘Toda Nudez Será Castigada’ (1973) e ‘O Casamento’ (1975), ambos de Arnaldo Jabor; ‘A Falecida’ (1965), de Leon Hirszman; e ‘A Dama do Lotação’ (1978), de Neville D’Almeida.
No ‘Retratos’, imagens dessas e outras produções são entrecortadas por depoimentos como o de D’Almeida, que rememora a bem-humorada criação do roteiro em parceria com Nelson.
Também falam sobre o dramaturgo personalidades que conviveram com ele, como o crítico Sábato Magaldi, o encenador Luiz Arthur Nunes e os jornalistas Zuenir Ventura e Wilson Figueiredo.
Entre os registros documentais, há uma fala do ator e encenador polonês Zbigniew Ziembinski (1908-78) sobre o impacto da primeira leitura da peça ‘Vestido de Noiva’, que montou em 1943, um marco do moderno teatro brasileiro.
Ziembinski destaca a busca de formas originais, ‘um texto legitimamente brasileiro’.
Livro
A internação de Nelson Rodrigues num sanatório, durante a juventude, para tratar de tuberculose, inspirou a professora Adriana Armony em seu romance de estréia, ‘A Fome de Nelson’ (ed. Record, 112 págs., R$ 24,90). Trata-se de uma referência àquela fase da vida em que o dramaturgo devorou clássicos da literatura, Dostoiévski à frente.
Armony analisa como a temporada passada entre os moribundos da carne influenciou a construção dos personagens de Nelson: os moribundos de alma, figuras-chave nas tramas.
Retratos Brasileiros: Nelson Rodrigues
Quando: hoje, às 20h, no Canal Brasil; de amanhã a 30/12, sempre às 20h, serão exibidos filmes adaptados de sua obra”
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O Globo
Terça-feira, 13 de dezembro de 2005
TANURE COMPRA A VARIG
Erica Ribeiro, Geralda Doca e Vagner Ricardo
Docas faz oferta pela Varig
“A Fundação Ruben Berta (FRB) fechou ontem um acordo para transferir 67% das ações ordinárias (com direito a voto) da FRBPar, sua empresa de participações, à Docas Investimentos, de Nelson Tanure, por US$ 112 milhões, pagos em dez parcelas anuais. A FRBPar é a controladora da Varig. A operação envolve a compra de 25% das ações ordinárias e direito de usufruto de mais 42%, para que Tanure assuma a gestão por uma década. Depois desse prazo, a FRB poderá ficar com 20% da empresa.
O acordo precisa ser avalizado pelo juiz Luiz Roberto Ayoub, da 8 Vara Empresarial do Tribunal de Justiça do Rio, que acompanha o processo de recuperação judicial da Varig, e pelos credores da companhia. Também será necessário o crivo do Departamento de Aviação Civil (DAC). A operação foi informada ontem ao vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar, pelo próprio Tanure. Segundo fontes do governo, Alencar teria ficado otimista. Porém, os credores governamentais (Infraero, Banco do Brasil e BR Distribuidora) receberam o negócio com ceticismo.
– Tanure terá muita dificuldade em aprovar a proposta, pois é conhecido como um especialista em escalonar dívidas e endurecer o jogo com os credores, o que não vamos aceitar – disse uma fonte do governo ligada às negociações.
Grupo também quer controle de VarigLog e VEM
O diretor de Investimentos da Docas, Paulo Marinho, destacou que a Docas não solicitou nem pedirá dinheiro público para injetar no plano de recuperação. A Docas tem, por exemplo, uma discussão com o BNDES na Justiça sobre dívidas. A Docas quer apenas, informou Marinho, que o governo honre o pagamento da ação pleiteada pela Varig na Justiça pelo congelamento tarifário da época do Plano Cruzado. Também afirmou que o dinheiro da compra da Varig é do próprio caixa do Grupo Docas. Segundo o executivo, a Docas pretende abrir o capital de todas as empresas do grupo Varig – vendendo ações na Bolsa de Valores a minoritários – como forma de levantar recursos.
A proposta do Grupo Docas, segundo fontes do governo, não prevê medidas para sanear a Varig, que tem um patrimônio negativo de mais de R$ 7 bilhões. Querem manter o quadro de funcionários para atrair o apoio dos sindicatos, disse a fonte.
– Do ponto de vista contratual, não existe a possibilidade de o negócio não dar certo – afirmou Marinho.
A Docas fez ainda uma proposta de US$ 139 milhões pela VarigLog e pela Varig Engenharia e Manutenção (VEM) e vai solicitar o cancelamento da venda das subsidiárias à portuguesa TAP. Segundo Marinho, a Docas não quer fatiar o grupo. A estatal portuguesa comprou as duas empresas em novembro, junto com investidores de Macau e do Brasil, por US$ 62 milhões, por meio da AeroLB, e tem o direito de preferência das ações, podendo cobrir outras ofertas. A operação foi financiada pelo BNDES, num plano emergencial para dar caixa à Varig e evitar o arresto de aviões por empresas de leasing .
A assessoria da TAP disse ontem que a empresa ainda não recebeu as propostas feitas pelas subsidiárias e aguarda uma informação oficial da Varig. O negócio com Tanure afastaria a TAP do processo de negociação, mas Marinho já afirmou que não vai pagar a multa de US$ 12,5 milhões que havia sido acertada previamente, caso a portuguesa não fique com o controle das subsidiárias.
– Fomos pegos de surpresa e chamados à pressas para vir a Brasília participar da reunião. A Fundação Ruben Berta já trata Nelson Tanure como se fosse o dono da Varig – disse ontem Celso Klafke, presidente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores em Aviação Civil (Fentac).
A Varig está com cerca de 15 aviões parados e sem recursos para colocá-los em operação. Esses aviões no solo representam uma despesa de US$ 3 milhões mensais.
A assembléia de credores, marcada para hoje, foi mantida. Mas, segundo fontes próximas à Varig, não terá qualquer efeito, e a aprovação do plano de recuperação só deverá acontecer no dia 19. Isso porque Tanure vai começar a discutir com os credores detalhes de um novo plano, que substituiria o apresentado pela FRB.
Em assembléia extraordinária ontem em Porto Alegre, os acionistas da Varig confirmaram os nomes de Sérgio de Almeida Bruni, Harro Fouquet, Sérgio Xavier Ferolla e Gesner José de Oliveira Filho para o Conselho de Administração e aprovaram a indicação de Humberto Rodrigues Filho para a Presidência do Conselho.
COLABOROU Chico Oliveira”
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Negócios polêmicos
“Nelson Tanure, filho de imigrantes libaneses, notabilizou-se desde o fim dos anos 80 por comprar empresas em dificuldades sem assumir as dívidas. Foi assim com o estaleiro Emaq e, nos anos 90, com o Verolme, mais tarde incorporado ao Ishibrás (IVI). Mas a debilidade financeira do estaleiro foi motivo de briga na Justiça entre Tanure e os portuários, que, em 1998, conseguiram o direito de administrar a empresa. Em 1999, o estaleiro acabou arrendado a um grupo de Cingapura. Outro legado da época de armador: Tanure questiona na Justiça dívidas contraídas com o BNDES, referentes à construção de navios para a Petrobras.
Em 1991, comprou a Sade Engenharia. Meses depois, fundos de pensão adquiriram US$ 14 milhões em ações da Sade – operação creditada por muitos à amizade de Tanure com a então ministra Zélia Cardoso de Mello.
Em 1997, Tanure comprou da família Paula Machado o Grupo Docas, que meses antes vendera o Banco Boavista aos grupos Monteiro Aranha, Crédit Agricole e Espírito Santo por R$ 1. Tanure e a família pediram na Justiça a anulação da venda. Só um acordo envolvendo uma indenização de R$ 150 milhões permitiu a venda do Boavista ao Bradesco, em 2000.
Tanure entrou no ramo da mídia em 2001, com o mesmo sistema: ficar com a parte boa. Assumiu por R$ 70 milhões o ‘Jornal do Brasil’ e as rádios JB e Cidade, por 60 anos. Em 2003, fez o mesmo com a marca ‘Gazeta Mercantil’, que devia R$ 600 milhões. A gestão Tanure obrigou funcionários a virarem terceirizados. Há centenas de processos trabalhistas contra Tanure, que alega que arrendou apenas as marcas e não é responsável pelas dívidas.”
CRISE POLÍTICA
O Globo, Editorial
Mau passo
“Lançado por José Dirceu no pronunciamento de despedida do cargo de ministro-chefe da Casa Civil, o conveniente discurso do golpe das elites, e da tentativa de desestabilização do governo pelas oposições, nunca foi levado a sério.
O fiel escudeiro Delúbio Soares chegou a usar o mesmo bordão enquanto tentava assumir a inverossímil responsabilidade exclusiva pelas malfeitorias financeiras do PT. Não deu certo. Na fase em que procurou se refugiar da crise em palanques armados pela CUT e pelos chamados movimentos sociais – alguns deles beneficiários do aparelhamento petista da máquina pública – o presidente Luiz Inácio Lula da Silva também se valeu desse artifício de retórica. Sem êxito.
Surpreendeu, portanto, o presidente exumar esse discurso fantasioso na sexta-feira passada, quando participava de uma reunião do Mercosul em Montevidéu. A infeliz comparação com a história política recente da Venezuela denuncia que alguma influência negativa sobre o estado emocional de Lula o caudilho Hugo Chávez há de exercer. Não deve ter sido por coincidência que o presidente brasileiro deu a desastrada declaração entre conversas com Chávez, um notório mau conselheiro.
Não há qualquer semelhança possível entre a realidade venezuelana e a brasileira. A crise política que empareda o governo de Luiz Inácio Lula da Silva se originou da denúncia de um aliado, Roberto Jefferson – denúncia de fatos escabrosos cometidos por representantes do partido do presidente e pela base parlamentar do governo.
E mais: é conhecida a resistência de parte da oposição a encaminhar o pedido de impeachment de Lula, uma postura muito diferente da oposição a Chávez. Tão impensada foi a ressurreição da tese do golpe que ela ocorreu enquanto o ministro Jaques Wagner se desdobrava em Brasília para restabelecer o diálogo com tucanos e pefelistas, necessário para o Congresso voltar a funcionar como o país precisa.
Aconselha-se a Lula uma pausa para reflexão. Ainda mais no momento em que o PT alveja a política econômica, ele trabalha contra a governabilidade ao agredir as oposições, principalmente o PSDB e o PFL.”
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O Estado de S. Paulo
Terça-feira, 13 de dezembro de 2005
ALCKMIN NO RODA VIVA
Gabriel Manzano Filho
Alckmin assume candidatura na TV e ataca Lula
“Em voz firme, num tom convicto que não permitia interrupções, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) fez ontem mais um ensaio de campanha presidencial, dizendo no programa Roda Viva, da TV Cultura, que ‘o Brasil está preparado para dar um salto de qualidade’ e que é preciso ‘sair desse marasmo e fazer as reformas que o atual governo não fez’.
Alckmin não esperou um segundo para afirmar, logo na abertura do programa, numa única palavra, curta e seca, que é candidato: ‘Sou’, disse – e ficou esperando. A seguir, desandou a falar do governo Lula e do que faria se estivesse no lugar dele: ‘O governo Lula tem sido uma contínua perda de oportunidades. A política de juros está errada. Não levou adiante nenhuma das reformas ou outras promessas de campanha.’
Disse que quer ser presidente pra fazer as reformas que no Brasil não foram feitas – a reforma tributária, o corte de gastos públicos. ‘Cada brasileiro trabalha quatro meses no ano, e vai até meados de maio só para sustentar o governo’, atacou.
Ele acusou o governo de fazer superávit e não cortar gastos. ‘É infinita a possibilidade de cortar gastos’, garantiu. ‘E eu tenho experiência acumulada’, completou, quando lhe perguntaram sobre a necessidade de mostrar ‘algo mais’ além do perfil de bom gerente.
Não demorou para que a conversa, na qual se manteve sempre no ataque, derivasse para a corrupção na política. Alckmin evitou críticas diretas ao presidente Lula ou ao PT, mas não amaciou: ‘Ética é ter um governo eficiente’, observou. ‘Não é só não roubar e não deixar roubar. Governar é um conjunto. Disputa política não é uma luta patrimonialista, tomar o poder para si, para seu time. Política é serviço, um instrumento para trabalhar para as pessoas. Ninguém vai ganhara eleição falando mal dos outros.’
Em várias ocasiões o governador atacou, sem meias medidas, a política de juros do País. ‘Como não tem credibilidade, o governo Lula está sendo gerenciado de maneira errada’, destacou. ‘O governo Lula deixou passar todas as oportunidades. Fernando Henrique primeiro estabilizou a moeda. Depois enfrentou quatro crises internacionais, e foi em frente.’
Ele também reagiu prontamente às provocações sobre sua disputa com o prefeito José Serra pela candidatura. ‘Ninguém deve ser excluído por W. O.’, disse. ‘Não posso responder pelo prefeito’, ponderou, sobre se ele seria ou não seu rival na convenção do PSDB no ano que vem. ‘Vocês querem me intrigar com o Serra…’, brincou. No mesmo momento de sua entrevista, Serra também era entrevistado pelo programa de Hebe Camargo, no SBT.
O governador não perdeu a oportunidade de vender a imagem de administrador experiente: ‘Você não pilota um Airbus sem ter antes passado por um monomotor, um bimotor’, comparou. ‘Fui prefeito, fiz oposição por muitos anos no Estado e ao governo federal. Fui co-piloto de um grande comandante, Mario Covas. E tive seis anos no governo. E São Paulo é um país, maior que a Argentina’.
Voltou a dizer, também, que não mudou de opinião sobre a reeleição: ‘Acho cedo pra concluir que a reeleição não deu certo.É cedo para dizer se a reeleição foi boa ou ruim. Tivemos um presidente só, para já ter uma opinião segura’. Eleição em quatro anos, sem reeleição, avisou, ‘é muito pouco’.
Alckmin disse em outro momento que a Previdência ‘é um Robin Hood às avessas’ e um de seus maiores desafios é trazer a informalidade para dentro do sistema de trabalho formal. Depois, respondeu a perguntas polêmicas sobre aborto, religião, deixando a impressão de que está se preparando, disciplinadamente, para embates nessas áreas. Definiu-se, por exemplo, como um homem ‘que não tem idéias arraigadas, dos anos 50’, e que o que lhe interessa ‘é projetar o futuro’. Não perdeu chance de falar de suas realizações – cortes em alguns tipos de impostos, economia com a compra de equipamentos por meio de leilões eletrônicos, e algumas obras, como o metrô.
E conseguiu, também, manter o bom humor ante a pressão das perguntas. Por exemplo, quando um entrevistador lembrou que ele é chamado de ‘picolé de chuchu’, por ser pouco assertivo nas declarações. ‘Não tenho medo de cara feia’, replicou. ‘Os tais carismáticos, agressivos, perderam a eleição e o chuchu aqui teve milhões de votos’, completou, provocando risos entre os jornalistas.”
GRAMPO NA REDE GAZETA
Wilson Tosta
Hartung manda apurar grampo na Rede Gazeta
“Para identificar os responsáveis pelo grampo ilegal, feito pela Polícia Civil, de um telefone da Rede Gazeta, de Vitória – com seis órgãos de imprensa e cerca de 200 jornalistas -, além de suas fontes, o governador do Espírito Santo, Paulo Hartung (PMDB), determinou ontem auditoria no equipamento usado na escuta. O objetivo é reconstituir, em no máximo 72 horas, todo o processo de monitoramento, para saber exatamente quem autorizou e quem executou a operação.
O sistema, conhecido como ‘Guardião’, dispõe de protocolo que registra todas essas informações, o que possibilita a reconstituição. A investigação poderá ter acompanhamento do Ministério Público Estadual e do Tribunal de Justiça capixaba.
‘No que depender do Executivo, puniremos de forma exemplar os responsáveis por esse fato absurdo e sem cabimento’, disse Hartung. ‘Após a auditoria vamos ter os elementos necessários para adotar todas as providências cabíveis.’ O governador quer a checagem, principalmente, das datas de início e término das gravações.
O diretor-geral da Rede Gazeta, Carlos Fernando Lindenberg, conhecido como Café, afirmou que a situação ainda é confusa, mas contou que a empresa recebeu documentos que dão a entender que pode ter havido uma confusão acidental, feita pela operadora Vivo. ‘O fato é que o telefone foi grampeado’, disse, destacando que os cerca de 850 funcionários, de todas as áreas, podem ter tido conversas gravadas.
CDs com as interceptações, segundo ele, circularam por Vitória: um intermediário tentou vendê-los. Foi assim que o caso chegou ao Sindicato dos Jornalistas do Espírito Santo, sendo denunciado pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) na última sexta-feira. Ontem, a empresa entrou na Justiça com pedido para que os CDs com suas gravações sejam retirados do processo judicial que gerou o grampo.
A Vivo disse por nota cumprir rigorosamente ordens judiciais sobre quebra de sigilo e declarou não ter achado falhas na identificação das linhas. O Sindicato dos Jornalistas divulgara documentos com identificações divergentes: o primeiro, no sábado,atribuía o telefone à Telhauto; o outro, divulgado ontem, tinha como proprietária à Gazeta do Espírito Santo Rádios e TV Ltda. O número é da empresa desde 2001.
ASSASSINATO
Em março e abril, o número 9944-6352, um dos 12 celulares ‘de saída’ da central telefônica da Rede Gazeta foi grampeado por ordem judicial, como parte das investigações do assassinato do juiz Alexandre Martins de Castro Filho. O telefone, segundo pedido à Justiça, pertenceria à Telhauto Material de Construção e integrava uma lista de aparelhos que teriam recebido ou feito ligações para o sargento Heber Valêncio, um dos condenados pelo crime. A arapongagem teria atingido os jornais A Gazeta e Notícia Agora, TV Gazeta, Gazeta On Line e rádios CBN e Gazeta AM.”
JORNALISTA ASSASSINADO
O Estado de S. Paulo
Atentado mata jornalista anti-Síria
“O jornalista e deputado Gibran Tueni, um duro crítico da Síria, foi morto ontem em um atentado com um carro-bomba em Beirute, um dia após voltar da França, para onde ele ia com freqüência por temor de ser assassinado no Líbano. Outras três pessoas morreram no atentado – seu motorista e dois pedestres – e mais de 30 ficaram feridas. Um automóvel com cerca de 40 quilos de explosivos foi detonado durante a passagem do comboio em que Tueni viajava pelo subúrbio industrial de Mkalles, arremessando o veículo blindado do jornalista e outros carros em um barranco.
Um grupo desconhecido, Combatentes pela Unidade e Liberdade do Levante, assumiu a autoria do ataque em um fax enviado à agência Reuters. ‘Quebramos a caneta de Gibran Tueni e amordaçamos sua boca para sempre, deixando o An-Nahar (jornal do qual ele era um dos donos) na escuridão’, declarou o grupo. Ele também disse que outros terão o mesmo destino. A autenticidade do comunicado não pôde ser confirmada.
O tio de Tueni, o ministro de Comunicações Marwan Hamadeh, e o influente líder druso Walid Jumblat, acusaram a Síria pelo atentado, algo imediatamente rejeitado por Damasco. Cinco ministros xiitas pró-Síria anunciaram ontem que estavam suspendendo sua participação no gabinete após ele votar um pedido para que uma equipe da ONU investigue os recentes atentados. O ataque contra Tueni ocorreu no mesmo dia em que os investigadores da ONU divulgaram um segundo relatório sobre o assassinato em 14 de fevereiro do ex-primeiro-ministro libanês Rafic Hariri (ler ao lado).
O ministro sírio de Informação, Mehdi Dakhlallah, negou o envolvimento de seu governo na morte de Tueni. Elias Murad, diretor do jornal Al-Baaz, ligado ao governo sírio, disse que o assassinato de Tueni foi cometido com o objetivo de prejudicar a Síria. ‘As acusações dos libaneses são estúpidas. A Síria não tem interesse em tudo isso’, disse Murad.
Para a maioria dos libaneses, o assassinato de Tueni, de 48 anos, foi uma ‘morte anunciada’, já que o político era um dos mais ferozes críticos do regime sírio. Meses atrás, Tueni, cristão ortodoxo, teve de abandonar o Líbano e se refugiar na França após receber ameaças de morte e informações da polícia libanesa e de embaixadas estrangeiras advertindo-o de que estava em uma lista de 45 pessoas que seriam eliminadas.”
MTV
Adriana Del Ré
Livro revela a cara da MTV nos últimos 15 anos
“Até hoje, a história da MTV Brasil só poderia ser resgatada em algumas reportagens ou reconstituída por seus pioneiros pela velha tradição oral. Não havia nenhuma obra que concedesse unidade à trajetória dessa emissora musical que criou uma nova linguagem na TV brasileira. De certa forma, ela também direcionou comportamentos e influenciou musicalmente gerações de jovens e adolescentes nos últimos 15 anos.
Mas agora essa lacuna está encoberta. Não definitivamente, mas encoberta. Organizado pelas pesquisadoras Maria Goretti Pedroso e Rosana Martins, o livro Admirável Mundo MTV Brasil (Editora Saraiva, 224 págs., R$ 49) traça o primeiro panorama histórico da emissora no Brasil e chega ao mercado hoje, em noite de autógrafos, que será realizada na Saraiva Mega Store, do Shopping Eldorado.
Mais do que uma reconstituição histórica do canal, Admirável Mundo MTV Brasil é uma coletânea de textos analíticos, encomendados para autores das mais diversas áreas da comunicação, e que, além de tudo, apresentam algum tipo de afinidade com o objeto de sua avaliação. Ao longo dos artigos, eles discorrem sobre diferentes aspectos da emissora: tecnologia, moda, programação visual, VJs, design, entre outros.
No ar desde 20 de outubro de 1990, quando a ex-VJ Astrid Fontenelle anunciou, esfuziante, o primeiro videoclipe da programação, Garota de Ipanema, na versão de Marina Lima, a emissora é fruto de uma parceria entre a MTV Networks americana e a Editora Abril, que tem na figura de Victor Civita, o Cici, um dos principais entusiastas e concretizadores da iniciativa. ‘A MTV agiu como um catalisador de todo o universo simbólico da música jovem e como um instrumento de identificação e representação dos grupos de estilo (tribos) juvenis no Brasil’, escreveu em seu artigo Valéria Brandini, doutora em Ciências da Comunicação na Escola de Comunicações e Artes (ECA), da USP.
‘Para os selos e as gravadoras, a MTV Brasil foi um meio de divulgação de seus artistas e bandas, um advento que trouxe inovações na dinâmica de produção de um álbum, já que, hoje, o videoclipe é parte da produção musical’, continuou Valéria. Para Maria Goretti, uma das organizadoras do livro e coordenadora do Centro de Estudos da Comunicação da ECA, a MTV, de fato, revolucionou não só a cena da música no Brasil, mas também a forma de se fazer televisão. ‘Ela coloca outras preocupações em foco, como mandar os telespectadores lerem um livro ou indicar o uso de camisinha’, afirma ela. ‘Hoje, a MTV é referência para outros canais abertos.’
Para Rosana Martins, outra organizadora, o fato da MTV Brasil ter começado como programadora de videoclipes (seguindo o modelo americano) e, com o tempo, se tornar geradora dos próprios programas de entretenimento, não tira sua vocação musical, como muitos afirmam. ‘No início, era estranho, os VJs mexiam muitos os braços, foram até apelidados de helicópteros. Mas é que estavam buscando uma linguagem própria. Hoje, não acho que a música tenha sido deixada de lado: ela está presente nos programas também.’
Mas será que a emissora consegue retratar o Brasil na telinha? Rosana acredita que sim, apontando como exemplo programas como Yo!, que dá amplo espaço ao rap nacional.
Ela e Maria Goretti levaram um ano para organizar o livro. Por falta de materiais disponíveis sobre a trajetória da emissora, tiveram de ir a campo, e se dedicar a pesquisas e entrevistas com todos os que fizeram parte dessa história. Na obra, não faltaram ainda testemunhos, elogios e críticas tecidas por funcionários, ex-funcionários, músicos e até telespectadores. ‘Não há só depoimentos bons sobre a emissora’, conta Rosana. ‘Porque a idéia é que o livro fosse uma reflexão destes 15 anos de MTV Brasil.’ Serviço
Admirável Mundo MTV Brasil. De Maria Goretti e Rosana Martins. Saraiva. 224 págs., R$ 49. Saraiva Mega Store. Av. Rebouças, 3.970, 1.º piso, 3819-5999. Hoje, às 19h”
TV PAGA
Keila Jimenez
Traffic emplaca três séries na TV paga
“Conhecida empresa de marketing esportivo, a Traffic está expandindo seu raio de ação. O grupo acabou de comercializar três produções suas para o canal pago SporTV e promete para 2006 a chegada no Brasil de atrações de uma grande produtora internacional, a WWE.
Os seriados vendidos para a Sportv são Gravity Quest, que mostra as aventuras de um grande pára-quedista; Big Wave Hunters, que traz os melhores surfistas do mundo atrás das maiores ondas; e Last Week, reality show que mostra o dia-a-dia de um atleta brasileiro pouco antes de uma grande luta.
Os programas foram produzidos pela TV7, do Grupo Traffic, e estréiam nos próximos dias. Já com WWE, o negócio é um pouquinho diferente. A Traffic será uma espécie de agente da produtora no Brasil, dona de dois grandes formatos: as séries Raw e Smackdown, exibidos atualmente em mais de cem países.Os produtos das WWE devem chegar aqui só em 2006.”
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Valor Econômico
Terça-feira, 13 de dezembro de 2005
TANURE COMPRA A VARIG
Paulo de Tarso Lyra e Vanessa Adachi
Nelson Tanure fecha acordo para assumir a Varig
“Em mais uma reviravolta surpreendente no caso Varig, a Docas Investimentos, de propriedade de Nelson Tanure, fechou um acordo para assumir o controle da companhia aérea.
Enquanto outros interessados, como a TAP, se debatiam pelas subsidiárias da Varig, Tanure ‘entrou por cima’. Prometeu desembolsar US$ 112 milhões para assumir o controle da FRB-Par, a empresa de participações da Fundação Ruben Berta. Desse total, US$ 100 milhões seriam dados pela aquisição de 25% das ações com direito a voto da FRB-Par.
Os outros US$ 12 milhões seriam dados em pagamento pelo usufruto de outros 42% das ações ordinárias pelo prazo de 10 anos. Com isso, Tanure deteria 67% das ações votantes da FRB-Par pela próxima década. Isso lhe daria o controle de todas as outras empresas do grupo, como a Nordeste Linhas Aéreas, a Rio Sul, a Pluna (empresa aérea uruguaia), além dos hotéis Tropical e a Sata.
Além disso, Tanure se comprometeu a encontrar quem desconte US$ 40 milhões em recebíveis da Varig, segundo o Valor apurou.
Nos últimos meses, Tanure contou com a colaboração de Carlos Luiz Martins, ex-presidente da Varig. Martins colaborou na confecção da proposta e especula-se que ele poderia voltar à companhia agora. Ele foi demitido quando a fundação resolveu contratar o grupo liderado por David Zylbersztajn no primeiro semestre.
A Docas Investimentos apresentou ainda, na última sexta-feira, outra proposta para a Varig: mais US$ 139 milhões para adquirir a VarigLog e a VEM (Varig Engenharia e Manutenção).
Venceu na sexta o prazo dado pela Justiça do Rio, onde corre o processo de recuperação judicial da aérea, para que outros interessados apresentassem lances maiores do que os US$ 62 milhões pagos pelo grupo de investidores liderados pela estatal portuguesa TAP para ficar com as duas subsidiárias.
A proposta de Tanure foi superior à da TAP, mas inferior à do fundo MatlinPatterson, segundo uma fonte que teve acesso aos valores oferecidos.
O negócio entre Tanure e a Fundação Ruben Berta foi fechado na madrugada de domingo para segunda. Até a metade da semana passada, os curadores da fundação e os executivos da Varig acreditavam que um misterioso investidor argentino adquiriria a Varig. Quando o depósito prometido a título de ‘sinal’ não veio, foi a senha para que Tanure voltasse à cena. Ele já havia feito tentativas de negociar o controle da Varig, sem sucesso, e continuava a insistir.
Na tarde de ontem, os representantes de Docas e da fundação comunicaram o fechamento do negócio ao vice-presidente da República, José Alencar, e ao presidente da Infraero, Carlos Wilson.
O diretor da Docas Investimentos, Paulo Marinho, declarou que o plano de reestruturação da Varig será apresentado na assembléia de credores marcada para a próxima segunda, dia 19 de dezembro.
As dívidas da empresa chegam a R$ 7 bilhões. De acordo com Marinho, mais da metade deste valor – R$ 4 bilhões – são débitos fiscais. Tanure pretende tentar fechar o tão falado ‘encontro de contas’ com o governo usando o crédito que a empresa tem a receber da União por conta do processo de compensação tarifária que tramita no Superior Tribunal de Justiça.
O diretor da Docas disse que o grupo não quer dinheiro do governo federal e que todos os recursos utilizados na compra da Varig e também da VEM e da VarigLog virão do caixa da Docas. ‘Se a TAP cobrir a nossa proposta, pode ficar com as duas subsidiárias. Caso contrário, vamos questionar os US$ 12 milhões que eles pleiteiam se perderem o negócio.’
Por enquanto, a Docas só desembolsou a primeira de dez parcelas para assumir o controle da FRB-Par. Foram depositados US$ 11,2 milhões. O acerto é que serão parcelas anuais.
Pelo acordo, segundo o Valor apurou, Tanure se comprometeu a garantir participação acionária de no mínimo 20% para a FRB em todas as empresas do grupo ao final do prazo de dez anos. Ou seja, ao renegociar dívidas com credores durante o usufruto do controle, Tanure se comprometeu a não diluir a fundação além desse percentual.
O processo de reestruturação da Varig, segundo Marinho, seria completado em dez anos.
O negócio ainda tem que ser aprovado pelo Departamento de Aviação Civil (DAC) e pelos credores da Varig. ‘Não há possibilidade de credores de boa-fé não aprovarem a nossa proposta. Ela prevê a reestruturação da Varig. A outra alternativa é a falência.’
O vice-presidente da República José Alencar recebeu a proposta do grupo Docas com mais entusiasmo do que os credores federais (Infraero, Banco do Brasil e BR Distribuidora). ‘Mais do que nunca, é hora de sermos cautelosos’, declarou um credor federal da Varig.
Credores privados também foram céticos ao comentar a operação. ‘Vamos ver o que Tanure tem a propor’, disse um deles. Somente o presidente do fundo de pensão Aerus, Odilon Junqueira, comemorou o negócio. ‘Com um empresário de verdade, a Varig tem um enorme potencial.’
O presidente do conselho de curadores da Fundação Ruben Berta, Cesar Curi, disse que a compra da Varig pela Docas é uma ‘vitória do povo brasileiro’. (Colaborou Daniel Rittner, de Brasília)”
Raquel Balarin
Empresário costuma fazer negócios pouco ortodoxos
“A oferta de compra de uma participação na Fundação Ruben Berta é uma operação típica de Nelson Tanure. Aos 54 anos, o baiano, que ficou conhecido por seus investimentos no setor de estaleiros, tem se dedicado nos últimos cinco anos a adquirir ativos problemáticos: empresas altamente endividadas, mas que têm um nome conhecido. Os intangíveis, diz, são um grande negócio.
Outra de suas marcas registradas são os planos heterodoxos de salvamento de algumas dessas empresas. Em geral, ele não compra diretamente as companhias, mas faz acordos de pagamento de royalties pelo uso da marca ou de prestação de serviços, com o objetivo de evitar a sucessão. Foi esse o desenho, por exemplo, das operações realizadas com o ‘Jornal do Brasil’, no fim de 2000, e com a ‘Gazeta Mercantil’, em 2003.
No JB, Tanure fechou acordo com a JB Online para uso das marcas e acesso ao acervo. Posteriormente, o jornal passou a ser produzido por essa empresa. Na Gazeta, a Editora JB, de propriedade de Tanure, fechou acordo com as empresas controladas por Luiz Fernando Levy de licenciamento da marca por 60 anos. Tanure paga royalties à empresa Gazeta Mercantil. Com os recursos, segundo o desenho do negócio, a empresa pode abater sua dívida, inclusive com a Receita Federal e o INSS.
Na Gazeta, o desenho não tem evitado a sucessão. Segundo o escritório Muller, Durães e Assuf Advogados, que representa ex-funcionários e credores da Gazeta, Tanure perdeu quase todas as ações já julgadas na 26ª Vara do Trabalho de São Paulo. De cerca de 300 processos, aproximadamente 30 já foram julgados. O passivo trabalhista é calculado pelo escritório em R$ 90 milhões, mas os advogados de Tanure estimavam que não passava de R$ 60 milhões. A associação dos ex-funcionários conseguiu o arresto da marca na Justiça.
As investidas de Tanure em mídia e entretenimento foram além de JB e Gazeta. Ele também edita a revista Forbes (apesar da disputa jurídica sobre o uso da marca) e foi sócio de Ricardo Amaral na Companhia Brasileira de Mídia, em negócios como o ATL Hall e a academia Estação do Corpo, no Rio.
Nos últimos cinco anos, também tentou comprar a Cemar, distribuidora de energia do Maranhão e a operadora de telefonia Intelig, além de ter assessorado a canadense TIW no conflito do Opportunity com Telemig Celular e Amazônia Celular. Tanure e Daniel Dantas, do Opportunity, eram inimigos, embora comente-se que eles teriam feito as pazes.
Tanure obteve os recursos para as investidas ao vencer, em 2000, uma disputa judicial com o Interatlântico (joint venture entre o português Espírito Santo, o francês Crédit Agricole e o brasileiro Monteiro Aranha), que tinha comprado o Banco Boavista da família Guinle de Paula Machado. Ele recebeu cerca de R$ 120 milhões, entre dinheiro, obras de arte e imóveis.
No começo da carreira, na Bahia, Tanure administrou a Cinassa, que acabou falindo. Na década de 80, já amigo de políticos como Delfim Netto, Gilberto Mestrinho e Jáder Barbalho, fez seus primeiros investimentos. Adquiriu a Sequip, fabricante de equipamentos para prospecção de petróleo, os estaleiros Emaq e Verolme e a empresa de engenharia Sade. Todas passavam por dificuldades financeiras.
No início da década de 90, uma operação da Sade deixou marcas profundas em sua imagem. Amigo da ex-ministra Zélia Cardoso de Mello, ele pediu sua ajuda para uma operação de captação de recursos. Fundos de pensão estatais se abarrotaram de papéis da empresa, amargaram um grande prejuízo e o caso foi parar nos jornais.
Após a operação, Tanure submergiu e reestruturou suas empresas. Alugou ou arrendou estaleiros e vendeu a Sade-Vigesa e a Mafersa para a Inepar. Voltou com o processo contra o Interatlântico e, desde então, tem se preocupado com a imagem. Foi vice-presidente da Orquestra Sinfônica Brasileira e adquiriu da viúva Iluska a coleção de música clássica que pertencia a Mário Henrique Simonsen.”
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Gazeta Mercantil
Terça-feira, 13 de dezembro de 2005
TANURE COMPRA VARIG
Rafael Rosas
Docas assume controle da Varig por US$ 112 milhões (chamada de capa – texto completo )
“Com o processo de recuperação judicial da Varig na reta final, a Docas Investimentos, do empresário Nelson Tanure, proprietário da Gazeta Mercantil e do Jornal do Brasil, concluiu negociações com a Fundação Ruben Berta (FRB) para assumir a administração da empresa. O investidor pagará US$ 112 milhões por 25% das ações ordinárias e mais o usufruto oneroso de outros 42% das ações ordinárias, garantindo controle do Grupo Varig. Agora, falta apenas aprovação dos credores, que se reúnem hoje em assembléia no Rio de Janeiro.
De acordo com a Docas, entre as mudanças que serão implementadas na companhia aérea estão a ‘otimização do nível de empregos, com o retorno de aviões à frota e o restabelecimento de linhas; a preservação do Instituto Aerus de Seguridade Social e o aumento de capital da Varig S.A. e das demais empresas do Grupo FRB-Par, levando suas ações às bolsas de valores, ampliando a base de acionistas e implementando as melhores práticas de governança corporativa’.
Os papéis da Varig subiram ontem 17,05% na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa).”
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Jornal do Brasil
Terça-feira, 13 de dezembro de 2005
TANURE COMPRA VARIG
Rafael Rosas
Docas no comando da Varig
“Com o processo de recuperação judicial da Varig na reta final, Docas Investimentos, do empresário Nelson Tanure, proprietário do Jornal do Brasil e da Gazeta Mercantil, concluiu as negociações com a Fundação Ruben Berta (FRB) para assumir a administração da companhia. O novo investidor pagará US$ 112 milhões por 25% das ações ordinárias e mais o usufruto oneroso de outros 42% das ações ordinárias, garantindo o controle do Grupo Varig. Agora, falta apenas a aprovação dos credores, que se reúnem hoje em assembléia na sede da fundação no Rio de Janeiro.
De acordo com Docas, entre as mudanças que serão implementadas na companhia haverá a ‘‘otimização do nível de empregos, com o retorno de aviões à frota e o restabelecimento de linhas; a preservação do Instituto Aerus de Seguridade Social; e o aumento de capital da Varig S.A. e das demais empresas do Grupo FRB-Par, levando suas ações às bolsas de valores, ampliando a base de acionistas e implementando as melhores práticas de governança corporativa’’.
O acordo para compra da empresa foi assinado ontem, depois de ter sido discutido durante todo o domingo, em uma reunião entre representantes de Docas Investimentos e conselheiros da Fundação Ruben Berta. As duas empresas publicam hoje fato relevante detalhando a operação.
O acerto entre Docas e FRB coloca o ponto final em uma negociação que começou há mais de um ano, com diversas paralisações causadas por mudanças de rumo no conselho de administração da companhia. O namoro ficou mais forte há cerca de um mês, quando a fundação afastou os executivos David Zylbersztajn, Omar Carneiro da Cunha, Eleazar de Carvalho e Marcos Azambuja – os chamados notáveis – do comando da Varig.
O advogado Carlos Eduardo Bulhões Pedreira, do escritório Bulhões Pedreira, contratado por Docas para costurar o acordo, ressalta o clima de lealdade durante as negociações.
– O processo agora será mais transparente – afirma Bulhões Pedreira.”