As quase sempre conturbadas relações entre a imprensa paulista e o poder, de 1823 a 2010, são o foco de História da Imprensa Paulista – Jornalismo e poder de D. Pedro I a Dilma, livro que Oscar Pilagallolança no final do mês em São Paulo. Primeira obra da Três Estrelas, nova editora do Grupo Folha, faz em perto de 400 páginas não apenas um resumo da história da imprensa paulista e seus veículos nesse período, mas principalmente analisa o comportamento desta em suas relações com o poder em episódios marcantes como, entre outros, a República, o getulismo, a ditadura pós-1964 e a era FHC-Lula-Dilma.
Embora tenha atuado na Folha de S.Paulo entre 1982 e 2000, com algumas interrupções, e ainda hoje seja seu colaborador, Pilagallo deixa claro desde o início que isso não impediu que avaliasse criticamente a postura do jornal em diversas situações: “Esse viés crítico está presente na análise do comportamento de diversos veículos da imprensa paulista em momentos importantes da história desses quase dois séculos, ainda que o livro tenha sido estruturado cronologicamente. Outras obras resumiram bem esse período até os anos 1970, mas creio ter conseguido consolidar principalmente fatos que foram tratados de forma pontual desde então por outros autores.”
O livro, que tem orelha assinada por Roberto Pompeu de Toledo, será lançado em 26/3, às 18h30, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, em São Paulo (av. Paulista, 2.073). Além da Folha, Pilagallo (pilagallo@uol.com.br) teve passagens por DCI e Gazeta Mercantil, esteve por quatro anos no Serviço Brasileiro da BBC, em Londres, e criou em 2005 a revista EntreLivros, que editou por dois anos. É também autor de A aventura do dinheiro (2000), A história do Brasil no Século XX (cinco volumes, 2009) e O Brasil em sobressalto (2002), todos pela Publifolha. Em 1993, recebeu o Prêmio Esso de Reportagem Especializada. Confira entrevista dele a seguir.
“Sempre me interessei por pesquisar a imprensa”
Como está estruturado o livro?
Oscar Pilagallo– Em ordem cronológica, cobrindo de ponta a ponta o período entre 1823 e 2010, de D. Pedro I a Dilma, como diz o subtítulo. Aborda o Império (I e II); o Abolicionismo; a República; resistência, censura e cooptação sob Vargas; as conspirações até 1964 e a ditadura (inclusive a imprensa alternativa); redemocratização, diretas, Collor e a fase FHC-Lula-Dilma.
O foco é só a imprensa escrita?
O.P.– Não, embora ela seja predominante. Há muitas informações sobre rádio, revistas, TV e até internet.
Quando começou a fazer o livro?
O.P.– A escrever e fazer pesquisas mais focadas, há pouco menos de um ano. Mas sempre me interessei por pesquisar historicamente a imprensa e venho coletando material desde o final dos anos 1970. Aliás, uma curiosidade: o Roberto Pompeu de Toledo, que assina a orelha e é meu vizinho, acabou sendo uma importante fonte de pesquisa, pois tem uma coleção enorme de livros sobre o assunto.
“Veja editorializou a cobertura”
Quais foram os critérios que você usou para analisar criticamente a postura da imprensa?
O.P.– Não analisei nenhum veículo específico. Todas as avaliações críticas que faço no livro dizem respeito à postura da imprensa em momentos importantes da vida nacional, e aí contextualizo uns e outros. Por exemplo, os Mesquita [Estadão] se opuseram firmemente ao Estado Novo e foram afastados do comando do jornal durante muitos anos; já os Diários Associados tiveram uma postura diferente e não se prejudicaram; outros até se beneficiaram nesse período. Assim, analisei episódios como o Abolicionismo, as conspirações contra Juscelino e Jango, a oposição a Lula.
A propósito, e com relação a Veja?
O.P.– Veja entra nas análises dos períodos da ditadura, de Collor e de Lula. É interessante observar a mudança de postura da revista nesses diferentes momentos. Principalmente com relação a Lula, ela editorializou demais a cobertura. Mas a Folha também fez isso em algumas ocasiões. Com relação à Folha da Tarde, o papel dela a serviço da ditadura foi terrível.
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[Wilson Baroncelli, do Portal dos Jornalistas]