A Lei do Piso, declarada constitucional pelo Supremo Tribunal Federal, continua sendo pisada literalmente pelos gestores públicos que alegam inviabilidade financeira para seu pagamento o que denota que há sempre maquiagem nas contas públicas em todo país, pois bastaria que o ente público se declarasse incapaz comprovadamente de pagar o piso salarial com contas abertas, com transparência e com a demonstração real da situação financeira do governo, que muitas vezes coloca educação, saúde, moradia e segurança como elementos sem real prioridade – na maioria dos casos, governos tragados pela tradição neoliberal e com capa de socialista. É claro que os professores como massa falida e muitas vezes sem motivação para se fazerem respeitar, jamais atrairão os interesses dos políticos e até mesmo dos Poderes Executivo e Judiciário no sentido do cumprimento real da lei que certamente é uma maneira firme de resgatar a dignidade dos profissionais do magistério.
A situação do ensino no Brasil é demonstrada como uma chaga quando os resultados dos exames nacionais provam a ignorância que tem tragado nossos jovens e os tem levado às raias da mendicância e da criminalidade quando a escola não é levada a sério pelos gestores. Em Fortaleza, por exemplo, a tal autonomia da escola vem sendo quebrada de todas as formas e a maioria dos que gerem escolas não o fazem para as comunidades, e sim, para o interesse do vereador que está na grade dos diretores biônicos que já estão no poder há quase dez anos fazendo e acontecendo, promovendo barbaridades e arbitrariedades com alunos e professores com total conivência dos chefes de distrito, vereadores e da Secretaria Municipal de Educação, que silencia diante os espetáculos de má gestão e desrespeito na condução do ensino público.
Big Brother
O piso é lei, mas ninguém cumpre e a maquiagem dos economistas nos postos do governo continua, pois a realidade é que grande parte dos gestores financeiros lá estão para justificar a redução do Estado e a falta de apoio ao cidadão com negação do que lhe é de direito numa suposta democracia. O que está em jogo na conquista da Lei do Piso não é apenas salário onde há necessidade real de garantir tempo para estudo, dignidade na profissão, melhoria na situação da jornada de trabalho para acesso a equipamentos culturais e crescimento intelectual de professores. Não é apenas salário que os professores querem, pois há muito a se conquistar no alcance real da democracia das escolas, na conquista de equipamentos para um ensino real e eficiente e na conquista do respeito que todo professor merece como artífice do conhecimento e no alcance da felicidade. Como diz a música dos Titãs, “ A gente não quer só comida…”, há uma necessidade real de respeito aos professores, tanto como seres de conhecimento quanto como seres humanos.
O problema é real, mas sabemos que parlamentares, empresários, membros de judiciário, comerciantes e outros que estão em patamar superior não pensam nos professores nem nos alunos, o que denota que nossa sociedade desigual conduz a anomalias, desrespeitos e castração da dignidade. E ainda dizem que banalizaram as greves, mas também banalizaram a corrupção, a miséria e o analfabetismo crescente… Pobres dos que precisam do serviço público com governantes sem visão ética de governo… Com falta de esclarecimento do povo, com escárnio em relação às condições dos professores, com desrespeito ao que os professores representam e com intensa desvalorização da classe.
Vale ressaltar que até hoje a imprensa não promoveu uma discussão séria sobre o problema, os teóricos da educação das universidades não movem uma palha no sentido de envolver a comunidade acadêmica nesta conquista e os partidos políticos continuam, em sua maioria, alheios ao assunto preferindo preocupações mais midiáticas do que a educação. Queria ver o Big Brother discutir a questão dos professores, o programa do Ratinho fazendo uma investigação do DNA da Lei do Piso e o programa do Faustão mostrando como o professor se vira nos trinta em meio à incompetência de governos, à falta de união entre educadores e à completa desmotivação de luta dos que se dizem partidos alinhados com os interesses populares.
Cadê as ONGs ligadas à educação?
A educação é massa falida e a educação pública, como é dos pobres, tem de ser a porcaria que sempre foi e será… Ninguém diz nada, ninguém faz nada, pois pobre não tem direito a ter escola, não vai ser nada mesmo… Nossa sociedade, infelizmente, é marcada por uma hipocrisia quase generalizada onde o dinheiro dita comportamentos, regras e até audiências. A nossa meta é sempre subir na vida para depois poder pisar nos subalternos, os vilões sempre morrem no final e questionamento que é bom não é objetivo da mídia que pertence aos poderosos e o povo nem aí…
Certo estava Oto Lara Resende quando dizia que “o talento custa caro, ai de quem o tem”… os professores foram às ruas e a sociedade, onde estava? Cadê as ONG’S ligadas à educação? Cadê os atores, cantores e compositores que lutaram contra a ditadura e deixam a ignorância acontecer… Uma pena que seja assim.
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[Francisco Djacyr Silva de Souza é professor, Fortaleza, CE]