‘Numa observação que bem poderia estar numa charge sua, Chico Caruso diz que ‘os políticos mais sem-vergonha acham que é uma consagração’ serem caricaturados pelos humoristas. Um pensamento que repete, aliás, no terreno da charge, a máxima de Nelson Rodrigues sobre os benefícios da vaia. Os considerados éticos, como Tancredo Neves (que ‘não era muito flor que se cheirasse’ em termos de humor, na opinião de Chico) e Lula (que mandou certa vez Henfil dar uma bronca ideológica no cartunista), são os que mais reclamam.
– Quando o político percebe que a charge faz parte da vida pública e consegue rir, significa que ainda há uma solução – dispara Chico, num dos momentos da entrevista de cinco horas que deu ao GLOBO, entre um uísque e outro, em seu apartamento no Leblon (esticada por uma rodada de cavaquinhas no tradicional Florentino). Bairro que, por sinal, ele adotou desde que se transferiu de São Paulo para o Rio, no fim da década de 70. Sem meias palavras, Chico revela detalhes de sua relação com donos de jornal como Roberto Marinho, seus embates com a classe política, e a descoberta de seu estilo, desenvolvido em meio à relação com colegas de humor do porte de Trimano, Ziraldo, Loredano, Millôr Fernandes, o irmão gêmeo Paulo Caruso, Jaguar, Cláudio Paiva e o imprescindível Lan, que o trouxe para o Rio e que ele considera como ‘o pai que gostaria de ter’. Com a palavra, o desenhista Chico.
Como você chegou ao GLOBO?
CHICO: Foi em 1984. Quis sair do ‘Jornal do Brasil’ quando mandaram o Ziraldo embora. Eu era uma espécie de elo perdido da caricatura pessoal, que saíra de moda. Comecei a fazer sucesso, repercutia, os caras viam o jornal em Brasília. O ( político e jornalista ) Milton Temer foi o primeiro que me ligou logo que comecei no ‘JB’ e disse: ‘Olha, vai trabalhar lá no GLOBO’. Achei que era armação do Ziraldo, mas o Milton disse: ‘É, vai lá pro GLOBO, aluga logo um apartamento na Avenida Atlântica…’. Cinco anos depois, O GLOBO tinha cor nas segundas e, até então, eu sempre tinha desenhado em preto e branco. Procurei o Evandro ( Carlos de Andrade, então diretor de redação do GLOBO ) e propus fazer charges coloridas. Ele mandou que eu falasse com o doutor Roberto (Roberto Marinho,então presidente das Organizações Globo ). Marquei o encontro e no dia seguinte fui ao jornal levando uma charge que mostrava o Lula sendo dissecado, à maneira de Rembrandt em ‘Lição de anatomia’. Passei da porta e resolvi tomar alguma coisa no botequim do Felipe ( bar que ficava ao lado do GLOBO ). Aí pensei: ‘Caramba, mas se os caras aceitarem eu vou começar a trabalhar no GLOBO, bicho!’. E aí eu fui embora. Mas no dia seguinte já tinha perdido o preconceito. Voltei e fechei com o doutor Roberto.
O GLOBO: Você foi o primeiro talvez a começar a quebrar uma certa inibição em relação à imagem de Roberto Marinho entre o pensamento da esquerda. Mas você teve pruridos…
CHICO: Tive. É que na verdade foi o primeiro dono de jornal que eu conheci pessoalmente. Ele ouviu minha proposta e disse: ‘Claro, vamos fazer, vamos fazer, sim, sempre tive bons desenhistas aqui no jornal’. E começou a contar sobre os argentinos que desenhavam crimes numa época em que a impressão de fotos era ainda deficiente. O doutor Roberto era de um tempo em que a fotografia não tinha a prontidão jornalística que teria depois… então, desenho para ele era tão jornalístico quanto fotografia…
Você começou no GLOBO durante o governo Figueiredo, período de transição. Como foi?
CHICO: No carnaval daquele ano uma escola trazia uma faixa com ‘Diretas Já’. Fiz referência numa charge. Fui chamado pelo Evandro, que disse: ‘Olha, isso aqui não é para você fazer campanha, não…’. Eu respondi: ‘Não, não é campanha, apenas registrei o que eu vi’.
Mas a charge saiu?
CHICO: Saiu! Eu já era gato escaldado… No ‘JB’ eu tinha feito uma série do Tancredo, do Ulysses e do Figueiredo como bailarinos no gelo. O Tancredo ficou chateado porque estava de bailarina, reclamou com a direção e recebi um bilhete do Walter Fontoura (editor-chefe do ‘JB’ na época ) dizendo para interromper a série. Pedi demissão, aquelas coisas, mas voltei. Aí soube mais ou menos como era o Tancredo, não era muito flor que se cheirasse, não… (risos ).
Você já foi ameaçado?
CHICO: Não. Mas quando fiz a Rosane Collor de presidiária ligaram umas trezentas pessoas no dia seguinte para o jornal reclamando.
Roupa de presidiário é uma obsessão sua?
CHICO: É uma coisa gráfica… mas a Rosane Collor usava aqueles tailleurzinhos recortados, ficou parecido com o figurino dela. O editor tirou a charge do quadrado e pôs dentro da matéria que mostrava a Rosane chorando na catedral, no alto da primeira página.
Desde Figueiredo, você retratou todos os presidentes. Quais conheceu pessoalmente?
CHICO: Encontrei o Tancredo na posse do Castelinho (o jornalista Carlos Castelo Branco) na ABL. Eu disse: ‘Sou o Chico Caruso do ‘JB’, e ele, sem parar, disse: ‘Ah, você é muito bom quando faz os outros’. ( risos ). E quando estavam concorrendo Covas, Lula, Collor, procurei alguns para saber como reagiam às charges. Na casa do Sarney, ele veio mastigando alguma coisa, com Dona Marly e Álvaro Pacheco. E disse: ‘A caricatura é um negócio que atinge a terceira pessoa, não a primeira. O ele, e não o eu’. O Covas encontrei numa solenidade, e perguntei sobre uma charge em que ele aparecia cavando uma sepultura, com um texto: ‘Covas trabalhando seu nome’. Ele respondeu: ‘É assim. Tem gente que vai por baixo’. Achei ótimo.
E Lula?
CHICO: Quando teve aquele assalto a banco na Bahia e os caras tiraram uma fotografia de todo mundo de cueca, eu pus o Lula na mesma situação ao lado deles, porque eram ligados ao PT. Aí o ( cartunista ) Henfil me mandou um bilhete: ‘Parabéns. Você conseguiu o que a Polícia Federal e a CIA não conseguiram: botar o Lula numa posição humilhante’. Quando o garoto que trouxe o bilhete já estava saindo, eu o chamei de volta e escrevi no verso: ‘Henfil, vai tomar no cu.’ ( risos ). E disse: ‘Entrega isso pro Henfil.’ Aí encontrei o Lula na casa do Chico Buarque e mencionei o desenho. Ele disse: ‘Olha, companheiro, eu me lembro que nessa época teve uma discussão sobre o assunto, deliberamos, e o Henfil disse que cuidaria de tudo…’ (risos) .
Então o humor está acima de tudo, você não perdeu a piada…
CHICO: A política é uma profissão. Quanto mais amador for o cara e menos batismo de fogo tiver, mais acha que humor é ofensa pessoal. Mas se estiver exposto ao sol e à chuva, verá que a caricatura faz parte da vida pública. Os políticos mais sem-vergonha acham que é uma consagração. Um dos conselhos que o Henfil deu ao Lula foi o seguinte: ‘Quando for falar na TV, fale com raiva’. Ele sempre falou com raiva e sempre se deu mal. Quando começou a rir, ganhou a eleição. Quando você ri, já superou o problema, viu uma solução. Não sei se o Henfil foi mau conselheiro… talvez fosse o que o Lula precisava, fizesse parte do processo. Eu, por exemplo, votei no Serra, achava-o mais preparado, mas, o carisma e a inteligência do Lula, o Serra não tem. Hoje acho melhor o Lula eleito. É um cara que pode pegar um Horácio Lafer, um Fidel, o Papa, quem quiser e puxar. Serra não vai chegar nem perto.
Num desenho você compara fazer charge política no GLOBO a estar flutuando no espaço.
CHICO: Naquele dia o astronauta tinha dado a primeira volta fora da nave, sem cordão umbilical sem nada, aquela solidão… e eu tinha ido almoçar com alguém, tinha tomado um porre, cheguei alto no jornal e fiz o astronauta dizendo: ‘Pô, que sensação incrível! Melhor que isso só fazer charge política no GLOBO!’. Tem um aspecto pioneiro, de estar fazendo uma charge política num jornal considerado conservador…
Como chegou à charge política?
CHICO: Aos 12 anos eu achava que essa coisa de charge e editoriais sempre existiu na página de opinião do ‘JB’. Depois fui ver qual era a história: o Alberto Dines, quando foi ser editor do ‘JB’, gostava do desenho do (Carlos ) Lacerda de corvo, do Lan, da época da ‘Última Hora’. Então chamou o Lan e fundou a página editorial do JB em 62. Aí o Lan levou o Henfil, depois o Ziraldo e, 15 anos depois, a mim. Eu tinha feito na ‘Isto É’ um desenho do Figueiredo com a cabeça pequenininha e isso chamou a atenção do Lan. Fiquei apenas dois meses no JB, e voltei à ‘Isto É’, o Mino Carta me deu um espaço para charge na página 3. No primeiro dia saiu a charge em cima e o texto do Carta embaixo. Na segunda inverteu. Na terceira ele já veio dar palpite. Aí eu fiz um desenho que era um navio afundando, um iate afundando, depois uma lancha afundando, um barquinho a remo afundando e no final ficava só o Figueiredo com uma bóia de cavalinho. Veio o Mino e disse: ‘Faz ele chegando na praia’. Eu disse: ‘Não, porque aí perde a piada!’ A gente bateu boca e no final ele veio com o seguinte: ‘Ah, você não tem coragem!’ Então o ‘JB’ me chamou de novo em 79, e fiquei até 84.
Você está insinuando que o Rio tem mais humor que São Paulo?
CHICO: O Rio tem mais humor e o valoriza mais. O humor aqui repercute, faz parte da cultura da cidade, que já foi capital do país, tinha os senadores, a república, J. Carlos e Nássara fazendo caricatura adoidado, o próprio Angelo Agostini veio fazer a ‘Revista Ilustrada’ aqui.
Lan diz que você não é paulista.
CHICO: O Lan é o pai que eu preferia ter. Meu pai chegou um dia para mim e para o meu irmão, juntou com os vendedores de automóvel e falou: ‘Conta pra eles, alguma vez eu fiz alguma coisa por vocês?’ Aí a gente pensou, olhou e disse: ‘Não’. Ele respondeu: ‘Tá vendo? Meus filhos se fizeram sozinhos!’ ( risos )
Isso é que é veia de humor…
CHICO: É, mas usando o que ele não fez… Mas a diferença não está tanto no artista ser ou não de São Paulo, mas na maneira como a cidade recebe o artista. O Ziraldo é mineiro. O Jaguar é santista. Era um bebê santista, teve aula de teatro vestido de saci, um saci branco, sabe quem era a professora dele? Cacilda Becker!
Mas como é essa história de Lan pai?
CHICO: Lan veio da Itália, Uruguai, Buenos Aires, Rio… Em Buenos Aires conheceu o Otelo Caçador, que fez o Lan prometer que quando viesse para o Rio ia ser Flamengo. Ele se apaixonou perdidamente pela cidade, como o Guevara, que do Paraguai queria ir para os EUA, parou no Rio e fez, com o Barão de Itararé, uma revolução no desenho de humor. Mas o Lan virou Flamengo e começou a caricaturar sambistas, o que ele faz até hoje. Ele era o último elo de uma geração de caricaturistas. Quando ele me chamou para o ‘JB’, foi por causa da caricatura, e os caras aqui não sabiam quem eu era. Quando viram o Chico, pensaram que era o Chico Anysio. ‘Como é que ele chega com o desenho pronto e ninguém nunca ouviu falar?’ Isso era porque eu vinha de São Paulo, um outro país, os caras não viam. Quando eu ainda estava em São Paulo, em 68, na ‘Folha da Tarde’, e eles lançaram o ‘Pasquim’ em 69, no Rio, eu pensava: ‘Pô, esses caras um dia vão me chamar, porque eu sou foda’. Mas os caras nunca me viram, não sabiam quem eu era, nada. Mas o Lan viu na ‘IstoÉ’ e me trouxe para o Rio.
Como foi a sua primeira impressão do Rio?
CHICO: Meu pai tinha mania de viajar, botava a gente num Fusca, íamos a Brasília. Uma vez nos trouxe ao Rio. Ficamos no Copa. Até que ele se aborreceu por algum motivo e foi embora no mesmo dia. Vi pouco da cidade mas, antes de pegar a estrada, passamos pelo Jardim Botânico. A paisagem é a mesma até hoje, eu tinha 10 anos e vi o muro do Jóquei de um lado, o Cristo do outro, as palmeiras imperiais. Depois, quando eu estava cursando arquitetura, fui à Bahia e achei que tinha descoberto, pô, uma oooooutra maneira de seeeeeer , tudo ia devagar… Aí chego eu em Sampa na casa da minha mãe e me vejo no mesmo buraco de sempre. Nessa época tinha um amigo que estava vindo para o Rio. Fui com ele, pegamos a Dutra à noite, dormimos na estrada. Ele vinha falar com o Jece Valadão, que tinha um escritório na Princesa Isabel, e vi o dia amanhecendo em Copacabana, uma beleza. Então veio o ‘Opinião em movimento’, lá por 62. Eu vinha domingo à noite para cá e voltava para Sampa na quarta, ainda estava cursando a faculdade. Só vim mesmo em 78, quando o Lan me trouxe. Mas aí eu já conhecia o Baixo Leblon…
Então virou mesmo um carioca? Da gema?
CHICO: O paulista é um sujeito que vai atrás do trabalho. Quando você vem para o Rio, começa a gostar de viver, percebe que não sai mais daqui. Enfim, não sei. Se o cara me oferecesse uma puta grana para ir para SP, eu iria. Ou melhor, talvez como paulista eu fosse. Mas como carioca não iria. Aqui você perde a separação entre casa e trabalho. Olha uma montanha, uma mulher, tem prazer e vira um outro animal.
Qual o seu bairro definitivo?
CHICO: Sempre gostei do Leblon. Do ‘Opinião’ a gente vinha pra cá, se encontrar no Gatão, era em frente ao La Mole. Mas agora comecei a fazer análise com um sujeito em Copacabana, na Belfort Roxo, e estou achando ótimo, ali tem tudo, pilha, comida, livro. É perto da banca da Júlia.
Voltando ao ‘Pasquim’: no período heróico, então, você nunca publicou nada .
CHICO: Não. O Ziraldo é que tem essa mania de dizer ‘cria nossa’ ( risos ). Publiquei antes no ‘JB’ e no ‘Opinião’.
Qual é a sua influência mais remota?
CHICO: O ‘JB’ com Ziraldo, de 62 em diante, era uma. O Luís Trimano começou a publicar no ‘Jornal da Tarde’ e na ‘Veja’ em 68. Achei incrível, tentei fazer parecido e não consegui. No traço é o Trimano a influência forte. O humor vem do ‘Pasquim’, né? No ‘Opinião’, um dia eu desenhei um empresário, era uma caveira com um capacete de obra e um cifrão desenhado na cabeça. Aí eu pensei: se eu continuar desse jeito acabo me matando, porque é uma coisa tão sem saída, tão angustiante que não tem jeito. Aí comecei a tentar descobrir onde estava a graça: o pessoal do’ Pasquim’, o Jaguar, o Ziraldo… graça é coisa difícil. E, com esse desenho mais pesado, do Trimano, fui tentando ter um certo humor. Acabei descobrindo o filão.
Como os cariocas se tornaram assim universais no desenho de humor?
CHICO: Tem um processo aí que é o seguinte: primeiro os argentinos do doutor Roberto deram num cara chamado Di Vitto. Ele fez um personagem na Argentina chamado ‘El inimigo del hombre’. E a ‘Cruzeiro’ fez ‘O amigo da onça’, do Péricles, com base na idéia do argentino. Aí o Fortuna desenhava como o Di Vitto, narigão como bola redonda, sapato com saltinho, uns clichês que eram dos anos 30, que havia também nos desenhos da Disney. O Fortuna foi o primeiro cara a começar o processo de aprender a desdesenhar: destruir o desenho antigo e começar o novo, vendo as revistas estrangeiras. Foi o primeiro intelectual do desenho de humor. O Borjalo também estava nessa. Foi uma nova escola. E veio o desenho do Millôr, não se sabe bem como, mas o fato é que em 1955 ele ganhou um concurso junto com o Steinberg em Buenos Aires. O Ziraldo diz isso: que naquele tempo o Millôr era um dos maiores desenhistas do mundo, junto com o Steinberg. Mas para ele a palavra é mais importante que o desenho. A palavra sedimenta mais. O desenho meio que se perde no ar. O Millôr diz: ‘A imagem vale mais que mil palavras, mas diga isso sem palavras’.
Existe o chargista mais da palavra e aquele mais do desenho. O Jaguar, por exemplo, é mais da palavra…
CHICO: Discordo, o Jaguar tem um desenho fantástico. É tudo junto, é um puta desenhista. O Henfil tinha a necessidade de dar vida. Um cara que era hemofílico, o desenho tinha que ter movimento, não podia ficar imóvel…
E como funciona a palavra na sua charge?
CHICO: Quando trabalhava no ‘Opinião’, com o Loredano, era uma briga de foice, os caras só viam o texto, não viam o desenho, mesmo que o modelo deles fossem jornais tipo ‘Le Monde’ que não tinham foto. Mas os editores queriam botar aqueles cartazes do PCdoB. A gente meio que se vingou. Uso o texto como ilustração do desenho, para o sujeito ter o que ler, meio costurando, para não deixar a coisa voar.
Agora você sempre usa texto.
CHICO: É, agora com a TV tem que ter. Só aos domingos que não tenho a preocupação da animação é que posso fazer um desenho solto.
Por que a relação direta entre a charge do dia e a TV ?
CHICO: No início, queriam que fosse desenho exclusivo. Poxa, passo o dia inteiro para fazer o desenho para o jornal, se for fazer outro tem que ter mais um dia! No fim o Ali Kamel (diretor executivo de jornalismo da Rede Globo ) acabou chegando nessa fórmula.
O processo diário de criação angustia?
CHICO: Não, não. Todo dia tem um jornal novo na banca, e a gente fica lendo jornal e a coisa sai. Passo mais tempo lendo jornal do que desenhando. Começo às 10h, vou até uma da tarde, ligo os noticiários da TV, almoço, descanso, depois chego no GLOBO às 15 e fico lendo os outros jornais, ‘Estado’, ‘Folha’, ‘Tribuna da Imprensa’, ‘Diário de São Paulo’, ‘O Dia’…
A tirinha já foi um interesse seu?
CHICO: Nesse primeiro jornal que eu trabalhei fazia dez ilustrações por dia: a charge política, horóscopo, ilustração de crônicas e umas tirinhas com o meu irmão. Primeiro tinha o Alambico, um jornalista que vivia de porre. O do Paulo era o ‘Pô’, um cara que era cabeça e um pé, o contrário do sem pé nem cabeça…
E os quadrinhos?
CHICO: Gosto. Assim como o Millôr, uma das maiores emoções da minha vida foi o ‘Flash Gordon’ e o ‘Príncipe Valente’ do Hall Foster. O Will Eisner, com o ‘Spirit’, também . A gente tinha uma revista na universidade, ‘O Balão’, e eu ficava tentando fazer o Will Eisner, mas foi aí que percebi que não sou de discurso longo, sou sintético. Na infância, os desenhos do meu irmão têm grandes batalhas, caubói, índios. Os meus, só o bandido e o mocinho. Desprezo o cenário. Prefiro figuras centrais.
Mas os seus desenhos que dialogam com artes plásticas não são tão sintéticos.
CHICO: É uma maneira de estudar desenho, pintura. Um pouco da elegância do Monet, um pouco do Rembrandt, vai copiando e aprendendo.
Você é um sujeito que vai a museus?
CHICO: Não muito. Aqui no Museu Nacional de Belas Artes do Rio tive uma experiência sensorial fantástica. Na época tinha uns alto-falantes com uma música correspondente a cada período. Se era arte do princípio do século XX, umas coisas quase pontilhistas, pré-impressionistas, com brigas de rua, entrudos, cenas cariocas, e tinha uma música da época tocando. Chegava em Lygia Pape e tinha um jazzinho, uma bossa nova. Depois eu voltei e os caras disseram que nunca teve música. Vi que estava pelo menos dois séculos atrasado na história da arte, e resolvi correr atrás do prejuízo. Em 80, quando teve a exposição de Picasso no MoMa, consegui ir. Foi minha primeira viagem para o exterior. Pensei que ia estar esgotado, mas na rua um estudante me vendeu por US$ 5. Vi, trouxe o catálogo, e entrei no século XX. Até ‘Demoiselles d’Avignon’ era tudo século XIX. Depois fiz o livro só do Picasso, misturando com a vida brasileira. Fiquei meses só lendo sobre Picasso.
E o século XXI? Ontem pedi o e-mail do Lan e ele me disse que esse negócio de ‘www.arruda’ não é com ele. Tal pai tal filho?
CHICO: Desde pequeno mexo com desenho, meu avô era pintor amador e caricaturava amigos. Quando entrei na escola de arquitetura, já trabalhando em jornal, achava que ia me formar arquiteto, e que essa era uma função mais nobre que ficar fazendo desenho em jornal. Arquiteto pode construir casas, pensar o mundo. Mas era época de crise. Comecei a trabalhar em 68 e no fim do ano veio o AI-5. Dos dez, passei a fazer só dois desenhos por dia, ilustrando as crônicas do Mário Morais, uns textos sobre um policial, o agente Aírton, um James Bond ao inverso, sem recursos, sem sapato. Eu ilustrava isso e umas histórias mais factuais. Então eu pegava o papel alemão, rasgava a folha e fazia 15 divisões, pegava os textos de um mês inteiro e só lia os títulos. Desenhava tudo numa tarde e tinha um mês inteiro de gandaia. Aí um dia eu publiquei um desenho para o título ‘O papa sabiá’, desenhei um sujeito comendo um sabiá e quando fui ler no jornal era ‘O Papa sabia’. Mas ninguém percebeu… Mas a gente estava falando de informática, né ? Bom, não tive tempo de aprender uma profissão, mesmo tendo me formado em 69 em arquitetura. Tinham cassado os professores, um Artigas, um mestre Jean, o próprio Fernando Henrique, a escola saiu da Rua Maranhão para a Cidade Universitária, um vazio total, a gente com 18, 19 anos. Assumimos a diretoria do grêmio, Paulo sendo diretor musical e eu, social. Fizemos uma escola de samba, e ficamos tomando cachaça, uma coisa completamente dissipatória. Então não aprendi nenhuma profissão, assim como não aprendi a usar computador, que, apesar disso, acho um recurso maravilhoso. O Ziraldo também não sabe, mas tem uns caras que usam e ele comanda.
E a música?
CHICO: Com 13 ou 14 anos meu irmão começou a tocar violão e piano. E eu comecei a namorar. Ele fez um conjunto de rock, The Skillfulls. Para minha primeira namorada eu cantava Johnny Mathis, ‘It’s not for me to say’, e fui aprendendo algo de afinação. Mas aí apareceu a Elis Regina, e o baterista que tocava com ela, André, dizendo pra gente que viu ela com a sainha curta e tal, o cara fazia baile onde meu irmão tocava, e o Paulo começou a tocar uma bossa, um jazz. O negócio foi caminhando até 85, quando ele fez aquela música, ‘Bar Brasil’, antes da coluna na revista ‘Isto É’, e no salão de humor de Piracicaba nós vimos que o Verissimo tocava saxofone, conhecemos ele lá. O Miguel Paiva tinha músicas com o Zé Rodrix, e fizemos a primeira formação do que seria a ‘Muda Brasil Tancredo Jazz Band’. O slogan do Tancredo era ‘Muda Brasil Tancredo Já’, mas aí ele morreu e virou jazz. Eram Claudio Paiva na batera, Reinaldo no baixo, meu irmão no piano, Verissimo no sax. E começamos a compor para situações políticas. Eu só cantando e sugerindo temas. Mas o Paulo tem 80 músicas, eu tenho quatro ou cinco. As melhores. ( risos )
Por que cantor?
CHICO Minha mãe adorava Dolores Duran, de repente passou a adorar João Gilberto, foi uma revolução em casa, ela e a minha tia iam à boate e tal… sou um cara musical, mas não sei nada.
Uma vez o Verissimo disse que só escreve para ganhar dinheiro, não gosta, que o que queria mesmo era só tocar.
CHICO: O Verissimo ganhou o sax com 10 anos, antes de começar a escrever. Viu Charlie Parker em Nova York, é realmente músico. Uma vez gravamos para o ‘Fantástico’ e, quando fomos ao estúdio da Som Livre, deixamos o técnico da gravadora louco. E uma hora o técnico fala assim: ‘Pô, não agüento mais! O único cara que toca é aquele!’. E aí a gente olhou pro Verissimo acabrunhado lá, naquela baia, no canto…’
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‘Chico, o país, o jornal, o leitor: sintonia fina’, copyright O Globo, 29/02/04
‘Ao ouvir de Chico Caruso, há 20 anos, a proposta de assinar uma charge diária no GLOBO, Evandro Carlos de Andrade não hesitou: ‘Procure o doutor Roberto’. Nas duas décadas seguintes, a cena se repetiria inúmeras vezes. Numa delas, Chico, em crise conjugal, esbaforido, foi pedir um apartamento novo, para trabalhar (e morar).
‘Chico, vamos fazer o seguinte: quando você tiver certeza do que você quer, volte aqui’.
Apostando firme no casamento e na influência feminina sobre os destinos do seu chargista, Roberto Marinho também conseguiu convencê-lo a cortar o bigode, usando a esposa, Eliana Caruso, como embaixadora.
Quando viu Chico cortejado pela concorrência, o doutor Roberto marcou posição. O convite era do ‘Estado de São Paulo’, para publicar, aos domingos, uma caricatura paralelamente ao GLOBO. Chico topou, e o jornal paulista chegou a anunciar em primeira página a estréia. Evandro ficou possesso. ‘Como é que você me faz uma dessas?’. E lá foram os dois à sala do homem. Roberto Marinho contra-atacou: ‘Vamos fazer um suplemento de humor aqui no jornal, traz o seu irmão’.
– Cheguei a ir a uma cartomante que, sem saber que o Augusto Nunes (diretor de redação) me fizera a proposta para o ‘Estado’, e desconhecendo também que eu trabalhava para o doutor Roberto, ela disse: ‘Esse rapaz (o Nunes) é jovem, afetuoso, mas ele promete muita coisa que não pode cumprir… Mas esse outro aqui (Roberto Marinho) não, esse aqui, o que ele promete ele faz!’
Chico rompeu com São Paulo e, na hora de discutir o suplemento, Evandro disse que não havia papel. Em compensação, o número de charges coloridas (na época, Chico só desenhava cor às segundas-feiras) dobrou, incluindo as quintas. Hoje são charges coloridas todos os dias.
Nesses 20 anos de charge, sempre imperou a imagem – o traço tão celebrado pelos colegas e leitores – sendo a palavra apenas complemento, toque final. Tal lógica seria rompida, pela primeira vez, no dia seguinte à trágica história do ônibus 174, invadido por um assaltante no Jardim Botânico, no Rio, e que acabou com a morte da refém na hora em que a polícia tentava invadir o ônibus cercado, e do bandido, já dominado, asfixiado dentro do camburão.
Ao assistir durante toda a tarde do dia 12 de junho de 2000 à transmissão ao vivo dos fatos pela televisão, Chico Caruso foi percebendo que seria difícil, talvez impossível, traduzir aquilo em linguagem de humor.
– Naquela semana, Gustavo Kuerten havia ganhado mais um torneio internacional e pensei em fazer um paralelo entre Guga e o bandido, que teriam a mesma idade. Mas não achava uma solução que me satisfizesse – lembra Chico.
O chargista optou então por usar apenas palavras no seu quadrado habitual na primeira página: ‘Peço desculpa aos leitores porque, pela primeira vez em 35 anos de trabalho, não consegui sintetizar com humor os fatos do dia’. Bingo.
Naquele mesmo ano, pela segunda e última vez até agora, Chico viria a não desenhar uma charge: foi quando, às vésperas de o juiz acusado de corrupção Nicolau dos Santos Neto se entregar à polícia, ele usou seu espaço na primeira página para escrever um convite a ‘Lalau’ para se encaminhar à prisão. Ele se entregou no mesmo dia.’
Cora Rónai
‘Aos amigos, tudo: o jeito Chico de ser’, copyright O Globo, 29/02/04
‘No tempo em que ele ainda era tímido, ou melhor: no tempo em que a gente ainda acreditava que ele era tímido, foi aí que conheci Chico Caruso. Saíamos para almoçar – nossa turma almoça junta desde princípios dos anos 80 – e ele lá, quietinho, mais calado do que o Veríssimo.
A diferença é que o Chico não parava de desenhar. Até hoje, mais de 1187 almoços depois (e sabe-se lá quantos jantares e festejos diversos), ainda encontra suficiente interesse nos velhos companheiros para pedir o bloquinho de comandas do garçom e registrar o que vê – com tal precisão que, espantosamente, acabamos todos muito mais parecidos com esses pequenos desenhos do que com nossas fotografias.
Tenho a impressão de que, para o Chico, fazer caricatura é uma etapa fundamental no conhecimento dos outros. É engraçado observar como fica contente quando chega a algum lugar novo, com pessoas desconhecidas. Já não é tão calado como antigamente, e não há como ver nele o antigo tímido – mas o impulso irresistível de desenhar continua o mesmo. Logo está com papel e lápis na mão, imortalizando, para as paredes dos amigos, a essência visual e psicológica do ambiente.
Chico adora gente. Não daquela maneira abstrata e hipócrita que tantas vezes se vê em quem diz que ama a humanidade, mas de maneira intensa e sincera, pessoa a pessoa, corpo a corpo. Tenho a maior admiração pela sua capacidade de se aproximar e de manter diálogos genuinamente interessados com qualquer forma de vida humana, de flanelinhas e bêbados desconexos a luminares da república – e de, tantas e tantas vezes, conseguir preservar esses laços pela vida afora, cultivando as amizades com carinho e empenho.
O mais curioso é que, quando ele gosta de alguém, não existem barreiras para a comunicação. Volta e meia aparece com algum desenhista estrangeiro a tiracolo; ainda que o sujeito não fale uma só palavra de português ou de qualquer idioma remotamente conhecido, lá está o Chico levando-o a festas, shows e botequins, na maior camaradagem, muito satisfeito por ter encontrado mais um bípede que, pelo caminho, consegue transformar num ser divertido.
Para sua sorte, encontrou também a Eliana, que tem a mesma generosa – e enérgica – dedicação aos amigos, o mesmo pique. No fim da noite, quando todo mundo já está desabando, os dois partem, intrépidos, para mais uma esticada, como se ainda houvesse onde esticar. Chico não seria menos genial sem a Eliana, mas provavelmente não seria tão carioca. Morena do Irajá, com 1m76 de exuberância, ela é, para mim, o exemplo mais perfeito de que, por trás de todo grande homem, há uma grande mulher. Até literalmente.’
O Globo
‘No ‘JN’, desenhos ganham vida’, copyright O Globo, 25/02/04
‘Diariamente, Chico Caruso chega à TV Globo, no Jardim Botânico, levando a charge que será publicada no GLOBO no dia seguinte. Grava a voz e vai embora. Nas horas seguintes, o desenho é decomposto em vários, produzindo a seqüência que irá ao ar no ‘Jornal Nacional’, aproveitando-se os rostos desenhados por Chico, complementados por novos desenhos que comporão o movimento do corpo. Isso vai até alta madrugada. Pela manhã, colorem-se os desenhos no computador, e a seqüência vai para a mesa de animação. Finalmente, edita-se e sonoriza-se. À noite, a charge eletrônica vai ao ar, numa segunda leitura do que saiu no GLOBO. Uma equipe de mais de dez pessoas, no departamento de arte da emissora, está envolvida no processo.
– A charge do Chico trouxe um momento de descontração ao ‘Jornal Nacional’. Mesmo quando o assunto é pesado, o Chico sabe traduzir como poucos, em alguns segundos, um fato importante do momento – diz o diretor de jornalismo da Rede Globo, Carlos Schroeder.’
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‘No palco como cantor, fãs tiram pedaço’, copyright O Globo, 29/02/04
‘Chargista no Brasil tem que ser músico. É o que parece, tal a freqüência com que as atividades coincidem. O saxofonista Veríssimo, o baixista Reinaldo e muitos outros confirmam. No caso de Chico, ele é cantor, voz grave de barítono.
Desde Muda Brasil Tancredo Jazz Band, banda criada depois que Miguel Paiva teve a idéia, no início dos anos 80, de reunir todos os chargistas-músicos, Chico não parou mais de cantar profissionalmente, em dupla com o irmão-pianista Paulo e à frente do Conjunto Nacional. Mesclando música e humor, já lançou discos como ‘E la nave va’ e ‘Pra seu governo’.
– Ser músico é melhor que desenhista. As pessoas querem autógrafo e até um pedaço da gente – diz Chico sobre sua segunda atividade.’
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‘Depoimentos dos amigos’, copyright O Globo, 29/02/04
‘‘O Chico é o maior caricaturista do mundo. Bem dotado, um gênio simplesmente. E como o Rio é pequeno para os dois Carusos e o Paulo é paulista até a raiz do cabelo, o Chico é um dos maiores cariocas que há’.
JAGUAR, cartunista
‘Conheci o Chico, apresentado pelo Jaguar, como admirador de um samba meu e do Aldir Blanc, ‘Pra que pedir perdão?’, que fala num sujeito que não resiste aos botequins mais vagabundos, coisa e tal. Chico é isso, um chargista maravilhoso mas, antes de tudo, um carioca’.
MOACYR LUZ, compositor
‘Com 58 anos de prancheta eu posso dizer, na maior modéstia: o Chico, na segunda metade do século XX, é disparado o melhor chargista do Brasil. Isso no meio de grandes. Graças a Deus me dediquei a outra coisa, me dediquei à cidade e saí da charge política. Tenho orgulho de tê-lo trazido de São Paulo para o Rio. Descobriu que é carioca, de paulista não tem nada. Mas sou suspeito. Se eu tivesse um filho, queria que fosse ele. Nosso relacionamento é bonito, e acho que ele me vê como pai.’
LAN, cartunista
‘Como não sou caricaturista não tenho o problema de, mesmo trabalhando no mesmo jornal, ocupar o mesmo espaço do Chico. Posso confessar, como já confessei a ele, que já chupei caricaturas dele. Sempre que precisei fazer caricatura política ia lá no livro dele, que é um verdadeiro compêndio de caricaturas, estudava a leitura dele e, a meu modo, copiava não o desenho, mas a idéia, a interpretação dele. Ele é um caricaturista excepcional, tanto profissionalmente quanto em mesa de bar.’
MIGUEL PAIVA, cartunista
‘A gente está nessa convivência desde a mais tenra infância. Sempre pude avaliar esse desenvolvimento paralelo. O Chico sempre discutiu muito em cima dos nossos traços. Ele teve o apego ao desenho como linguagem, enquanto eu namorava a música. Ele sempre foi muito mais objetivo e dirigido para o desenho. O que ele teve diferente de mim foi uma malícia inteligente, uma capacidade de gozar todo mundo que o define como chargista. E que vai do escrachado ao mais refinado, como, na morte de Tancredo, quando ninguém conseguia fazer piada, e só havia as imagens patéticas de bandeira a meio pau, ele fez a máscara mortuária. O Tancredo tinha saído coberto do hospital. E a multidão formava a máscara . É o melhor chargista do Brasil.’
PAULO CARUSO, irmão gêmeo e cartunista
‘O Chico é um fenômeno, ele e o irmão aliás são fora do padrão. Revitalizou a charge brasileira. Uma criatividade espantosa e uma facilidade de caricaturar que é inacreditável. O Chico é mais rápido, saca mais depressa que o Paulo, enquanto o Paulo desenha melhor que ele. E são os dois melhores. Há poucos brasileiros fenomenais. Um é o Pelé. Outro o Chico Anísio. Outro o Caruso.’
ZIRALDO, cartunista
‘É uma companhia excepcional, uma personalidade afetuosa. Os almoços na casa dele são adoráveis. Profissionalmente, eu diria que o Chico é representante de uma corrente que ele mesmo fundou. Definiu um gênero, que faz como ninguém. O curioso é que desde que ele veio para o Rio, seu trabalho marcou tanto a imprensa que acabou virando problema para muitos editores, que acreditavam que era coisa automática transformar um caricaturista num chargista. Deram muito tiro n’água… O Chico é muito mais que caricaturista, ele tem o pensamento do chargista que falta a muitos que têm o desenho ótimo.’
CLAUDIO PAIVA, humorista
‘Com tranqüilidade posso afirmar que, se o maior caricaturista e chargista da primeira metade do século XX foi o J. Carlos, o da segunda foi o Chico. E ele está entrando pelo XXI. O Lan é um monumental caricaturista e um bom chargista. O Ziraldo é um monumental chargista e um bom caricaturista. O Chico é monumental nos dois, junta as duas linguagens, o que é muito difícil. E ele mantém o nível quase os 365 dias do ano, o que é um fenômeno. Ele surgiu, nos anos 70, fazendo um trabalho originalíssimo de juntar charge e caricatura’.
CASSIO LOREDANO, caricaturista
‘Parabéns ao GLOBO por ter sabido assegurar durante 20 anos a colaboração do Chico Caruso. Ter o Chico para si e deixá-lo longe da concorrência é um duplo privilégio. Eu também estou de parabéns por ter assegurado a amizade do Chico há muitos anos, não sei bem quantos. Mas não foi difícil, partilhamos os mesmos interesses profissionais, o mesmo gosto pela vida e até a nossa mesma língua. O Chico é simultaneamente um grande artista e, para mim, um bom amigo, um porto seguro. Longa vida ao camarada Chico (como diriam os maoístas) e, que continuemos por muitos anos este nosso ping-pong entre o lado americano e o lado europeu do Atlântico, entre o meu e o seu lado da nossa amizade’.
ANTÓNIO ANTUNES, chargista do ‘Expresso’, de Lisboa’