O Conselho Curador da Fundação Padre Anchieta foi informado, mas não consultado, sobre a parceria Folha de S.Paulo-TV Cultura para a exibição, aos domingos, do programa TV Folha. Isso é grave porque retira de uma TV semipública seu lastro de legitimidade, diversidade e independência.
Não é a primeira vez que o Conselho Curador é desobedecido: em março de 2010, por unanimidade, o colegiado da Fundação Padre Anchieta recomendou às diretorias executivas da rádio e da TV Cultura o imediato retorno do Observatório da Imprensa às respectivas grades de programação.
O então presidente executivo do grupo de emissoras, jornalista Paulo Markun, prontamente comunicou o fato à direção do Instituto Projor, mantenedor do projeto dos observatórios. Rapidamente foi acertado um novo horário para os boletins diários (segunda a sexta) na rádio Cultura FM.
No caso da TV foi acertada uma reformatação do programa e a adoção do regime de coprodução entre a TV Brasil e a Cultura. Projeto que as duas empresas saudaram como auspicioso.
Casamento apressado
Como a montagem da parceria televisiva seria inevitavelmente demorada (sobretudo em períodos de radicalização eleitoral), sugeriu-se que o programa de rádio começasse imediatamente, pois os acertos entre o Projor e a Fundação Padre Anchieta estavam sacramentados.
O presidente executivo decidiu o contrário: condicionou o retorno do programa de rádio ao retorno do programa de TV. Resultado: a parceria ficou no papel, a determinação do Conselho Curador foi engavetada e jogou-se pela janela uma oportunidade de ouro para estabelecer uma rede nacional de emissoras públicas, semipúblicas e educativas.
O apressado e clandestino casamento com a Folha completou o desmantelamento de uma efetiva alternativa à televisão comercial no Brasil.
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