Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Cláudia Croitor

‘Após 15 anos nos bastidores, Matt Groening, 50, se juntará ao seleto grupo que tem entre seus integrantes Paul McCartney, Elizabeth Taylor, Stephen Hawking, Mel Gibson, os Ramones, Neil Armstrong: vai participar de um episódio de ‘Os Simpsons’.

Criador do desenho animado mais longevo da história da TV, que fez do personagem Homer um ícone da cultura pop, Groening vai aparecer, no papel de si mesmo -como o criador de ‘Futurama’, seu outro desenho-, em um episódio da nova temporada da série, que deve ir ao ar no Brasil no fim do ano.

Aqui, onde é exibido na TV paga pela Fox diariamente às 20h30 (com episódios inéditos da 14ª temporada aos domingos, às 20h30) e pela Globo às 11h30 de sábado, o desenho segue um fenômeno, se não de audiência, ao menos de vendas: cada nova temporada que é lançada em DVD é esgotada em poucas semanas. Em junho, a quarta chega às lojas.

Atualmente com a 15ª temporada no ar nos EUA, Groening diz que não sabe como seria um último episódio da série e diz que hoje, assistindo ao início do desenho, acha tudo ‘meio bizarro’. ‘Os primeiros episódios parecem desenhados pelos próprios personagens’, conta.

O pai dos Simpsons, que na vida real tem um filho chamado Homer, conversou com a Folha em Los Angeles. Até pediu desculpas, em tom de brincadeira, pelo polêmico episódio em que os personagens visitaram o Rio de Janeiro.

Matt Groening – Você é mesmo do Brasil?

Folha – Sim.

Groening – Puxa. Eu peço desculpas [risos].

Folha – Os Simpsons vão voltar ao Brasil algum dia?

Groening – Nunca se sabe…

Folha – O sr. já esteve no Brasil?

Groening – Não, mas eu adoraria ir… Meus pais foram para o Brasil quando eu era criança. Eles trouxeram um disco do Ed Lincoln, você conhece? É meu disco favorito. Chama-se ‘A Volta’. Baixei as músicas na internet e recentemente consegui comprar um.

Folha – Seu disco preferido é brasileiro?

Groening – Pois é, e o nome não soa nada brasileiro, né? Mas a música é fantástica. E eu adoraria ir ao Brasil. Uma vez, há muito tempo, pediram para ter o Bart em um desfile de Carnaval. Mas pensei: ‘Ei, não quero que o Bart seja um imperialista cultural’ -e disse não. Não sei se me chamariam outra vez…

Folha – Os Simpsons já estão na 15ª temporada. Isso o surpreende?

Groening – Sempre achei que o programa seria um sucesso, porque adoraria ter tido um desenho assim quando era criança. Mas nunca esperei que fosse durar tanto. Agora estou acostumado e não consigo ver um final para o desenho. Espero que ainda dure por muitos anos.

Folha – O sr. não pensa em como seria o último episódio?

Groening – Costumava pensar, mas agora não penso mais. Do jeito que o programa é feito, provavelmente faríamos o último episódio sem saber que seria o último. Mas há tantas coisas diferentes que a gente pode fazer, ainda nos surpreendemos com as coisas que os roteiristas inventam.

Folha – E se cansa dos Simpsons?

Groening – Para falar a verdade, depois de trabalhar no desenho o dia todo, eu não chego em casa louco para assistir ao DVD dos Simpsons. Mas eu ouvi dizer que os DVDs são bons [risos]. A jornalista Cláudia Croitor viajou a Los Angeles a convite dos estúdios Fox

Folha – Por que um desenho sobre uma família americana faz sucesso no mundo inteiro?

Matt Groening – Não sei ao certo. Acho que as fraquezas de uma família em que os membros se amam mas também enlouquecem uns aos outros são universais. E também acho que é divertido rir de americanos estúpidos [risos].

Folha – Quanto de sua própria família está no desenho? Algum personagem é inspirado no sr.?

Groening – Tem sempre um pouquinho da minha família no desenho. Todo mundo que trabalha na produção traz algo. Acho que isso continua renovando a série. ‘Os Simpsons’ é uma versão mais branda da vida. Tão triste, patética e estúpida quanto. Quanto a mim, tenho um pouco de Bart. Tenho discussões com minha irmã Lisa -tenho mesmo uma irmã chamada Lisa-, porque ela diz que eu capturei a personalidade dela perfeitamente. Eu digo: ‘Espera aí, eu pensei que eu era o sensível da família’.

Folha – Sua mãe se chama Marge?

Groening – Chama-se Margaret, mas seus amigos a chamam de Marge agora. E Homer também é um ótimo nome. Mas não o coloque no seu filho, como eu fiz.

Folha – O sr. batizou de Homer o seu filho? Ele gosta do nome?

Groening – Pois é. Foi bem no começo do desenho, acho que eu não tinha muita confiança [no que o desenho iria se tornar]. Ele não usa o nome no cotidiano, só em ocasiões como formatura etc. E tem orgulho disso.

Folha – E o filme dos Simpsons?

Groening – Vamos usar a mais avançada tecnologia de fantoches [risos]. Não, não há nada a dizer, temos apenas um projeto. Não há uma história ainda, vai demorar. Concordamos que o filme só sairá se conseguirmos fazer algo de que possamos nos orgulhar. E ainda não temos nada.

Folha – O sr. tem uma previsão de quando ele vai ser lançado?

Groening – Algum dia dentro de uma década. Não sei, honestamente. Foi um projeto anunciado prematuramente.

Folha – Uma última pergunta: por que os Simpsons são amarelos?

Groening – Por causa de um dos desenhistas, não consigo lembrar o nome, gostaria de dar crédito a ele. Pintou os personagens de amarelo, foi uma idéia brilhante. Eles não se parecem com nada do que há na TV, e eu adoro isso.’



MULHERES NA TV
Bia Abramo

‘TV perpetua visão conservadora da mulher’, copyright Folha de S. Paulo, 7/03/04

‘Na véspera do Dia Internacional da Mulher, não é ocioso pensar em como persistem imagens femininas tradicionais na TV. Apesar de a TV brasileira ter, em determinados momentos, acolhido representações da mulher mais afinadas com as conquistas femininas, tanto a programação quanto a publicidade ainda se mostram bastante conservadoras.

Pense-se em como a manipulação contemporânea do corpo feminino, tanto no sentido diretamente cirúrgico quanto no sentido da imposição de um padrão, tem na TV sua vitrine mais privilegiada. No início de uma novela, a diversão é descobrir qual das atrizes fez que tipo de intervenção -pôs peito, tirou barriga, enxertou veneno paralisante etc.

Daqui a coisa de uma semana, a Record estréia uma novela cujo tema central são as cirurgias plásticas -a emissora promete exibir uma ao vivo, em tempo real. ‘Metamorphoses’ (atenção, a grafia é essa mesmo, com esse pê-agá cafona) ainda não disse a que veio, mas, a princípio, a idéia de assistir a uma operação na TV parece grotesca. That’s entertainment, agora.

E não é só o corpo feminino que é normatizado, esquadrinhado e julgado a todo instante. Uma jornada diária pela programação revela quanto chão as mulheres -e as meninas- ainda têm pela frente para derrubar os preconceitos. De manhã, os programas são ‘femininos’, o que significa girar em torno de assuntos que remetem às atividades ou interesses que se imaginam das mulheres: artesanato, culinária, saúde e intercalar essa pauta palpitante com muito anúncio de produtos para o lar e remédio ou de aparelhos milagrosos para emagrecer etc. Mais tarde, entram os programas para crianças em que se ensinam as meninas a serem meigas, burras e gostosas como suas apresentadoras e os meninos a desejarem essas mesmas mulheres saltitantes, alegres -e estúpidas.

Às tardes, é hora de invejar. Os programas dedicados às fofocas do tal do mundo das celebridades ensinam e fomentam a inveja -o que é natural, dado que não apenas glamuriza, como trata com uma realidade que deve ser levada a sério um mundo povoado por mulheres mais magras, mais jovens, mais ricas e casadas com ou namoradas de homens mais jovens, mais ricos e mais magros do que os que a maioria das mulheres têm em casa.

E, de noite, vêm as novelas. Na ficção, melhora um pouco, mas só um pouco e não por muito tempo. Se, por um lado, há personagens modernas, independentes, fortes, bem-sucedidas, em boa parte da trama quem leva a melhor são as moças pérfidas e ambiciosas, que enrolam os belos rapazes com falsas gravidezes, mentiras, estratagemas mirabolantes etc., como bem observou Esther Hamburger em crítica na Folha sobre ‘Da Cor do Pecado’, em 28 de janeiro.

As meninas do Brasil mereciam coisa melhor.’



TV GLOBO & PETROBRÁS
Daniel Castro

‘Globo e Petrobras negociam novela’, copyright Folha de S. Paulo, 7/03/04

‘A Petrobras está negociando o patrocínio da próxima novela das sete da Globo, ‘Romance’, com estréia prevista para agosto.

Pelo acordo em discussão, a novela terá locações em plataformas de extração de combustíveis e centros de pesquisa da estatal. Além disso, haveria personagens trabalhando em projetos de pesquisas e preservação do meio ambiente apoiados ou promovidos pela Petrobras.

A idéia é desvincular a imagem da Petrobras de poluidora do meio ambiente e reforçar a de empresa social e ambientalmente responsável. Inicialmente, não haveria locações na Bacia de Campos, no Rio de Janeiro, onde, em março de 2001, afundou a plataforma P-36, causando a morte de 11 trabalhadores.

As paisagens preferidas pela Petrobras eram as da estação de exploração de gás natural ambientalmente correta Urucu, no meio da floresta amazônica.

Contra Urucu, aonde só se chega de helicóptero, há o fator custo. Os altos gastos com deslocamentos do Rio, onde fica a Globo, até o Amazonas, podem deixá-la para segundo plano, mas não devem descartá-la totalmente.

No início de fevereiro, Marcos Paulo, diretor de núcleo da próxima novela das 19h da Globo, esteve na Bacia de Campos conhecendo as instalações da Petrobras no local. Isso indica que as plataformas marítimas têm boas chances de virar cenário de ‘Romance’. Ou que a Globo insista que elas sejam cenários. Um outro diretor da Globo, da área de produção, que fornece a logística para as gravações, esteve no Amazonas.

As negociações entre Globo e Petrobras começaram em setembro do ano passado, quando a estatal do petróleo investiu R$ 50 milhões na campanha de seus 50 anos, com algumas ações de merchandising na emissora carioca.

De acordo com a assessoria de imprensa da Petrobras, foi a Globo que procurou a estatal com uma proposta de novela ambientada em plataformas marítimas.

A Petrobras confirma as negociações e informa que a proposta da Globo já tramitou por diversos departamentos internos, como o jurídico. Mas ainda falta a assinatura do contrato. A Folha apurou que, atualmente, ambas as partes discutem detalhes de orçamentos.

A Globo afirma que a novela ainda não entrou em produção e que não está decidido se ‘Romance’ será a próxima novela das sete. Por isso não falou sobre negociações com a Petrobras.

Uma ação individual de merchandising nas novelas da sete da Globo custa, na tabela, R$ 275 mil, mais 10% de cachê para atores e técnicos. Os merchandisings são estudados caso a caso.

Os valores envolvidos nas negociações entre Globo e Petrobras ainda são desconhecidos. Especula-se que a petrolífera arcaria com boa parte dos custos da novela, que, se tiver 200 capítulos, não sairá por menos de R$ 30 milhões.

A Petrobras, segundo dados do Ibope, foi o segunda estatal em investimentos publicitários no ano passado. Gastou R$ 200 milhões.’



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‘Estatal testa parceria em ‘Da Cor do Pecado’’, copyright Folha de S. Paulo, 7/03/04

‘Uma amostra do que pode ser uma novela patrocinada pela Petrobras foi ao ar na semana do Carnaval, quando a estatal fez vários merchandisings em ‘Da Cor do Pecado’, atual trama das 19h da Rede Globo.

Um deles era a exibição de um fictício torneio de surfe patrocinado pela Petrobras, com o objetivo de mostrar que a empresa apóia esportes amadores.

O ator Kadu Moliterno, que nos anos 80 teve sua imagem vinculada ao surfe -principalmente por causa do seriado ‘Armação Ilimitada’-, atuou como locutor da competição.

A outra ação, mais ousada, teve a atriz Carolina Dieckmann como protagonista. Ela entrou em ‘Da Cor do Pecado’ apenas para fazer o merchandising, que durou cinco capítulos.

Dieckmann atuou como uma bióloga que trabalha no projeto Tamar -de proteção às tartarugas-marinhas, que é patrocinado pela empresa petrolífera.

Em 1981, a Bandeirantes também exibiu uma novela patrocinada pela companhia estatal, ‘Rosa Baiana’, que tinha os campos petrolíferos da Bahia como panos de fundo.’



MTV
Daniel Castro

‘MTV lança programa sobre bandas novas’, copyright Folha de S. Paulo, 6/03/04

‘A MTV lança no próximo dia 19 o ‘Jornal da MTV Apresenta Bandas Novas’, um programa que, como o próprio nome diz, pretende revelar grupos e artistas solos nacionais desconhecidos ou pouco conhecidos. O programa, com uma hora, será mensal, na terceira sexta-feira de cada mês, às 20h30.

Segundo Zico Goes, diretor de programação, o ‘Bandas Novas’ é um programa ‘idealístico da MTV’. A emissora já teve quadros sobre novos artistas nos anos 90 e três especiais no ‘Jornal da MTV’ nos últimos anos, mas nunca dedicou uma atração regular à cena independente nacional.

Cada programa irá apresentar pelo menos dez novos nomes. Mas três deles, mais um quarto, de uma banda convidada (já relativamente conhecida, mas independente), terão destaque, com pequenos shows nos estúdios da MTV. Na primeira edição, os destaques serão Autoramas (do Rio, banda convidada), o DJ de techno Philip Braunstein, de Porto Alegre, o roqueiro paulista Renato Godard e a dupla alagoana Sonic Jr., de rock com eletrônico, que estará no quadro ‘Momento Fada Madrinha’ (artistas indicados por outros, já famosos).

‘Vamos dar espaço para bandas independentes com até seis anos de estrada e não teremos preconceito contra estilos. A idéia é que essas performances também virem videoclipes na programação’, diz Mauro Bedaque, diretor do ‘Jornal da MTV’.

OUTRO CANAL

Manifesto 1 A ARTV (Associação dos Roteiristas de Televisão, Cinema e Outras Mídias), que reúne, entre outros, novelistas da Globo, distribuiu ontem nota oficial com a posição da entidade sobre as negociações das emissoras de TV para obter empréstimo do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), parte dele para pagar 50% das dívidas contabilizadas em 2002.

Manifesto 2 Para manter (e ampliar) seu mercado de trabalho, a associação apóia o ‘empréstimo à TV Globo’, mas exige contrapartidas: financiamentos para outras redes investirem em teledramaturgia, implantação de cota de tela (percentual mínimo de teledramaturgia nacional) e obrigatoriedade de exibição de produções independentes brasileiras.

Camarote A MTV vai gravar o show que o DJ inglês Fatboy Slim fará amanhã no Rio de Janeiro. O material será exibido em um especial no próximo dia 27. E a Nokia, que está bancando o show, fechou a compra de uma das cotas de patrocínio do VMB (Video Music Brasil) deste ano.

Efeméride Os 450 anos de São Paulo, já explorados exaustivamente na TV, ainda continuam rendendo na Globo. O ‘SPTV 2ª Edição’ estréia hoje a série ‘Histórias de São Paulo’. A primeira reportagem será sobre a história dos cinemas da cidade.’