Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O fim da Mit FM e o futuro das rádios customizadas

Há duas semanas, mais exatamente à zero hora do dia 6 de março, a rádio Mit FM, ou Mitsubishi, deixou de operar no dial de São Paulo e adjacências. O último bloco musical, por sinal, foi um verdadeiro epitáfio. Teve “São Paulo”, da banda 365, uma espécie de hino não autorizado da cidade; a reflexiva “Time Of Your Life”, do Green Day; o hino “It's The End Of The World As We Know It (and I Feel Fine)”, do importante R.E.M. e finalizou com a livre versão de “Gimme Shelter”, dos Rolling Stones, e na voz de Marcelo Nova, do Camisa de Vênus, “Só o Fim”.

Ficou claro que o programador demonstrou seu descontentamento com o encerramento das transmissões e o locutor não se despediu. Tudo ficou, com perdão do trocadilho, no ar… Nos dias seguintes houve alguma mobilização nas redes sociais, mas depois caiu no esquecimento e a vida segue.

As rádios costumizadas nasceram como uma boa estratégia de marketing. Pega-se o rádio, veículo barato em relação às demais mídias e com a vantagem de estar presente na vida do ouvinte, tornando-o, disparado, o mais intimista dos meios de comunicação. Nem preciso escrever que sou um rádio maníaco… Coloca-se uma marca para fidelizar o costumer e pronto. O início desse processo aconteceu com a rádio Trânsito, pertencente ao Grupo Bandeirantes (mesmo dono do espaço outrora ocupado pela Mit), numa excelente parceria com a Sulamérica, companhia de seguros. Como o material é fartíssimo – o trânsito de São Paulo – e o rádio é um excelente prestador de serviços, este casamento caiu como uma luva e pressupõe-se bons anos pela frente, até porque não se vislumbra em horizonte próximo a solução do trânsito paulistano.

Rádio Bradesco Esportes FM

No começo de 2012, a Oi FM também sumiu do dial paulistano e de todas as suas afiliadas no Brasil. Mas a saída da Oi foi quase imperceptível, pois era uma rádio mecanizada, com pouca locução e a interatividade do ouvinte deveria ser feita por SMS, para vender produtos da empresa de telefonia. Com a Mit, porém, o buraco foi mais embaixo. A rádio investiu em qualidade de programação e bons locutores. Uniu o bom rock dos anos 80, sem soar tão clássica como a Kiss FM, misturou o pop descompromissado, sem o grude de outras emissoras. A fórmula deu resultado porque, de certa forma, a Mit FM “herdou” os ouvintes abandonados pela antiga 89 FM, pela Brasil 2000 e até pela já esquecida (não para mim…) 97 FM do ABC. O tiro assim, saiu pela culatra. Por questões financeiras, a Mitsubishi encerrou o contrato e deixou possíveis costumers de seus produtos, a ver navios, ou a ouvir grudes… o que dá na mesma.

E o futuro?

Além da Sulamérica Trânsito, que imagino ter vida longa pela frente, o importante site AdNews informa hoje que o Grupo Bandeirantes firmou parceria com o Banco Bradesco para o lançamento da Rádio Bradesco Esportes FM, cuja proposta é cobrir todas as modalidades esportivas. Acredito que a ideia seja aproveitar as Olimpíadas de Londres e a Copa de 2014. A emissora entra em breve no ar, justamente no vácuo deixado pela Oi FM. Grana, ao menos em tese, não será problema. Tenho dúvidas em relação ao formato. Comentarista esportivo no Brasil, em 99% dos casos, só fala de futebol. Mas se der certo, será uma proposta interessante.

Há ainda a parceria entre a atual 89 FM e a Nestlé, que atende pelo nome Fast 89 FM. Como o público alvo é o adolescente, sabe-se lá quanto tempo isso vai durar… Enquanto isso, órfãos de boa música aguardam que alguma emissora no dial venha nos salvar…

Quem viver, ouvirá!

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[Sylvio Micelli é jornalista]