Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Vida longa ao impresso

São 400 anos de história, ou melhor, de histórias. No verão de 1605, nascia em Estrasburgo, então território da Alemanha, o primeiro jornal impresso. Chamava-se Relação de todas as histórias importantes dignas de serem lembradas. Ironicamente, quatro séculos depois, sua própria história parece ter sido esquecida pela imprensa. A data não foi – ou pouco foi – comemorada. No Observatório da Imprensa na TV de terça-feira (13/12), Alberto Dines convidou à reflexão: ‘Já imaginou o que seria de você sem jornais e sem jornalismo?’.


O programa teve como tema os 400 anos do jornal. Mais do que o passado, foi discutido o presente e o futuro das notícias em papel. Participaram do debate o presidente da Biblioteca Nacional, Muniz Sodré, a colunista política do Diário de Pernambuco Marisa Gibson e o vice-presidente da Editora Segmento, Roberto Müller Filho.


Transformar para (re)conquistar


Do alto de seus quase 200 anos de história, a imprensa brasileira sofreu períodos de asfixia, durante o Estado Novo e a ditadura militar, crises financeiras e ameaças tecnológicas. A internet, a mais recente delas, faz com que se torne necessária uma transformação do jornalismo impresso como o conhecemos. A imprensa escrita – no Brasil e no exterior – tenta superar a rapidez e o imediatismo da rede mundial de computadores. Jornais tradicionais pensam em alternativas para reconquistar a atenção do público. Editoras lançam novos títulos, mais baratos, mais compactos, mais superficiais. Mas isso adianta?


Para Müller Filho, os jornais não sobreviverão se não se renovarem. ‘Hoje, se você acompanha a internet o dia inteiro, dificilmente precisará pegar um jornal’, afirma. Segundo Muniz Sodré, o jornal precisa se hibridizar, mesclar-se com outras plataformas de comunicação. ‘Eu não acredito mais no impresso isolado’, sentencia.


Crise e criatividade


Já Marisa defende que o risco representado pela internet não é tão grande assim. Para ela, o jornalismo impresso consegue sobreviver com bom gerenciamento empresarial e bons profissionais na redação. ‘Na verdade, é o jornal que informa o leitor’, aponta, explicando que hoje, mesmo que os furos jornalísticos sejam dados pela televisão e pela rede, é o impresso que faz a análise detalhada e trata as notícias com maior profundidade.


É fato, entretanto, que a imprensa mundial vive um longo período de crise financeira e estrutural. Os problemas atingem as cada vez mais enxutas redações dos grandes e pequenos jornais e chegam até às revistas, menos informativas e mais segmentadas. No caso da mídia brasileira, afirma Müller, há também uma crise de qualidade. Para vencê-la, seria preciso que as empresas de comunicação lançassem mão de critérios transparentes de governança e que os executivos deste meio entendessem que é preciso haver também por parte deles preocupação com o conteúdo jornalístico. No mais, é necessário que os jornais aprendam a se adaptar, de maneira criativa, às novas tecnologias.


Marisa falou sobre os conflitos entre o jornalismo regional e o nacional. Müller concordou que ‘o jornalismo regional pode crescer’ no país, representando um diferencial para a grande imprensa. Já Muniz Sodré chamou a atenção para a tendência de engajamento dos jornais com a causa pública, e ressaltou o aumento no número e na força dos veículos de comunicação comunitários. Dines fez questão de enfatizar que o jornal simboliza a imprensa.


Sobre o tão discutido futuro dos impressos, há de se esperar para ver. Que seja lembrado que o papel não entrou em extinção nem com o surgimento do rádio nem com o da televisão.


O Observatório da Imprensa na TV é exibido ao vivo pela rede pública de televisão às terças-feiras, a partir das 22h30. Em São Paulo, sua exibição começa às 23h, na TV Cultura.