Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Como fazer um jornalismo com seriedade

Antigamente – mesmo quando estava ainda na faculdade –, não tinha costume de prestar muita atenção a alguns programas televisivos que transmitem sabedoria para todas as pessoas, independente de suas ocupações ou cargos. Na segunda-feira (19/3), estava repetindo uma cena que muitos brasileiros costumam fazer em frente ao aparelho de televisão com o controle remoto: o famoso rodízio e a troca de canais para ver qual programa “interessa um pouco”. Durante este exercício repetitivo, deparei com o programa Roda Viva, transmitido pela TV Cultura, que trazia o jornalista Alberto Dines, que completou semanas atrás 80 anos de vida, sendo 60 dedicados à profissão de que mais gosta e que também me cativa a cada dia: o jornalismo.

De início, só o fato de Dines ser o entrevistado me chamou a atenção e com isso decidi acompanhar o programa. O resultado, todos devem saber: não tive nenhum arrependimento. Pelo contrário: a entrevista com Dines foi um “banho” de sabedoria para os demais profissionais e aspirantes que desejam iniciar-se na profissão que, diferentemente do que o excelentíssimo ministro – se é que o podemos o chamar deste jeito – Gilmar Mendes definiu os jornalistas como iguais a “cozinheiros” (que fique bem claro que não tenho nada contra os profissionais desta categoria), em atuar de forma séria, ética e com seriedade.

E mais: mesmo com os avanços da tecnologia, trazendo este advento chamado internet, com a ascensão dos famosos blogs, o jornalismo impresso ainda pode ser feito corretamente, sem medo de que um dia possa ser extinto e estas novas ferramentas (Orkut, Facebook, Twitter, entre outros) possam servir de ajuda neste sentido. Entretanto, mesmo com todo este “bombardeio” da tecnologia – que ajuda e ao mesmo tempo prejudica –, Dines tocou num assunto muito importante para a profissão e que hoje é feito na maioria dos veículos de comunicação: a falta de imparcialidade. Isso mesmo! Este é um grande defeito que mina muitos profissionais da categoria que, levados pelas ideias de determinada empresa, esquecem-se de se manter a neutralidade em determinado assunto e “puxam a sardinha” para o entrevistado ou determinada empresa e órgão público que, inúmeras vezes, são alvos de denúncias e corrupção.

Seria isso um problema isolado? De forma alguma, pois em 90% do território nacional acontece isso. E mesmo que aquele profissional se esforce em fazer um jornalismo ético, sério e com credibilidade, a “censura moderna” – que ainda ocorre, mesmo muitos jurando de pés juntos que isso acabou – o corrompe e o prende na linha editorial de sua empresa.

Profissão de dois mil anos

Quem perde com isso? A empresa, seu proprietário ou os profissionais e a população em geral? Nem precisamos responder, pois a resposta está na cara de todos nós. E mesmo que o jornalista, contrariando a determinada opinião do veículo de comunicação em que trabalha, se esforce para que aquela matéria seja publicada para alertar a comunidade, acaba sendo censurado, como já aconteceu com muitos profissionais, inclusive com Dines, que foi demitido várias vezes por se esforçar em levar a informação séria para que a população ficasse por dentro do que acontece ao seu redor. Mas, para isso é preciso esforço por parte do profissional em mudar este cenário, pois o jornalismo, como disse Dines, é inspiração, pulsação e cada veículo tem as suas vantagens, o que não vem sendo aproveitado, em especial pelo jornal impresso.

Diferente do que o ministro Gilmar Mendes disse, a profissão de jornalista existe há mais de dois mil anos. Devemos nos mover para levar as notícias com mais “substância” à massa de leitores e assim fazer parte da história do local onde atuamos, deixando o legado de contribuição à sociedade.

Enfim, em pouco mais de uma hora e meia de programa, tirei boas lições deste ícone e referência do bom jornalismo brasileiro. Obrigado, Alberto Dines, e espero encontrá-lo pessoalmente e adquirir mais conhecimento na área para sempre levar à população a informação séria e com responsabilidade.

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[Ivan Ambrósio é jornalista, Penápolis, SP]