O colunista John O’Sullivan, do Chicago Sun-Times [18/5/04], detectou quatro principais falhas na mídia americana nas últimas semanas.
Em primeiro lugar, o excesso de suposições e inferências. Na cobertura do escândalo de Abu Ghraib, segundo O’Sullivan, muitos jornalistas construíram suas matérias sobre especulações. Como exemplo, cita o Washington Post. Um artigo de R. Jeffrey Smith supõe que, porque um funcionário militar da inteligência estava envolvido no caso de um sírio submetido a pressões para lhe causar medo e lhe fazer falar, isso ‘sugere um círculo de envolvimento mais amplo em técnicas abusivas perpetradas por oficiais seniores’. Além disso, termos como ‘sugere’, ‘potencialmente’, ‘poderia causar’, ‘coincidência’ e outros da mesma extirpe, acabam deixando escapar a fragilidade da matéria, em um assunto que deveria primar pela solidez dos fatos, dada a gravidade da acusação.
A segunda falha citada por O’Sullivan é a repetição exaustiva da exibição das fotos. Desde que vieram à tona, as imagens estão sendo mostradas pela mídia em todas as ocasiões possíveis. ‘As fotografias são evidências chocantes de comportamento chocante e deveríamos nos envergonhar de que os abusos tenham ocorrido sob auspícios americanos’, disse. ‘Mas essa não é a única história do mundo’. O colunista julga o escândalo do ‘petróleo por comida’ das Nações Unidas assunto bem mais importante, envolvendo a fome de crianças e praticamente ignorado.
Em terceiro, O’Sullivan fala que o terror tem pautado a mídia. Vários veículos reportaram que Nick Berg foi assassinado ‘em retaliação’ aos abusos de Abu Ghraib. Essa é a justificativa dos terroristas. E estavam certos. O argumento da ‘retaliação’ transfere a culpa da morte de Berg de seus reais assassinos para George W. Bush e os EUA, afirma O’Sullivan. Mas os terroristas haviam raptado o americano duas semanas antes de ser revelado o escândalo das torturas nas prisões.
Por último, o colunista do Sun-Times acha que falta uma certa malícia, ou quem sabe sobra uma certa vontade de acreditar em tudo o que aparece. Para explicar, cita os jornais Daily Mirror e Boston Globe, que publicaram fotos falsas.