O caso do vazamento de que o governo norte-americano teria grampeado turistas e cidadãos americanos, noticiado no fim de semana pelo The New York Times e reconhecido pelo presidente George W. Bush, continua repercutindo. A Folha de S. Paulo desta segunda traz uma pequena mas interessante reportagem sobre a reação do Washington Post após o furo do Times. ‘O jornal Washington Post levantou dúvidas a respeito das circunstâncias em que seu principal concorrente publicou a matéria sobre o programa de espionagem de civis autorizado pelo presidente Bush. Em nota, o New York Times admitira ter adiado em um ano a publicação da matéria, a pedido da Casa Branca, por ‘prejudicar as investigações’ sobre terrorismo’, diz o lide da matéria reproduzida na Folha.
Já o Globo destaca a volta à tona do Caso Baumgarten, com o pedido da família do jornalista Alexandre von Baumgarten, encontrado morto a tiros no Recreio dos Bandeirantes, no Rio, em outubro de 1982, de indenização junto à Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos. O episódio, até hoje obscuro, envolvia os porões da ditadura em seu ocaso, e na época muito se especulou sobre uma ‘queima de arquivo’ na morte do jornalista.
Também segue no noticiário a controversa venda da Varig para o arrendatário da Gazeta Mercantil e Jornal do Brasil, Nelson Tanure.
Leia abaixo os textos de segunda-feira 19/12, selecionados para a seção Entre Aspas.
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Folha de S. Paulo
Segunda-feira, 19 de dezembro de 2005
GRAMPO NOS EUA
Congresso quer investigação sobre grampo
‘A crise de credibilidade política do presidente George W. Bush ganhou novo fôlego ontem, depois que o líder admitiu ter autorizado a espionagem de telefonemas e correspondências de moradores dos Estados Unidos com pessoas no exterior como parte da estratégia de sua guerra ao terror.
Congressistas do Partido Republicano, de situação, e do Partido Democrata, de oposição, pediram ontem uma investigação sobre o caso, enquanto a secretária de Estado, Condoleezza Rice, defendeu a medida como necessária para proteger os americanos de novos ataques terroristas.
‘Se foram medidas legais, é uma questão que precisa ser examinada. Há limites para o que o presidente pode fazer, segundo a Constituição’, disse à CNN ontem o senador republicano Arlen Specter, presidente do Comitê Judiciário da Casa.
A espionagem de cidadãos e turistas em solo americano foi divulgada na sexta-feira pelo jornal ‘The New York Times’, que admitiu ter adiado em um ano a publicação da reportagem (leia texto ao lado). A repercussão provocou um terremoto político no Congresso e foi largamente responsável pelo bloqueio da renovação do Patriot Act pelo Senado. A lei dá poderes de exceção à polícia e forças de segurança nas investigações sobre terrorismo e é vista como um pilar doméstico da guerra empreendida por Bush.
No sábado, em seu programa semanal de rádio, o presidente norte-americano admitiu ter autorizado a poderosa ASN (Agência de Segurança Nacional) a interceptar e monitorar contatos de moradores dos EUA com suspeitos no exterior. Do salão Roosevelt, da Casa Branca, Bush usou cadeia de rádio e TV para vender a idéia de que a espionagem ocorre dentro de parâmetros legais e sofre escrutínio permanente do governo, que precisa autorizar as investigações periodicamente.
Como de praxe, a secretária de Estado bateu na mesma tecla ao conceder entrevista à emissora conservadora Fox ontem. ‘Simplesmente não podemos chegar a uma situação na qual o presidente não responderá a diferentes tipos de terrorismo. Estamos agora num mundo em que os ataques terroristas são lançados de dentro dos Estados Unidos’, afirmou.
A questão poderia ser facilmente contornada por Bush e seus auxiliares não fossem os atribulados meses passados. A demora em ajudar a população vítima do furacão Katrina, o recorde de 2.000 militares mortos no Iraque, o indiciamento de Lewis Libby, ex-chefe-de-gabinete do vice-presidente Dick Chenney, e outros eventos deixaram a Casa Branca com a difícil imagem de maquiar a realidade e manipular o público.
A oposição democrata no Congresso, obviamente, tenta ganhar politicamente com isso.
‘Deveria haver investigações e audiências relativas a esse assunto nos comitês de jurisdição competente’, disse ontem à Fox o líder democrata no Senado Harry Reid.
Pesos e contrapesos
A temperatura política no Congresso vai se elevar durante a próxima semana também devido ao intenso debate sobre o papel do Legislativo em fiscalizar o governo. A oposição democrata diz que, enquanto nada era pequeno demais para deixar de ser investigado durante os anos de Bill Clinton na Casa Branca, as medidas de Bush, por maiores que sejam, não passam pelo mesmo exame.
Essa impressão fica mais forte quando se leva em conta a pouca disposição do Congresso em inquirir sobre as suspeitas de prisões sigilosas da CIA (Agência Central de Inteligência), na Europa ou mesmo sobre o vazamento da identidade da agente Valerie Plame.
Resta saber, agora, se o recesso para os feriados de final de ano conseguirá reduzir o fôlego da crise política. Até hoje, as pesquisas de opinião mostram que não.’
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‘Times’ não explicou por que adiou, diz ‘Post’
‘O jornal ‘Washington Post’ levantou dúvidas a respeito das circunstâncias em que seu principal concorrente publicou a matéria sobre o programa de espionagem de civis autorizado pelo presidente Bush. Em nota, o ‘New York Times’ admitira ter adiado em um ano a publicação da matéria, a pedido da Casa Branca, por ‘prejudicar as investigações’ sobre terrorismo.
O ‘Post’ diz não entender por que o ‘Times’ não deu explicações a seus leitores sobre por que resolveu publicar a notícia justamente agora. Também acusa o concorrente de não ter informado que a notícia está incluída no livro ‘State of War’ [estado de guerra, editora Simon & Schuster, previsto para sair em janeiro de 2006], escrito por James Risen, mesmo repórter que assina a matéria de anteontem.
Para Tom Rosenstiel, diretor-executivo do Projeto para Excelência em Jornalismo e ouvido pelo ‘Post’, é concebível que o ‘Times’ tivesse aguardado a renovação do Patriot Act pelo Senado para poder publicar a matéria.’
FSP
CONTESTADAPainel do Leitor
Publicidade em Minas
‘‘Sobre a reportagem ‘Aécio passa em 520% o gasto com publicidade’ (Brasil, 18/12), esclareço o seguinte: Em 2003, em razão de grave déficit público, Minas Gerais adotou uma política de comunicação absolutamente austera, investindo apenas R$ 12 milhões no setor. Em relação ao Orçamento Geral do Estado, a publicidade governamental significou em 2003 apenas 0,07% dos recursos públicos executados. A análise da Folha calcula, portanto, o avanço dos gastos públicos partindo de uma excepcionalidade, e não da realidade de Minas Gerais e da média dos Estados. Em 2004, já em ambiente financeiro mais positivo, a Secom mineira foi autorizada a gastar R$ 37 milhões -um gasto per capita de R$ 1,96, enquanto a Prefeitura de Belo Horizonte previa um gasto per capita de R$ 5,79. Em 2005, já com as finanças regularizadas, o gasto per capita do Estado ficou em R$ 3,21. Também é necessário esclarecer que o Ministério Público Estadual não abriu investigação para apurar procedimentos relativos à campanha publicitária sobre a redução do ICMS de cerca de 150 produtos.’ Ronaldo Lenoir, superintendente de imprensa da subsecretaria de Comunicação Social do Estado de Minas Gerais (Belo Horizonte, MG)
Resposta do jornalista Paulo Peixoto – Foi o próprio promotor Denilson Feitoza quem deu a informação de abertura de investigação no Ministério Público Estadual sobre gastos com publicidade na isenção de ICMS para 150 produtos.’
TELEVISÃO
Em crise, novelas das sete derrubam ‘JN’
‘Apesar da alta temperatura do noticiário político, o ‘Jornal Nacional’ não registrou aumento de audiência neste ano. Pelo contrário, seu ibope na Grande São Paulo caiu 10% em relação a 2004.
O vilão não foi o noticiário, mas as novelas das sete, que não andam bem. O telejornal historicamente tem a sintonia de pelo menos 50% dos televisores ligados na Grande São Paulo. Ou seja, de cada dez aparelhos ligados, pelo menos cinco estão no ‘JN’.
Mas, como é o ‘recheio’ de duas novelas, o desempenho do ‘JN’ é influenciado pelo das produções de ficção. Se a novela das sete é um grande sucesso, o índice de televisores sintonizados no ‘JN’ aumenta _para até 67%, caso de junho de 2004. Se a novela das sete é um fracasso, a sintonia no ‘JN’ cai, mas nunca fica inferior a 50%, o que, para a Globo, é uma demonstração da força do principal telejornal do país.
Em 2004, a média anual do ‘JN’ foi de 40 pontos (considerada excepcional), com a sintonia de 62% dos televisores ligados na Grande SP. O telejornal foi favorecido por ‘Da Cor do Pecado’, que deu média de 43 pontos. Enquanto a novela esteve no ar, o ‘JN’ oscilou entre 38 e 44 pontos mensais.
Neste ano, computado até o último dia 12, o ‘JN’ tem média de 36 pontos, com 55% de sintonia. Foi prejudicado pelas novelas ‘Começar de Novo’, ‘A Lua me Disse’ e ‘Bang Bang’, que não passaram dos 32 pontos.
OUTRO CANAL
Reação 1 Uma das prioridades da Globo para 2006 é conter o crescimento da Record e do SBT no Ibope e frear a migração de seus atores para as duas concorrentes, principalmente a primeira.
Reação 2 Para a Globo, porém, a dificuldade que os autores das próximas novelas das seis e das sete estão tendo para escalar seus elencos se deve ao fato de ambas as produções estrearem com apenas um mês de intervalo. A fuga de globais para a Record até pesa, mas não é o determinante, dizem executivos da emissora.
Rojão A Rede TV! vai fechar 2005 com um crescimento comercial de 35%, atingindo R$ 265 milhões. Segundo Dalton Machado, a meta para o ano (R$ 250 milhões) foi alcançada em novembro. ‘Dezembro está no lucro’, diz. Ele credita o crescimento ao ‘Pânico na TV’, ao ‘Superpop’ (que cresceu no Ibope), ao programa de Olga Bongiovanni e ao futebol (Série B do Brasileiro).
Geração O ator Fernando Alves Pinto, 36, viverá na TV o personagem mais famoso da literatura infantil brasileira, criado por seu tio, o cartunista Ziraldo. Ele foi contratado pela TVE Brasil para fazer o protagonista da série ‘O Menino Maluquinho’ aos 30 anos.
Porrada A Rede TV! vai exibir a partir de março o ‘reality show’ ‘The Contenders’, da NBC americana, em versão dublada. O programa é uma competição de boxeadores.
MERCADO EDITORIAL
Investimento em obras vinculadas a programas televisivos cresce; lançamentos já são negociados para 2006.’
Laura Mattos
TV migra para o livro e alavanca vendas
‘O número de gente que compra livros ainda está, evidentemente, a anos-luz da quantidade de telespectadores no Brasil. Mas as editoras concluíram definitivamente que títulos vinculados a programas de TV vendem muito bem.
Em 2005, o investimento nesse nicho cresceu e será ainda maior em 2006, de acordo com especialistas consultados pela Folha.
Grande parte das ofertas é da editora Globo, por motivos óbvios. Nos últimos cinco anos, o conglomerado dos Marinho ampliou gradativamente a migração de conteúdo da televisão para os livros. Em 2005, foram nove títulos, contra apenas um em 2000.
Três lançamentos recentes da Globo exemplificam bem as possibilidades desse negócio. O primeiro é ‘Juscelino Kubitschek – O Presidente Bossa Nova’, uma das várias biografias que devem tomar as prateleiras a fim de aproveitar a exibição da minissérie ‘JK’, na Globo (estréia em 3/1). Nesse caso, o vínculo entre o produto editorial e a TV é fortalecido pelo prefácio assinado por Maria Adelaide Amaral, autora da série.
‘Retrato Falado’ é o segundo formato que esse casamento pode ter. O livro traz histórias exibidas na TV, com texto de Denise Fraga, além de depoimento da atriz sobre os bastidores. Assim, aproveita o quadro do ‘Fantástico’, mas vai além, com conteúdo próprio.
Por fim, há o roteiro propriamente dito. É o caso de ‘Hoje É Dia de Maria’, com o script da primeira e segunda temporadas.
‘O roteiro acaba tendo público mais especializado e vende menos do que os outros formatos’, diz Isa Pessoa, coordenadora editorial da Objetiva, que também investe nesse segmento (já lançou ‘Diário de Tati’, ‘Os Melhores Momentos de ‘Os Normais’ e ‘A Invenção do Brasil’).
Em 2000, a editora colocou à venda o script de ‘Presença de Anita’, minissérie da Globo assinada por Manoel Carlos. Foram vendidos 6.000 exemplares. Já os livros do Casseta & Planeta, também da Objetiva, são best-sellers. O primeiro com piadas vendeu 100 mil e o de Seu Creyson, 90 mil.
‘A nossa percepção é que a tendência da convergência traz cada vez mais possibilidades de migrar a produção da TV para o livro. Mas é preciso ser um conteúdo forte para ser lido, e não assistido. Não se pode apenas transpor uma marca da televisão sem que haja um consistente trabalho editorial’, avalia Isa.
Para 2006, adianta que a Objetiva negocia com Marcelo Tas a fim de colocar no mercado algo na linha ‘O Brasil Visto por Ernesto Varela’, o repórter-astro criado e vivido por ele nos anos 80.
Coordenadora editorial da Globo, Maria Cristina Fernandes da Silva ressalta que não basta o programa ter boa audiência para ser bem-sucedido nas prateleiras.
‘O conteúdo tem de ser adequado para a adaptação em livro. Muitas vezes usamos o universo do programa para aprofundar determinados assuntos, como fizemos em ‘Uma Saga Amazônica através da Minissérie Mad Maria’, ‘A Década de 30 através da Novela Esperança’ e ‘A Década de 40 através da Minissérie Aquarela do Brasil’, diz Maria Cristina.
O formato livro funciona bem ainda, em sua opinião, quando grande parte do conteúdo não pôde ir ao ar na TV em razão das edições curtas. É o caso de ‘Dossiê Brasília – Os Segredos dos Presidentes’, com a íntegra das entrevistas feitas por Geneton Moraes Neto para o ‘Fantástico’, e ‘A Fantástica Volta ao Mundo’, com o que foi cortado da série apresentada por Zeca Camargo.’
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O Globo
Segunda-feira, 19 de dezembro de 2005
CASO BAUMGARTEN
Baumgarten: Abin descarta perseguição política
‘Os arquivos sob custódia da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) revelam que Alexandre von Baumgarten não tinha perfil de um ativista político que se opôs ao regime militar. Ao contrário. Na certidão que a Abin enviou à Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos sobre o jornalista, Baumgarten aparece como um simpatizante da ditadura, que chegou até a colaborar com os órgãos de serviço de informação dos governos militares.
O documento é peça importante para o julgamento, pela comissão, do pedido da família de Baumgarten, que solicita ao Estado que reconheça sua culpa pela morte do jornalista e pague uma indenização de R$ 100 mil, como informou ontem O GLOBO. Baumgarten foi encontrado morto a tiros no Recreio dos Bandeirantes, no Rio, em outubro de 1982.
No documento da Abin não há informações que comprometam os militares ou o envolvimento deles na morte do jornalista. Os arquivos secretos do governo descrevem Baumgarten assim: ‘Sempre foi tido como um anticomunista fervoroso’, afirma a certidão, na página dois.
Outro trecho do documento diz que o jornalista participou de um atentado a bomba ao jornal ‘Última Hora’, em São Paulo, e aponta outras ações anticomunistas de Baumgarten. ‘Antes da revolução de 1964, pichou um submarino russo, quando o mesmo estava sendo visitado por João Goulart’.
Segundo o documento ‘(Baumgarten) cooperava de longa data com os órgãos de informações, tendo uma linha política democrática definida e, por isso, sofria perseguições e boicotes por parte de comunistas infiltrados no ‘Diário de Notícias’, onde trabalhava. Baumgarten é descrito pelos documentos da época como um jornalista que ‘não gozava de prestígio nos meios jornalísticos de São Paulo, que o consideravam picareta’.’
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Jornalista era suspeito de atos de corrupção
‘A certidão da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) enviada à Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos afirma ainda que o jornalista Alexandre von Baumgarten era suspeito de atos de corrupção e que esteve envolvido em um inquérito que investigou crime de extorsão que teria praticado contra uma emissora de rádio de São Paulo. A certidão está anexada ao processo da família que pede a reparação indenizatória e o reconhecimento da culpa do Estado na morte do jornalista.
Os parentes do jornalista ainda não conhecem o documento porque o pedido foi feito à Abin diretamente pela Secretaria dos Direitos Humanos, à qual a comissão é subordinada.
Baumgarten escreveu série sobre serviços secretos
A certidão diz que Baumgarten chegou a depor no Dops de São Paulo por ter escrito um artigo sobre ‘corrupção bipartidária’. O documento registra ainda que ele escreveu uma série sobre os serviços secretos da extinta União Soviética, dos Estados Unidos, da Inglaterra, da China e da Alemanha.
Sobre o possível envolvimento do Serviço Nacional de Informações (SNI) na morte do jornalista, o documento da Abin cita apenas reportagens. Conta que houve uma reação no Congresso à morte de Baumgarten e uma nota divulgada na época pela Secretaria de Comunicação da Presidência da República que negava o envolvimento do governo e dizia que o então presidente João Figueiredo só soube da morte do jornalista pelos jornais. ‘Nota essa que foi objeto de galhofa por parte de alguns parlamentares’, diz o texto da Abin.
A certidão descreve também conversas entre jornalistas que faziam a cobertura do chamado caso Baumgarten com políticos, sem citar nomes. ‘No dia 1 de fevereiro de 1983, um deputado do PDS do Rio de Janeiro confidenciou a dois jornalistas credenciados na Câmara dos Deputados, que o ex-chefe da Casa Civil, general Golbery do Couto e Silva, possuía farta documentação que constatava o envolvimento do SNI com Alexandre von Baumgarten’, afirma o relatório da Abin.
Deputado do PMDB tentou instalar CPI
Outro trecho afirma que um deputado do PMDB de Goiás, que defendia a extinção do SNI, tentou instalar uma CPI para investigar o envolvimento do SNI com a morte do jornalista. ‘O deputado dizia que o país devia ter conhecimento pleno da realidade que se passava nos porões de nosso serviço de informação’.
O nome do general Newton Cruz, ex-chefe da Agência Central do SNI, que chegou a ser apontado como suspeito do assassinato e depois foi inocentado por júri popular, aparece apenas uma vez na certidão da Abin. Ainda assim, é um trecho de uma reportagem do ‘Jornal do Comércio’ de Manaus (AM), de 31 de julho de 1988. ‘O então presidente nacional do Partido Social Progressista (PSP) havia declarado que quem assassinou o jornalista Alexandre von Baumgarten foram agentes do Serviço Secreto de Israel e não o general Newton Cruz, que tem sido acusado injustamente de ser o matador do jornalista. Faço esta afirmação, que poderá mudar inteiramente o rumo do processo, porque tenho provas do que afirmo’, diz a reportagem reproduzida no relatório.
O caso do jornalista está sendo relatado pelo presidente da Comissão, Augustino Veit. Ele deverá ouvir, entre outros, o ex-agente do SNI Edgar Lange, que depôs na CPI dos Correios porque teria investigado corrupção na estatal.’
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‘Acho esse pedido uma loucura’
‘Apontado num dossiê do jornalista Alexandre von Baumgarten como principal interessado em sua morte, o general Newton Cruz, chefe da Agência Central do antigo Serviço Nacional de Informações (SNI) no governo João Figueiredo, foi a júri popular e inocentado, em 1992. Ele considerou um absurdo a família de Baumgarten requerer indenização à Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos.
A família de Baumgarten quer que o Estado reconheça culpa por sua morte por perseguição política e pede indenização. O que acha?
NEWTON CRUZ: Acho esse pedido uma loucura. É o fim do mundo. Não se provou nada. Estou escandalizado. O caso está encerrado. Por que o Estado vai pagar alguma coisa? É inominável. Por sinal, virou moda o denuncismo. Todo mundo está entrando na comissão para ganhar dinheiro.
No pedido à comissão, a família diz que o jornalista morreu em razão de suas atividades políticas.
CRUZ: Ele não foi vítima de coisa alguma. Não sofreu perseguição política. Que história é essa? De nenhum dos lados. Baumgarten era odiado pela esquerda. Ele participou de atos de tortura. Era um jornalista extremado de direita. Tive contra mim a esquerda e a direita. Fui um bode expiatório. Vou pedir indenização para mim também. Ora, fui mandado embora do Exército. Não saí porque quis, não.
O senhor teme que possa ser envolvido no caso novamente?
CRUZ: Não temo nada. Não fui responsável pela morte de ninguém. Fui julgado por um júri popular e fui inocentado em todos os itens. Estava lá, sentado sozinho no banco de réus. Não se tem prova nova nem prova antiga de como Baumgarten morreu. As antigas, a propósito, foram todas derrubadas na Justiça.
Baumgarten elaborou um dossiê, dois anos antes de morrer, no qual acusa o senhor de tramar a sua morte.
CRUZ: Conheço bem esse dossiê. Tinha 30 parágrafos mentirosos. Apontei 111 inverdades. Foram 111 desmentidos. Comprovei isso na Justiça. Passaram dez anos me investigando e não acharam nada. Não vai ser agora que vão conseguir provar alguma coisa.
O senhor confirma que ele procurou o apoio do SNI para reerguer a revista ‘O Cruzeiro’?
CRUZ: Ele foi pedir apoio, não tem nada demais. Mas não saiu um tostão do SNI para ele. O SNI facilitou contatos para ele defender o peixe dele, mas ele não conseguiu nada. Por isso surgiu a briga dele com a gente. Se o SNI era tão forte, como não conseguiu ajudá-lo?
Se o senhor for convidado está disposto a prestar depoimento na comissão?
CRUZ: De jeito nenhum. Isso para mim é assunto encerrado. Agora, se a comissão der razão à família de Baumgarten, aí eu não posso ficar calado. Ela tem até o direito de pedir, mas conceder seria um absurdo. Espero que o pedido seja indeferido. Se não for, vou entrar na Justiça.’
PRÊMIO DA TIME
Prêmio para as boas ações
‘As boas ações ao longo de 2005 levaram o líder da banda U2, Bono, e um dos homens mais ricos do mundo, Bill Gates, e sua mulher Melinda, a dividirem o título de Pessoa do Ano da revista americana ‘Time’. O lendário roqueiro é também um famoso ativista e co-fundador de uma organização que luta pela erradicação da pobreza e da AIDS. Já o casal Gates deve a honraria ao trabalho da fundação que leva seu nome e que só em janeiro destinou US$ 750 milhões à melhoria dos mecanismos de distribuição de vacinas para crianças.
– O número de pessoas mortas pelas doenças que os Gates e Bono combatem é muito maior do que o de mortes por guerras ou desastres naturais – ressaltou o editor-chefe da ‘Time’, Jim Kelly.
A fundação criada pelo dono da gigante da informática Microsoft e sua mulher tem um orçamento de US$ 29 bilhões para investimentos em educação, saúde e ajuda a famílias em situação de risco. Já Bono, descrito pela revista como o ‘roqueiro irlandês que tornou a redução da dívida externa sexy’, conta entre seus feitos a organização do Live 8, série de concertos que chamou a atenção dos líderes dos países ricos para os problemas da África e resultou no aumento no valor do auxílio dado pelo G8 ao continente.
Mas não só o trio foi lembrado. Os ex-presidentes dos EUA George Bush (pai do atual presidente) e Bill Clinton foram eleitos Parceiros do Ano por sua ajuda às vítimas das tsunamis e dos furacões que varreram o Sul americano. A lista das pessoas que importaram no ano inclui ainda o Papa Bento XVI, a agente da CIA Valerie Plame e o vilão da ficção Darth Vader.’
INTERNET
Pergunte ao Yahoo!
‘Imagino que a leitora já conheça o Google Answers, uma das pérolas do Google ainda pouco usada pela comunidade online, especialmente aqui no Brasil, dada a barreira idiomática. Neste site, cerca de 500 pesquisadores no mundo inteiro respondem às perguntas de internautas de qualquer procedência. Mas isso custa dinheiro. Para perguntar, você paga de cara US$ 0,50 como taxa fixa e você mesma estipula quanto pagará a quem lhe responder, um valor entre US$ 2 e US$ 200.
Como resposta a mais esta googlice, foi lançado há poucas semanas o Yahoo Answers, ainda em beta. A abordagem é parecida com a da ferramenta que o Google e outros antes dele já ofereciam. A grande sacada do Yahoo foi o fato de os respondedores não necessariamente receberem grana por suas respostas. A motivação de quem responde costuma ser simplesmente dar uma mãozinha a um desconhecido, o que tende a transformar a experiência em algo divertido, tanto para quem pergunta quanto para quem responde. Há, no entanto, o alto risco de ruído em excesso, o que poderá comprometer a brincadeira toda. O Yahoo inova ao adotar um sistema de pontuação e de níveis, em que perguntar e responder vai dando créditos aos usuários, permitindo que um respondedor possa, ao longo do tempo, ir formando sua reputação através do seu nível e do número de pontos que acumulou.
Além disso, através de um gancho para o sistema YPN (Yahoo! Publisher Network), existe a opção de ser um respondedor pago no Yahoo Answers, restrita por ora a usuários angloparlantes e residentes nos Estados Unidos. Está prevista para 2006 a expansão do serviço para outros idiomas além do inglês.
O Yahoo Answers, pelas características mais abertas que tem, favorece a formação de comunidades e vínculos soltos entre os participantes. É uma estrutura mais leve. A gratuidade do novo serviço do Yahoo induz estas comunidades a serem menos sérias e, conseqüentemente, têm surgido um monte de perguntinhas bobocas, em geral, feitas à guisa de teste e suscitando respostas igualmente estéreis. Porém, como tudo ainda é novidade, as pessoas estão apenas sondando o ambiente, é natural.
Se as comunidades do Yahoo Answers adquirirão força, isso ainda não se sabe. Por estar em beta, a cara final e as funcionalidades do site certamente serão bem diferentes das de hoje. Só o tempo vai dizer em que patamar o sistema de perguntas e respostas do Yahoo se estabilizará e se o serviço sofrerá ou não corrosão fatal em função do excesso de informações, de um número indesejável de respostas sem lastro e, sobretudo, do inevitável spam que sobrevirá. Outras pedras no caminho poderão ser os usuários mala-sem-alça, golpes fraudulentos embutidos em perguntas e resposta, e uso indevido como ferramenta de marketing e vendas.
No geral, a evolução destes serviços online de perguntas e respostas, pagos ou não, costuma ser meio lenta. A variedade de opções, a quantidade de novidades e a própria natureza humana faz com que as pessoas não se joguem de cabeça em algo que está ainda em fase experimental. No entanto, quando a moda pega pra valer (se pegar), aí sim, a afluência se torna gigantesca.
Um dos mais antigos e bem conceituados serviços grátis de perguntas e respostas online é o Wondir, criado em 2002 por Matthew Koll, à frente de uma fundação sem fins lucrativos. O sistema ficou três anos em fase de testes e foi oficialmente lançado só em abril de 2005.
Segundo Gary Price, autor do ótimo blog SearchEngineWatch, tem havido um grande movimento nas bibliotecas de todo o mundo conhecido como ‘referência virtual’. São serviços gratuitos de bate-papo online com bibliotecários treinados em pesquisa e que têm acesso a livros e bancos de dados que não necessariamente estão disponíveis na web. As conversas se dão por mensagens instantâneas ou mesmo através de telefone convencional ou VoIP (voz-sobre-IP). Serviços como o AskA, por exemplo, oferecem um impressionante leque de opções de assuntos.
Agradeço aos amigos Marcelo Pinheiro (Calgary, Canadá), que me deu o toque do Yahoo Answers, e Marco Paganini (Flórida, EUA), que com muita propriedade lembrou que lá pelos idos de 1989 um serviço muito famoso era (ainda é) o ‘The Usenet Oracle’, que mais tarde virou ‘The Internet Oracle’, um oráculo virtual que responde gratuitamente às mais diversas questões.
Termino lembrando à leitora que, quando se fala em perguntas e respostas, o grande ícone é Cecil Adams, colunista do jornal ‘Chicago Reader’, que em 1973 lançou o Straight Dope, hoje site famoso, interessante, respeitadíssimo e superdivertido. Segundo a lenda, Cecil é o ser humano mais inteligente do mundo, assim considerado porque, segundo ele próprio, tudo sabe e nunca erra. Afirma o gajo também que, antigamente, só tinha um defeito: era presunçoso. Hoje não mais – é perfeito.
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Os links de hoje estão em http://catalisando.com/infoetc/20051219.htm .’
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O Estado de S. Paulo
Segunda-feira, 19 de dezembro de 2005
SIGILO DA FONTE
Violação do sigilo profissional
‘Um caso grave de violação do sigilo da fonte jornalística agrediu a Rede Gazeta, importante grupo de comunicação do Espírito Santo. A empresa foi alvo de uma escuta telefônica durante o inquérito policial que apura a suposta participação do juiz Antônio Leopoldo Teixeira no assassinato do também magistrado Alexandre Martins.
As gravações atingiram conversas mantidas por jornalistas de todos os veículos de comunicação do grupo: jornal A Gazeta, TV Gazeta, rádios CBN Vitória, Gazeta AM e o site Gazeta OnLine. O pedido de interceptação foi feito ao juiz da 4ª Vara Criminal de Vila Velha, Sérgio Ricardo de Souza, pela delegada Fabiana Maioral e pelo promotor de Justiça Marcelo Zenkner, no dia 23 de março deste ano. O telefone da Rede Gazeta foi incluído numa relação com vários números de telefones. Segundo o pedido, o número pertencia à firma Telhauto, que seria uma empresa de fachada de Fernandes de Oliveira Reis, o Fernando Cabeção, condenado em novembro deste ano como intermediário do assassinato. Os números selecionados para a escuta teriam, também, ligações com o sargento da Polícia Militar Heber Valêncio, condenado por participação na trama que culminou com a morte do magistrado.
Duas semanas depois, no dia 8 de abril, os delegados Cláudio Victor e Danilo Bahiense encaminharam um novo pedido de quebra de sigilo telefônico. Além de solicitarem a continuação na interceptação dos telefones anteriores, o que incluía o número da Gazeta, foram acrescentados outros telefones, num total de 35 números. O pedido foi deferido pelo relator do inquérito, desembargador Pedro Valls Feu Rosa, que enviou à operadora de telefonia o ofício 40/2005, datado de 11 de abril deste ano.
Ao final da interceptação telefônica, as ligações de jornalistas dos veículos da Rede Gazeta foram gravadas em dois CDs e anexadas ao processo penal que tramita no Tribunal de Justiça. O presidente do Conselho de Administração da Rede Gazeta, Carlos Lindenberg Filho, Cariê, pediu a apuração dos fatos e a condenação dos culpados. ‘Em 43 anos de trabalho, nunca vi uma coisa igual’, declarou Lindenberg. O secretário de Segurança Pública e Defesa Social, Rodney Rocha Miranda, admitiu que houve um erro, mas garantiu que os fatos serão apurados pela secretaria. O desembargador Pedro Valls Feu Rosa declarou, por meio de nota, que apenas deferiu a prorrogação da interceptação do telefone relacionado e que foi induzido a erro.
Registradas as desculpas, sinceras ou protocolares, o fato concreto, caro leitor, é gravíssimo. Trata-se, na verdade, de mais um capítulo da crescente violação da Constituição da República. ‘É assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional’, dispõe o artigo 5º, inciso 14, da Constituição. Trata-se de um dos fundamentos essenciais de uma sociedade democrática: o direito à informação.
O respeito ao sigilo da fonte jornalística, dever ético elementar de qualquer profissional de comunicação, é uma das principais garantias do acesso à informação. Investir contra o sigilo profissional ou tornar relativa a sua proteção é um tiro de morte nas liberdades democráticas. Rodrigo César Rebello Pinho, procurador-geral de Justiça do Estado de São Paulo, em artigo publicado no jornal Folha de S.Paulo, lembrou que a Corte dos Direitos Humanos de Estrasburgo estabeleceu, no julgamento Goodwin versus United Kingdom, em 1996, aplicando a Convenção Européia de Direitos Humanos, que ‘a proteção aos direitos da fonte é um dos pilares da liberdade de imprensa, e sua ausência poderia dissuadir as fontes jornalísticas de auxiliar a imprensa a informar o público sobre questões de interesse geral. Em conseqüência, a imprensa poderia estar menos disposta a desenvolver seu indispensável papel de cão de guarda’.
Fontes não reveladas estão na origem de inúmeras denúncias da imprensa a respeito de crimes praticados por governantes, políticos e servidores do Estado. Fatos recentes evidenciam a importância da informação jornalística como instrumento de combate à impunidade e de realização da justiça. Alguém imagina, por exemplo, que o ex-deputado José Dirceu teria sido cassado sem a legítima pressão de um autêntico jornalismo de denúncia? Ninguém discute que o Brasil tem avançado graças ao esforço dos meios de comunicação. A sociedade acompanha, atônita, os intermináveis capítulos da novela de corrupção e cinismo que tem como protagonistas ex-dirigentes do partido do presidente da República. A faxina que se fará, queiram ou não os caciques de turno, está intimamente relacionada com a liberdade de imprensa e o respeito ao sigilo profissional.
O legislador pretendeu, ao instituir o sigilo da fonte na Constituição de 1988, não privar a sociedade de informações. Ao contrário, assegurou a plena liberdade de informação, ferramenta essencial para a defesa dos interesses da sociedade. Preocupa, e muito, a grave agressão sofrida pelo Grupo A Gazeta. É importante que todos, leitores, jornalistas e formadores de opinião, tomem consciência de que o respeito à Constituição e aos valores democráticos são a garantia maior do precioso dom da liberdade. De fato, a liberdade de expressão, de opinião, de religião, todas essenciais para a plena realização do ser humano, têm sido conquistadas com muita dor e sofrimento ao longo da História humana. Aqui, após décadas de regime autoritário, conhecemos o valor e o preço da liberdade. Por isso, não podemos subestimar as tentativas de imposição de modelos ilegais e antidemocráticos.
Carlos Alberto Di Franco, diretor do Master em Jornalismo, professor de Ética da Comunicação e representante da Faculdade de Comunicação da Universidade de Navarra no Brasil, é diretor da Di Franco – Consultoria em Estratégia de Mídia Ltda. E-mail: difranco@ceu.org.br‘
TANURE & VARIG
Contrato com Tanure prevê fusão da Varig
‘O contrato entre a Fundação Ruben Berta (FRB), dona de 87% das ações da Varig, e a Docas Investimentos, do empresário Nelson Tanure, prevê fusão, cisão, incorporação e até liquidação de todas as empresas do Grupo Varig. O documento, que garante participação mínima de 20% para a FRB em todas as companhias aéreas e de 10% nas demais, também abre a possibilidade de pedido de recuperação judicial e falência da FRB-Par, o braço financeiro da fundação que tem a posse do capital da companhia.
Essas são algumas das revelações feitas por meio de mensagem eletrônica recebida pelo Estado ontem, sem assinatura. O remetente do e-mail está identificado apenas como ‘Funcionários Varig’. O documento enviado contém o contrato firmado entre Tanure e a fundação e confirma informação publicada pelo Estado, na semana passada, de que a primeira parcela (serão dez cotas anuais) de R$ 22,4 milhões do investimento total de R$ 224,4 milhões, por 25% das ações da FRB-Par, só será efetivamente paga após a assembléia de credores marcada para hoje.
Na reunião, os donos de crédito vão avaliar o plano de recuperação e a transferência de controle para a Docas, o que validaria todas as cláusulas do documento. O contrato não prevê o pagamento de bônus para a fundação.
COMUM ACORDO
‘Qualquer plano prevê fusões ou incorporações. Nessas matérias, a fundação tem o direito de veto. Tudo tem de estar em comum acordo’, afirma o advogado da Docas Investimentos, Carlos Eduardo Bulhões, lembrando que o contrato ‘prevê’ e tudo terá ainda de ser aprovado em consenso com a fundação e a assembléia de credores. A Fundação Ruben Berta foi procurada, mas não se pronunciou até o fechamento desta edição.
O usufruto de 42% das ações da FRB-Par, que dará plenos poderes a Tanure na Varig, também foi parcelada em dez anos. Do total de R$ 26,9 milhões que a Docas planeja pagar para manter o controle por dez anos, a fundação vai receber royalties de R$ 2,6 milhões por ano. O primeiro cheque, a exemplo do que está previsto pela compra de 25% do capital, só poderá ser descontado após a assembléia de credores que poderá ser realizada em 15 dias a partir da assinatura do contrato, firmado em 12 de dezembro.
BATALHA JURÍDICA
Apesar de já ter sido assinado há uma semana, o contrato entre Tanure e a fundação foi suspenso na sexta-feira após batalha jurídica que envolveu quatro medidas judiciais em pouco mais de 24 horas.
A negociação foi anulada temporariamente pela comissão de juízes que cuida da recuperação judicial após pedido do Ministério Público do Rio de Janeiro. Isso porque a FRB pediu, na quinta-feira, para sair do processo conduzido pela Justiça fluminense.’
BOLÍVIA
‘Onde estão as sangrentas eleições que veio cobrir?’
‘Cenário de violentos choques entre manifestantes e policiais nos últimos anos, a Praça Murillo, no centro de La Paz, era a imagem mais representativa da tranqüilidade em que transcorriam as eleições bolivianas. Na frente da sede do governo e do Legislativo, os pacenhos aproveitaram o domingo de sol para passear, alimentaros pombos, passear com cachorros e andar de bicicleta pelas ruas vazias – por causa do rigor da Corte Nacional Eleitoral, que proibiu a circulação de veículos particulares na cidade.
Não fosse a forte presença de policiais – pelo menos uma dupla de agentes em cada esquina da cidade – e as conversas sobre política que predominavam em alguns grupos de cidadãos, havia poucos sinais de que era um dia de eleição. Na verdade, a trégua eleitoral de três dias, a rigorosa proibição das campanhas de boca-de-urna e a restrição do tráfego de veículos se converteram o que se convencionou chamar de festa da democracia num quase tedioso domingo ensolarado.
‘Onde estão as sangrentas eleições que veio cobrir, senhor?’, brinca um aposentado na Praça Murillo, dirigindo-se ao repórter do Estado. ‘Talvez na Bósnia, ou no Iraque’, responde outro, também rindo.
A brincadeira, no fundo, esconde um certo ressentimento dos bolivianos em relação à imprensa internacional, à qual acusam de exagerar no noticiário sobre os distúrbios de junho deste ano, que resultaram na renúncia do presidente Carlos Mesa, e de outubro de 2003, que derrubaram Gonzalo Sánchez de Lozada. ‘A questão aqui é que o povo está cada vez mais consciente de seus direitos e está cansado de maus governos. Então, se o governo é ruim, nós derrubamos’, diz Juan Martínez, que aproveita a calma da cidade para passear com seu cão, Alvín, pelas ruas do bairro de Sopocachi.
Mesmo na frente da sede do quartel-general do Movimento ao Socialismo (MAS), de Evo Morales, o movimento era pequeno. Cerca de uma dúzia de simpatizantes esperavam por camisetas e bonés do lado de fora do comitê.
Nos centros de votação, como o Colégio Domingos Sálvio, em Calacoto, distrito de classe média alta da zona sul de La Paz, a maior parte dos eleitores votou pela manhã. Filas se formaram em algumas secções durante esse período. Mas, de acordo com as autoridades eleitorais, os eleitores gastaram em média dez minutos para votar.
A regra de tranqülidade só foi quebrada por um início de enfrentamento entre partidários do MAS e do Poder Democrático e Social (Podemos), do candidato Jorge Tuto Quiroga, em El Alto, na zona metropolitana de La Paz – logo sufocado pelas forças de segurança. A Corte Nacional de Eleições também recebeu algumas reclamações de eleitores que se queixaram de não ter encontrado seus nomes nas listas de votação, apesar de terem se registrado.’
INTERNET
Venda de cartão de Natal sobrevive à internet
‘Os velhos costumes nunca morrem, dizem os fabricantes de cartões de Natal. ‘Apesar de ser muito fácil mandar um cartão pela internet, uma mensagem virtual não se compara a abrir um cartão assinado por alguém. O cartão de papel é mais vivo’, diz o diretor de marketing da Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD), Luis Eduardo Magalhães.
Todos os anos, a associação produz cartões e os vende para angariar fundos. ‘Este ano lançamos 40 modelos para o varejo, e outros especiais para empresas.’ Segundo ele, a associação vendeu este ano 2,6 milhões de cartões de Natal. ‘O dinheiro arrecadado corresponde a 10% do nosso orçamento anual e só fica atrás do Teleton.’ O número é o mesmo do ano passado, e o mercado se mantém estável ou com leve alta para a maioria das empresas. ‘O cartão tradicional já teve a concorrência do cartão de música e, agora, a facilidade do cartão virtual. Mas, ainda assim, devemos vender 10% mais este ano’, diz Evaldo de Mendonça, diretor da Elephante House, também do ramo de cartões. ‘Conseguiremos isso porque vendemos cartões até em padarias.’
A Grafon’s também está aumentando seus pontos-de-venda e investindo em displays mais coloridos. ‘Acabou a idéia de que cartão se vende só em papelarias. Hoje vendemos em supermercados, locadoras, e estamos com um projeto-piloto no Paraná de vender em drogarias’, diz o diretor de marketing da empresa, Carlos Motta. A expectativa também é de leve alta: 8%. ‘O Natal é a época em que mais vendemos cartões, seguido do dia dos namorados, das mães e da Páscoa.’ Ele diz, no entanto, que o mercado está estável porque o brasileiro não tem o costume de mandar cartões. ‘Algumas pesquisas mostram que, enquanto os ingleses compram 54 cartões por ano e os americanos 25, o brasileiro compra apenas 0,5. Aqui se lê pouco, então se escreve pouco.’ Os grandes clientes das empresas são, em geral, outras empresas que mandam a lembrança a seus funcionários.
Na Casa Hope, elas são responsáveis pela maioria dos cerca de 20 mil cartões vendidos este ano. Toda a venda é revertida para o tratamento de crianças com câncer. ‘Muitas empresas exercitam sua responsabilidade social nessa época do ano. Com o dinheiro, conseguimos cuidar de 10 crianças durante um mês, com consultas, tratamento e hospedagem’, explica o gerente de marketing da instituição, Christoph Mertens. ‘Mas não somos contra o cartão virtual. Nós mesmos os enviamos para nossos colaboradores este ano, para podermos conter gastos.’
ETIQUETA
O consultor de etiqueta empresarial Cláudio Pelizari diz que, quando é necessário mandar muitos cartões, o cartão virtual é uma opção para evitar gastos – especialmente em empresas. ‘Mas tem de ser uma mensagem personalizada.’ Ele acredita que essas lembranças ajudem inclusive a melhorar o relacionamento no local de trabalho. ‘As pessoas gostam de ser lembradas.’
Já para amigos e pessoas especiais, Pelizari diz que o cartão de papel é mais interessante, por estar escrito e assinado. ‘Independentemente da escolha, o importante é ser feito para aquela pessoa. E é muito polido responder com outro cartão.’’
PUBLICIDADE
Produções brasileiras galgam o exterior
‘A agência Y&R, comandada por Roberto Justus, estréia na Rússia, esta semana, a sua primeira campanha internacional para a Perdigão – empresa que espera encerrar o ano com faturamento de R$ 5,9 bilhões e tem 55% da sua receita líqüida proveniente das exportações. A Rússia é um dos mercados em que a Perdigão tem ampliado participação. Na campanha, a palavra Perdigão é substituída por Fazenda, mas em russo. Nas peças publicitárias dessa ação, empanados, como o Big Chicken, são um dos destaques.
Mas não são só as agências de publicidade que estão invadindo, com campanhas, outros mercados. As produtoras de vídeo e internet também. Na sexta-feira, a TV1, de Sérgio Motta Mello, venceu concorrência mundial da Volkswagen para reformular o site da empresa no Brasil. Antes, a TV1, que tem apostado na internacionalização, já havia feito filmes para a Bunge e a Microsoft, veiculados lá fora. O mesmo têm feito produtoras como O2, Sentimental Filmes, Conspiração, Mixer e Jodaf, além da Casablanca, que correm nesta virada de ano para entregar produções ao exterior e finalizar outras já contratadas para 2006.
‘É um movimento consistente o das exportações, tanto dos talentos brasileiros que dirigem filmes no exterior, como de produtoras que contratam as produções no Brasil’, diz Irma Paula, sócia da Bossa Nova Films. A produtora, que fez sua estréia em junho, durante o Festival de Cannes, é resultado da união de Eduardo Tibiriçá, Denise Gomes e Willy Biondani, até então sócios na Made to Create, com Julio Xavier, Paula Trabulsi e Irma Palma, que comandavam a JX Plural.
Irma diz que a produtora fechou contrato e vai filmar em janeiro, na Venezuela, dois comerciais para a pasta dental Colgate Sensitive, dirigidos por Paula Trabulsi – um com elenco brasileiro e outro com espanhol. Neste ano, Paula já dirigiu comercial da tintura para cabelo Koleston para a agência Select Communication, de Nova York, e outro para a rede de farmácias americanas CVS, filmado em Nova York. A Bossa Nova também tem prestado assessoria para a produtora mexicana Distrito Films, que escolheu o País para realizar comerciais para o Banamex (Banco do México) e Telcel. ‘Em 2006, o crescimento será maior’, aposta Irma.’