Uma comédia sobre um ladrão disfarçado de religioso muçulmano revoltou o clero conservador do Irã. A ala conservadora é encabeçada pelo supremo líder do país, aiatolá Ali Khamenei. Sob pressão das autoridades, os cinemas pararam de exibir o filme The Lizard (‘O Lagarto’) na quarta-feira, 19/5.
O produtor do longa, Manuchehr Mohammadi, afirmou que representantes do Ministério da Cultura recomendaram que o filme fosse retirado de cartaz antes do previsto. ‘Nós decidimos interromper a exibição por recomendação das autoridades e para evitar possíveis restrições futuras na indústria do cinema’, disse Mohammadi.
A comédia foi a grande vencedora do festival internacional de cinema de Teerã, e já lucrou cerca de US$ 1 milhão. O ministro da Cultura censurou partes do filme antes de permitir sua exibição. The Lizard conta a história de um ladrão que escapa da prisão vestindo as roupas de um religioso muçulmano. O bandido se torna um conhecido pregador. Entre as cenas que horrorizaram os religiosos estão a de um homem cantando dentro de uma mesquita e a de um clérigo assaltando um motorista e paquerando uma mulher jovem.
Mesmo com seu tom satírico, alguns membros do clero ficaram satisfeitos com o desfecho do filme, no qual o bandido passa por uma transformação moral. O filme estreou no fim de abril e lotou os cinemas do Irã. A indústria cinematográfica do país, que produz cerca de 70 filmes por ano, sofre de contínua crise financeira, causada principalmente pela pesada censura. Informações da AP [19/5/04].