Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

The New York Times

‘No último ano, este jornal focou os holofotes da retrospectiva nas decisões que fizeram os EUA invadirem o Iraque. Nós examinamos os fracassos da inteligência americana e aliada, especialmente na questão das armas iraquianas e possíveis ligações iraquianas a terroristas internacionais.

Nós estudamos as alegações de veracidade e exagero. Chegou a hora de voltarmos esses holofotes para nós mesmos.

Ao fazer isso – revisando centenas de artigos escritos durante a antecipação para a guerra e nos estágios iniciais da ocupação – nós descobrimos uma enorme quantidade de jornalismo do qual temos orgulho.

Na maioria dos casos, o que nós reportamos foi um reflexo exato do conhecimento na época, a maioria cuidadosamente extraída de agências de inteligência que eram dependentes de poucas informações.

E onde esses artigos incluíam informações incompletas ou apontavam na direção errada, elas depois eram substituídas por informações mais fortes. É assim que a cobertura normalmente se dá.

Mas nós encontramos uma série de exemplos de cobertura que não foi tão rigorosa como deveria ter sido. Em alguns casos, a informação que era controversa na época, e parece questionável agora, foi insuficientemente qualificada ou permaneceu inalterada.

Olhando em retrospecto, nós gostaríamos de ter sido mais agressivos na análise das afirmações conforme elas surgiam – ou não.

Os artigos problemáticos variavam na fonte e assunto, mas muitos compartilhavam uma característica comum. Eles dependiam ao menos em parte de informações de um círculo de informantes, desertores e exilados iraquianos empenhados na ‘mudança do regime’, pessoas cuja credibilidade tem sido alvo de crescente debate público nas últimas semanas.

(O mais importante crítico de Saddam, Ahmad Chalabi, foi nomeado como uma fonte ocasional nos artigos do jornal desde ao menos 1991, e apresentou repórteres a outros exilados. Ele se tornou o crítico favorito dentro do governo Bush e um agente pago de informações de exilados iraquianos, até seus pagamentos serem suspensos na semana passada).

Para complicar a situação dos jornalistas, as declarações desses exilados normalmente eram confirmadas por oficiais americanos convencidos da necessidade de intervir no Iraque.

idades do governo agora reconhecem que algumas vezes caíram nas declarações dessas fontes. Bem como muitas organizações de notícias – essa em particular.

Alguns críticos da nossa cobertura durante aquela época focaram a culpa em repórteres. Nossa análise, entretanto, indica que o problema era mais complicado.

Editores de vários níveis que deveriam contestar os repórteres e pressionar por mais ceticismo talvez estavam muito ansiosos por um furo de reportagem. Declarações de desertores iraquianos nem sempre foram pesadas contra seu desejo de depor Saddam Hussein.

Os artigos baseados em terríveis declarações sobre o Iraque tendiam a ter grande destaque, enquanto outros artigos que colocavam os anteriores em dúvidas algumas vezes ficavam escondidos.

Em alguns casos, não havia um acompanhamento do caso. Nos dias 26 de outubro e 8 de novembro de 2001, por exemplo, os artigos da primeira página citavam desertores iraquianos que descreviam um campo secreto onde terroristas islâmicos eram treinados e armas biológicas produzidas.

Essas declarações nunca foram verificadas independentemente.

No dia 20 de dezembro de 2001, outro artigo da primeira página dizia, ‘Um desertor iraquiano que se descreveu como um engenheiro civil disse ter trabalho na reconstrução de instalações secretas para armas biológicas, químicas e nucleares em poços subterrâneos, vilas particulares e sob o Hospital Saddam Hussein em Bagdá há um ano’.

Os jornais Knight Ridder reportaram, na semana passada, que autoridades dos EUA levaram esse desertor – seu nome é Adnan Ihsan Saeed al-Haideri – para o Iraque no começo deste ano para indicar os lugares onde ele teria trabalhado, e que as autoridades não conseguiram encontrar evidência de seu uso para programas de armas.

Ainda é possível que armas químicas e biológicas estejam no Iraque, mas neste caso parece que nós, junto com o governo, fomos trapaceados.

E até agora não reportamos isso para os nossos leitores.

No dia 8 de setembro de 2002, o principal artigo do jornal trazia a manchete ‘EUA dizem que Saddam intensificou a busca por partes de bomba’. Essa matéria falava sobre os tubos de alumínio que o governo anunciou insistentemente como componentes para a produção de combustível nuclear.

A alegação não veio de desertores, mas das melhores fontes de inteligência disponíveis na época. Mesmo assim, ela deveria ter sido apresentada com mais cautela.

Havia sinais de que a utilidade dos tubos na produção do combustível nuclear não era certa, mas eles não estavam claros, 1.700 palavras em um artigo de 3.600. Autoridades do governo puderam explicar extensamente por que esta evidência das intenções nucleares do Iraque obrigava Saddam Hussein a deixar o poder: ‘O primeiro sinal de uma ‘prova irrefutável’, argumenta, pode ser uma nuvem em formato de cogumelo’.

Cinco dias depois, os repórteres do jornal descobriram que os tubos eram, na verdade, uma questão de debate entre as agências de inteligência. As dúvidas apareceram em um artigo publicado na página A13, sob uma manchete que não insinuava uma revisão da primeira matéria (‘Casa Branca lista passos iraquianos para construir armas proibidas’).

O jornal deu voz a céticos dos tubos em 9 de janeiro, quando a peça-chave de evidência foi contestada pela Agência Internacional de Energia Atômica. Isso foi reportado na página A10; na verdade, esse artigo poderia ter aparecido na primeira página.

No dia 21 de abril de 2003, enquanto os caçadores de armas americanos seguiam as tropas dos EUA no Iraque, outro artigo da primeira página declarava, ‘Armas ilícitas foram mantidas até início da guerra, teria dito cientista iraquiano’.

Ele começava assim: ‘Um cientista que alega ter trabalhado no programa de armas químicas do Iraque por mais de uma década disse ao exército dos EUA que o Iraque destruiu as armas químicas e os equipamentos biológicos dias antes da guerra começar, dizem membros da equipe’.

O informante também afirmou que o Iraque havia enviado armas não-convencionais para a Síria e vinha cooperando com a Al-Qaeda – duas alegações que foram, e continuam, muito controversas.

Mas o tom do artigo sugeria que este ‘cientista’ iraquiano – que em uma carta se descrevia como um oficial da inteligência militar – havia fornecido a justificativa que os americanos queriam para a invasão.

O jornal nunca acompanhou a veracidade desta fonte ou as tentativas de verificar suas declarações. Uma amostra da cobertura, incluindo os artigos mencionados aqui, está disponível aqui

Os leitores também encontrarão uma discussão detalhada escrita para o New York Review of Books, no mês passado, por Gordon, correspondente de relações militares do jornal, sobre a matéria dos tubos de alumínio.

Respondendo à crítica da cobertura do Iraque, sua matéria pode servir como instrução sobre as complexidades de reportar tais informações. Nós consideramos a história das armas iraquianas, e do padrão de má informação, um negócio inacabado. E pretendemos continuar a reportar agressivamente com o objetivo de consertar os erros.’

Paul Krugman

‘O verdadeiro Bush está aparecendo’, copyright O Estado de S. Paulo / The New York Times, 29/05/04

‘Alguns órgãos da mídia, incluindo The New York Times, estão engajados numa autocrítica sobre a evolução da guerra do Iraque. Eles estão perguntando, como deveriam mesmo fazer, por que alegações pouco documentadas sobre uma terrível ameaça receberam uma cobertura tão destacada e não crítica, enquanto as provas em contrário ou foram ignoradas ou tiveram pouco destaque.

Mas não é apenas o Iraque e não é apenas The New York Times. Muitos jornalistas parecem arrependidos quanto ao contexto maior no qual a cobertura do Iraque acabou se enquadrando: um clima no qual a imprensa não estava disposta a divulgar informações negativas sobre George Bush.

As pessoas que se informam batendo os olhos na primeira página dos jornais ou assistindo à TV devem estar confusas com a repentina mudança de caráter de Bush. Por mais de dois anos após o 11 de Setembro, ele foi um cara decente, agindo com clareza moral e retidão.

Agora essas pessoas ouvem falar de um presidente que não quer contar por que ele nos levou à guerra no Iraque , ou como a guerra está indo, e que não quer admitir seus erros nem aprender com eles, e que não assume responsabilidades e nem deixa os outros assumirem. O que aconteceu?

A resposta, é claro, é que o cara decente nunca existiu. Era um personagem fictício que a imprensa, por várias razões, apresentou como real.

A verdade é que as falhas desse personagem, que hoje deixam até os teóricos políticos conservadores irritadíssimos, eram visíveis o tempo todo. Os problemas de Bush na verdade eram aparentes para qualquer um que desejasse verificar sua aritmética do Orçamento. Sua incapacidade de admitir erros era óbvia há muito tempo. Há mais de dois anos eu mencionei o ‘complexo de infalibilidade’ de Bush, e não fui o primeiro.

Então, por que a imprensa credita a Bush virtudes que os jornalistas sabem que ele não tem? Uma resposta é o patriotismo fora de contexto. Depois do 11 de Setembro, a maior parte da imprensa parecia ter adotado a decisão coletiva de que era necessário, em nome da unidade nacional, suprimir críticas ao comandante-chefe.

Outra resposta é a tirania da imparcialidade. Jornalistas moderados e liberais, tanto repórteres quanto comentaristas, com freqüência dão uma paradinha para dizer coisas bonitas sobre os conservadores. Não faz muito tempo, muitos comentaristas que agora criticam Bush causticamente pareciam desesperados para se diferenciarem ‘daqueles que nutrem um ódio irracional de Bush’ – que não nutriam ódio nem eram irracionais -, cujas críticas parecem até suaves, à luz das recentes revelações.

E alguns jornalistas simplesmente se recusavam a admitir que o presidente dos Estados Unidos estivesse sendo desonesto a respeito de assuntos tão sérios.

Por fim, não desprezemos o papel desempenhado pela intimidação. Depois do 11 de Setembro, se você pensasse em dizer algo negativo sobre o presidente, teria de se preparar para receber uma avalanche de correspondência e e-mails desaforados. Os teóricos da direita, e suas publicações, fariam tudo o que pudessem para arruinar a sua reputação, e talvez lhe fosse negado acesso ao tipo de informações privilegiadas que fizeram a carreira de muitos jornalistas.

Sabendo de tudo isso, o governo Bush tratou a imprensa como quis. Será que essa era acabou?

Uma nova pesquisa do Instituto Pew mostra que 55% dos jornalistas da mídia de alcance nacional acredita que a imprensa não foi suficientemente crítica com Bush, e só 8% acham que foi crítica demais. Mais importante, os jornalistas parecem estar agindo a partir desta última impressão.

Coisas espantosas aconteceram recentemente. Os suspeitos de sempre tentaram silenciar as matérias sobre abusos cometidos nas prisões do Iraque e acusaram os críticos de abalar o moral das tropas – mas as matérias continuaram chegando. O secretário da Justiça fez um novo alerta sobre a possibilidade de um ataque terrorista – mas a imprensa perguntou quais eram os motivos para esse alerta. Durante uma coletiva com os assessores de imprensa da Casa Branca, Terry Moran, do programa ABC News, na verdade disse aquilo que muitos haviam pensado durante outros alertas antiterror convenientemente anunciados: ‘Há uma preocupante possibilidade de que vocês estejam manipulando o público americano para desviar a atenção.’

Isso pode não durar. Em julho de 2002, de acordo com Dana Milbank, do The Washington Post, que tentou, com grande risco para a sua carreira, oferecer um quadro realístico da presidência Bush, ‘os jornalistas que cobrem a Casa Branca mostraram os dentes’ pela primeira vez desde o 11 de Setembro. Não durou: o governo bateu os tambores de guerra e a maioria da imprensa voltou à docilidade.

Mas desta vez pode ser diferente. E se for, Bush, que sempre dependeu dessa docilidade, poderá ter mais problemas do que as recentes pesquisas de opinião pública sugerem.



John S. Carroll

‘Como o pseudojornalismo trai a confiança pública’, copyright O Estado de S. Paulo / Los Angeles Times, 30/05/04

‘Uma das razões pelas quais fui atraído pela minha carreira foi sua informalidade. Ao contrário de médicos, advogados e até de jóqueis, os jornalistas não têm exames de admissão, certificados ou comissões governamentais às quais se deve prestar juramento no caso de uma transgressão. Na realidade, é um direito constitucional de todo cidadão, não importa quão ignorante ou depravado, ser um jornalista. Essa liberdade, essa lassidão oficial, é um dos atrativos do jornalismo. É também um de seus mitos.

Percebi que a liberdade da vida jornalística, a lassidão da redação, é uma ilusão. Sim, há informalidade e há humor, mas sob a superfície se esconde algo profundamente sério. É um código. Às vezes, o código nem é escrito, mas é profundamente seguido. E, quando violado, reage com ferocidade tribal.

Considere-se, por exemplo, os recentes acontecimentos no New York Times.

Antes mesmo de se descobrir que o jovem repórter Jayson Blair havia inventado dezenas de reportagens, os jornalistas do Times estavam insatisfeitos. Vários integrantes se sentiam ofendidos com o que consideravam um estilo sofisticado de edição. Mas, até que Jayson Blair aparecesse, os rumores do descontentamento continuavam sendo apenas isso, pequenos rumores.

Quando a equipe soube que o jornal havia enganado seus leitores várias vezes, os rumores se tornaram uma revolta. A parcela ofendida não era mais só a equipe. Era o leitor, e aquilo significava a diferença entre uma contravenção e um crime. Como o leitor havia sido traído, o descontentamento adquiriu uma força moral que só podia ser aplacada com a demissão de seus altos editores. O escândalo Blair foi um acontecimento terrível, mas também disse algo muito positivo sobre o Times, pois demonstrou o comprometimento da equipe com o leitor.

Muitos anos atrás, também tivemos uma revolta no Los Angeles Times. O jornal havia publicado uma grande edição de sua revista dominical dedicada à abertura do Staples Center. Mas, sem o conhecimento dos leitores – e da redação -, o jornal havia feito uma parceria secreta com a Staples, segundo a qual a empresa ajudava o jornal a vender anúncios na revista a seus fornecedores em troca de uma parte da arrecadação. A independência do jornal estava comprometida – e o leitor traído.

Eu não trabalhava no jornal na época, mas ouvi vários relatos de um confronto na cafeteria entre a equipe e o publisher. Não era uma discussão civilizada entre colegas que se respeitam. O episódio Staples levou à demissão dos altos escalões do jornal.

O que tudo isso diz a respeito da ética do jornal? Diz que certas crenças são profundamente seguidas. Diz que o dever de um jornal para com o leitor está no centro dessas crenças. E diz que aqueles que transgridem contra o leitor vão pagar amargamente. Esse comprometimento, profundamente arraigado na cultura da redação, é dado como certo na chamada mídia tradicional. Nas novas formas da mídia, no entanto, é como falar grego.

Em um ambiente de pseudojornalismo, o público é visto como algo a ser manipulado. E quando o público é enganado, ninguém na pseudo-redação jamais faz uma simples menção de protesto.

Falsificação – Orson Welles aprendeu, com a famosa dramatização de A Guerra dos Mundos – em que retratava uma invasão marciana de forma tão realista que levou a população de Grover’s Mill, em New Jersey, à histeria – que jornalismo podia ser falsificado, e que as pessoas depositam confiança em algo que parece jornalismo, mas não é.

A esta altura, ficou claro que estamos falando também da Fox News. E sobre uma vasta série de talk shows e sites que seguiram as pegadas do jornalismo e que, quando estudados mais de perto, não são jornalismo de modo algum.

Disfarçados como jornalistas, esses mercadores de opinião pregam uma peça de mau gosto no público e no próprio jornalismo.

Podemos dar um testemunho pessoal. No último outono, o Los Angeles Times fez algo impetuoso. Sozinhos entre as mídias que estavam cobrindo o recall (a eleição) para governador na Califórnia, decidimos investigar o caráter do candidato Arnold Schwarzenegger.

A campanha durou apenas dois meses. Tivemos de correr para saber se, como se dizia, Schwarzenegger tinha o hábito de destratar as mulheres. Veio à tona que sim. Quando conseguimos a história, a campanha estava quase terminando.

Tivemos de tomar uma decisão difícil: publicar ou não as descobertas apenas cinco dias antes da eleição.

Decidimos fazê-lo, concluindo que isso era melhor do que ter de explicar aos leitores depois do dia da eleição por que seguramos a reportagem. Nos preparamos para uma avalanche de críticas, e as recebemos. O que não esperávamos eram críticas por coisas que nunca ocorreram.

Muito antes de publicarmos a reportagem, circularam boatos de que estávamos trabalhando nisso. E o esforço para desacreditar o jornal começou.

Na Fox News, o programa de Bill O’Reilly embarcou em uma campanha para convencer seu público de que o Los Angeles Times era um veículo sem ética, que atacava apenas os republicanos e dava livre passagem para os democratas.

A pior das ficções surgiu com uma colaboradora em Los Angeles que dizia saber de uma história de bastidores de comportamento antiético do jornal.

Ela escreveu que havíamos completado a reportagem sobre Schwarzenegger muito antes do dia da eleição, mas a havíamos segurado maliciosamente durante duas semanas para aproveitar os efeitos danosos.

Se isso fosse verdade, eu não estaria mais aqui escrevendo sobre ética. Os repórteres e editores envolvidos na reportagem teriam dado a mim o mesmo tratamento que os editores de Jayson Blair haviam recebido em Nova York, e eu não estaria mais empregado. Mas não era verdade. A idéia de que o jornal havia segurado a reportagem era uma invenção.

Nunca a falsidade teve tanto cartaz nos EUA. Ao invés de ser ignorada, a autora da coluna apareceu várias vezes no programa de O’Reilly, na MSNBC e até na geralmente confiável CNN. A acusação ecoou através do mundo do talk show. A história do atraso de duas semanas – tão falsa quanto qualquer palavra escrita por Jayson Blair – valeu à colunista não infâmia, mas fama.

Milhões de americanos ouviram as acusações e, sem dúvida, acreditaram nelas.

E por que não? Parecia jornalismo.

Um interessante estudo publicado em outubro explorou equívocos sobre a guerra do Iraque. Um desses equívocos foi que as armas de destruição em massa haviam sido encontradas. Outro, de que haviam sido provadas ligações entre o Iraque e a Al-Qaeda. Um terceiro foi que a opinião pública mundial favorecia a idéia dos EUA invadirem o Iraque.

O estudo não examinou o que realmente foi levado ao ar e em que veículos específicos. Entre as pessoas que assistiram principalmente a Fox News, 80% acreditavam em pelo menos um desses mitos. Isso são 25 pontos percentuais a mais do que o número de espectadores da CNN – e 57 pontos a mais do que de pessoas que assistiam aos telejornais das emissoras públicas.

Alguns viram a diferença entre os programas de entrevistas e o jornalismo tradicional em termos políticos, como uma simples disputa entre a esquerda e a direita, liberais e conservadores. As diferenças existem, mas estão além do problema. O que estamos vendo é uma diferença entre jornalismo e pseudojornalismo, entre jornalismo e propaganda. O primeiro procura servir ao público honestamente. O último, manipulá-lo.

Recentemente, o Los Angeles Times teve a boa sorte de ganhar cinco prêmios Pulitzer. Não tenho certeza de estarmos à altura disso tudo, mas não vamos recusá-los. Imagino como a notícia dos prêmios deve ter atingido os fãs de programas de entrevistas que conhecem o jornal apenas por suas ofensas à ética. Certamente, eles devem estar coçando a cabeça e refletindo sobre esse assunto.

Mas, provavelmente, não vão se preocupar com isso por muito tempo. Minha aposta é a de que eles se recostaram em seus sofás e se consolaram com pensamentos mais reconfortantes, como o modo que o presidente Bush salvou os EUA da catástrofe apreendendo aquelas armas de destruição em massa no Iraque, enquanto o mundo inteiro festejava.’