Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Argemiro Ferreira

‘Um leitor amigo pergunta por que o ‘New York Times’, em vez de punir a leviandade do correspondente Larry Rohter, optou por defendê-lo contra as críticas que recebeu no Brasil. Afinal, o jornal tinha tomado providências exemplares nos casos de Jayson Blair e Rick Bragg – e mais tarde só restou a Howard Raines, editor-executivo, e seu lugar-tenente (editor-gerente), Gerald Boyd, a opção da renúncia.

Mas a trapalhada Blair-Bragg-Raines-Boyd é diferente da lambança de Rohter. Blair, protegido de Raines (tinha ligação com uma parente deste), foi apanhado em flagrante de plágio (na verdade, um amontoado de plágios). Sequer viajava ao local que devia cobrir. Bragg apropriava-se do trabalho de um bagrinho, cujo nome nem recebia crédito como colaborador. E como absolver a dupla de cima, que tinha acobertado tudo?

O pecado de Rohter é outro: faz o que a cúpula quer e isso rende promoção e não demissão. No campo da política externa o ‘Times’ é drástico: repórter que entra em rota de colisão com a linha oficial de Washington, dança. Dançaram Sidney Gruson (1954), Tad Szulc (1961) e David Halberstam (meados dos anos 60) por dizerem verdades incômodas, que irritaram a central de inteligência (CIA) e o governo.

Os bons exemplos esquecidos

Não quero dizer com isso que esses três e outros foram sumariamente demitidos. Gruson cobria a Guatemala às vésperas da invasão planejada pela CIA. A agência de espionagem disse à direção do ‘Times’ que ele era comunista. O ‘Times’ o chamou de volta antes de se consumar a invasão. Talvez desencantado com tal tipo de jornalismo, Gruson optou depois pela área da publicidade, onde se deu bem.

Szulc estava por acaso em Miami e descobriu ali a trama da CIA para invadir Cuba em 1961. Escreveu reportagens que o ‘Times’ minimizou para atender a um pedido pessoal do presidente John Kennedy ao diretor de redação do jornal em Nova York. Tempos depois, Kennedy afirmou: ‘Se o jornal tivesse cumprido sua missão de informar, em vez de me atender, pouparia esse desastre à nossa política externa’.

Szulc ainda ficou algum tempo, depois pediu o boné. Tornou-se autor de livros. Halberstam foi chamado de volta do Vietnã por ser acusado em Washington, com outros correspondentes, de fazer oposição à guerra. Ousava dizer que a situação era desastrosa. Pura verdade. Pagou um preço. Chamado de volta, apesar de um Pulitzer, desencantou-se e aderiu a livros, inclusive o notável ‘The best and the brightest’.

Não são os únicos casos. Existem outros. Seymour Hersh, também ganhador do Pulitzer, devassou o massacre de My Lai. Em 1978 ele me disse, em entrevista na redação do ‘Times’, que tinha o arquivo cheio de coisas que não podia publicar. Saiu depois do jornal e publicou uns 10 livros – inclusive um sobre Henry Kissinger e seu papel no golpe do Chile, onde estava parte do que o ‘Times’ não admitia publicar.

Aquele passado que condena

Rohter, ao contrário, faz o jogo dos donos do poder. Se um Otto Reich qualquer, à frente da política latino-americana, prepara o golpe contra a Venezuela, Rohter está à mão para produzir um perfil calhorda exaltando o golpista Pedro Carmona como ‘democrata’ e ‘respeitado líder empresarial’, e o presidente Hugo Chávez, eleito por maioria esmagadora, como ‘demagogo pernicioso’ com vocação de ditador.

‘True believer’, ele acredita no governo e no ‘Times’, que tinha o colombiano Juan Forero no local, a servir ao golpe. O perfil de Carmona é cínico porque Rohter o conhecia de muitos carnavais. Um empresário que visitou esse vigarista venezuelano contou-me que seu escritório era a central do golpe, sem disfarce. Inescrupuloso, relatava os planos a quem tivesse saco para ouvi-lo. Só o repórter não sabia?

Rohter também esteve na Colômbia, onde jamais pôs em dúvida a aliança dos EUA com a linha dura militar. Sequer conseguiu saber ali que a mulher do coronel James Hiett, que comandava as operações militares americanas em apoio à guerra contra os rebeldes esquerdistas, usava a mala diplomática da embaixada para enviar pacotes de cocaína a um certo endereço de traficante no Brooklyn de Nova York.

A visão seletiva do correspondente

Rohter não vê a realidade inconveniente, só enxerga o que interessa, por exemplo, a um John Bolton – subsecretário de Estado para controle de armas, o mesmo que derrubou o brasileiro José Busttani da OPAQ e hoje sonha desmoralizar Lula (o ‘Times’ não disse que bebe demais?) e acusá-lo de produzir armas nucleares no Brasil (não foi o que também escreveu Rohter em janeiro?).

O jornalista que chamou de ‘democrata’ o aventureiro Carmona, sem votos mas com apoio em Washington, também se encanta no Brasil com o sem-votos José Serra e o PSDB, partido do estelionato eleitoral de 1998. Mas desconfia de Lula, eleito com 60% dos votos, e o retrata no ‘Times’ como um bêbado com o dedo no botão nuclear, para fazer nos EUA o que este país fez em Hiroshima e Nagasaki.

O desvio de Rohter tem sido explicado nos EUA. Segundo escreveu Cynthia Cotts (em agosto de 2002, no ‘Village Voice’), ele nunca questionou a linha dos EUA na Colômbia, nem depois que o ‘Dallas Morning News’ revelou que o Plan Colombia usava as firmas DynCorp e Military Professional Resources – fornecedoras de mercenários, conforme confirmou outro jornal, o ‘Financial Times’. Só Rohter não vê?’



Milton Coelho da Graça

‘Caciques falaram. E os repórteres?’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 31/05/04

‘O assunto Larry Rohter não está encerrado, pelo menos para debate interno entre nós, profissionais.

Acredito, por isso, que duas posições básicas marcam os pontos extremos desse debate: de um lado, a decisão do ombudsman do NYT, considerando a reportagem inteiramente de acordo com os princípios do jornal; e, do outro, as muitas opiniões (no Brasil) de que Rohter errou ao se apoiar apenas numa entrevista com Leonel Brizola, excertos das colunas de Diego Mainardi e Cláudio Humberto, e outras fontes não reveladas.

Os argumentos de condenação são diversos. O diretor de uma das mais importantes escolas de comunicação do país disse que ‘o jornalista não ouviu pessoas próximas do presidente, que poderiam comprovar o que ele escreveu’ e considerou a matéria ‘uma forma muito baixa de fazer jornalismo’. Um professor de Psicologia afirmou: ‘a informação do jornalista é desqualificada’ e ‘não há qualquer especulação, seja nos bastidores, seja na cena pública, que agregue à imagem de nosso presidente a imagem de consumidor de bebida alcoólica’, depois de diagnosticar a ‘má fé’ de Rohter.

O coro de críticas também incluiu conhecidos nomes da imprensa que consideraram a matéria uma intromissão na vida privada do presidente, afirmaram que o hábito de beber de Lula não constitui preocupação para nenhum brasileiro ou até desqualificaram a matéria como imprópria para publicação em qualquer bom jornal.

Curiosamente, os quatro jornais impressos, três on line e duas revistas que leio habitualmente, não se lembraram de ouvir as opiniões de repórteres da linha de frente. Tenho a forte convicção de que Mônica Bergamo, Cátia Seabra, Christiane Samarco, Chico Otávio, Sérgio Leo, Heleninha Chagas, Dora Kramer, Gerson Camarotti, Toni Marques, Rubens Valente, Lourival Santana e Vera Durão (só para ficar em uma dúzia de fornecedores do meu prazer de estar bem informado) – teriam enorme prazer em assinar matérias iguaizinhas se fossem correspondentes em outros países.

Qualquer repórter em Brasília já ouviu muita gente importante preocupada com o apego do presidente à bebida. Numa democracia, as vidas privadas de presidente da República, ministros de Estado, ministros e desembargadores do Poder Judiciário, senadores, deputados, governadores etc. devem ser objeto de escrutínio permanente da imprensa e da opinião pública. Todos são pagos pelo contribuinte, responsáveis pelo bem estar do País e da cidadania, e é responsabilidade da imprensa informar sobre o comportamento de qualquer um deles, sempre que esse bem estar for colocado em risco.

Qual é a linha fronteiriça desse risco? Muito difícil precisá-la em algumas circunstâncias. Muitos presidentes americanos tiveram amantes e a maioria da imprensa silenciou sobre essas infidelidades conjugais, mas, quando Bill Clinton puxou a estagiária Mônica Levinski até a Sala Oval para um rápido b…, só a Justiça livrou-o do impeachment. João Goulart caçava atrizes do teatro rebolado, outros presidentes tiveram amantes discretas. Mas a imprensa revelava os pileques de Jânio Quadros e foi num deles que o Brasil mergulhou em crise institucional.

O bom repórter está sempre de olho nessa linha fronteiriça, mas seu trabalho, sua missão, é se aproximar dela o máximo possível. Quem não concorda tem o direito de me malhar. Isso também faz parte da vida de um bom repórter.’



Daniel Piza

‘Notas de Nova York’, copyright O Estado de S. Paulo, 30/05/04

‘O problema de Lula não é gostar demais de cachaça; é, como já escrevi, estar embriagado com o poder. Como acreditou que fosse bem mais fácil trazer a salvação nacional, ficou grogue com as dificuldades, embora insista em não reconhecer sua falta de rumo. Seu governo é que está bêbado, urgentemente necessitado de um banho frio, um café quente e mãos à obra. Mas tentar expulsar do país um jornalista por causa de um artigo leviano, deixando transparecer seu velho complexo de inferioridade (aquele que sempre está pronto para se transformar em complexo de superioridade), não pode ser desculpado como um mero excesso. Embora a imprensa tenha pintado esse escândalo como apenas mais uma crise que o governo não soube contornar, a exemplo do caso Waldomiro Diniz, o fato é que o impulso autoritário contra Larry Rohter, do New York Times, demonstrou mais uma vez que o PT desconhece os valores de uma democracia moderna. Por essas e outras é que Ivan Lessa chama o Brasil de Bananão.

Essa inclinação arbitrária do partido não é novidade. Sua visão de Estado é parecida com a do regime militar, intervencionista e inorgânica, na qual cabe ao governo a vigilância sobre tudo que é dito e feito na sociedade. Não por acaso Lula elogiou na campanha o período do ‘milagre econômico’ (com seu ‘espetáculo do crescimento’), saudoso de um tempo em que a máquina pública puxava o trem da economia para os trilhos que determinava. Ao assumir, tomou o choque da realidade: o Brasil e principalmente o mundo são outros. Tenta sublimá-lo com devaneios populistas sobre o futuro, mas sabe que não está fazendo nem o pouco que pode; tenta convencer a imprensa a só dar boas notícias, mas a verdade é que ela está sendo até conivente. Que um presidente que se diga de esquerda, progressista, deseje calar um jornalista à força, na primeira década do século 21, dá idéia de como a nossa dita esquerda não é nada progressista. Mais que conservadora, é reacionária. E o retrocesso pode estar logo ali, no boteco da esquina.

Mistérios de Manhattan Nova York, aonde eu não ia desde 1999, não mudou quase nada depois do 11 de setembro de 2001. Apenas, como o mundo todo, demonstra que o americanismo e o antiamericanismo pioraram. É maior o número de bandeiras do país pela cidade, o de extintores de incêndio e o de policiais. O buraco das torres é uma triste visão, já incorporada ao roteiro turístico. E os indianos e paquistaneses que dirigiam táxis desapareceram, depois de infantilmente hostilizados pela população. Quem está por toda parte, em compensação, são os hispânicos.

Nas ruas a moda pré-verão são as ‘havaianas’ em geral de cores vivas; uso aspas porque esse emborrachado chinelo de dedo é fabricado agora por todas as marcas possíveis. As moças as acompanham com microssaias, mas elas também são vistas abaixo de jeans ou mesmo terninhos. O Brasil também dá alô nas vitrines da Cartier que homenageiam Santos-Dumont, embora sua origem não seja explicitada nos cartazes.

A cidade está cheia de reformas – museus, lojas, etc. – e a primavera chegou carregada de gardênias. Quase ninguém mais fuma. A oferta cultural continua quente: vi três coreografias de Balanchine (com Fiona Rodriguez, uma cubana cheia de graça e energia), o musical 42nd Street (números ótimos de sapateado e algumas canções como I Only Have Eyes for You), o sexteto de jazz de Andy Brecker num clube do Village, a mostra do minimalismo no Guggenheim (‘Parece cromoterapia’, ironizou minha mulher). Assuntos do momento são a queda dos ‘sitcoms’ (Friends, Sex and the City e Frasier terminando carreiras fabulosas) e os casamentos de gays (qual o mal?).

Enfim, Nova York.

Para cá de Bagdá O assunto maior nos EUA, claro, é o Iraque. O grande Seymour Hersh na revista New Yorker, que andou cometendo erros (foi dos que afirmaram que Saddam Hussein jamais seria preso), revelou que Donald Rumsfeld ordenou as torturas em Abu Ghraib, o que a Casa Branca nega. Mas cerca de 70% dos americanos são contra a demissão de Rumsfeld… Já o governo Bush, apesar do sucesso na economia (que também tantos, como Paul Krugman, diziam impossível), segue piorando: a aprovação caiu para 41%. Se os EUA sofrerem ataque até as eleições, o trunfo que lhe resta – supostamente ter deixado o país mais seguro desde 2001 – cai por terra. Mesmo assim, o hesitante e insosso John Kerry está longe de sentir o cheiro da vitória.

De la musique O casamento de Diana Krall e Elvis Costello vai bem em todos os sentidos. Naquele que nos interessa, o musical, o mais recente CD dela, The Girl in the Other Room, traz não apenas interpretações de belas canções alheias, de Tom Waits (sua versão de Temptation está para a versão original como vinho para gim), Joni Mitchell e do próprio Costello (Almost Blue, aquela que Chet Baker gravou), mas também canções escritas pelo casal. Krall fez as músicas, Costello confirmou sua categoria de maior letrista vivo, e o resultado atinge o máximo em Narrow Daylight e Departure Bay. A coragem de Krall, de abandonar por um momento a interpretação sussurrada-sensual de ‘standards’ e partir para canções mais modernas e compor as suas próprias (em inclassificável mistura de jazz, blues e folk), merece aplauso.

Outro ótimo CD que vem dos EUA é Bossa Nova, de John Pizzarelli, um diálogo principalmente com a interpretação de João Gilberto para canções como Samba de Uma Nota só, Estate e Só Danço Samba (esta em português). Pizzarelli sabe o quanto a bossa nova é rica sob a aparência suave.

Já os novos ‘Sinatras’ continuam a surgir. Jamie Cullum, de 23 anos, em Twentysomething, faz bom trabalho em harmonias hábeis, e Michael Bublé, de 25 anos, em Come Fly with me, mostra incrível facilidade na respiração e afinação. Mas nenhum dos dois tem o ‘feeling’, muito menos o atrevimento de Sinatra em marcar uma canção como sua. Por falar na grande tradição americana, não perca o DVD The Great American Songbook, narrado por Michael Feinstein, com músicas de Porter, Gershwin ou Berlin por cantores como Doris Day, Bing Crosby ou Fred Astaire, em registros históricos saborosos.

Cadernos do cinema Diários de Motocicleta, de Walter Salles, é uma narrativa fluente, com as devidas doses de humor e emoção, bela fotografia e algumas cenas muito bem realizadas, como a do ataque de asma dentro do barco. Mas é esteticamente limitado, porque previsível (e, ironicamente, tributário do cinema americano), e é intelectualmente ingênuo. Pintar a conversão ao comunismo de Guevara (Gael García Bernal, que não tem o magnetismo que mesmo o jovem Che tinha no porte e no olhar) como fruto da descoberta da pobreza latino-americana é, mais uma vez, confundi-lo com solidariedade cristã. Nem sei por que ele não atravessa o rio Amazonas caminhando sobre as águas.

O ludopédio Vale lembrar à imprensa nacional que Ronaldo, o jogador brasileiro de melhor carreira européia em todos os tempos e por isso menosprezado aqui como ‘produto globalizado’, vinha em temporada excelente até passar por lesões em abril e maio. Terminou artilheiro da Espanha com 24 gols em 31 jogos (e não é o batedor de pênaltis do time) e eleito o segundo melhor da temporada (depois de seu xará gaúcho). Não o descartem dos melhores do mundo, como já fizeram no passado…

Por que não me ufano No ano passado, neste mesmo final de mês, você lembra qual era a previsão do PIB? Comemorar demais o aumento de 1,6% sobre o trimestre anterior é fingir que não há muito trabalho pela frente.

Aforismos sem juízo O ruim de viver em países subdesenvolvidos, hoje, não é estar privado dos prazeres da civilização; é estar sujeito aos descalabros do atraso.’



Zuenir Ventura

‘O que lhe subiu à cabeça’, copyright O Globo, 26/05/04

‘Vocês devem estar cansados do assunto, mas é que eu me encontrava em Paris quando aconteceu esse samba do crioulo bêbado em que se transformou a briga Lula x ‘New York Times’, e tive a impressão de que todos os envolvidos haviam tomado uma dose a mais, a começar pelo correspondente americano, por usar as fontes que usou. Não sei se porque de perto perde-se a capacidade de se espantar, o fato é que, de longe, o Brasil é meio difícil de entender. O melhor é repetir o velho clichê de que se trata de um país surrealista, uma maneira fina de dizer que de vez em quando tropeçamos nas pernas.

Para me desintoxicar, não li jornal brasileiro enquanto estive fora, e assim soube da crise pela imprensa de lá. As primeiras reações foram favoráveis a Lula, como, acho, em todo lugar. Na terra do vinho, não se acreditava que na terra da caipirinha o povo estivesse ‘preocupado’ com o presidente por ele estar passando da conta. Um dia, diante de um copo de rouge , expliquei a um colega francês como obedecemos rigorosamente à recomendação do Ministério da Saúde: ‘no Brasil, ingerimos álcool com moderação em qualquer quantidade, assim como nos EUA os presidentes fumam maconha sem tragar’.

Mais difícil foi justificar a tentativa de expulsão do repórter. Conheço o Larry Rohter e participei do júri que lhe concedeu o Prêmio Embratel 2003 na categoria Correspondente Estrangeiro. Sua matéria sobre a Amazônia (‘A floresta amazônica ainda queima, apesar das promessas’) era excelente, não só pelo esforço de percorrer a BR-163, mas também pelo cuidado na apuração, o que prova que, quando quer, ele trabalha bem. Seu pecado no caso, como já apontou Merval, foi o da preguiça irresponsável. Num veículo brasileiro sério, tamanha leviandade provocaria a expulsão do repórter – não do país, mas do jornal.

Pior só mesmo a decisão que ela provocou. Na imprensa francesa se fez um curioso diagnóstico do ocorrido. A medida presidencial pegou tão mal lá que passou a confirmar a denúncia do repórter americano: o presidente só podia estar de porre. Discordei, defendendo a bebida. Bush, quando tomava porre, fazia menos mal do que agora, supostamente sóbrio. A embriaguez de Lula não foi de cachaça. A arrogância com que tomou a decisão sem ouvir as ponderações de assessores mais sensatos e a truculência com que quis dar um ‘exemplo’ à imprensa são sinais de que o que lhe subiu à cabeça foi o poder. E se essa embriaguez virar crônica, não há AA que dê jeito.’