Entrevistas exclusivas de presidentes costumavam ter títulos fortes e repercutir, virar assunto no Congresso, nas Redações, na academia, nos meios empresariais. Pelo menos quando os presidentes eram políticos. Não mais com uma presidente técnica. Dilma falou por duas horas para a revista Veja, com um roteiro óbvio, um discurso pronto, praticamente sem questionamento. Sob pressão, “minha filha”, ela costuma irritar-se. Sem pressão, deu uma entrevista correta, equilibrada, mas sem emoção e sem novidades. No jargão da imprensa, sem “lide” (uma abertura forte, marcante, que puxa o título).
Na economia, afora ter chamado o presidente do Banco Central Europeu de “companheiro”, Dilma tucanou: a culpa é nossa e é deles. Reclamou que a Europa “está inundando os mercados com dinheiro” e que os investidores pegam empréstimo barato lá e se aproveitam dos altos juros daqui. Sim, e daí? Qualquer um faria a mesma coisa. Que tal a redução dos juros brasileiros? Quanto à também altíssima carga de impostos, prometeu, valente: “Vamos baixá-la.” Vale lembrar que “promessa é dívida”.
Na questão da “faxina” (expressão que classificou indiretamente de machista), saiu pela tangente, citando Montesquieu: “Os processos no governo precisam ser tão claros e os resultados de avaliação tão lógicos que não sobre espaço para as fraquezas dos indivíduos.” Não deve, porém, subestimar os indivíduos aliados que herdou de Lula. Eles são craques em descobrir brechas para exercitar suas fraquezas.
Ao chamar os problemas com o Congresso de “questiúnculas”, Dilma ensinou que “as grandes crises se originaram da perda de legitimidade do governante”. Mas ninguém fala em crise institucional e perda de legitimidade, e sim, que a relação do Planalto com a base aliada vai de mal a pior. Sobre isso, nada foi dito, nada mais lhe foi perguntado.
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[Eliane Cantanhêde, da Folha de S.Paulo]