Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

TVE deixará de fazer propaganda do governo

Tradicionalmente, a emissora estatal espanhola TVE, num legado da ditadura fascista de Francisco Franco, tem servido de meio de propaganda para o governo. Enquanto isso, a oposição, seja ela de qualquer tendência, reclama, mas faz igual quando chega ao poder. O novo primeiro-ministro José Luis Zapatero, no entanto, parece estar disposto a pôr um fim a essa história. Ele formou uma comissão para determinar uma nova maneira de funcionamento para a rede, que depende totalmente de fundos estatais e acumula dívida de quase US$ 8 bilhões. A questão, segundo Alan Riding [The New York Times, 27/5/04], agora é: se uma emissora estatal não deve fazer propaganda do governo, ela deve fazer o quê? Exibir só programas iguais aos dos canais privados não teria sentido, mas sobreviver comercialmente com atrações educativas também não parece viável. Será a privatização a solução para pelo menos um dos dois canais da TVE?

São os cinco membros da comissão formada por Zapatero que decidirão as melhores soluções. E sua decisão virará lei. Após nomear o comitê de especialistas, Zapatero colocou à frente da companhia a acadêmica independente Carmen Caffarel Serra.

O debate público sobre a emissora esquentou após os atentados terroristas contra trens na capital espanhola, em março. Para o então primeiro-ministro, José Maria Aznar, às vésperas da eleição, era mais interessante que a autoria do ataque fosse do grupo separatista ETA, pois se fosse da al-Qaeda, ele seria prejudicado por ter apoiado os EUA na invasão do Iraque. A TVE foi forçada a insistir na hipótese de terem sido os bascos, mesmo quando já havia evidências de que os extremistas islâmicos haviam perpetrado a tragédia. Isso, segundo diversos analistas espanhóis, irritou boa parte do público, contribuindo para que Aznar fosse derrotado pelo rival socialista.