Menos de uma semana depois do mea-culpa do New York Times pela cobertura da guerra do Iraque, a revista New York publicou, em 31/5, longo perfil da repórter Judith Miller, autora de grande parte das matérias sobre o assunto. No texto da revista, Franklin Foer pinta um retrato extremamente desagradável da jornalista-estrela do Times, falando sobre sua ‘ambição aparentemente sem fim’ e ‘seu par de grandes pés capazes de pisar violentamente nos colegas que aparecem em seu caminho’.
Mas a maior parte das críticas à repórter foi feita pelos próprios colegas de Judith no jornal, embora grande parte deles tenha preferido não revelar sua identidade. O atual editor-executivo do Times, Bill Keller, foi um dos poucos que falaram abertamente. Ele admitiu que Judith ‘é possessiva com suas fontes’ e ‘um pouco obsessiva’. Mas Keller observou que muitas pessoas atribuiriam estas mesmas características ao lendário repórter investigativo Seymour Hersh – um antigo crítico da repórter.
O perfil da New York fecha uma semana dura para o Times. Além do mea-culpa, que – sem citar nomes de jornalistas – critica diversos artigos sobre a suspeita de existência de armas de destruição em massa no Iraque, o ombudsman do jornal, Daniel Okrent, também usou sua coluna para reforçar a condenação.
A maior parte das matérias criticadas pelos editores e por Okrent eram de autoria ou co-autoria de Judith. O que todos perguntam é como tantos erros e reportagens tendenciosas – muitas delas baseadas em fontes duvidosas – foram publicadas sem serem questionadas pelo jornal? Foer afirma que o grande responsável por permitir que o trabalho irresponsável da repórter fosse publicado foi o ex-editor-executivo Howell Raines. Segundo o Editor & Publisher [31/5/04], não é segredo que Judith era uma repórter-estrela e um modelo a ser seguido na administração de Raines – que tentava criar, como ele mesmo dizia, um ‘metabolismo competitivo’ na redação.
Em novembro de 2002, Raines foi duramente criticado por publicar uma reportagem, assinada por Patrick Tyler, que atribuía erroneamente opiniões contra a guerra a Henry Kissinger [ver remissão abaixo]. Depois deste episódio, afirmam ex-editores do Times que não quiseram ser identificados, Raines resolveu provar que conseguiria ser ‘justo com a administração Bush’. Por esta razão, antes e durante a guerra do Iraque ele diversas vezes se opôs a matérias que questionavam o governo americano e nunca levantava dúvidas sobre as matérias de Judith.