Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A beleza exigida pela mídia

Está na hora de as mulheres fazerem uma nova revolução. Ou pelo menos um protesto de massa contra os padrões de beleza impostos pela mídia. E o protesto pode começar pelo boicote às revistas femininas que, em teoria, deveriam falar de seus anseios e necessidades – que vão muito além de um corpo perfeito.


Se contarmos as páginas dedicadas à beleza no ano de 2005, descobriremos que as mulheres estão condenadas ao rejuvenescimento eterno, desde que, é claro, possam pagar o preço. Não passa uma edição sem que tenhamos uma matéria de destaque sobre um novo creme anticelulite, ou anti-rugas ou antienvelhecimento – fantasmas que começam a assombrar as mulheres a partir da puberdade.


E como as mulheres aceitam, submissas, as novas imposições, a indústria cosmética vê sua criatividade ameaçada e vai mudando os padrões. A grande novidade do ano foi o lançamento de um creme firmador, cuja campanha usou como modelos mulheres fora do padrão top model: gordinhas, coxas grossas, curvas etc. Um marketing global de tanto sucesso que até foi tema de reportagem no Oprah Winfrey Show.


A apresentadora, ‘comovida’ – ou bem paga pela indústria – agradeceu às mulheres por terem vindo a público nas suas lingeries de algodão (mais parecendo roupa de ir à academia) se expor sem medo. E mostrar que as mulheres podem ser felizes, apesar dos quilinhos a mais. A mensagem deve ter funcionado também no Brasil, onde o mesmo anúncio foi veiculado, apenas trocando as americanas por mulheres brasileiras.


Febre na TV


Anúncios que mostram mulheres que não têm medo de revelar suas curvas e sua idade foram as novidades de 2005. Algumas empresas de cosméticos resolveram ganhar o mercado das não tão magras e não tão jovens mostrando que também existe beleza na aceitação da própria natureza. Ponto para a indústria. Triste é verificar a inversão de valores: o comportamento que deveria ser estimulado pelas revistas e programas de TV destinados ao público feminino acaba sendo incentivado pela necessidade de lucro da indústria da beleza.


Mais triste ainda é pensar que, assim que for preciso vender outro tipo de produto, que exija peles jovens e corpos magríssimos, as pobres leitoras-espectadoras voltarão a ser bombardeadas exclusivamente com a mensagem tradicional: faça o que for preciso, gaste o que tem e o que não tem, mas trate de se manter jovem e linda. E, de preferência, acredite em milagres como cremes de efeito instantâneo, dietas mágicas, injeções que garantem beleza por seis meses e cirurgias de efeito mais duradouro.


Mas o problema maior talvez seja a voracidade. Em função do ibope e das vendas, revistas e programas de televisão enganam espectadoras e leitoras prometendo a felicidade, com a condição de que as mulheres aceitem se transformar totalmente. Hoje, a grande febre da TV paga são os programas sobre cirurgia com fins embelezadores. Não dá para chamar apenas de cirurgia plástica, que é apenas um dos itens mostrados nesses novos reality shows. Diminuir o nariz ou aumentar os seios virou coisa de criança.


A pergunta que falta


A personagem ideal é a mulher que tem problemas dos pés aos cabelos, para que a ‘equipe’ médica possa trocar os dentes da vítima, fazer cirurgia nas panturrilhas, aumentar ou diminuir seios e barriga, deslocar maxilares (para mudar o perfil) etc., etc. A pobre vítima, com o rosto esfoilado por peelings e outros lixamentos, é obrigada a fazer musculação, comer o mínimo possível e ainda dizer, diante das câmeras, que o sacrifício vale a pena.


Algumas também recebem acompanhamento psicólogico – ou seria lavagem cerebral? – para enfrentar o tratamento e resolver seus problemas domésticos. No grand finale é mostrada ao público. E a sensação que o espectador tem é que ficam todas exatamente iguais: os mesmos dentes, o mesmo queixo, o mesmo nariz e o mesmo corpo da vítima da semana anterior. Uma super model que sai da mansão em Hollywood direto para sua vidinha de professora primária, dona-de-casa mãe de três filhos ou atendente de lanchonete no interior dos Estados Unidos.


O que ninguém pergunta é se elas vão conseguir viver de acordo com a estampa que receberam. Nem a produção do programa e nem a mídia, que deveria ficar atenta a esse tipo de exploração da mulher.

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Jornalista