Em artigo para The Guardian [2/6/04], Justin McCurry mostra como a apatia da grande mídia do Japão na cobertura da guerra no Iraque contrasta com a disposição de alguns free-lancers originários do país, como o veterano Shinsuke Hashida e seu sobrinho Kotaro Ogawa, mortos em Bagdá há duas semanas.
Centenas de soldados japoneses estão estacionados na cidade iraquiana de Samawa, onde rebeldes têm agido de forma cada vez mais violenta. O assunto é tratado na imprensa nipônica somente através de curtas notas de agências. ‘Como deve ser confortável a vida dos governos quando os executivos de mídia – muitas vezes para frustração de seus repórteres que estão in loco – fazem coberturas idênticas, todas elas seguindo a linha oficial’, escreve McCurry. Os profissionais dos grandes veículos não enfrentam o perigo de ir a acampamentos militares para ver o que está acontecendo à sua volta.
O serviço sujo acaba sobrando para autônomos como Shinsuke Hashida, repórter de 61 anos que cobriu conflitos no Vietnã, Camboja, Bósnia, Afeganistão e Golfo Pérsico. Acompanhado de seu sobrinho de 33 anos, ele sempre evitou as ‘áreas seguras’ do Iraque para poder buscar imagens que interessassem mais aos veículos de comunicação. Os dois estavam indo encontrar o garoto Mohamad Haytham Saleh, de 10 anos, que feriu o olho esquerdo em decorrência dos combates entre americanos e rebeldes em Fallujah, quando foram emboscados. O carro em que viajavam foi metralhado, pegou fogo e colidiu contra uma árvore. Hashida e o intérprete iraquiano que contrataram morreram na hora. Ogawa sobreviveu à colisão, mas foi executado em seguida, com um tiro na cabeça.
O menino ainda assim receberá a ajuda para tratar a vista, graças ao acerto do jornalista com uma organização de caridade japonesa que manteve o compromisso, mesmo após o incidente fatal. Muitos colegas de profissão não concordam com a atitude de Hashida, que estaria intervindo no conflito que cobria ao auxiliar a criança. Independentemente disso, enquanto os grandes meios tiram seus funcionários do cenário de conflito, o velho repórter era uma das poucas conexões entre o público japonês e a realidade do Iraque.