Tuesday, 26 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Qual a real função do rádio?

Não sei se já se essa discussão foi feita, mas não podemos nos omitir sobre os rumos do rádio, hoje em frangalhos, diante das incompreensões, da falta de mobilização de seus usuários e da visão meramente econômica de seus supostos proprietários. Não tenho outros parâmetros de comparação, mas sinto que o rádio está entregue quase totalmente a programas de futebol e programas religiosos, o que atenta claramente contra a pluralidade de interesses de nosso povo. Não vemos no rádio nenhuma ou quase nenhuma programação que envolva cultura, cidadania, ecologia ou outras demandas que são muito graves nos dias de hoje. O rádio não está alinhado com os interesses populares quando não lhes dá direito a discutir os problemas, debater questões essenciais da cultura e do meio ambiente e falar a língua do povo, que simplesmente tem vários problemas que poderiam ter solução através das ondas radiofônicas.

A grande questão do rádio hoje é de gestão, sim, pois os gestores não tem compromisso com a comunicação, e sim, com o dinheiro que dita os programas e até os locutores que não estão no rádio pela sua competência, mas pelo dinheiro que podem pagar nos arrendamentos que hoje povoam o rádio em quase todo país. Não há política de valorização salarial dos radialistas e são poucas as empresas que assinam carteira na função de radialista, que não vivem da profissão e, se não tiverem outra ocupação, morrerão à míngua e não poderão sustentar suas famílias através do salário via rádio. Nossos profissionais de rádio têm de se organizar em prol de sua profissão e de seus colegas que estão fora deste meio por não terem dinheiro para pagar horários que são arrendados a pastores, macumbeiros, torcedores de clube, políticos – e menos a profissionais do radialismo. O que é isso? Qual a função real do rádio? Por que não há apoio aos interesses dos que fazem rádio? Por que o rádio não fala a língua do povo?

Muito ocupados para pensar

A discussão sobre o rádio às vezes é ocultada em meio à discussão sobre digitalização do rádio e sobre qualidade meramente técnica, quando se esquece o sentido real deste meio de comunicação, o que faz com que pensemos como se sentiriam Roquete Pinto, padre Landell de Moura, Ari Barroso e outros que personificaram a história deste meio de comunicação. O que sentiriam eles hoje ao verem o rádio, que antes era notícia, cidadania e ativismo, um mero balcão de negócios?

Os personagens do mundo do rádio precisam entender que somente unidos poderão mudar o quadro caótico que o rádio enfrenta. É preciso que nasçam associações, organizações e grupos de debate e discussão sobre um meio de comunicação cambaleante diante das formas errôneas com que vem sendo tratado. Hoje em dia no meio rádio até se pergunta ao ouvinte o que ele vai falar em meio aos programas, como se fossem filtrar a comunicação. Um pouco demais, não é mesmo? Mas é assim, infelizmente, que funciona um meio de comunicação que se ressente de apoio, força e dedicação de todos seus personagens…

O que sinto dizer, para finalizar, é que esta mensagem pouco repercutirá e muitos poucos se preocuparão com a situação do rádio, que precisa de uma nova concepção para continuar a ser o que sempre foi. Faz pena ouvir rádio, mas quem se preocupa com ele? Tenho certeza de que o que ora escrevo não modificará nada, pois todos estão muito ocupados para pensar…

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[Francisco Djacyr Silva de Souza é vice-presidente da Associação de Ouvintes de Rádio do Ceará, Fortaleza, CE]