Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Eduardo Silveira

‘O bisavô de um amigo meu aboletava-se numa cadeira de balanço e ordenava ao seu menino de recados: vá aos correios e veja se os mentirosos já chegaram! Anos 20 do século passado. Os ‘mentirosos’ eram os jornais da Capital da República. Velhos tempos, velha imprensa e não se falava nos tais formadores de opinião. Os jornais mentiam, omitiam e, segundo o jargão da época, viviam do que não publicavam. Fazendo meu o verso do jornalista mor, o Machadão, ‘Mudaria o Natal ou mudei eu?’.

Os jornais de hoje também vivem do que publicam ou inventam e, certamente, omitem. Cada profissional segue a linha do patrão. Se ficar famoso, pode fugir da ‘linha editorial traçada’ e destilar a sua idiossincrasia, por temperamento, idade ou malícia. E a vítima que vá se queixar ao Bispo. A retratação sai em um cantinho de página beirando o obituário e a ‘classe’ se une em defesa do autor da lambança. Existe algum jornalista na cadeia ou impedido de exercer a profissão? Ao que eu saiba, nenhum! Surge sempre a figura jurídica bastante discutível – o direito de expressão, da liberdade onde impera a democracia.

Não interessa se a Vênus Platinada inventou horrores contra o metalúrgico candidato a Presidente, através de notícias, comentários, fajutas edições de debates e, cúmulo, vestir seqüestradores com a camisa ‘oficial’ da agremiação política do ‘sapo barbudo’. Igual a famosa ‘Carta Brandi’ contra João Goulart, o desmentido veio mais tarde, mas o collorido candidato já estava eleito e ninguém teve a coragem de dizer que ‘o Rei estava nu’!

Que a imprensa é um mal necessário, ninguém duvida. Nas mãos inescrupulosas, ela faz um estrago no imaginário popular difícil de ser contornado. Nas mãos de jornalistas equilibrados, éticos, ela informa, ensina, transforma-se em instrumento cultural de grande valia, onde se pode, inclusive, estudar o passado. Mas, nada disso se aprende nos bancos escolares. Jornalista não necessita de canudo para sem bom. Vale o seu texto enxuto, a análise sem parti pris, seu comentário honesto e, acima de tudo, respeito ao leitor que tem o direito de ser bem informado,sem omissão e sem adjetivação desrespeitosa.

Lembro-me do dia que Edir Macedo, o bispo, anunciou a inundação da Cinelândia pelos seus fieis seguidores. No day after o jornal da Vênus Platinada publicou foto na majestática front page mostrando a ‘cabeça’ do desfile. Meia dúzia de gatos pingados. O fotógrafo colocara seu instrumento de trabalho à altura do umbigo e, dessa forma, foram retratados somente os primeiros da fila. O fotógrafo d’O Dia aboletou-se no último andar de um edifício da avenida Rio Branco e documentou o mar de gente que inundou a Cinelândia. A Vênus é nacional. O Dia é municipal. Ambos informaram aos seus leitores. De acordo com os seus princípios e a sua diretriz ética, um informou omitindo. O outro, compromissado com a realidade, só informou. Ponto.

E o que dizer das ‘Diretas já’. Para a maior cadeia de comunicação, talvez da América Latina, o movimento simplesmente não existia. Para o povão, a cada dia o movimento existia mais, e mais, até que as barreiras do doutor Roberto não seguraram a voz rouca da plebe. E o clamor das ruas, por pouco, não se transformou em manifestação patrocinada pela Fundação do plim-plim.

Quando o ‘Morcego Negro’ pairava sobre as nossas cabeças, pouquíssimas penas rabiscaram alguma coisa contra.Vivia-se o delírio da modernidade que determinados jornais davam corda. Depois que viraram bandidos foi aquele espetáculo de chutar o cachorro morto. Também aquele período já foi esquecido, como está indo para as calendas o PROER, a dilapidação do patrimônio da viúva, os negócios do DNER, da filha do senhor Serra e tantos e tantos esqueletos nos armários governamentais.

Será que jornalista também tem memória curta ou a liberdade de expressão é uma figura de ficção?

A bola da vez é o metalúrgico, o seu esforço para colocar o Brasil na linha de frente e ser respeitado no mundo. Se muitos jornais e seus profissionais não atrapalharem, o barbudo corre o risco de dar certo.

Seria bom que muitos jornalistas aprendessem a lição contemporânea que envolve a força da mentira, da omissão e da intriga e a força da sincronicidade jungueana: ontem, a Vênus massacrava o sapo barbudo. Hoje, está nas mãos do sapo, do metalúrgico e pau-de-arara, a caneta que pode salvá-la da falência.

Tudo isso o jornalista só aprende na escola…da vida! Eduardo Silveira é advogado, vive no Rio de Janeiro e seu email é eduardomonet@terra.com.br’



TODA MÍDIA
Nelson de Sá

‘Samba, suor e chuva’, copyright Folha de S. Paulo, 13/06/04

Em Brasília, segundo a Globo, ‘só se fala na festa junina do presidente’. O ‘arraiá do Lula’, diziam ontem.

São Paulo tinha outra festa, menos tradicional: a parada gay. José Simão, no UOL:

– Um milhão e meio. Depois dizem que é minoria!!!

A prefeita vai. E Simão:

– E Marta vai à parada gay? Vai. E o Serra, vai? Não, é parada gay, não é Halloween!!!

Telejornais locais da Globo e rádios noticiavam, destacando distribuição de camisinhas etc. Já no site Mix Brasil a atenção estava no tempo:

– Climatempo avalia em 70% a possibilidade de chuva leve. O Weather Channel prevê chuvas só até as 9h. Na dúvida, não saia de casa sem seu guarda-chuva de arco-íris!

Não se via qualquer notícia de manifestação pela emenda que o Brasil levou à ONU -e depois retirou, sob pressão católica- fazendo da liberdade de gênero um dos direitos humanos.

Em outra festa hoje, São Paulo vai virar a ‘capital das Nações Unidas’, na expressão do cartaz da prefeitura petista.

A Jovem Pan deu que a escola de samba Mangueira faz o show de abertura, com as passistas, a bateria e o samba-enredo sobre Chico Buarque.

Entre a Mangueira e a parada, desembarcam em São Paulo 20 chefes de Estado e delegações de 200 países, segundo os números mais exaltados.

Do site da Al Jazira, falando do mote ‘por uma nova geografia comercial’, ao do ‘New York Times’, falando do ‘esforço de mudar a agenda internacional do terrorismo para a pobreza’, o evento começou a ter cobertura mais extensiva.

Mas também na conferência nem tudo é festa. A Globo deu um novo estudo divulgado pela ONU, que revela que o Brasil impõe, aos países mais pobres do que ele, exatamente o mesmo protecionismo que enfrenta nos países mais ricos.

DIA DAS NAMORADAS

A mobilização visando à parada gay já começou no sábado, na 2ª Caminhada de Lésbicas e Simpatizantes na avenida Paulista. No dizer do site do PT, comemorava o Dia das Namoradas. Foi organizado, entre outros, pelo grupo Umas e Outras, que também realizou o 1º Torneio de Futsal Feminino.

No embalo das paradas, vai começar amanhã na MTV, segundo a Folha, ‘o primeiro programa de namoro com pessoas de diferentes orientações’. Um heterossexual e uma homossexual disputam a preferência de uma bi.

REAGAN E AIDS

Fez falta na cobertura americana da morte de Ronald Reagan, segundo os críticos, alguma menção à Aids. O blog de Andrew Sullivan reproduziu uma chocante entrevista coletiva em que o porta-voz de Reagan, há 20 anos, fazia piadas com perguntas sobre Aids. A charge ao lado, da época, diz: ‘O presidente encara a Aids’.

TÃO NORMAL

Não é só de ‘Diário de Motocicleta’ que vive o cinema nacional no exterior. O ‘Miami Herald’ deu crítica elogiosa a ‘Os Normais’ (site à esq.), lá intitulado ‘So Normal’, tão normal

Lula na capa

‘O Globo’ diz que o perfil de Lula na prestigiosa revista do ‘New York Times’, que estava sendo produzido quando saiu a reportagem sobre bebida feita por outro jornalista do ‘NYT’, já tem data de publicação: dia 27, quando Lula vai estar em Nova York. E deve ser capa.

Furlan na capa

A revista ‘Latin Trade’, de Miami, dá longa entrevista com o ministro Luiz Furlan, elogia as exportações brasileiras -e ouve dele a receita para aumentar a presença brasileira, hoje em ‘1% do comércio internacional’:

– Nossa meta é muito singela: estimular empresas, diversificar produtos e mercados, agregar valor e mostrar o Brasil lá fora.

Annan chegou

O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, chegou ontem cedo e desde então é perseguido pelas câmeras da Globo. Na revista ‘Veja’, ele fala do ‘caminho mais importante’ para atingir um mundo ‘solidário’:

– Na área econômica, é ter um sistema de comércio justo. É preciso acabar com os subsídios aos agricultores dos países ricos.

16 vezes

Na Índia, continua a cobertura entusiasmada das negociações com o Brasil e da presença do país no evento da ONU, em São Paulo. Do ‘Economic Times’ ao ‘Statesman’, falava-se ontem da expectativa de ampliar 16 vezes o comércio bilateral.

Nova ordem

Também a China dá alguma atenção à conferência. O ‘Diário da China’ e a agência Xinhua destacaram que o país exortou as outras nações do G77 a um esforço por uma ‘nova ordem econômica internacional’.

Mais soja

A Xinhua também noticiou ontem que o Brasil solicitou à China que ‘revise seus critérios’ para aceitar a soja brasileira. Coincidência ou não, a agência Reuters despachou, de Pequim, a notícia de que uma parte da soja foi desembarcada na China. Para novos testes.

Solidariedade

Vem aí a batalha do camarão. É como o ‘Wall Street Journal’ fala da ‘maior luta comercial da temporada’: num canto estão os criadores de camarão dos EUA; no outro, Brasil e China.

Curiosidade: a ação judicial contra o Brasil e outros é dos produtores americanos, mas as custas vão para o México. Foi um acordo, diz o ‘WSJ’, para o país não ser processado.

Mais comissão

A Rússia, que há poucos dias assombrou os ambientalistas do mundo ao aceitar, finalmente, o protocolo de Kyoto, afirma no ‘Pravda’ que quem ‘saltou na frente’ foi o Brasil.

O jornal noticiou na sexta que o governo Lula é ‘o primeiro no mundo a instalar uma comissão interministerial sobre mudança climática global’. Por enquanto, é só outra comissão.

Batalha 1

O jogo se tornou ainda mais pesado, no Palácio do Planalto. A ‘Veja’ destaca, em sua nova edição, uma suposta ‘caçada ao espião no palácio’.

Seria um assessor ministerial que também ‘trabalha para a agência de inteligência’, a Abin. Seria jornalista, teria entrado há pouco para o governo e estaria ‘espionando José Dirceu’.

Batalha 2

Ainda no palácio e na ‘Veja’, outra reportagem reafirma que ‘Dirceu lançou batalha aberta para voltar a ser o articulador político do governo’.

Fotos

A batalha já chegou aos sites. Enquanto a Agência Brasil, do governo federal, trazia ontem uma grande foto do presidente com o ministro da Defesa, o site do PT também apresentava uma foto, mas do presidente da Câmara, João Paulo.

O primeiro parecia dizer, pelo destaque, que o ministro não vai perder o cargo, como se queria. E o segundo, pelo destaque, ‘prestigiava’ o deputado.

‘Boatos’

Nos últimos dias, telejornais da Globo cerraram fileiras, com manchetes e reportagens para a informação de que Lula ‘nega boatos de que pretende mexer na equipe de ministros’.’

***

‘Oportunidade’, copyright Folha de S. Paulo, 11/06/04

‘Rubens Ricupero diz que é o maior evento da ONU no Brasil desde a Eco 92, no Rio. E é ‘oportunidade ímpar para o Brasil afirmar sua liderança’.

Pode ser, mas o encontro da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento, dirigida por Ricupero, é uma bela de uma oportunidade eleitoral para Marta Suplicy.

A Prefeitura de São Paulo, que apóia o evento junto com o governo Lula, já distribuía cartazes pelas avenidas da cidade, ontem -anunciando que São Paulo é, afinal, o centro do mundo.

A Globo veio na seqüência, nos telejornais locais, falando em ‘território internacional em São Paulo’ e noticiando a instalação das ‘bandeiras de 192 países’. Não faltou nem o turismo dos que já estão chegando para o encontro, que começa no domingo:

– Um americano se encantou com a estação da Luz e disse que a vibração lembra Nova York.

E é só o começo. O site do Sesc informa que, em duas semanas, ‘São Paulo será o ponto de convergência de diferentes’ culturas. É o Fórum Cultural Mundial, primo do Fórum Social Mundial.

Vai ter filme do chinês Zhang Yang, a dança do senegalês Germaine Acogny, a nova peça de Antunes Filho etc. Tudo em São Paulo, neste ano de eleição.

Ricupero segue em entrevistas sem fim, ontem à RBS. E a Globo On Line diz que Lula disputará os holofotes da ONU, no domingo.

Pelo que se anuncia, o secretário-geral Kofi Annan vai estar presente, mas também Hugo Chávez, presidente da Venezuela.

O peso maior vem às reuniões paralelas -uma do G20, grupo liderado por Índia, África do Sul e Brasil; outra do ‘não-grupo dos 5’, como o ‘Valor’ descreve os ‘principais atores das negociações agrícolas internacionais’.

Segundo a Bloomberg, até o representante comercial dos EUA, que um dia Lula chamou de ‘sub do sub do sub’, estará em São Paulo para tentar ressuscitar as negociações globais de comércio.

‘ALMA DA ÍNDIA’

Às vésperas do encontro da ONU, que terá o país entre os seus protagonistas, a rede STV, ligada ao Sesc, vem apresentando um documentário 100% brasileiro, fora algumas ‘cenas raríssimas’ de Gandhi (acima), sobre a Índia de hoje.

EXPORTAÇÕES E IMPORTAÇÕES

No Rio Trade Week, que antecede a conferência da ONU em São Paulo, o ‘destaque’ são as negociações de Brasil e Índia, segundo a estatal Agência Brasil. Mas um enviado indiano não anima ninguém: ‘O custo é alto, a distância é grande’. De todo modo, segundo o ‘Valor’, o Unibanco fechou acordo com o Banco de Exportações e Importações da Índia, para crédito de parte a parte.

Já na Índia, o jornal ‘Business Standard’ publicou um texto ontem se perguntando se ‘o governo de esquerda do Brasil tem alguma lição a dar’ ao governo indiano de esquerda, recém-empossado. A resposta foi não.

Canino

A poucos horas de viajar para ‘cinco dias de descanso’ em Buenos Aires, segundo ‘O Globo’, o ministro José Dirceu surgiu na Globo News com o olhar cansado e disse.

– Tenho uma lealdade canina ao presidente Lula, todo mundo sabe. Faz dez anos que eu sirvo ao presidente Lula.

A ‘lealdade canina’ foi manchete por todo lado, dos sites aos telejornais.

A serviço

E tinha mais, do ministro:

– Estou a serviço do ministro Aldo Rebelo. Vou cumprir o que ele me determinou. Ele é o articulador político do governo. Ele determina o que os outros ministros devem fazer.

Foi o que o desagravo de João Paulo fez a José Dirceu.

Vergonha

Não é o salário mínimo que interessa ao Senado. Na descrição do blog de Ricardo Noblat, durante o dia de ontem:

– O Senado vive uma jornada de vergonha -ou de falta dela. Primeiro, aprovou para o TCU um senador investigado pelo desaparecimento de R$ 13 milhões. Segundo, violentou o próprio regimento para votar às pressas, abrindo e fechando sessões com intervalos de um ou dois minutos, a emenda que recupera 40% das vagas de vereadores cortadas pela Justiça.

Juízo

Mas era só o começo:

– O tempo fechou quando o senador Jéfferson Perez denunciou o que os outros senadores fingiam não ver. Almeida Lima apoiou. Antonio Carlos (Magalhães) atacou Almeida Lima e baixou o nível. Gabou-se até da própria virilidade… Antonio Carlos vem pouco a pouco perdendo o juízo político.

Pássaros

A Folha deu a declaração do economista tucano Edmar Bacha:

– Como tucano de bom bico, eu não devia fazer isso: Talvez nem vá dar para a gente em 2006, se as coisas continuarem desse jeito.

Falava da trajetória ‘positiva’ da política econômica de Lula.

Segundo a Globo On Line, José Serra disse, por sua vez, que não teme que a recuperação da economia ajude os candidatos petistas na eleição deste ano. E ‘alfinetou’:

– Espero que seja um vôo de pássaro e não de galinha.

‘Reforço’

Um vereador tucano saiu em defesa dos peemedebistas quercistas, na Jovem Pan, dizendo ser ‘uma afronta a ação do PT sobre o PMDB’. Já o ‘DCI’, jornal de Orestes Quércia, destacou:

– Orestes Quércia reforça candidatura Michel Temer.

Debate

O economista Paulo Nogueira Batista Jr., próximo ao PT, escreve longamente sobre a ‘vulnerabilidade da economia’ no site Carta Maior -e conclui que ‘é muito cedo para comemorar’.

Não para o ministro Palocci, segundo o qual o país ‘está blindado’, ou para Míriam Leitão, no Bom Dia Brasil:

– O país está menos vulnerável.

Duro…

Em meio às negociações argentinas com o FMI, o ‘La Nacion’ entrevistou o presidente do Banco Central do Brasil, Henrique Meirelles, que sublinhou que ‘o Brasil tem uma estratégia diferente da Argentina e honrará sua dívida’.

… e direto

Meirelles deu, para o correspondente, ‘uma resposta dura e direta às preocupações argentinas’:

– Sugiro que não se preocupem com o Brasil. Preocupem-se com seus problemas.’

***

‘O ruído’, copyright Folha de S. Paulo, 9/06/04

O dia estava num ritmo de felicidade geral da nação. Manchete no UOL:

– Vendas surpreendem e crescem na indústria.

E na Globo On Line:

– Indústria pisa fundo.

Até no emprego havia boas novas. Segundo a Confederação Nacional da Indústria, ‘o nível subiu especialmente no interior do Centro-Oeste’.

E tome comemoração. Na Globo, Míriam Leitão:

– O Brasil está crescendo, a inflação está abaixo de 5,5%, os juros já caíram muito desde o início do governo. Em outras palavras, a política econômica está dando certo.

Mais comemoração. O UOL News destacou que ‘a onda de pessimismo passou’. E falou o ministro Antonio Palocci:

– O crescimento neste ano está praticamente assegurado.

Partiu daí para defender uma ‘agenda microeconômica’ de projetos como Lei de Falências e Parcerias Público-Privadas para dar ‘musculatura’.

Palocci pedia uma coisa: não exijam mais do Banco Central nesta ‘retomada da atividade’. Como ele, falou a comentarista da Globo na seqüência:

– Há muito a fazer para o país seguir crescendo. E, como disse o ministro Palocci, não é apenas reduzir juros.

E o que fez então o ministro José Dirceu? Surgiu depois de todos, na Globo News, e exigiu corte nos juros:

– O Brasil precisa crescer ou a estabilidade não se mantém.

Não foi só ruído de discurso. Soou como ameaça.

E foi acrescida de um ‘elogio’ do presidente da Câmara ao mesmo Dirceu. Daí a manchete do Jornal da Record:

– João Paulo expõe crise no Palácio do Planalto.

Não para o Jornal Nacional, que manteve a felicidade em suas manchetes:

– Indústria volta a respirar: vendas crescem 13% em um ano. Empresas cobram rapidez em projetos importantes. Lula pede pressa ao Congresso na aprovação das medidas.

A INDÚSTRIA DA MODA

Enquanto Orestes Quércia partia para o ataque contra a prefeita e destituía todo o PMDB paulistano, que negocia um acordo com o PT, Marta Suplicy tinha outra agenda. Segundo o site do partido, ela foi a um encontro tratar da ‘expansão da indústria da moda na cidade’. Um projeto municipal de incentivo fala em aumentar as exportações do setor e sonha levar a indústria da moda para a zona leste.

O ‘BUZZ’ DA NIKE

O ‘New York Times’ informou que a Nike decidiu ir atrás de ‘um novo meio para sua publicidade, o blog’. Não é para vender mais. É somente para ‘gerar buzz’, ruído, conversa. Mas até a propaganda da Nike tem os seus limites. A rádio Bandeirantes noticiou que a bola de futebol gigante colocada pela empresa nas águas do rio Pinheiros, em São Paulo, não tinha autorização e será retirada. Mas o ‘buzz’ que se buscava já foi alcançado.

Rio e Minas

Do Bom Dia Brasil à CBN, o Rio das Globos reclama que a administração federal ‘não está assumindo o papel’ que teria na segurança do Rio. A resposta, em ‘O Globo’, foi do ministro da Defesa, José Viegas:

– A atenção dispensada (ao Rio e a Minas) foi a mesma. Se diferença houve, foi nos termos da solicitação.

Ao contrário de Minas, o Rio, segundo ‘uma autoridade’, ‘não reconheceu a insuficiência de seus meios policiais’.

Às armas

A Igreja Católica vai à luta. O site Zenit.org noticiou ontem que a organização Ajuda à Igreja Necessitada (sic), católica e de âmbito mundial, definiu como uma de suas prioridades ‘o apoio a meios de comunicação católicos no Brasil’.

Emissoras como a Catedral, no Rio, seriam um exemplo da ‘arma mais eficaz contra seitas em geral e a Igreja Universal do Reino de Deus em particular’.

Menção

O plano anglo-americano para o Iraque, aprovado pela ONU, teve mais que o voto do Brasil. ‘New York Times’, ‘El País’ e a agência Dow Jones disseram que o respeito aos direitos humanos pelas forças de ocupação, parte do texto final, foi sugestão do Brasil, Chile e Espanha.

Reagan e a mídia

Em sua autocrítica sem fim, a mídia americana agora está se questionando pela cobertura simpática a Ronald Reagan. De Howard Kurtz, do ‘Washington Post’, aos âncoras da CBS e da ABC, quase todos deploram as próprias palavras.

Mas houve exceções. A Slate destacou em manchete o perfil feito por Christopher Hitchens, ‘A estupidez de Reagan’.

Uma curiosidade: as revistas ‘Time’ e ‘Newsweek’ deram exatamente a mesma foto de Reagan em suas capas. Na cena, ele lembra um cowboy.’



FOTOJORNALISMO
Leonel Rocha

‘Clique no Presidente’, copyright IstoÉ, 14/06/04

‘A imagem da esperança e do otimismo. É o que revela o livro Lula, 500 dias em fotos, que será lançado na quarta-feira 16, em Brasília, pelo fotógrafo oficial da Presidência da República, Ricardo Stuckert, com 160 fotografias do ex-operário que hoje ocupa o Palácio do Planalto. É um trabalho caprichoso que mostra em cores e em preto-e-branco o cotidiano do presidente trabalhando, nas residências oficiais do Alvorada e da Granja do Torto, nas viagens oficiais pelo Brasil e pelo Exterior ou em contato com autoridades de todo o mundo. As imagens vão da cozinha de um barraco durante visita a uma favela a encontros com reis e chefes de Estado na Europa.

Editado pelos jornalistas Regina Echeverria e Hélio Campos Mello, diretor de redação de ISTOÉ, o livro de 200 páginas é a primeira publicação do gênero feita por um fotógrafo oficial da Presidência da República. Foi impresso na Takano Editora Gráfica sob o patrocínio do Santander-Banespa, DaimlerChrysler, Valisère, Cia. Suzano de Papéis e o apoio da revista ISTOÉ. O registro fotográfico do dia-a-dia de Lula é apresentado pelo jornalista Ricardo Kotscho, assessor de imprensa do Planalto, e traz textos do assessor especial de Lula, Carlos Alberto Libânio de Cristo, o Frei Betto, e do embaixador Paulo César Oliveira, chefe do Cerimonial da Presidência. ‘O livro, que mostra o Lula na vida real, junto ao povo, marca com beleza e profissionalismo esta primeira fase do governo’, elogia Kotscho. É um livro de instantâneos inéditos, aproveitados com raro talento pelo fotógrafo que convive com o presidente desde a posse.

Somente pelas lentes de Stukinha – como é conhecido pelos colegas e também pelo presidente – se soube que a relação entre Lula e o vice-presidente José Alencar chega a gestos de carinho como de pai para filho. O fotógrafo oficial conseguiu ainda que o presidente se deixasse posar fazendo a barba. Os cliques de Stuckert registraram imagens exclusivas, como Lula alimentando as emas do Planalto, pescando no lago da Granja do Torto ou chorando na visita à favela Brasília Teimosa, em Recife. ‘Fotografar o presidente é uma aula permanente de humanidade e simplicidade, mantida por ele mesmo num ritmo acelerado de trabalho’, comenta o fotógrafo.

Ricardo Stuckert nasceu em Brasília há 34 anos e representa a quarta geração de uma família de fotógrafos. Seu bisavô já fotografava quando chegou ao Brasil, vindo da Alemanha, no início do século XX. O pai, Roberto, também foi fotógrafo oficial da Presidência, no governo João Figueiredo. A família – com mais de 30 fotógrafos – carrega um século de tradição no ramo. Stukinha começou a trabalhar profissionalmente no jornal O Globo com apenas 19 anos. Depois passou pelas redações das revistas semanais Caras, Veja e ISTOÉ, tendo sido finalista do prêmio Esso de 2002 com a cobertura da campanha presidencial. Já cobriu quatro posses presidenciais: as de Fernando Collor, Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso e do próprio Lula, já como fotógrafo oficial do Palácio. Trabalhou na cobertura dos Jogos Olímpicos de Sydney e é considerado um dos mais talentosos repórteres fotográficos do País. O lançamento oficial contará com a presença de Lula e toda a verba arrecadada (R$ 24,90 preço em banca e R$ 35 – capa dura – nas livrarias da rede Siciliano) será revertida para o Programa Fome Zero.’