De uma modesta casa nos subúrbios ao oeste de Bagdá, a estação de rádio Dijla está combatendo o crime, salvando vidas, e curando os traumas emocionais de adolescentes apaixonados.
Dijla é a primeira estação de rádio do Iraque que conta com a participação de ouvintes, algo impensável durante o governo de Saddam Hussein, afirma Michael Howard [The Guardian, 10/6/04]. Ela é apenas um pequeno canal comercial, mas já faz um grande sucesso entre a população de Bagdá e suas regiões vizinhas.
Mais de 18 mil ligações são feitas por dia para a estação, que só consegue atender a uma fração deste número. Em pouco tempo, Dijla tornou-se a rádio favorita de Bagdá.
‘É um novo conceito para o Iraque e para o mundo árabe, e preenche uma antiga lacuna’, afirma o fundador da rádio, Ahmad al-Rikabi, que foi chefe da Iraqi Media Network, fundada pelos EUA, mas desistiu do cargo dizendo-se frustrado com a interferência e a burocracia.
O público devoto da Dijla inclui pessoas das mais diferentes profissões, incluindo taxistas e comerciantes. Os assuntos abordados nos programas são famliares a qualquer tipo de ouvinte: falam sobre o preço dos vegetais, as ações policiais e os dramas adolescentes.
Na última semana, o chefe de polícia do distrito de Baya, em Bagdá, ligou para a estação e a agradeceu por ajudar a reduzir a criminalidade na região. A polícia local também pediu que a Dijla aumente sua programação, porque a rádio deu aos iraquianos algo para fazer à noite.
A estação também tornou-se lição de casa obrigatória às novas autoridades do país. ‘Nossa capital disfuncional finalmente encontrou uma voz, e nós sabemos que as novas autoridades estão ouvindo e prestando atenção aos assuntos e opiniões que vão ao ar’, diz Majeed Saleem, um dos apresentadores mais populares da estação. ‘É um dos poucos fóruns onde eles conseguem ter uma resposta imediata da população’.
As únicas proibições para quem participa dos programas são os xingamentos, incitação da violência e sectarismo. A rádio Dijla transmite no dialeto local iraquiano, e não em àrabe clássico, língua falada pelas autoridades. ‘Nós usamos uma linguagem que pode alcançar todo mundo; falamos ao médico, ao escritor, ao ladrão e ao fazendeiro’, diz Rikabi.