Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A imprensa corre para trás

Sir Martin Sorrell, CEO do grupo WPP, o segundo maior conglomerado de publicidade, marketing e relações públicas do mundo, uniu sua voz incisiva à do Conselho Europeu de Publishers e pediu o fim do acesso gratuito a conteúdos na internet. Sorrell, que esteve no Brasil no ano passado para algumas palestras otimistas sobre o mercado de comunicação durante a fase de consolidação de rearranjos nas suas filiais e associadas brasileiras, apresentou como argumento principal o fato irrelevante de que ele mesmo estaria ‘preparado para pagar por notícias quentes’.


Sorrell e os publishers europeus estão na contramão, segundo análise do Editor’s Weblog, boletim eletrônico do Fórum Mundial de Editores: o público resiste cada vez mais a pagar por informação na internet. ‘Por causa de todos esses softwares online que lhes permitem criar, distribuir e facilmente acessar conteúdo em suas áreas de interesse, as gerações mais jovens nunca irão pagar pelo noticiário geral’, afirma em sua edição de 7 de dezembro o informativo sobre mídia mais lido por editores em todo o mundo.


Segundo o Editor’s Weblog, ‘as grandes empresas de informação deveriam se adaptar a essa tendência, mas elas não estão fazendo isso’. Pelo contrário, o que se observa é a tentativa de apropriação, pela mídia tradicional, de formatos eletrônicos populares entre os mais jovens, mas com abordagens envelhecidas e ainda presas ao modelo da mídia impressa. Essa tática não está produzindo o resultado esperado, e executivos de jornais reunidos em Madri no mês passado para a conferência da Associação Mundial de Jornais já haviam alertado que o negócio online está em crescimento, mas os jornais não têm a mesma perspectiva.


Comportamento tradicional


O que parece emergir desse fenômeno, que ameaça a sobrevivência da imprensa como a conhecemos, é que, ao reduzir o universo de interesse de seus leitores – pela simplificação do noticiário e pela pasteurização dos temas tratados –, os jornais acabam por produzir hábitos de leitura que são rapidamente satisfeitos com um olhar superficial sobre notas curtas na tela do computador, e até com a leitura dos ‘torpedos’ transmitidos por telefones celulares.


As duas décadas de banalização de temas relevantes, a espetacularização da notícia e a mistura entre notícia e opinião parecem estar finalmente criando uma geração de leitores que se satisfaz com parcelas ínfimas de conteúdos, que eles complementam em seus relacionamentos sociais virtuais.


A reação dos publishers europeus, que de certa forma reproduz o comportamento da mídia tradicional em todo o mundo – manifesto nas tentativas de conter o avanço de iniciativas como Google e MySpace, que direcionam leitores a conteúdos de informação sem cobrar por isso – revela que, em vez de se colocar na vanguarda dessa tendência, a mídia tradicional acelera para trás.


Criando obstáculos


Um aspecto interessante desse movimento desconexo entre a mídia do futuro e uma instituição que parece destinada à reciclagem é que os sites preferidos pelos jovens começam a liderar movimentos para a reinvenção do ativismo político, ecológico e humanista, missão a que a mídia tradicional, como instituição, sempre resistiu ou que assumiu apenas sob pressão da opinião pública.


Baseados atualmente na convergência de interesses nas áreas de entretenimento, sociabilização e interação entre grupos, os sites de busca e relacionamento que remetem a conteúdo jornalístico podem ocupar rapidamente o lugar dos títulos tradicionais nascidos da prensa de Johannes Gutenberg, quando se tornarem capazes de mobilizar grandes massas de jovens leitores em torno de campanhas públicas mais relevantes do que a escolha da melhor banda tecno.


Enquanto isso, os jornais tradicionais tentam atrair pessoas dando-lhes a impressão de que são jornalistas pelo fato de terem fotografias suas publicadas, ao mesmo tempo em que buscam criar obstáculos ao desenvolvimento das novas formas de comunicação e de organização social.

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Jornalista