‘Eu estava na TV Globo durante o primeiro mandato de Leonel Brizola à frente do governo do Estado do Rio. Entrei em maio de 83, pouco depois da posse do novo governo, e o jornalismo da Globo passava por uma grave crise de credibilidade, com seus repórteres e carros ameaçados nas ruas pela população. Pesava sobre a emissora a acusação de, junto com a Proconsult, empresa contratada pelo TRE para apurar os votos da eleição direta para governador do Estado, em 1982, tentar fraudar o resultado para dar a vitória a Moreira Franco, o candidato do regime militar, apoiado pela família Marinho.
Vale esclarecer, para quem não se lembra ou para os mais jovens – que volta e meia mostram curiosidade em saber o que aconteceu de fato naquela eleição do final de 1982 -, que a emissora dos Marinho não tinha simpatia por Brizola, visto pela direita como um perigoso agitador que voltava de um exílio de 15 anos, decidido a recuperar seu lugar na política brasileira que os militares de 64 lhe haviam cassado.
Pois bem. Moreira era forte no interior e Brizola dominava o eleitorado na cidade do Rio de Janeiro. A Globo passou a priorizar a divulgação dos números do interior e já no final do primeiro dia de apuração os matemáticos da Proconsult estimavam a vitória de Moreira pela apertada diferença de 60 mil votos. Só que a Rádio Jornal do Brasil (Procópio Mineiro era o diretor de jornalismo) tinha montado um esquema com estagiários que somavam os votos do interior e da capital nos próprios mapas do TRE. E, com apenas dois por cento dos votos apurados, a JB já projetava a vitória de Brizola.
Com base nos números da Rádio JB, Brizola botou a boca no trombone e questionou, ao vivo, o então diretor de Jornalismo da Globo, Armando Nogueira, sobre a discrepância entre os números que a emissora divulgava, com base na Proconsult, e os números reais colhidos nos mapas do TRE. Quase um mês depois, o TRE divulgava os números oficiais dando a Brizola a tranquila vitória com 34 por cento dos votos.
A Globo nunca o perdoou e preparou-se para dar troco. Durante todo primeiro governo Brizola (1983/86), os noticiários da emissora sistemáticamente divulgavam os números da violência no Rio, responsabilizando o governador por um crescente fenômeno social que hoje é a maior preocupação da sociedade brasileira. Mas não importava, o negócio era responsabilizar o governador do Estado. Os leitores mais velhos devem lembrar do velho Cid Moreira, com sua poderosa voz, anunciando diariamente em manchete no Jornal Nacional: ‘A violência no Rio’. Sem contar que, muitas vezes editoriais do jornal O Globo contra o governador eram lidos na íntegra na TV. Um verdadeiro massacre que daria frutos em futuras eleições.
A vingança do império veio na eleição presidencial de 1989. Brizola era o favorito nas pesquisas. A Globo abraçou firmemente a candidatura Collor, um quase desconhecido ex-governador de Alagoas. Collor, com muito dinheiro e uma excelente equipe de marketing, criou o slogan de caçador de marajás. Comprou, de pequenas legendas, dois programas eleitorais de uma hora e ganhou de presente da emissora dos Marinho um Globo Repórter inteiramente dedicado a ele e à sua ‘caçada implacável aos marajás’. Os institutos de pesquisa começaram então a reverter a tendência do eleitorado, e em julho de 89 Collor disparava na frente, com o segundo lugar disputado voto a voto entre Lula e Brizola. No final, Brizola perdeu para Lula o direito de enfrentar Collor no segundo turno. Para se ter uma idéia, em São Paulo, o maior colégio eleitoral do país, Brizola teve só meio por cento de votos. Tivesse ele tido mísero um por cento dos votos paulistas e ele estaria no segundo turno contra Collor. E aí, com certeza, a história do Brasil seria outra.
O que vi no Jornal Nacional da última terça-feira soou-me como um pedido de desculpas da emissora ao líder desaparecido. O tempo gasto com a cobertura da morte, desde o velório no Rio aos depoimentos de políticos em Brasília, a presença de um dos Marinho junto ao caixão, tudo pareceu uma penitência por tantas injustiças cometidas. Nos textos dos repórteres da Globo encontrei expressões como ‘Brizola, até o último momento, foi fiel às suas idéias e ao trabalhismo’, ou esta outra ‘ele dedicou sua vida política ao Brasil’.
Mais do que um comentário, a coluna de hoje é um relato histórico do que testemunhei nos meus anos de Globo. Peço que os leitores me perdoem por trazer a público os fatos acima, muitos já do conhecimento geral. Mas é importante que a história reconheça o bravo guerreiro que ousou enfrentar o império e por isso não conseguiu galgar o mais alto posto da política brasileira. Brizola tinha dessas coisas, gostava de enfrentar poderosos e respeitar os humildes e excluídos pela sociedade. Coisa de uma geração de políticos, cujo ciclo se encerra com ele.’
Ali Kamel
‘Resposta a Eliakim’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 26/06/04
‘Foi com desalento que li o artigo de Eliakim Araújo, ‘A Globo se rende a Brizola’, publicado no Comunique-se. Não esperava isso de um profissional como Eliakim, a quem admiro. Mas cada vez mais estou convencido de que a memória é importante fonte da pesquisa histórica, mas, desacompanhada de uma pesquisa em documentos, fica sujeita a todo tipo de falhas. Vou começar meus comentários pelo fim:
1) Ao que parece, Eliakim achou longa a cobertura que o Jornal Nacional dedicou à morte de Leonel Brizola. Eu discordo. Todos nós recebemos do diretor da Central Globo de Jornalismo, Carlos Henrique Schroder, uma única orientação: dar à cobertura o tempo condizente com um personagem que protagonizou a história do Brasil nos últimos 60 anos. Foi o que fizemos. O Jornal Nacional daquele dia não significou, portanto, rendição alguma a Brizola, porque o noticiário não se confunde com a opinião. O que fizemos ali foi descrever a trajetória de Brizola, divulgar os depoimentos de políticos de todas as tendências e as homenagens que o povo prestou a ele. Não nos furtamos, porém, de registrar os pontos mais polêmicos da carreira dele, como o apoio à prorrogação do mandato de Figueiredo e as críticas que fez à CPI do Collor. Também dissemos que seus críticos o acusavam de ser populista e demagogo, e relatamos a resposta que Brizola costumava dar a eles. Destacamos também suas realizações: escolas no Sul, Cieps, Linha Vermelha e Passarela do Samba no Rio de Janeiro. Fizemos jornalismo, apenas isso. Quanto à presença de um membro da família Marinho no enterro de Brizola, nada há de surpreendente: é assim que os homens de bem agem. Lembro que Brizola também fez questão de prestar sua solidariedade à família Marinho quando da morte de Roberto Marinho, no ano passado. E eu ouso dizer que Roberto Marinho teria feito o mesmo em relação a Brizola, se vivo fosse. No enterro de Roberto Marinho, Brizola disse: ‘Roberto Marinho foi um adversário cortês. É do confronto de idéias que surge a verdade. Embora existissem grandes diferenças entre nós, ele nunca me negou espaço’.
2) Eliakim diz que a TV Globo deu de presente a Collor um Globo Repórter ‘inteiramente dedicado a ele e à sua implacável caçada aos marajás’. É mais uma das confusões que a confiança excessiva na memória acarreta. Nunca houve um único Globo Repórter dedicado a Collor, antes de sua eleição. Em abril de 1987, houve um Globo Repórter de uma hora de duração sobre funcionalismo público, registrando os problemas em diversos estados do país (São Paulo, Maranhão, Rio Grande do Sul, Ceará. Minas, Rondônia, Brasília ) e, nele, havia apenas seis minutos e meio retratando a situação de Alagoas (dois minutos e vinte segundos foram tomados por uma entrevista de Collor). Ou seja, num programa de uma hora, apenas dois minutos e vinte segundos foram dedicados ao então governador. Naquele mesmo mês, a revista Veja dedicou suas páginas amarelas inteiramente a Collor. O título das amarelas era: ‘Vou acabar com os marajás’. O subtítulo: ‘O governador de Alagoas fala de sua vitória contra os funcionários milionários e promete manter sua cruzada moralizadora’. A Veja agiu bem. Collor era assunto naquele mês. Collor foi assunto de destaque em todos os jornais do país.
3) Em 12 de agosto de 1987, a mesma revista Veja dedicou a capa ao assunto. Ladeando a foto de um ator vestido como um marajá, estava o título: ‘Funcionalismo Público: a praga dos Marajás’. Sete páginas internas foram dedicadas ao assunto. Logo no primeiro parágrafo, a declaração de Collor: ‘Esse caso já se transformou numa tragédia nacional’. Um mês depois da edição de Veja, em 10 de setembro de 1987, o Globo Repórter fez uma edição sobre os marajás. Mas o foco era São Paulo: o programa inteiro tinha vinte minutos e vinte e três segundos, praticamente todos voltados para São Paulo; a situação em Alagoas foi retratada em três minutos, sendo um minuto e vinte segundos ocupados com uma entrevista de Collor. Foi o último Globo Repórter dedicado ao tema marajás/funcionalismo público.
4) A revista Veja voltaria ao tema. Em 23 de março de 1988, dedicou a capa a Collor. O título era: ‘Collor, o caçador de marajás’. Dentro, seis páginas sobre o assunto. O título era: ‘A guerra ao turbante’. O subtítulo: ‘No seu papel de caçador de marajás, o alagoano Fernando Collor de Mello torna-se um dos governadores mais populares do país’. Era a pura verdade. Se algum veículo usou o epíteto de ‘Caçador de marajás’ para se referir a Collor, o primeiro foi a revista Veja. A Globo jamais batizou algum Globo Repórter com esse nome. E fez, sobre o assunto marajás, apenas os dois programas descritos acima. Aqui, ressalte-se, não vai nenhuma crítica à revista Veja, cuja reportagem de capa aqui mencionada era de altíssima qualidade jornalística, como de hábito. Não participei dessa reportagem, mas, à época, trabalhava na revista, na sucursal do Rio. Em resumo, foram apenas dois programas do Globo Repórter dedicados ao funcionalismo, nenhum deles dedicado a Collor. Os dois em 1987. Em 1988, nenhum Globo Repórter sobre funcionalismo ou sobre Collor. E, em 89, apenas um, realizado após a eleição, em dezembro, como se faz com todos os presidentes eleitos. Como fica agora provado, Eliakim Araújo equivocou-se, confiando apenas na memória.
5) O mais grave do artigo diz respeito ao caso da Proconsult. Eliakim diz que ‘pesava sobre a emissora a acusação de, junto com a Proconsult, empresa contratada pelo TRE para apurar os votos da eleição direta para governador do Estado, em 1982, tentar fraudar o resultado para dar a vitória a Moreira Franco, o candidato do regime militar, apoiado pela família Marinho’. Não fica claro se Eliakim registra apenas uma infâmia que volta e meia aparece contra as Organizações Globo ou se concorda com ela. De qualquer maneira, é bom esclarecer o episódio. Abaixo, reproduzo parte do conteúdo de uma carta que mandei hoje a outro website.
6) A TV Globo e O Globo jamais contrataram os serviços da Proconsult. Desde o dia da eleição, até o fim da apuração, O Globo deu manchetes atribuindo a vitória a Leonel Brizola. Jamais disse em manchete ou em título interno que Moreira Franco ganharia a eleição. A TV Globo previu a vitória de Brizola já no dia da eleição, com a divulgação da pesquisa de Boca de Urna do Ibope dando a vitória de Brizola por cinco pontos percentuais. Esta é a única verdade. Nos dias subseqüentes, divulgou os resultados oficiais do TRE e os da apuração paralela do Globo, que apresentava números defasados em relação à apuração paralela da Rádio Jornal do Brasil. Mas, já no dia 18 de novembro, divulgava projeções que davam a vitória a Brizola.
7) Em 1982, a eleição ainda era em cédulas, mas, pela primeira vez, a totalização dos votos seria informatizada. Seis estados, entre os quais São Paulo e Minas, contrataram o Serpro, uma estatal, para fazer o trabalho. O TRE do Rio de Janeiro foi o único a contratar uma empresa privada, a Proconsult. Ela trabalhou exclusivamente para o Tribunal.
8) Naquele ano, a TV Globo sequer possuía computador, aqueles gigantes que chamávamos de ‘mainframe’. Como a eleição era nacional, era operacionalmente impossível montar um esquema próprio de apuração em todos os estados. Optou-se então pelo estabelecimento de parcerias com os jornais impressos. No Rio de Janeiro, o parceiro foi O Globo; em São Paulo, o Estado de S. Paulo.
9) O Globo desenvolveu um sistema próprio, sem qualquer vinculação com a Proconsult. Estagiários foram contratados para, durante a apuração, trabalhar nas zonas eleitorais de todo o estado. As mesas apuradoras, depois de contar os votos, registravam tudo em boletins, que eram depois afixados em lugar visível. A tarefa dos estagiários do Globo era copiar todos os dados dos boletins: os votos para todos os candidatos a vereador, deputado estadual, deputado federal, senador e governador. Os dados eram enviados por carro ou moto para a sede do jornal, onde eram digitados para alimentar os computadores. Montou-se uma central com quatro computadores, 64 terminais e 380 digitadores. Era um trabalho hercúleo, já que os votos dos milhares de candidatos tinham de ser digitados um a um. Como era um jornal impresso, O Globo se interessava em publicar a relação dos votos dados a cada candidato. Faz isso até hoje. Isso atrai leitura, pois todos querem saber como anda o candidato em que votaram.
10) O esquema foi montado, no entanto, para ser eficaz para um jornal impresso, cujo fechamento, à época, se dava às onze da noite. Durante a rodada, faziam-se duas ou três atualizações. Para isso, bastava que houvesse uma única totalização por dia. Os computadores eram alimentados e o programa rodava perto do fechamento. Estávamos ainda na pré-história da informática. Esse esquema revelou-se de pouca valia para a TV Globo, pois ela só tinha informação fresca uma vez ao dia, e bem tarde. O esquema poderia funcionar para um jornal impresso, mas estaria fadado a dar errado para uma emissora de televisão.
11) A Rádio Jornal do Brasil, montou esquema mais modesto e, por isso, mais ágil. Reuniu também estagiários (eu era um deles) e os mandou também para as zonas eleitorais. Com um detalhe: em vez de anotar os votos em cada candidato a vereador, em cada candidato a deputado estadual, em cada candidato a deputado federal, em cada candidato a senador e em cada candidato a governador, de cada partido, o estagiário se concentrava apenas nos votos dados aos candidatos a senador e governador. E repassava os dados por telefone público. A cada estagiário foi dado um saco de fichas telefônicas (para os mais novos: eram como moedas, não havia cartões como hoje). Como se tratava de uma rádio ‘all news’, tinha-se a necessidade de dados o tempo todo. Para isso, foi montado um esquema que permitia totalizações freqüentes.
12) No dia 16 de novembro de 1982, um dia depois da eleição, e já com os votos sendo contados, a manchete de primeira página do Globo era: ‘Ibope aponta vitória de Brizola’. No texto, está dito: ‘A última pesquisa do Ibope antes das eleições, divulgada ontem, prevê a vitória do candidato do PDT, Leonel Brizola, com 31,3% dos votos. Moreira Franco, do PDS, obteve o segundo lugar, com 26,8%; Miro Teixeira, do PMDB, 14,1%; Sandra Cavalcanti, do PTB, 8,9% e Lysâneas Maciel, do PT, 3%’. No dia 17 de novembro, a manchete de primeira página do jornal era: ‘Brizola lidera no Rio e na Baixada’. No dia 19: ‘Acelera-se a apuração na capital: Brizola mais perto de Moreira’. No dia 20: ‘Brizola avança no Rio; interior quase no fim’. Está tudo nos arquivos do Globo, mas, para os mais paranóicos, nos da Biblioteca Nacional também.
13) A TV Globo não agiu diferente. No dia 15 de novembro, no momento em que a legislação eleitoral permitia a divulgação das pesquisas de boca de urna, Carlos Monforte anunciou em rede nacional: ‘Para o Rio de Janeiro, a pesquisa IBOPE dá exatamente a vitória para o PDT de Leonel Brizola com a margem de 5% de diferença do 2º colocado, o candidato do PDS Wellington Moreira Franco’. Aparecia, então, uma arte, com a foto dos candidatos, com Monforte narrando em off: ‘No Rio, a pesquisa IBOPE dá a vitória a Leonel Brizola do PDT com 31,3% dos votos; em segundo lugar, Moreira Franco,do PDS, com 26,8%. Indecisos no Rio de Janeiro eram 9,7%’. No Jornal Nacional do dia 16, Sérgio Chapelin deu os primeiros resultados, com Brizola momentaneamente na frente: ‘A apuração oficial no Rio foi muito lenta hoje. Várias cidades no interior do estado só começaram a contar os votos à tarde. As primeiras urnas demoraram até quatro horas para serem apuradas. Até o momento, está na frente o candidato do PDT, Leonel Brizola. Em segundo, está o candidato do PDS, Moreira Franco. E, em terceiro, o candidato do PMDB, Miro Teixeira. Brizola está vencendo a eleição em Nova Iguaçu e São João de Meriti. Moreira Franco tem ligeira vantagem nas outras cidades do interior, em Niterói e em São Gonçalo’.
14) Com manchetes como aquelas, que contribuição à fraude poderiam ter dado as Organizações Globo?
15) No dia 17 de novembro, já era patente que algo ia errado com a apuração dos votos. O ritmo era lento, os votos contados eram em sua maioria do interior e Moreira Franco aparecia, na contagem oficial, à frente de Brizola. Apesar disso, devido às projeções, as manchetes do Globo, baseadas em projeções, continuavam a apontar a vitória de Brizola. A Globo não tinha outros números a divulgar senão os do TRE e os do Globo, que davam Moreira na frente, porque as urnas do interior, onde Brizola tinha menos votos, eram contadas mais rapidamente. No terceiro dia da apuração, no dia 18 de novembro, Leonel Brizola convocou a imprensa internacional para uma entrevista. Em vez de responder aos repórteres, bem ao seu estilo Brizola começou a entrevista fazendo uma pergunta: ‘Os senhores não acham estranho que no terceiro dia de apuração só haja 200 urnas apuradas’? Depois, Brizola se disse ‘apreensivo, preocupado e angustiado em relação à possibilidade de fraude na apuração’. E afirmou: ‘Só a fraude ameaça a nossa vitória’. E criticou o trabalho das Organizações Globo, dizendo que ao divulgar números diferentes de outros veículos de comunicação, ajudava a criar um ambiente favorável à fraude: ‘Notamos uma angústia muito grande devido a dados que se contradizem com os resultados oferecidos por outros meios de divulgação. E isso vem gerando um ambiente de muita confusão’. Aqueles, no entanto, eram os únicos números que a TV Globo tinha e, já desde daquele dia, passou a divulgar projeções dando a vitória de Brizola. O Jornal Nacional daquele dia divulgou a entrevista de Brizola aos correspondentes estrangeiros.
16) No mesmo dia, ao tomar conhecimento das críticas de Brizola, Armando Nogueira, então diretor da Central Globo de Jornalismo, convidou-o para uma entrevista no programa diário ‘Show das eleições’, que ia ao ar às dez e meia da noite. Brizola exigiu que a entrevista fosse ao vivo e que tivesse no mínimo vinte minutos, o que foi aceito prontamente, porque era, desde o início, a idéia de Armando. A entrevista acabou tendo meia hora e, com ela, Brizola amplificou para todo o Brasil, em horário nobre, suas suspeitas de fraude. Foi na Globo, por iniciativa dela e graças à sua enorme audiência, que o país tomou conhecimento das suspeitas do candidato. Na entrevista, Brizola voltou a se queixar do fato de que a TV Globo divulgava resultados defasados, mas, em momento algum, acusou a Globo de estar por trás de uma trama para fraudar as eleições. Em dado momento, Armando Nogueira perguntou: ‘Estamos acompanhando aqui a sua entrevista, com natural interesse, e a certa altura pareceu que o senhor ficou preocupado, em dado momento da apuração, com a correção do trabalho dos profissionais da Rede Globo, entre os quais eu figuro, humildemente, mas com muito orgulho. E eu perguntaria ao senhor, governador, se é justo que profissionais com um passado, alguns com um futuro, quase todos com um futuro, devam merecer, numa hora de paixão, um tratamento tão rigoroso da parte de um homem público, por parte de quem a gente tem um apreço. Eu gostaria de fazer esta pergunta, que ela é quase pessoal. O senhor me desculpe introduzir uma pergunta pessoal, mas em nome de cerca de dois mil jornalistas… E eu me sinto no dever de fazer essa pergunta ao senhor’. Brizola respondeu: ‘Perfeito. Com muito carinho, com muito prazer, Armando. Sabe que eu dou essa resposta com aquela franqueza que me caracteriza não é verdade? E nós devemos sempre usar esse método da franqueza, da lealdade. Eu registrei o que era real. Eu não cheguei a entrar no mérito. Eu não cheguei, de forma nenhuma, a considerar que tivesse havido má fé. Não cheguei, absolutamente. Eu registrei uma situação real existente aqui no Rio de Janeiro e também os meus próprios sentimentos. Porque eu senti o nosso Rio, no conjunto, desmerecido. Chegava a ser anunciado: ‘Olha, logo em seguida, vem o Rio de Janeiro!’ E depois vinha o Acre, vinha Rondônia, e nada. Então, eu registrei isto: é que faltava essa informação.[Brizola referia-se à escassez de dados sobre o Rio, já que as apurações do T.R.E eram lentas e a totalização do Globo acontecia apenas uma vez por dia.] Agora, pode ser que tenha entupido… os canais tenham se entupido aí. Havia dificuldades… Porque numa organização grande é assim, às vezes o gigantismo‚ uma doença das organizações. Isto pode acontecer, isto pode ocorrer. Isto sem desmerecer os profissionais, não é verdade’?
17) Brizola estava sendo irônico, mas o diagnóstico dele era preciso: os canais se entupiram. A TV Globo divulgava os números do jornal O Globo, que, como já disse, fazia uma coleta completa, registrando o voto dado a cada candidato, de vereador a governador. Cada mapa preenchido pelos estagiários tinha cerca de mil números (é preciso ter me conta que se registrava o voto em cada candidato a todos os cargos eletivos de todos os partidos). O processo era longo, demorado. O estagiário da Rádio Jornal do Brasil coletava uma quantidade muito menor de números: os votos para os cinco candidatos ao governo do estado e ao senado. Era muito mais ágil e eficiente. No interior, o enorme trabalho das equipes do Globo foi facilitado pelos juízes eleitorais, que permitiam que se fizessem cópias xerox dos mapas para que os números pudessem ser mais facilmente copiados nas planilhas. Na capital, dado o clima de paixão, os juízes só autorizavam que os mapas fossem copiados onde estavam, pendurados nas paredes, sem a possibilidade de se obter uma cópia. Para o estagiário do Globo, o trabalho era insano. O resultado foi ineficiência e atraso. Daí porque os votos do interior saíam com mais rapidez.
18) No dia 24 de novembro, o Senador Saturnino Braga, da tribuna do Senado, fez um discurso acusando a Proconsult de tentar fraudar as eleições, com o apoio das Organizações Globo. Foi a primeira e única vez que um ataque infamante como aquele fora feito de maneira direta, sem a apresentação de provas e quando a vitória de Brizola já era dada como certa.
19) No dia seguinte, Iran Frejat, que era o responsável pelos trabalhos de apuração do Globo, tendo sido o responsável pelo modelo de cobertura e pela central de computadores do jornal, escreveu uma carta aberta a Saturnino, rebatendo as acusações. O jornalista, que era irmão de José Frejat, candidato a deputado pelo partido de Brizola, apresentou-se como eleitor de Saturnino e Brizola e rechaçou, de modo apaixonado, todas as acusações.
20) No dia 27 de novembro, o Jornal do Brasil denunciou que, juntamente com a Rádio Jornal do Brasil, havia sofrido pressões da Proconsult, por meio de seu vice-presidente, Arcádio Vieira, para mudar os resultados que vinha divulgando. O JB informou que recusara oferta de Arcádio para que usasse os números da Proconsult e que demitira seu gerente de Métodos e Sistemas, Tadeu Lanes, que se mostrara receptivo aos argumentos do executivo da Proconsult. Basta consultar os arquivos dos jornais da época.
21) O TRE, no mesmo dia, pediu abertura de inquérito na Polícia Federal e aprovou a realização de uma auditoria técnica na Proconsult. Dois dias depois, a divulgação de boletins do TRE sobre as eleições no Rio foi suspensa.
22) Em quatro de dezembro, a auditoria do Serpro entregou o seu relatório ao T.R.E., apontando inúmeros erros de procedimento da Proconsult e mostrando que a totalização de votos tinha sido mal planejada. Naquele dia, o T.R.E. não divulgou o relatório do Serpro, limitando-se a divulgar nota considerando a Proconsult apta a retomar os trabalhos de totalização, depois das medidas corretivas sugeridas pelo Serpro.
23) No dia 13 de dezembro, o TRE divulgou o resultado final das eleições no Rio: Leonel Brizola venceu com 1.709.264 votos (34,2%) contra 1.530.728 (30,6%) de Moreira Franco.
24) No dia 16 de dezembro, o Serpro divulgou o relatório entregue ao T.R.E. onze dias antes. A leitura do relatório deixa claro que a auditoria apontou erros de procedimento, fez uma série de recomendações e, ao fim, concluiu: ‘É de se admitir que, se forem mantidas as condições de trabalho hoje observadas, isso é, for assegurado o mesmo grau de confiabilidade dos programas ora verificado, for mantida a integridade dos arquivos e consistência dos dados, e forem adotadas as recomendações acima, os serviços de totalização das eleições de 15 de novembro de 1982 no Estado do Rio de Janeiro poderão ser levados a bom termo. Este é o nosso parecer’.
25) No mesmo dia, o promotor Celso Fernando de Barros requisitou ao T.R.E. nova perícia na Proconsult para determinar por que a Proconsult errara tanto. O tribunal, por unanimidade, recusou o pedido. Na ocasião, o desembargador Jalmir Gonçalves da Fonte, coordenador da comissão de apuração, declarou: ‘Nada disso evidencia que os erros foram intencionais. Foram erros humanos atribuídos ao açodamento dos serviços e à exaustão das pessoas, a ponto de ser necessário afastar os técnicos, não por suspeita, mas por entender que já estavam cansados. Foram todos erros naturais, erros humanos e que já tinham sido corrigidos quando começou a auditoria’.
26) No dia sete de janeiro de 1983, a Polícia Federal divulgou suas conclusões sobre o inquérito da Proconsult. No relatório, está dito que ‘a Proconsult não praticou fraudes na computação dos votos’, cometendo apenas ‘pequenas falhas’.
27) Se a Proconsult é inocente ou não, infelizmente ninguém pode dizer com certeza. Eu desconfio que os indícios apontem para a tentativa de fraude. Afirmar, porém, que as Organizações Globo ‘tentaram fraudar as eleições’ é infâmia, calúnia e difamação. Se o esquema de totalização de votos do Globo se mostrou ineficiente, as manchetes do jornal dando a vitória a Brizola e o acolhimento irrestrito e imediato, pela Globo, em horário nobre, das denúncias de Brizola foram um antídoto contra a fraude. Tudo o que aqui expus está documentado. Tenho os recortes de jornais, as fitas de vídeo. Não escrevo nada de memória, porque a memória é sempre sujeita a falhas.
28) Eram esses os esclarecimentos que tinha a fazer. Longos, mas necessários.
(*) Diretor-executivo de jornalismo da TV Globo.’
Eliakim Araújo
‘Resposta À TV Globo’, copyright Direto da Redação (www.diretodaredacao.com), 27/06/04
‘Ao contrário do Diretor-Executivo de Jornalismo da TV Globo, que leu com ‘desalento’ meu artigo ‘Globo se rende a Brizola’, li sua ‘Resposta a Eliakim’ (publicada em www.comunique-se.com.br) com satisfação, pois, apesar de longas e minuciosas explicações e da alegada ‘pesquisa em documentos’, o texto de Kamel acabou por confirmar na prática tudo que afirmei baseado em jornais e revistas da época, em minha memória e no meu testemunho, que pode ser ratificado por dezenas de profissionais que estavam na Globo e na Rádio JB nos idos de 1982.
Na ânsia de defender o indefensável, Kamel acabou enredando-se numa teia de datas e informações para tentar justificar as falhas no sistema de apuração da TV Globo e da Proconsult, empresa contratada pelo TRE para informatizar a apuração. A divulgação dos resultados com atraso provocaram reações indignadas de Leonel Brizola e dos pedetistas, que suspeitaram do envolvimento da emissora numa tentativa de fraude na contagem de votos. Todo esse ‘imbroglio’, que se convencionou chamar Escândalo Proconsult, nunca foi devidadamente esclarecido e creio que nunca o será. Somente uma rigorosa investigação poderá determinar se houve ou não a tentativa de fraude e a quem interessaria mudar o resultado da vontade popular nas urnas em benefício do candidato apoiado pelo regime militar.
Para que o leitor julgue o que de fato aconteceu, recorro ao texto de defesa da Globo, da lavra do próprio Ali Kamel. É ele quem aponta algumas irregularidades ocorridas na apuração dos votos em 1982. Transcrevo suas palavras:
1. ‘O Globo desenvolveu um sistema próprio, sem qualquer vinculação com Proconsult. Estávamos ainda na pré-história da informática. Esse esquema revelou-se de pouca valia para a TV Globo, pois ela só tinha informação fresca uma vez ao dia, e bem tarde. O esquema poderia funcionar para um jornal impresso, mas estaria fadado a dar errado para uma emissora de televisão’.
2. ‘A Rádio Jornal do Brasil, montou esquema mais modesto e, por isso, mais ágil. Com um detalhe: em vez de anotar os votos em cada candidato a vereador, em cada candidato a deputado estadual, em cada candidato a deputado federal, em cada candidato a senador e em cada candidato a governador, de cada partido, o estagiário se concentrava apenas nos votos dados aos candidatos a senador e governador. E repassava os dados por telefone público. Como se tratava de uma rádio ‘all news’, tinha-se a necessidade de dados o tempo todo. Para isso, foi montado um esquema que permitia totalizações freqüentes’.
3. ‘No dia 17 de novembro, já era patente que algo ia errado com a apuração dos votos. O ritmo era lento, os votos contados eram em sua maioria do interior e Moreira Franco aparecia, na contagem oficial, à frente de Brizola’.
4. ‘No terceiro dia da apuração, no dia 18 de novembro, Leonel Brizola convocou a imprensa internacional para uma entrevista. Em vez de responder aos repórteres, bem ao seu estilo Brizola começou a entrevista fazendo uma pergunta: ‘Os senhores não acham estranho que no terceiro dia de apuração só haja 200 urnas apuradas’? Depois, Brizola se disse ‘apreensivo, preocupado e angustiado em relação à possibilidade de fraude na apuração’. E afirmou: ‘Só a fraude ameaça a nossa vitória’. E criticou o trabalho das Organizações Globo, dizendo que ao divulgar números diferentes de outros veículos de comunicação, ajudava a criar um ambiente favorável à fraude’ (as aspas estão do texto de Kamel).
5. ‘No dia 24 de novembro, o Senador Saturnino Braga, da tribuna do Senado, fez um discurso acusando a Proconsult de tentar fraudar as eleições, com o apoio das Organizações Globo. No dia seguinte, Iran Frejat, que era o responsável pelos trabalhos de apuração do Globo, tendo sido o responsável pelo modelo de cobertura e pela central de computadores do jornal, escreveu uma carta aberta a Saturnino, rebatendo as acusações’.
6. ‘No dia 27 de novembro, o Jornal do Brasil denunciou que, juntamente com a Rádio Jornal do Brasil, havia sofrido pressões da Proconsult, por meio de seu vice-presidente, Arcádio Vieira, para mudar os resultados que vinha divulgando. O JB informou que recusara oferta de Arcádio para que usasse os números da Proconsult e que demitira seu gerente de Métodos e Sistemas, Tadeu Lanes, que se mostrara receptivo aos argumentos do executivo da Proconsult’.
7. ‘O TRE, no mesmo dia, pediu abertura de inquérito na Polícia Federal e aprovou a realização de uma auditoria técnica na Proconsult. Dois dias depois, a divulgação de boletins do TRE sobre as eleições no Rio foi suspensa.No dia sete de janeiro de 1983, a Polícia Federal divulgou suas conclusões sobre o inquérito da Proconsult. No relatório, está dito que ‘a Proconsult não praticou fraudes na computação dos votos’, cometendo apenas ‘pequenas falhas’ (as aspas são do texto de Kamel).
Repito: os trechos acima transcritos ipsis litteris foram todos tirados do relatório do diretor de jornalismo da Globo. São a prova cabal das muitas irregularidades que macularam o processo eleitoral de 1982. É claro que não houve a fraude, que foi abortada a tempo pela reação de Brizola e de seus eleitores. Mas o próprio Kamel admite que houve a tentativa, como se pode deduzir de sua conclusão:
‘Se a Proconsult é inocente ou não, infelizmente ninguém pode dizer com certeza. Eu desconfio que os indícios apontem para a tentativa de fraude. Se o esquema de totalização de votos do Globo se mostrou ineficiente, as manchetes do jornal dando a vitória a Brizola e o acolhimento irrestrito e imediato, pela Globo, em horário nobre, das denúncias de Brizola foram um antídoto contra a fraude’.
Creio que nada mais é preciso dizer sobre o sistema de apuração montado pela TV Globo e pela Proconsult. As informações arroladas pelo próprio diretor da Globo são auto-explicativas. Para encerrar o assunto Eleições 82, gostaria apenas de transcrever trecho do artigo Proconsult – um caso exemplar, de autoria de Procópio Mineiro, então chefe de jornalismo da Rádio Jornal do Brasil:
‘No finalzinho da noite desse primeiro dia, recebi o primeiro de uma série cada vez mais tempestuosa de telefonemas, que se estenderiam por mais seis dias, do responsável pela Proconsult, Arcádio Vieira. Como matemático, analisava minha apuração e concluia que a vitória final seria de Moreira Franco por ‘uns 60 mil votos’. Os argumentos, porém, eram pouco matemáticos: falavam na elevada proporção de votos que seriam (seriam!) anulados na conferência final antes da entrada dos dados no computador. Ou seja, os mapas procedentes das juntas apuradoras iriam ser alterados, porque os pobres (eleitores do Brizola) não teriam competência para preencher com correção a cédula, muito complexa, pois a eleição envolvia também a escolha de senadores, deputados estaduais e federais, prefeitos e vereadores. Somado tudo, daria vantagem de 60 mil votos para o candidato do regime militar.
Basicamente foi esta a cantilena do homem da Proconsult nos infalíveis telefonemas, que chegaram às ameaças nos últimos contatos. Foi uma semana tumultuada: de um lado nós, da Rádio JB, com os números somados dos mapas do próprio TRE dando vitória a Brizola; do outro, a Proconsult, com seu dirigente falante, e o Sistema Globo, afirmando a vitória do Moreira, com o suporte bombástico da televisão.
A Rádio JB dera um flagrante inesperado: revelara os números reais – o pronunciamento da maioria do povo – antes que a combinação dos ‘60 mil’ se materializasse. No final da semana, enquanto Brizola se anunciava vencedor com base nos números da Rádio JB, o Sistema Globo recompunha seus números, aproximando-os da verdade. Um mês depois, imerso em crise, o TRE apresentou seus números: eram os nossos com diferenças de milésimos’. (publicado no site www.votoseguro.org)
Era o que eu tinha a dizer sobre a resposta do diretor de jornalismo da TV Globo ao meu artigo ‘Globo se rende a Brizola’. Espero ter contribuído para aclarar assunto tão nebuloso. Deixo que os leitores analisem as informações e, se possível, tirem sua conclusão. Sempre que se resgatam e esclarecem questões nebulosas do passado de uma nação é que se pode ter a certeza de que os mesmos erros não serão cometidos no futuro.
Quanto ao favorecimento da Globo ao então candidato Collor, fiquei sabendo pela resposta de Kamel que não foi só um Globo Repórter a alavancar a candidatura Collor em 89. Kamel informa que foram dois: um em abril de 87 e o outro em setembro do mesmo ano. Em ambos o tema era Os marajás do Funcionalismo Público e em ambos Collor ganhou espaço suficiente para expor suas ‘idéias moralizantes’ (grifo meu) que eram seu mote de campanha. Como Kamel não era funcionário da emissora naquela época, seria de suma importância que ele investigasse qual a orientação editorial que o editor-chefe desses programas recebeu da direção das Organizações Globo. É ingênuo acreditar que tais programas ofereciam uma visão geral do funcionalismo em vários estados. Em televisão, pode-se perfeitamente passar a mensagem que se deseja em poucos minutos, mesmo que o programa tenha uma hora. A Globo sabe disso muito bem.
O que não ficou claro nas explicações de Kamel é se a Globo se pautava pela Veja, ou vice-versa. Mas o que pode-se inferir é que as duas empresas de comunicação estavam de mãos dadas no mesmo projeto de levantar o tema da caça aos marajás, exatamente a bandeira de Collor. Coicidência, não?
Agradeço a gentil atenção do Diretor-Executivo de Jornalismo da Globo e devo dizer-lhe, por derradeiro, que a minha memória e o meu testemunho pessoal valem mais do que mil fitas e documentos que – quem trabalha em televisão sabe disso muito bem – podem ser editadas ou exibidos apenas parcialmente e de acordo com os nossos interesses. PS. Peço desculpas aos meus leitores tradicionais pelo tamanho da coluna de hoje. Tive que alongar-me pelo excesso de informações recebidas da TV Globo. Da minha parte, considero o assunto encerrado e não pretendo voltar a ele seja qual for a postura da emissora.’