‘Assassino confesso da jornalista Sandra Gomide, morta com dois tiros pelas costas em agosto de 2000, o jornalista Antônio Marcos Pimenta Neves continua em liberdade e deve ser julgado apenas neste semestre em Ibiúna, interior de São Paulo, local do crime. A defesa, no entanto, continua entrando com recursos especiais no Superior Tribunal de Justiça para protelar o júri popular.
Valendo-se de brechas jurídicas, a intenção da defesa de Pimenta Neves, segundo a avaliação de advogados que acompanham o caso, é adiar o julgamento até o jornalista completar 70 anos, daqui a dois anos. Assim, a pena para o homicídio duplamente qualificado, que é de 30 anos, cairia à metade.
Ministério Público tenta barrar manobra da defesa
O Ministério Público Estadual tenta barrar a manobra e há dez dias enviou ao Tribunal de Justiça um relatório de 30 páginas em que se posiciona contrário ao mais recente recurso da defesa que não deseja que o caso vá a júri popular. Caso aceite a argumentação, o TJ poderá marcar o julgamento para até julho. O tribunal deve se manifestar sobre o pedido nas próximas semanas. Em caso de júri popular, serão escolhidos sete entre os 80 mil habitantes de Ibiúna.
– A demora só se explica em razão de o assassino estar em liberdade. Se estivesse preso, o julgamento já tinha ocorrido – critica o advogado dos Gomide, Luiz Fernando Pacheco.
Na instrução do processo, os advogados de Pimenta Neves valeram-se de dezenas de testemunhas, inclusive no exterior. Além disso, a defesa tem entrado com recursos protelatórios com prazos de análises extensos. O advogado de Pimenta Neves, Carlo Frederico Muller, não quis comentar o caso.
– Apenas nos manifestaremos nos autos – disse.
– A defesa entra com um recurso atrás do outro e o crime não é julgado – observa o promotor de Ibiúna Carlos Sérgio Rodrigues Horta Filho.
Amigos de Pimenta Neves garantem que ele pouco sai de casa, embora esteja namorando. O jornalista mora num sobrado no Alto da Boa Vista, bairro de classe média alta de São Paulo.’
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‘‘Tenho medo que crime prescreva e ele continue solto’’, copyright O Globo, 27/03/05
‘Ex-sargento do Exército, João Florentino Gomide, de 66 anos, pai da jornalista Sandra Gomide, afirma que toda a sua família está morrendo aos poucos. Chorando, Gomide diz que espera não precisar ter de fazer justiça com as próprias mãos, mas diz que seria capaz de matar o ex-genro e se suicidar caso o jornalista seja absolvido.
Desde o crime, em agosto de 2000, Gomide teve de implantar quatro pontes de safena. O crime deixou sérios problemas psíquicos na mãe de Sandra, Leonilda Gomide. Ela esteve numa clínica psiquiátrica, toma remédios controlados e tem graves alterações de comportamento. Durante a entrevista, gritava com o marido.
– Essa foi a herança que esse traste nos deixou – diz Gomide, que usa uma bengala para se locomover, após implantar uma prótese no quadril.
Inconformado com a demora no julgamento, ele diz que encontra uma única explicação para tanta morosidade:
– A Justiça está avacalhada e só pode estar sendo comprada. Pimenta sempre foi um homem muito influente e isso o está ajudando. Não entendo como alguém que confessa ter matado uma pessoa com dois tiros pelas costas ainda está livre. Tenho medo que o crime prescreva e ele continue solto – diz ele.
O pai de Sandra, no entanto, diz que aguarda ansiosamente que Pimenta Neves seja condenado a ‘morrer na prisão’. Por duas vezes, desde o assassinato, Gomide esteve em frente à casa do jornalista.
– Numa das vezes fiquei seis horas esperando ele aparecer. Queria apenas ver a cara desse sem-vergonha. Queria saber como ele anda vivendo depois de matar uma família inteira.’
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‘Crime ocorreu em 2000’, copyright O Globo, 27/03/05
‘A jornalista Sandra Gomide, de 32 anos, foi assassinada em 20 de agosto de 2000. Ela levou um tiro nas costas e outro no ouvido esquerdo. De acordo com testemunhas, o segundo disparo foi feito quando ela já estava caída. Sandra morreu na hora.
Pimenta Neves não se conformara com o rompimento do namoro. Após ameaçar Sandra e até invadir o apartamento dela, resolveu cercá-la num haras em Ibiúna. O jornalista usou balas especiais, reforçando a tese de crime premeditado.
Após o crime, Pimenta Neves fugiu, escapando do flagrante. Dois dias depois, foi internado num hospital e, dali, transferido para uma clínica, onde ficou dias 15 dias, até ser preso. Passou seis meses na cadeia e foi libertado por uma decisão do Supremo Tribunal Federal.’
PUBLICIDADE & PUBLICITÁRIOS
‘O galo da Páscoa’, copyright No Mínimo (www.nominimo.com.br), 27/03/05
‘Neste governo que, bem ou mal, não deixa de ser o do publicitário Duda Mendonça, todo jornalista que ainda tem a pachorra de cobrir assuntos políticos precisa ler com urgência a reportagem de Ken Auletta, que está da revista ‘New Yorker’ desta semana. Sob o título ‘O novo lema’, ela encara uma pergunta que mais cedo ou mais tarde o presidente Lula terá que fazer a seu marqueteiro eleitoral: será a que a boa e velha publicidade ainda funciona?
A resposta parece o resultado de uma rinha de galos. Todo mundo sai lanhado do texto, à medida que Auletta bate na porta das grandes agências americanas perguntando o que os clientes ganharam com os cinco bilhões de dólares que no ano passado gastaram com autopromoção só nos Estados Unidos. E ver um publicitário vender seu próprio peixe não deixa de ser divertido, ainda por cima na Páscoa.
Auletta avisa que o mundo da publicidade mudou. Já não é mais aquele do cinema americano, em que todos os publicitários ocupavam escritórios na Avenida Madison, almoçavam nos mesmos restaurantes e tinham nomes que nem precisavam se anunciar, tipo Ogilvy Benson & Mather, Young & Rubicam, McCann-Erickson ou J. Walter Thompson. Mas o mercado passou ultimamente por convulsões tectônicas e as placas em migração puseram na praça, da noite para o dia, siglas multinacionais como a WPP – quer dizer, Wire and Plastic Products, ou ‘produtos de arame e plástico’, um ex-fabricante de cestos metálicos na Inglaterra. A globalização passou pela Madison também.
Enquanto a publicidade se condensava em conglomerados anônimos, a audiência da televisão pulverizava-se em dezenas de canais, num planeta cada vez mais povoado por novos meios de comunicação, como a internet. Resultado: os publicitários passaram a tocaiar o público com ‘táticas de guerrilha’ – por exemplo, anunciar os Dunkin Donuts colando etiquetas na testa dos universitários americanos. Foi assim, como o brasileiro mais desavisado já percebeu, que a propaganda voltou sem ser convidada às salas de cinema.
‘Em 1965’, conta a reportagem, ‘os anunciantes podiam atingir 80% de seus mais cobiçados espectadores – aqueles entre 18 e 45 anos – simplesmente comprando espaço na CBS, na BBC ou na ABC.’ Agora, a cada campanha os publicitários têm que descobrir aonde eles foram parar. Embora ainda haja programas de TV que nadam contra a diáspora dos telespectadores. O seriado ‘Friends’, em seu último capítulo, apartou no mesmo canal 55 milhões de americanos.
Mas, nos Estados Unidos – ou seja, se não já, mais cedo ou mais tarde também aqui no Brasil – as pessoas que têm hoje de 13 a 24 anos passam mais tempo diante de um computador, surfando a internet, do que vendo televisão, segundo a Mediamark Research Inc., citada na reportagem. Na internet, eles comparam preços, lêem testes dos produtos e trocam figurinhas com outros consumidores. Mas nem por isso os novos anunciantes perderam os velhos hábitos. Para lançar o Ipod – seu aparelho de MP3 – com o slogan ‘mil músicas em seu bolso’, a Apple investiu 24 milhões de dólares pesquisando o produto e 45 milhões em nove meses de publicidade.
Desse dinheiro todo, só 206 mil dólares foram parar em anúncios na Web. A novidade pegou. ‘Mas a verdadeira razão para o iPod levar às cordas o mercado de música digital é bem mais simples’, diz Auletta. ‘O produto tinha sido brilhantemente concebido e desenhado. E a promoção boca-a-boca fez o resto.’ E essa, como se sabe, atualmente se propaga via internet.
Em resumo, poucos anos atrás o típico publicitário bem sucedido era dono de um vasto ego cheio de certezas. Hoje, tem um vasto ego cheio de dúvidas. Tinham uma técnica e fingiam que era mágica. Agora fazem mágica e fingem que é uma técnica. Está na hora, portanto, de apresentar o modelo de Auletta. Ela se chama Lind Kaplan Thaler. É o que se chama, no meio, uma profissional da criatividade. Autora de máximas do gênero ‘não importa se a notícia é boa ou ruim; apareça’. Ou pior: ‘Às vezes me incomoda que os clientes estejam pagando pelo tempo que passamos trabalhando em seus projetos, em vez de pagar pelo valor das idéias’. Para ela, o segredo é subir à tona ‘num mar de mesmice’.
Dito e feito. Num mercado que está definhando, a agência Kaplan Thaler, fundada em 1997, desabrochou. Em 2003, foi cotada como a segunda empresa que mais crescia no ramo e a primeira de Nova York. Tem 140 funcionários e contas orçadas em 600 milhões de dólares. Nada mal, para oito anos de idade.
A sua é uma dessas histórias que só acontecem na publicidade ou em crônica de Luis Fernando Verissimo. Ela cresceu no Bronx, queria ser professora de matemática ou ensinar música. Trabalhou no palco e deu aulas de piano. Tinha um aluno que trabalhava numa agência e um dia lhe pediu um jingle. Ganhou notoriedade instantânea com o anúncio de um sanduíche que se irritava por não ser besuntado com certa marca de mostarda. Fez uma campanha mitológica para a Kodak. E chegou lá de uma vez por todas com um pato que dizia o nome do cliente – ‘Aflac’.
Vale a pena ouvir a história do próprio Auletta: ‘A companhia de Thaler estava concorrendo com outra agência e tinha seis semanas para conceber uma campanha. O time de criação de Eric David e Tom Amico, que lideravam o trabalho, começavam a se sentir frustrados. Caminhando para o almoço um dia, David repetia em silêncio: ‘Aflac! Aflac!’ Começou a falar a palavra em voz alta. Voltou correndo para o escritório, parou diante da mesa de Amico e, num tom anasalado, grasnou: ‘Aflac, Aflac’. Em cinco minutos, eles escreveran a primeira peça do comercial da Aflac’. As vendas da seguradora dobraram de tamanho em quatro anos.
Seis anos depois, quando Auletta entrevistou Thaler, encontrou-a cercada de potenciais clientes. A maioria vai ali querendo sua própria versão do pato Aflac, ela explicou ao repórter. Em seu cartão de visitas, acaba de acrescentar a palavra ‘animadora’. Com a tal criatividade transbordando por todos os lados, ela está de olho na carreira artística que tinha deixado para trás. A publicidade continua infalível para promover publicitários.’
JORNALISMO ECONÔMICO
‘Yes, nós temos impostos’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 28/03/05
‘A elevada carga tributária do Brasil, suficiente para afugentar investimentos produtivos e, porque não, improdutivos, na medida em que a CPMF taxa as aplicações no mercado financeiro, chamou a atenção do editor da revista americana Newsweek. O assunto virou destaque na revista desta semana, numa reportagem que mostra o Brasil como uma nação que tem uma das mais pesadas cargas tributárias do mundo. Em termos de imagem, parte considerável do esforço que se tem feito lá fora para melhorar a posição do Brasil em relação aos concorrentes se perde quando esse tipo de informação é divulgada numa publicação importante como essa.
O texto faz comparações com impostos do século 18, que eram considerados extorsivos. Na época os portugueses cobravam um quinto de todo o ouro encontrado no País, ou seja, 20%. Hoje a carga está em 37%, o brasileiro trabalha cerca de 4 meses para pagar impostos ao governo, de forma direta ou indireta. O título da reportagem é ‘Hora de dizer basta?’ e mostra que pela primeira vez os empresários e os trabalhadores se insurgiram contra mais uma tentativa do governo de aumentar a carga tributária. Eles se referem à MP 232, que deve ser votada por esses dias no Congresso e aumenta os impostos principalmente dos prestadores de serviços.
De forma bem humorada, o texto lembra que por causa dos elevados impostos surgiu, no século 18, a Inconfidência Mineira e pergunta: ‘O que Tiradentes diria agora? Mais de um em cada três reais que os brasileiros ganham vai para os governos locais, estatais e federal, numa sopa de letras de encargos: ICMS, Cofins, CPMF, que chega a 61 no total. No Brasil, informa a revista, se paga quase o dobro dos impostos cobrados pelo Chile e pelo México, por exemplo, países que muitas vezes disputam atração de investimentos estrangeiros com o Brasil.
Vou tratar muitas vezes do assunto tributação, pois realmente considero o tema importante e de vital importância para um país que precisa criar empregos e atrair capitais. Se a carga tributária está na casa dos 37% do Produto Interno Bruto, não seria prudente ao governo trabalhar para fazer cair esse índice, procurar adequar seus gastos, principalmente alguns de caráter absolutamente improdutivo?
Esse assunto é tão grave que esse movimento dos empresários e trabalhadores deveria ser acompanhado de forma sistemática pela imprensa, deveria haver mais reportagens e maior espaço para a discussão de quanto o governo vem arrecadando, qual é sua estrutura de gasto, o que poderia ser cortado? Essa discussão minuciosa raramente vemos na imprensa, a não ser em dia de votação desse tipo de medida provisória, ou quando sai a arrecadação da Receita Federal ou ainda um dia quando todos se movimentam para protestar em Brasília contra mais uma tentativa de elevar os impostos.
Enquanto o tema não vira prioridade, assistimos mês a mês a novos recordes na arrecadação de impostos. Pior que tudo isso é saber que em qualquer parte do mundo o volume de impostos está diretamente ligado à qualidade dos serviços. Tenho certeza de que a carga tributária, mesmo nos níveis atuais, não seria considerada um exagero se o sistema de saúde funcionasse, se houvesse estradas decentes, se o sistema de segurança fosse eficiente, se não houvesse crianças nas ruas. Os cidadãos pagariam sem reclamar. Mas não é isso que acontece. Estamos longe de tudo isso.’
Carlos Chaparro
‘A caça ao dinheiro dos aposentados’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 18/03/05
‘O XIS DA QUESTÃO – Os aposentados do INSS estão expostos, sem defesa, ao massacre manipulador de campanhas de venda do crédito fácil, com desconto das parcelas na fonte. O INSS, ou seja, o governo, faz parte desse jogo sujo, porque o viabiliza, por meio de convênios que garantem a operação bancária, pondo os bancos a salvo de quaisquer riscos. E sem dar aos aposentados informações que os elucidem, para a tomada da decisão que mais lhes convenha.
1. Truque ilusionista
De vez em quando, alguém fala ou escreve sobre a escandalosa quantidade de aposentados do INSS que recebem, por mês, algo em torno de um salário mínimo, ou seja, mais ou menos R$ 300,00. Me lembro que, nos tempos de antigamente, o tema era recorrente nos discursos do líder sindical Lula – o mesmo Lula que, como presidente da República, também já algumas vezes botou fala sobre essa vertente organizada da exclusão social, em nosso país.
Os números, oficiais ou oficiosos, eventualmente citados por aí, autorizam a que se trabalhe com a presunção de que esses sobreviventes do sistema constituem a parcela mais representativa dos brasileiros aposentados. Uma legião de condenados à pobreza perpétua.
Dado a heróica capacidade de sofrer dos trabalhadores aposentados na faixa do salário mínimo, podemos imaginar serem eles os grandes homenageados da campanha ‘O melhor do Brasil é o brasileiro’. Se assim tiver sido, pobre governo e pobres aposentados, porque essa é uma campanha de enganação, feita sob medida, para que não se vislumbre nem se avalie a realidade próxima.
Ao inflar a alma dos pobres com mensagens ufanistas, é como se o governo lhes dissesse: ‘Esqueçam a vossa pobreza’. E na emoção produzida pelas peças publicitárias está o truque ilusionista: agita-se uma frase de efeito, para que não se perceba nem se discuta a dureza injusta da vida real.
Na mesma linha de ilusionismo político-social, eis que os aposentados do INSS estão agora expostos, sem defesa, ao massacre manipulador de campanhas de venda do crédito fácil, com desconto das parcelas na fonte. O INSS, ou seja, o governo, faz parte desse jogo sujo, porque o viabiliza, por meio de convênios que garantem a operação bancária, pondo os bancos a salvo de quaisquer riscos.
Ao tomador do empréstimo não resta nem a possibilidade da inadimplência… Quaisquer que sejam as necessidades e circunstâncias, terá de pagar a dúvida, mês a mês.
Trata-se de um despudorado incentivo ao endividamento dos pobres, em campanhas publicitárias caríssimas, que percorrem os melhores espaços e horários da televisão, com a argumentação de venda entregue aos encantos irresistíveis e à força testemunhal de pessoas públicas famosas – seres quase míticos com enorme poder de convencimento, como Hebe Camargo, Ana Maria Braga, Paulo Goulart, Nair Belo, Emerson Fitipaldi e Suzana Vieira – esta, transformada em heroína nacional pela última novela das oito.
2. Ilusão social
Sob o ponto de vista econômico, pela ótica neoliberal, o esquema do dinheiro fácil é inquestionavelmente esperto. Encaixa-se com perfeição na lógica materialista do capitalismo e tem tudo para se tornar um enorme sucesso. Sucesso principalmente para os bancos, que mergulharam com guloso e justificado apetite nesse novo filé de dinheiro disponível. Os ganhos chovem também no comércio. Há dias, ouvi no rádio um desses especialistas que acompanham o movimento das vendas em São Paulo, e ele falava de indícios fortes de que o acesso ao crédito fácil já se faz sentir no aumento do consumo de bens duráveis.
E o governo, não lucra – ele que, embora sem alardes, apadrinha essa verdadeira armadilha social?. Lucra, sim, politicamente, e muito, pois vê a economia aquecida, apesar da ausência de investimentos que seriam de sua obrigação. A mágica do crédito fácil serve para esconder a própria omissão do governo e a sua incapacidade de investir em projetos geradores de empregos.
Ainda por cima, com o vigor da campanha publicitária promovida pelos bancos interessados, cria-se a ilusão social de que um programa desses distribui felicidade aos pobres. Com o aval do INSS.
3. Publicidade enganosa
Não se pode exigir dos agentes capitalistas, em especial dos bancos, que deixem de lutar pelo lucro. Seria pedir-lhes a renúncia ao objetivo preponderante da sua própria atividade. No lucro está a essência dos mecanismos econômicos do sistema. Mas não se pode admitir, numa sociedade que se diz democrática, organizada pelas razões de valores humanísticos, que se deixem desprotegidos, à mercê de campanhas publicitárias enganosas, os segmentos mais frágeis e carentes da população.
O grande objetivo das democracias, tal como as concebemos no modelo social-democrata, que serviu de matriz à Constituição brasileira de 1988, é a elaboração consistente de pontos de equilíbrio que compatibilizem a indispensabilidade da competição econômica (que no neoliberalismo chega a ser feroz) e a proteção aos direitos humanos, como razão prioritária da própria democracia. Isso se consegue com leis e códigos que imponham aos poderes e às partes em conflito o balizamento de um conceito prioritário de cidadania.
Leis, nós as temos, tão boas quanto as das melhores democracias. Mas não temos a convicção social de que as leis devem ser levadas a sério. Há absurdos como este, do qual os jornais de hoje (sexta-feira, 18 de março) nos dão notícia: o Controlador-Geral da União, sr. Waldir Pires, responsável no governo pela investigação de irregularidades nos gastos públicos, está sendo convidado a devolver à Câmara Federal o apartamento funcional em que mora indevidamente, e que deveria ter sido entregue há 745 dias.
Sim, leis, nós as temos. Temos, por exemplo, um avançado Código de Defesa do Consumidor, que proíbe a publicidade enganosa,definindo-a como ‘qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir ao erro o consumidor a respeito da natureza, característica, qualidade, quantidade, propriedade, origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos e serviços’.
Para os efeitos do Código do Consumidor, ‘a publicidade é enganosa por omissão quando deixar de informar sobre dado essencial do produto ou serviço’.
O que os bancos estão fazendo é publicidade enganosa. Com a ajuda da omissão do INSS, que nada informa no sentido de elucidar os aposentados, para a tomada da decisão que mais lhes convenha, sobre a natureza, os riscos, as vantagens e desvantagens do crédito pessoal, com desconto automático na fonte.’