Há alguns anos, um dos maiores empresários brasileiros, Antônio Ermírio de Morais, determinou à família que, em caso de ser seqüestrado, mesmo sob ameaça de morte, não concordasse com qualquer tipo de resgate.
Com essa atitude, Antônio Ermírio terá ficado mais seguro ou menos seguro?
Mais seguro: os seqüestradores sabem que nada vão obter de sua família. Podem matá-lo, e enfrentar o poder do Estado (a segurança pública se torna subitamente eficiente quando a vítima é de porte); podem mantê-lo seqüestrado, sabendo que a polícia se aproxima, sabendo que nada obterão de lucro. Ou – esta é a opinião deste colunista – poderão optar por outra vítima.
As Organizações Globo, no caso do seqüestro de sua equipe de reportagem, agiram com toda a correção: apanhados de surpresa, e nos poucos momentos que tiveram para decidir, seus dirigentes optaram por salvar a vida dos funcionários. Mas, se a decisão foi correta naquele momento, não pode servir de base a uma política a ser seguida permanentemente pelas empresas de comunicação. A menos que queiram deixar suas equipes em permanente risco de seqüestro, devem decidir que não vão aceitar pedidos de resgate – seja em dinheiro, seja de que modo for; e tornar pública a decisão, para que se saiba que não haverá concessões em hipótese alguma.
O seqüestro da equipe da Globo mudou a maneira de fazer jornalismo no Brasil. As empresas terão de zelar pela segurança de seu pessoal. Isso inclui proteção especializada, equipamento (coletes blindados, por exemplo), seguros para o funcionário e sua família; contratação, eventualmente, dos serviços de companhias internacionais especializadas em lidar com seqüestradores.
Não é questão de orgulho, de salvar as aparências, de aparentar serenidade: é questão de segurança. E é estranho que as empresas, oficialmente, percam tempo com manifestos inócuos, e não estejam ainda debatendo com especialistas brasileiros e estrangeiros como lidarão com esses casos no futuro.
Os limites do infinito
Liberdade de expressão, sim; e nos termos da Constituição americana, que impede o Congresso de impor limites à liberdade de expressão. Só que isso não inclui, digamos, gritar ‘fogo’ numa sala superlotada, provocando pânico e mortes. Isso não inclui, também, interferir em telecomunicações aéreas e orientar erradamente os aviões. As palavras matam.
Neste momento, há publicações que, a pretexto de não interferir na liberdade de expressão de seus consumidores, abrem espaço para que manifestem preconceitos que violam a lei brasileira. Um respeitado (e respeitável) colunista deixou que em seu blog um leitor afirmasse que Hitler tinha razão e que deveria ter exterminado os judeus (e, naturalmente, as demais etnias que, a seu ver, seriam sub-raças: negros, árabes, eslavos, ciganos). Sua justificativa: ‘Este comentário passou sem que eu o visse’.
Uma publicação que se proclama de esquerda divulgou elogios à obra suprema da extrema direita e do racismo, ‘Os Protocolos dos Sábios de Sião’, falsificação elaborada pela Okhrana, polícia secreta do Czar de Todas as Rússias, mais tarde adotada na Alemanha pelo Partido Nazista de Adolf Hitler.
Liberdade de expressão, sim. Mas que encontre limites no bom senso. Se outros países estão em guerra, podemos tomar posição em favor de um ou de outro, mas não devemos importar para o Brasil os ódios que aqui (ainda) não existem.
Os limites da censura
Desde o início desta campanha eleitoral, o grupo político que apóia a reeleição do senador José Sarney (PMDB-AP) bloqueou por três vezes a manchete da edição online da Folha do Amapá. E qual foi a terrível, devastadora manchete que levou o grupo político do senador a pedir sua retirada do ar, e ser atendido pelo Tribunal Regional Eleitoral?
Está aqui transcrita: ‘Capiberibe tem 53,6% dos votos válidos e pode vencer no 1º turno’.
Qual é o problema? Que estará acontecendo no Amapá, que um jornal é seguidamente censurado, embora a Constituição brasileira (promulgada, a propósito, quando o hoje senador José Sarney era presidente da República) proíba a censura? Por que é proibido publicar o resultado de uma pesquisa?
É estranho. E há outras coisas estranhas: primeiro, o Tribunal Superior Eleitoral não avocar a questão, considerando que não é normal retirar tantas vezes uma notícia do ar; segundo, a sociedade civil ficar quietinha, sem protestar contra aquilo que, pelo menos aos olhos pouco experientes em assuntos jurídicos deste colunista, parece-se muito com perseguição política. E, terceiro, cadê os órgãos que representam patrões e empregados do mundo jornalístico? Cadê a Fenaj, cadê a Associação Nacional do Jornais, cadê a ABI? Se é para ficar quieto enquanto a censura come no longínquo Amapá, a violência terá de se aproximar a que distância de Brasília para que alguém se preocupe?
Fotos velhas. E temos similares.
As publicações escritas e virtuais exploraram muito as cenas da pulada de cerca dos príncipes herdeiros de Sua Majestade britânica (que não se preocuparam nem um pouco com a presença dos fotógrafos). São cenas antigas, de uns dois anos atrás, que a imprensa também não se importou de só publicar agora (a propósito, publicou primeiro e depois de alguns dias informou que eram velhas).
Não há economia de detalhes íntimos: numa das fotos, o príncipe Harry apalpava os seios de uma simpática jovem, amiga de infância, que parecia muito feliz em suas mãos reais e imperiais.
O pessoal não precisava ir tão longe. Há tempos, numa daquelas chatíssimas carreatas, em algum lugar do Brasil, um candidato famoso passou o tempo apalpando os seios de uma gostosíssima eleitora. A carreata estava tão chata que nenhum repórter viu o que estava acontecendo. Um fotógrafo, dizem, registrou as cenas e vendeu o filme a um adversário do político. Mas já não havia tempo de usar as fotos em campanha. E, nas campanhas seguintes, ambos já eram aliados.
E eu com isso? – 1
Não, os telejornais da manhã não são suficientes. Nem os excelentes noticiários do rádio são capazes de suprir nossa fome de notícias. Temos de ligar o computador e buscar nos portais da internet a informação que nos satisfaça. Não podemos iniciar o dia em paz sem saber que:
1.
Britney Spears e marido fazem cerimônia de renovação de votos.2.
Ricardo Mansur curte nova namorada.3.
André Gonçalves e Cynthia Benini terminam casamento.E eu com isso? – 2
Prepare-se: em sua próxima viagem a Los Angeles, pode acontecer algo que não é mencionado em nenhum dos guias de turismo da região. Lá, há excelentes estradas, em geral bem conservadas, mas o perigo é iminente (como só nós, que temos acesso às informações confidenciais, sabemos). Veja só:
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Gwyneth Paltrow diz que é descontrolada no trânsitoAquelas informações tão difundidas sobre a pudicícia vigente na capital mundial do cinema também não devem ser levadas em conta. Ao contrário do que imaginamos sobre o recato das principais atrizes de Hollywood, veja:
1.
Estrela de Lost deixa as costas à mostra em evento da série2.
Decotada, Jessica Biel exibe curvas em premièreAliás, a mulher americana é diferente da brasileira. Aqui (ainda bem!) as mulheres exibem muito mais curvas em derrière.
Como é mesmo?
Pois é: numa longa notícia, somos informados de que a fábrica espanhola de pirulitos que ostenta o prazeroso nome de Chupa Chups vai lançar uma coleção em Paris. Como será, caro leitor, uma coleção de pirulitos?
Mas não, não é nada disso: os baleiros espanhóis vão lançar uma coleção de moda. Roupas femininas para mulheres entre 18 e 30 anos, com ’70 looks inspirados nas cores e sabores dos produtos da marca’.
Cores, tudo bem – mas sabores? Para desfrutar os sabores Chupa Chups em sua plenitude não seria mais prático dispensar os vestidos?
Todos ao chão
A história dos Chupa Chups é ótima, mas o grande título da semana se refere à estréia de Diego, aquele meia que o Santos revelou junto com Robinho e que joga hoje na Alemanha. Diz a manchete esportiva:
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Todos os olhos estarão sob Diego no duelo Werder x Leverkusen.Seremos obrigados, todos nós, a deitar-nos no campo para apreciar de baixo para cima o belo futebol do meia brasileiro? E os jogadores, todos eles, prometerão, enquanto isso, não pisar na gente?
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Jornalista, diretor da Brickmann&Associados