‘Na primeira manchete do Jornal Nacional:
– Testemunha da chacina reconhece seis policiais.
E na primeira manchete do Jornal da Record:
– Testemunha reconhece na Justiça sete PMs acusados pela chacina.
Seis ou sete, são todos soldados. O chefe da Polícia Civil do Rio, segundo os relatos, ‘descartou a participação de comandantes’, ou ainda, ‘de oficiais da Polícia Militar’, ou ainda, ‘de PMs graduados’, ou ainda, ‘de alto escalão da PM’.
E acabou, segundo o mesmo chefe da Polícia Civil:
– Nós vamos, na medida do possível, encerrar o caso o mais rápido possível.
Ontem, na Globo Online:
– A governadora Rosinha Garotinho se encontra com as candidatas ao título de miss Brasil. Elas tomam um chá no Palácio Laranjeiras.
E no Pará, segundo a Folha Online, foi aberto ‘inquérito para apurar o envolvimento de um delegado no esquema de proteção ao madeireiro supostamente envolvido no assassinato de Dorothy Stang’.
É só mais uma ‘acusação’, mas diante das notícias e cenas de esquadrões de policiais no Rio, em São Paulo e no Paraná o engajado ‘Brasil de Fato’ deu em manchete:
– Policiais aterrorizam pobres no campo e na cidade.
PAÍS DE CONTRASTES
Fantástico na Nigéria
Lula ‘já está na África’. Ele ‘desembarca na Nigéria’. Ele ‘é recebido por dança folclórica’. ‘Está agora num jantar.’
A falta de estofo na cobertura de TV, rádio e web que cumpre o ‘roteiro’ do AeroLula é seguida de esforços curiosos. A Globo iniciou uma série sobre a Nigéria, ‘terra mãe da África’. Glória Maria:
– O país mais populoso da África, três religiões, 250 dialetos. A Nigéria é um país de contrastes. Tem cidades modernas como Lagos e vilarejos parados no tempo. Nossa viagem começa por Sokoto. Aqui, os nigerianos se reúnem para celebrar as suas tradições.
Tem mais no domingo que vem. E no outro.
‘Meus filhos’
Estava lá, de novo, até nas manchetes do JN. Severino Cavalcanti, para o país ver:
– Essa história de nepotismo é [criticada] por fracassados, por aqueles derrotados que não souberam criar os seus filhos. Eu criei os meus filhos e estou fazendo, indicando um que freqüentou universidade.
Foi na posse, segundo a Globo, de ‘José Maurício Valadão Cavalcanti Ferreira, economista de 49 anos, filho do presidente da Câmara dos Deputados’.
Globo e o Rio
O Bom Dia Brasil noticiou a proposta de ‘reverter a fusão’ entre o Rio e o Guanabara, em discussão no Congresso.
Mas a Globo, emissora carioca, destacou que ‘um estudo da federação das indústrias indica que a cidade-Estado não sobreviveria economicamente’.
Um mês depois
E ontem, segundo o RJTV, a intervenção federal na saúde do Rio completou um mês:
– Ainda há problemas.
As filas continuam e ‘o atendimento está muito lento’, segundo mais de um carioca.
Divisões
Como destacaram até canais brasileiros de notícias, foi adiada a eleição do novo secretário-geral da Organização dos Estados Americanos, após cinco empates seguidos. De um lado, um mexicano apoiado pelos Estados Unidos, do outro, um chileno apoiado pelo Brasil.
Não é só na OEA que o racha Norte/Sul se evidencia, nas Américas. O ‘Financial Times’ e a Globo deram ontem as ‘divisões’ no Banco Interamericano de Desenvolvimento.
Os EUA e o Japão resistem à entrada da China, apoiada por Brasil e Argentina. Ao fundo, aqui também, a disputa pela chefia do BID, com os nomes de Pedro Malan e João Sayad.
Sem cadeira
México e Argentina, por outro lado, se uniram ontem em Nova York contra o desejo do Brasil de ter uma cadeira permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Além dos dois, segundo o ‘FT’, foram à reunião Itália (contra a Alemanha), Paquistão (contra a Índia), China e Coréia do Sul (contra o Japão).’
***
‘O monstro’, copyright Folha de S. Paulo, 11/04/05
‘Demorou mais de uma semana, mas o Fantástico celebrou ontem, com emoção, os mortos da chacina na Baixada Fluminense.
Locução de Cid Moreira, sobre os quatro amigos adolescentes, da mesma sala de aula, tomados como símbolos:
– Douglas, Felipe, Leonardo e Bruno morreram fuzilados naquela noite, a poucos metros de casa, quando brincavam com um jogo eletrônico.
A música de fundo, os bilhetes dos colegas, as recordações das mães, em lágrimas. Soa piegas. Não foi.
Foi ação de ‘um bando de policiais militares’, reiterou o Fantástico, bem como Jornal Nacional, Jornal da Record e Jornal da Band, no sábado.
É o que dizem, abertamente, o secretário de Segurança e a Polícia Federal. E até o inglês ‘Guardian’, sob o título ‘O monstro do Rio se ergue novamente nos subúrbios pobres’.
O monstro é o esquadrão da morte, cujas raízes estariam no ‘regime militar e na criação da PM’. Identificado, a questão é o que fazer com ele.
Na Globo News e na Folha Online, o prefeito de Nova Iguaçu defendeu mais uma ‘intervenção’ federal, agora na PM, que não teria ‘forças para revolver suas entranhas’.
Na Jovem Pan e na Globo Online, o ministro José Dirceu correu a dizer que o governo federal prepara um plano de ação para ‘trabalhar junto com o governo estadual’.
O governo estadual, até onde foi possível acompanhar, calou-se outra vez.
SEM FÉ E SEM LUTO
Segundo o italiano ‘La Stampa’, destacado na Folha Online, o Vaticano começa a juntar milagres do papa morto, a caminho da canonização.
Já na revista on-line Slate o célebre colunista Christopher Hitchens fez o ataque mais violento até aqui. Sob um título em que dizia declinar do ‘luto’, criticou desde ‘a cumplicidade, para dizer o menos, com o massacre de Ruanda’ até as canonizações de um cardeal ‘aliado nazista’ e do ‘aterrorizante fundador da Opus Dei, famoso pela ligação com Franco’. E encerrou:
– Nós, que não temos fé, não acreditamos que o papa sofrerá punição eterna pelos milhões que morrerão desnecessariamente de Aids, ou por desculpar e dar abrigo aos que cometeram o pecado imperdoável de estuprar e torturar crianças, ou pelo sem-número cujas vidas sexuais foram arruinadas por vergonha e culpa e que são ensinados a respeitar o corpo apenas quando é de um cadáver sem vida como o de Schiavo.
Sob a influência
Do JN, em manchete:
– Lei do silêncio. Cardeais querem tranqüilidade para escolher o novo papa.
Não é bem assim, reagiu o ‘Washington Post’. Citando um ‘assessor’, o diário deu que ‘a nova regra mostrou a influência de Joseph Ratzinger’, que ‘levantou a idéia’.
O cardeal alemão é um dos ‘papáveis’. E um dos motivos para a lei do silêncio, segundo o ‘WP’, foram os cardeais latino-americanos que pediam um papa ‘da região’.
Em tempo: saiu a lista das cem pessoas ‘mais influentes’ do mundo, segundo a nova ‘Time’. Entre os apontados, ele mesmo, Joseph Ratzinger.
Decisão
Do cardeal d. Eugênio Salles, brasileiro como d. Cláudio Hummes, à mesma reportagem do ‘WP’, ontem:
– Os cardeais foram instados a não dar entrevista a ninguém. A decisão não foi minha.
Incompreensão
Silenciada em outros tempos pelo mesmo Joseph Ratzinger, a Teologia da Libertação foi tema de um dossiê ontem no ‘Los Angeles Times’, com relatos enviadas de Roma e quatro cidades latino-americanas. De d. Paulo Evaristo Arns:
– Nós não fomos compreendidos… Parte da liderança secular se perdeu.
DA TV À WEB
O próximo papa, para o ‘New York Times’, ontem, deve ser alguém com boa performance de mídia. Para além da TV, o site italiano TGCom, como apontou o Nomínimo, aproveitou a dica e avaliou as relações dos papáveis com a web. O alemão Joseph Ratzinger sai na frente, com dois sites. Já o brasileiro Cláudio Hummes é aberto à internet, divulga seu e-mail pessoal, mas o site de sua arquidiocese é muito limitado.
Na mesma direção, outra campanha em andamento, na Grã-Bretanha, vem sendo anunciada por ‘Observer’ e ‘Financial Times’, entre outros, como ‘a eleição da web’ -e não mais tão-somente da TV.’
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‘Culto’, copyright Folha de S. Paulo, 8/04/05
‘A Globo viajou virtualmente com o Aerolula.
Desde o Bom Dia Brasil, com as cenas do avião levantando vôo, carregando a ‘comitiva ecumênica’. Depois no Hoje, com a ‘pose para foto dos principais convidados da comitiva do presidente’.
Depois no minitelejornal Globo Notícia, que a rede lançou nesta semana, com Fátima Bernardes dizendo que ‘o presidente respondeu às declarações de d. Eusébio Scheid’.
Na locução de Willliam Bonner, já no Jornal Nacional, ‘o presidente disse que crer em Deus é uma relação muito pessoal, que não precisa se tornar pública, e completou: ‘Todo mundo sabe que sou um homem de muita fé’.
No meio do caminho, em Recife, a Globo chegou a registrar:
– Foi realizado um culto ecumênico na cabine do presidente. Todos os políticos e religiosos participaram. Rezaram um ‘Pai Nosso’ e o rabino Henry Sobel encerrou dizendo que João Paulo 2º foi um homem de coração enorme, no qual cabiam todos os filhos de Deus.
Para fechar a longa viagem virtual no JN, a imagem de Lula e FHC conversando, animados, ao deixar o Aerolula.
Da britânica ‘The Economist’ ao americano ‘The Washington Times’ e ao italiano ‘La Reppublica’, este com um texto do vaticanista Marco Politi, prosseguiam ontem os relatos sobre a intensa campanha por um papa latino-americano.
Por outro lado, nas publicações da própria região, como o mexicano ‘Reforma’, a campanha evidenciava torcida pelos cardeais de cada país.
E confirmando a redescoberta da teologia da libertação o francês ‘Le Monde’ publicou longo artigo de Leonardo Boff sobre o legado do papa.
Para o teólogo, ‘o que define João Paulo 2º não é a reforma, mas a contra-reforma’.
TORMENTO
A ‘Economist’ escreveu ontem sobre o ‘atormentador de Lula’, Severino Cavalcanti, seus parentes e seus ‘perigos’, inclusive a inviabilização de ‘reformas ambiciosas’
Grandes perdas
Enquanto um novo movimento cobra na Fiesp a valorização do dólar, o ‘Financial Times’ trazia ontem, em sua home page, um ‘alerta de risco do dólar para os pobres’.
Segundo o jornal, traduzido pelo UOL, ‘países em desenvolvimento que acumularam grandes reservas em dólar estão diante de uma ameaça cada vez maior de grandes perdas’.
PFL x PSDB
Em encontro, o PFL atacou ontem, segundo a Folha Online, o ‘modelo social-democrata’ de ‘alta carga tributária’ imposto pelo PSDB. No encontro, o ex-secretário da Receita de FHC, Everardo Maciel.
Mais um
Na ‘onda esquerdista’ latino-americana, o próximo pode ser Andrés López Obrador, do México. Mas ele é ameaçado por um esforço do atual governo de torná-lo inelegível.
Curiosamente, ontem não saiu da região, mas de ‘New York Times’, ‘Washington Post’, ‘Financial Times’ e até ‘Wall Street Journal’ a pressão para que, no editorial do ‘NYT’, ‘deixem os eleitores decidir’.
Efeito Haiti
Andres Oppenheimer, da CNN e do ‘Miami Herald’, propôs ontem um Conselho de Segurança para a Organização dos Estados Americanos.
NO SÉTIMO DIA
A governadora Rosinha Garotinho apareceu para falar sobre ‘a maior chacina do Estado do Rio’ sete dias depois. Foi em ‘entrega de veículos’ ao Corpo de Bombeiros. Dela, na Globo Online:
– É lamentável que não sejam divulgados todos os bons atos e as boas coisas que conseguimos realizar no governo. A imagem que tentam passar do governo do nosso Estado é sempre de desgraça.
Pela primeira vez em público em uma semana, disse que tem ‘estado’ com o secretário de Segurança ‘todos os dias’. Quanto ao secretário anterior, o presidenciável Anthony Garotinho, segue longe das câmeras. Ou ainda, segue nos comerciais do PMDB.’
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‘Os libertos’, copyright Folha de S. Paulo, 6/04/05
‘Começou antes mesmo da morte do papa.
O teólogo suíço Hans Küng, na revista ‘Der Spiegel’ da semana passada, traduzido no UOL, escreveu longo artigo dizendo que João Paulo 2º ‘se provou uma decepção e, no fim das contas, um desastre’.
Colega do brasileiro Leonardo Boff na linha de frente da teologia da libertação, ele questionou o poder da Opus Dei, o celibato dos padres e até a ‘política de recursos humanos’.
Boff também escreveu artigo de avaliação do papado de João Paulo 2º, para o site católico latino-americano Adital, mas usou de tom mais contido -até com elogios, irônicos, à ‘irresistível dramatização mediática’ e à ‘publicidade social’.
Como Küng, Boff questionou no texto a centralização e a ‘moral rígida’. Em entrevista ao site Carta Maior, acrescentou críticas duras ao fortalecimento da Opus Dei e às ‘divisões criadas dentro da Igreja’.
Com as palavras dos dois teólogos, ambos punidos por João Paulo 2º ao longo das últimas décadas, o brasileiro mais que o suíço, a teologia da libertação reabriu suas portas.
Ontem se liam despachos de agências e reportagens com enunciados como este da britânica Reuters, em sites de jornais diversos pelo mundo:
– A teologia da libertação poderá recuperar o ímpeto em países em desenvolvimento como o Brasil, com a morte do papa, declaram bispos próximos ao movimento.
Entre outros, opinaram assim d. Tomás Balduíno e d. Pedro Casaldáliga, este talvez o último dos punidos por João Paulo 2º, poucos meses atrás.
A teologia da libertação está à solta, mas é uma força marginal no cenário eclesiástico que a cobertura vai desenhando, ao menos no exterior.
O ‘Washington Post’ voltou a destacar ‘o suave e experiente’ d. Cláudio Hummes entre os favoritos à sucessão, mas salientando que ele ‘suprimiu o ardor da igreja brasileira pela teologia da libertação, mantendo, ao mesmo tempo, o compromisso com a justiça social’.
O ‘New York Times’, em longa reportagem de Larry Rohter, também com destaque para d. Cláudio na sucessão, sublinhou os esforços de João Paulo 2º para banir a teologia da libertação, culminando com a indicação dos cardeais latino-americanos ligados à Opus Dei.
‘GOTT IST BRASILIANER’
‘Deus é brasileiro’ foi o título da reportagem sobre a sucessão papal na nova edição da alemã ‘Der Spiegel’. Do inglês ‘The Times’ ao francês ‘Le Figaro’ e ao russo ‘Pravda’, a conversa é a mesma: a América Latina abriu campanha para eleger o papa -e ‘o cardeal Hummes é visto como o principal candidato’.
Outros defenderam ontem um papa latino-americano, como os cardeais de Santiago e Santo Domingo, mas o que os jornais citados e outros mais repetem é mesmo a declaração de Lula, lançada no sábado.
Daí talvez a reação inusitada de d. Eusébio Scheid, do Rio, ontem no Jornal da Band, opondo a torcida de Lula à decisão do ‘Espírito Santo’.
PIQUENIQUE
Lula no ‘FT’
‘No momento em que o Reino Unido se prepara para sua eleição’, o ‘Financial Times’ fez longa entrevista com o diretor brasileiro João Moreira Salles sobre ‘Entreatos’, o documentário que acompanhou Lula na campanha de 2002. Sob o título ‘Política em toda a sua embaraçosa realidade’, o texto evidencia, como maior embaraço para Lula no filme, a sensação de que a campanha parecia ‘piquenique’. Do cineasta:
– Em nenhum instante ele pára para refletir sobre a enormidade do que está para acontecer.
RJ, SP, PR
Outra chacina e, outra vez, como traziam os telejornais de ontem e dos últimos dias, são policiais os assassinos. Isso, na Baixada Fluminense, no Estado do Rio de Janeiro.
Mas ontem também veio nova manchete, no Jornal da Band e nos demais:
– Polícia Federal prende policiais acusados de liderar pistoleiros no Paraná.
Segundo o JN, são ‘milícias’ contra sem-terra, pagas por ‘propina de fazendeiros’. E ainda havia mais, nas manchetes do Jornal da Record:
– Integrantes da elite da PM paulista são presos acusados de assaltar empresas.
Pobres x pobres
Sobre a outra eleição global em andamento, o ‘Financial Times’ deu reportagem se perguntando se a disputa na Organização Mundial do Comércio está ‘jogando pobres contra pobres’. O problema, segundo o texto, não é a divisão em três candidatos, de Brasil, Uruguai e Ilhas Maurício -e sim os ‘tratamentos especiais oferecidos pelos blocos ricos’.
Enquanto os pobres se dividem, o ‘Wall Street Journal’ noticia que os EUA já elogiam o candidato lançado pela União Européia como único representante dos ricos.’
PULITZER 2005
‘Prêmio Pulitzer 2005 revela seus vencedores’, copyright O Estado de S. Paulo, 6/04/05
‘A romancista americana Marilynne Robinson foi contemplada com o prêmio Pulitzer 2005 de melhor romance, entregue na segunda-feira à noite na Universidade de Columbia, nos Estados Unidos. A escritora, de 58 anos, foi premiada por Gilead, que conta a história de um pastor à beira da morte. Marilynne se destacou em 1981 ao lançar Housekeeping, sobre dois jovens que vivem no campo no Estado americano de Idaho, sua terra natal. John Patrick Shanley ganhou o Pulitzer de dramaturgia por Doubt, a Parable, que fala do abuso sexual de crianças dentro da Igreja Católica. O prêmio de poesia foi para o poeta Ted Kooser, por seu livro Delights & Shadows. Outros premiados foram Mark Stevens, pela biografia do pintor Willem de Kooning, e David Hackett Fischer, por seu livro de temática histórica Washington’s Crossing.’
MERCADO DE TRABALHO
‘Excelente jornalista. E desempregado’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 6/04/05
‘Há alguns anos, uma colega jornalista, responsável pela comunicação de uma empresa do setor de energia, pediu-me ajuda para selecionar profissionais para o cargo de assessor de um projeto ambiental desta companhia. Recebemos uma enxurrada de currículos recheados de cursos, especializações, mestrados e até doutorados no campo sócio-ambiental, o que nos evidenciava que os jornalistas interessados nessa área buscavam sempre uma qualificação superior.
Vários estavam desempregados e outros apenas buscavam uma colocação nova. Mas todos possuíam características em comum: não trabalhavam em redação ou haviam saído de uma há muito tempo – ou, ainda, sequer haviam militado em alguma durante toda a sua vida profissional.
Interessante: jornalistas altamente qualificados no assunto meio ambiente, em nível técnico equivalente dos mais gabaritados em áreas tradicionais, como economia e política, estavam fora das redações. Essa constatação se adequava a uma outra verificação empírica. Conhecidos meus, que há quase 10 anos integram a Rede Brasileira de Jornalistas Ambientais, em sua maioria trabalhavam fora de veículos de informação. Sem prejuízo de lembrar daqueles que continuam batucando excelentes pautas sócio-ambientais em revistas, jornais, rádios, tevês e, mais recentemente, sites.
E isso acontece em um mercado de trabalho cujo discurso é o enxugamento de quadros, onde em tese sobreviveriam apenas os mais qualificados e profundos conhecedores do assunto abordado.
Eu não imaginava que essa tese meio darwiniana se aplicasse integralmente ao mercado de trabalho para jornalistas brasileiros. Também tenho claro que algo parecido acontece em outras áreas do jornalismo. Há enorme irracionalidade nos cortes e contratações que grassam em nossa profissão. Mas, daí a constatar que alguns dos mais qualificados e reconhecidos profissionais brasileiros não estavam a cumprir o papel social do jornalista, trabalhar pela difusão ampla da informação equilibrada e justa, para que esta sirva de subsídio ao exercício da cidadania, da democracia e do espírito republicano, vai uma distância abismal.
Há algumas hipóteses que explicam o fenômeno. A que mais se aproxima do que considero correto é a de que o mercado adquiriu conformação tal que vai se desfazendo daqueles profissionais capazes de produzir uma informação tão crítica que colocam em questão a própria lógica da produção da informação nos meios de comunicação de massa.
Em outras palavras: os meios de informação vêm se distanciando daquele tipo de instituição jornalística que já não existe, mas que ainda freqüenta o nosso imaginário. Uma empresa que tinha na difusão da informação jornalística e crítica a sua razão de ser e não se limitava ao papel de provedor de entretenimento.
Não imagino que algum dia houvesse existido uma instituição perfeitamente equilibrada e neutra em seus propósitos, que não expressasse o projeto político de determinados setores da sociedade que quase sempre o foram daqueles dominantes. Mas, continuo a achar que as instituições por menos que o façam, sempre espelham o avanço dos valores sociais.
O equilíbrio sócio-ambiental adquiriu tamanho peso que é tão difícil encontrar alguém que se coloque abertamente contra esse tipo de valor social quanto achar uma pessoa que se assuma racista. Valores são construções sociais definidas no tempo e no espaço e as instituições sempre os expressam. seja da forma que for.
Entretanto, essa quase máxima não tem sido verdade quando o assunto é a cobertura sócio-ambiental – creio que a seção de cultura padece de mal equivalente. Ambos, o sócio-ambiental e a cultura, continuam sendo cobertos de forma episódica, descontextualizada, pontual. Mais confundem pelo excesso de informação do que explicam pelo aprofundamento e uma das principais razões é a falta de gente sensibilizada para esses fenômenos nas redações. Há razões do tipo, digamos, meta-editoriais como a decisão de algumas empresas de informação que defendem certas posições devido a interesses pecuniários ou políticos ou ambos, de forma apaixonada.
Esta é uma forma pessimista de concluir um artigo: tendo a certeza de que o quadro é dramático. Talvez estejamos passando por uma enorme reavaliação do papel e do espaço da imprensa, em todas as áreas e em nível mundial. A ver.’
Eduardo Ribeiro
‘Novo tabu quebrado pelas mulheres’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 6/04/05
‘Em editorial que escreveu para a edição da revista Exame que chegará às bancas ainda esta semana, Roberto Civita dá ciência aos leitores da troca de comando editorial da publicação. Sai Eduardo Oinegue e no lugar dele assume a até então redatora-chefe Cláudia Vassallo. Em tese, uma troca absolutamente natural e gratificante para a empresa, sobretudo a partir da constatação de serem duas genuínas pratas da casa.
Oinegue ostentava já 19 anos de Abril, 18 deles vividos em Veja, e Cláudia já ia além dos 13 anos de empresa, todos eles muito bem cumpridos na própria Exame. Ambos tendo como porta de entrada o Curso Abril de Jornalismo. Um detalhe, no entanto, chama mais atenção no texto em que Civita comenta a transição: Cláudia é a primeira mulher a dirigir a revista Exame, quebrando um tabu histórico, numa publicação que já teve, entre seus diretores (da revista e do Grupo Exame), nomes como Guilherme Veloso, Rui Falcão, Antonio Machado, Paulo Nogueira, Sidnei Basile, Clayton Netz e, mais recentemente, Eduardo Oinegue.
Não é pouco, sobretudo considerando-se que Cláudia, pouco antes do convite que recebeu do diretor editorial Tales Alvarenga, havia pedido demissão, disposta a assumir novos desafios profissionais na ainda relativamente jovem carreira. Cláudia, desse modo, dá seqüência à série de conquistas perpetradas pelas mulheres em postos de comando nos mais variados setores do jornalismo, inclusive no Econômico.
Temos já o exemplo de Vera Brandimarte que, diretora-adjunta do Valor Econômico, viu-se alçada à condição de diretora plena da Redação com a doença de Celso Pinto. Vera assumiu e tem correspondido, até onde podemos perceber de fora, as expectativas, ajudando a consolidar e a expandir um dos mais sérios e ambiciosos projetos jornalísticos criados no País nos últimos anos. Na própria Abril, temos Maria Teresa Gomes, no comando da Você S/A, e Sandra Carvalho, na Info. E tivemos, mais incrível ainda, Cíntia de Almeida, no comando da Playboy – esse um tabu que poucos esperavam que um dia fosse quebrado.
As mulheres, por todos os indicadores existentes, já são maioria tanto nas redações quanto nos bancos universitários, nos cursos de jornalismo. Apesar disso, sua ascensão ao comando dos veículos ainda se dá de forma lenta e de certo modo parcimoniosa. Mas a cada dia vemos que os tabus vão caindo e os postos de comando, mesmo em veículos apontados como ‘privativos’ de homens, começam a ser ocupados com naturalidade por mulheres. Temos, é bem verdade, vários tabus para serem quebrados ainda, mas isso é apenas uma questão de tempo. Pode demorar alguns anos, mas chegará o dia em que também veremos mulheres no comando de publicações ‘másculas’ como Veja, IstoÉ e Época, de jornais da estirpe de um Estadão, de uma Folha de S.Paulo, de um O Globo, de um Zero Hora, de um Estado de Minas, do jornalismo das principais redes de televisão do País como Globo (sem esquecer que Alice Maria já chegou lá), Band, Record e Cultura etc.
Nomes felizmente não faltam e estão aí Lillian Witi Fibe, Miriam Leitão, Márcia Raposo, Fátima Turci, Nair Suzuki, Dora Kramer, Dorrit Harazin, Eliana Cantanhêde, Cláudia Safatle, para ficar apenas em alguns dos nomes mais conhecidos. Não deixa de ser uma esperança em dias melhores, visto que a sensibilidade da mulher sempre faz a diferença onde quer que ela participe. E a imprensa precisa de sensibilidade, emoção e ousadia, características muito facilmente encontráveis nas nossas estimadas companheiras de trabalho e de sonho.’