‘Pelo menos três gerações se lembram da cena mais chocante que viram no cinema, talvez logo no primeiro filme que viam na vida: abatida pelos caçadores, a mãe de Bambi morria. O desenho animado de 1942 produzido por Walt Disney contava a história do pequeno veado que, órfão, sofria seu rito de passagem numa floresta sombria. Fosse produto da indústria cultural dos EUA de hoje, a sra. Bambi seria dissecada por uma equipe de legistas, escreveria do céu depois de morta, sofreria técnica de ressuscitamento por veterinários ultrapreparados ou, pior, veria seu filho crescer para combater o terrorismo.
Na última semana, dos dez livros mais vendidos de ficção do jornal ‘The New York Times’, seis tinham a morte como tema principal. Do 11 de Setembro (‘Saturday’, de Ian McEwan) a um homem escrevendo do céu (‘The Five People You Meet in Heaven’, de Mitch Albom), da vítima de um franco atirador urbano (‘Cold Service’, de Robert P. Parker) a um possível terrorista, que recebe o perdão presidencial e passa a ser seguido pela CIA (‘The Broker’, de John Grisham).
Na TV, segundo a medição do instituto Nielsen, os cinco programas mais vistos na semana passada que não eram ‘reality show’ passavam todos pelo sombrio: ‘CSI’, o pioneiro da franquia de médicos legistas e o campeão dos campeões, seguido pelo vice ‘Desperate Housewifes’, em que a narradora se suicidou no primeiro episódio e conta tudo a partir do além, ‘Without a Trace’, em que uma equipe de detetives investiga desaparecimentos, ‘House’, sobre médicos de elite que cuidam de pacientes com doenças raríssimas (leia ao lado), e o novato ‘Grey’s Anatomy’, a primeira cópia de ‘House’.
Desde quando a morte é pop? ‘O assunto ‘morte’ não é novo, mas é nova a maneira com que vem sendo apresentado ao público norte-americano hoje’, disse à Folha o acadêmico Charlton S. McIlwain, autor do livro ‘When Death Goes Pop – Death, Media and the Remaking of Community’ (quando a morte vira pop -°morte, mídia e a reforma da comunidade), que acaba de ser lançado. ‘Agora, a morte não é apenas tangente, um aspecto secundário, mas o centro da trama.’
Segundo o professor de comunicação da Universidade de Nova York, até então o público via alguém morrer ou ser assassinado e era isso. ‘Mesmo nos dramas de hospital, geralmente ninguém morria.’ Não mais. Num dos primeiros episódios do novíssimo ‘House’, por exemplo, a equipe têm de decidir qual de três bebês recém-nascidos será sacrificado para que os outros dois possam sobreviver. ‘A indústria do entretenimento descobriu que não só as pessoas podem lidar de maneira leve com sentimentos tão sofisticados quanto os que envolvem a morte como querem lidar com eles assim’, diz McIlwain. ‘Precisamos de uma válvula de escape para esta nova realidade, em que duas torres podem desabar no centro de uma cidade como NY.’
E o tema viaja bem? Um país cuja população é de maioria católica como o Brasil não lidaria com a espetacularização da morte de uma maneira diferente da dos EUA, de dominância protestante e cuja indústria do entretenimento tem forte presença judaica? O autor teoriza: ‘A revolução industrial e o desenvolvimento econômico aconteceram antes aqui, então as pessoas tiveram mais tempo de fazer o ciclo histórico completo, que é se distanciar do assunto via novas tecnologias, se desencantar com elas ao perceber que nem toda a riqueza do mundo compra a imortalidade e voltar a lidar com o tema, dessa vez com menos tabu.’ No Brasil, acredita ele, acontecerá o mesmo. A ver: ‘House’ estréia nesta quinta, no Universal Channel, às 23h.’
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‘Se você tiver de assistir a só uma série neste ano…’, copyright Folha de S. Paulo, 10/04/05
‘Se o jornalista norte-americano H.L. Mencken (1880-1956) fosse médico, seria o dr. Gregory House, tal qual interpretado pelo ator britânico Hugh Laurie e mostrado no drama de hospital ‘House’, que estréia nesta quinta no Brasil, no Universal Channel. As tiradas, a ironia, o pensamento rápido e inclemente e os aforismos do personagem já criaram um culto aos ‘housisms’, os housismos.
Exemplos: ‘Ele é importante para você. Entendi. Sem placebos, então. Vamos usar remédio de verdade’ (para o irmão de um moribundo). ‘Ah, um clube secreto. Qual o segredo? Todos os membros são idiotas?’ (sobre um menino que se envenenou com os amiguinhos). ‘Eu sou o médico que está tentando salvar seu filho. Você é a mãe que está tentando matá-lo. Esclarecimento. Eis algo maravilhoso’ (para a mãe que pergunta quem é ele).
House, o médico, é o chefe de uma equipe de jovens gênios pinçados a dedo das melhores universidades e reunidos num complexo que é vagamente baseado no hospital universitário de Princeton, em Nova Jersey.
Quando ninguém mais sabe o que fazer com um paciente, o caso é levado a esta espécie de ‘S.W.A.T.’ da saúde. Poderia ser mais uma das dezenas de séries passadas num hospital, de ‘Hospitalouco’ a ‘E.R.’. Não é, por conta de seu produtor, Bryan Singer. É o diretor dos espertos ‘Os Suspeitos’ e o ‘Aprendiz’ (e também de ‘X-Men’, mas esta é uma outra história).’
REALITY SHOWS
‘Petrópolis abriga ‘Big Brother’ italiano’, copyright Folha de S. Paulo, 10/04/05
‘A gravação de um programa italiano que estreou no mês passado mexeu com a pacata rotina dos moradores do distrito de Itaipava, em Petrópolis, cidade turística da serra fluminense. Desde que ‘La Fattoria’ (a fazenda) chegou ao local, há pouco mais de um mês, a onda de boatos sobre a atração cresceu, ancorada na decepção de nada saberem sobre a produção.
‘La Fattoria’ é um ‘reality show’ de sucesso na Itália, exibido pelo Canale 5, do grupo Mediaset (do premiê Silvio Berlusconi), que confina celebridades do país numa fazenda e as obriga a realizar trabalhos como ordenhar vacas, cuidar de animais, arrumar cercas, plantar e colher. O formato foi negociado pela Endemol, a mesma produtora do ‘Big Brother’, que é exibido em países como França, Inglaterra e Portugal.
A segunda edição do programa italiano veio parar no país por, basicamente, três motivos: os custos da produção, o isolamento dos participantes e as belezas naturais do Brasil. Não é o primeiro programa, tampouco o único, a aportar por aqui (leia texto abaixo).
‘Invasão’
A produção reúne 150 pessoas, a maior parte do grupo formada por italianos, o que movimenta atualmente a economia da região, conhecida por sua grande vocação gastronômica -7% do PIB (Produto Interno Bruto) de Petrópolis, que é de R$ 2 bilhões por ano- e por ser um destino turístico, especialmente dos cariocas, aos finais de semana.
Para construir os cenários do estúdio improvisado, a produção italiana também utilizou mão-de-obra local. ‘Meu marido trabalhou na manutenção, como marceneiro, mas ainda tem gente trabalhando lá’, afirma Ana Cristina Carvalho, 28.
A ‘invasão’ também movimenta o comércio e os restaurantes, além da hotelaria local -um dos hotéis onde os italianos estão hospedados, na entrada de Itaipava, serve como quartel-general para reuniões e descanso à beira da piscina. ‘Eles vêm muito ao shopping. São muito simpáticos e tentam conversar com a gente, mas não falam português. Eu vendo muitas camisetas para eles com motivos brasileiros’, afirma Vanessa Gonçalves Camargo, 17, que, ao lado da também vendedora Mariana Teixeira, 18, diz que o movimento cresceu bastante com a chegada dos italianos.
Sigilo
Ninguém sabe muito sobre a produção, porque a Endemol tenta guardá-la em segredo. Por conta do esquema de sigilo adotado para o programa, a Endemol Itália se negou a abrir o set de gravações para a Folha e não concedeu entrevistas sobre ‘La Fattoria’.
No local onde é realizado -uma reserva de mata atlântica que fica na propriedade particular fazenda Santo Antônio, na estrada para Teresópolis-, uma lona branca impede que transeuntes vejam o que acontece lá dentro.
‘Não se faz uma produção aberta ao público’, justifica a diretora-geral da Endemol Globo, Carla Affonso, 38, que coordena a infra-estrutura local oferecida à produtora italiana. ‘Não tem platéia, por isso é fechado.’
‘La Fattoria’ é gravado sob forte esquema de segurança. Ninguém consegue chegar muito próximo do local das gravações sem autorização. Na frente da entrada principal da fazenda, há um ponto de ônibus que aguça a curiosidade dos passageiros. Dali, no entanto, ninguém passa.
Na porteira da entrada principal da fazenda, placas pedem silêncio, em italiano, e indicam que estão sendo realizadas gravações no local. As vans que transportam os profissionais da produção ficam estacionadas à beira da estrada, e, logo na entrada, há um campo para outros veículos da produção.
O ‘La Fattoria’ tem a mesma mecânica do ‘Big Brother’. Gerado duas vezes por semana ao vivo da fazenda em Itaipava, o programa deixa com o público a missão de eliminar os participantes da casa. Especula-se que o prêmio para o vencedor seja de 100 mil (cerca de R$ 336 mil).
Até a semana passada, três dos 14 participantes já haviam sido eliminados. A ‘invasão’ ainda deve durar dois meses, quando acabam as gravações. Enquanto isso, é possível ‘espiar’ o que acontece na fazenda pelo site do programa (www.lafattoria.tv/).’
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‘Mais países querem trazer programas ao Brasil’, copyright Folha de S. Paulo, 10/04/05
‘Além do italiano ‘La Fattoria’, outros ‘reality shows’ estrangeiros deverão ser gravados no Brasil nos próximos meses. No mês passado, mais de 60 executivos de 25 países onde a Endemol atua se reuniram em um salão de um hotel de Copacabana, no Rio de Janeiro, para conhecer o plano de ação da Endemol Globo para trazer mais produções para o país.
‘O que chama mais a atenção são as nossas paisagens e o grau de sofisticação do trabalho que oferecemos’, afirma Carla Affonso, 38, diretora-geral da Endemol Globo, joint venture criada para atuar no país pela produtora holandesa dona do formato ‘Big Brother’ e pela Rede Globo, que detém os direitos do programa.
‘Temos um plano de ação para desenvolver outros programas gerados diretamente daqui. Os executivos dos outros países, quando vieram ao Rio, puderam conhecer a estrutura da Globo.’
Na época, os representantes da Endemol visitaram o Projac, em Jacarepaguá (zona oeste), complexo onde é produzida a maior parte da programação do canal.
Segundo a diretora da Endemol Globo, há muitos pedidos de outros países interessados em conhecer o Brasil. ‘Além de paisagens, também temos tecnologia. Isso chama a atenção’, diz. ‘O Brasil é ‘cool’, e eu sempre sou abordada por conta disso.’
Antes de mais nada, o Brasil é mais barato. A Endemol Globo não fala em custos de produção, mas divide com as demais empresas do grupo internacional o orçamento total dos programas. É o caso de ‘La Fattoria’, em que a infra-estrutura é responsabilidade brasileira. Os italianos ficam com a parte criativa do programa.
Um dos próximos projetos deve ser um ‘reality show’ da Rússia, segundo Affonso, que não quis dar detalhes. A produtora também negocia com uma empresa da Suécia a vinda de seus programas para locações brasileiras.
De acordo com ela, o inglês ‘Cosmetic Surgery’ -primeiro ‘reality show’ a mostrar na TV local todas as fases da cirurgia plástica- foi gravado em SP. O programa gerou polêmica por mostrar aspectos psicológicos envolvidos na cirurgia e a total mudança dos participantes.’
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‘Gravação estimula a curiosidade local’, copyright Folha de S. Paulo, 10/04/05
‘Mais estranho que saber que o ‘reality show’ ‘La Fattoria’ é gravado em Itaipava, é não poder assistir ao programa nem ter conhecimento, apesar da proximidade, do que acontece diariamente no ‘set’ da fazenda Santo Antônio, segundo a vendedora Renata Perico, 20.
Compartilham da mesma opinião a maioria dos moradores de Petrópolis ouvidos pela Folha, que pouco sabem sobre a atração, mas especulam sobre o dia-a-dia no local. ‘No café da manhã, cada dia uma pessoa chega com uma novidade sobre o programa. Vira o assunto do dia’, afirma.
Segundo ela, o tema é tão recorrente que ganhou a preferência dos moradores mesmo enquanto ainda era exibida no país a versão da Globo para o ‘Big Brother’. ‘Eu, por exemplo, parei de assistir depois que a Pink saiu. Daí, só falava do nosso ‘Big Brother’, conta Perico, que trabalha no shopping Villarejo, um dos locais mais freqüentados pelos italianos.
‘Tem umas histórias engraçadas, mas a gente não sabe se é verdade. Parece que, no dia da estréia, eles estavam ao vivo, e um cavalo arredio passou na frente da câmera’, conta a também vendedora Ana Cristina Carvalho, 28. ‘Sei que na semana passada eles construíram um campo de futebol para fazer uma prova’, informa, baseada no relato de um de seus vizinhos que teria trabalhado na manutenção do programa.
Apesar da ‘invasão’ italiana no bairro por conta da produção, pouco se sabe sobre ela.
Na TV brasileira, ‘La Fattoria’ ainda não tem previsão de estrear. É possível, no entanto, que algum canal pago compre o programa para exibir aqui depois que ele terminar na Itália, como já aconteceu com outros ‘reality shows’.
Abordados na rua pela Folha, moradores disseram saber da existência de um ‘Big Brother’ italiano’. É o caso da gerente do hipermercado do bairro, que preferiu não se identificar.
‘Não sei o que estão fazendo aqui, mas eles sempre vêm em grupos e fazem compras, chamando muito a atenção. Um dia, queriam chocolate em pó, mas não sabiam falar nada em português e pediram ajuda aos nossos funcionários. A gente se diverte’, conta.
No ponto de táxi, os motoristas Luís Carlos de Sousa, 48, Paulo César Macedo, 56, e Paulo Alves, 39, também se entretêm ao contar histórias dos italianos que estão na cidade. ‘A gente leva o pessoal do ‘Big Brother’ para o hotel; eles saem à noite e estão movimentando a cidade’, diz Souza, taxista de um dos dois pontos de veículos disponíveis no bairro.
Num dos hotéis onde estão hospedados os integrantes da produção, a curiosidade é ainda maior. ‘Eles trabalham o dia todo, as vans chegam e vão rapidamente. Um dia perguntei como poderia assistir, mas eles me disseram que eu não poderia. Daí, perguntei o site, mas também não me disseram’, conta um funcionário, que também pediu para não ter seu nome divulgado.’
SÍTIO DO PICAPAU AMARELO
‘Novelização deve comprometer ‘Sítio’’, copyright Folha de S. Paulo, 10/04/05
‘Há um tom nostálgico no ‘Sítio do Picapau Amarelo’. Impossível não sê-lo: ainda que esta versão anos 2000 tenha reconquistado alguma espécie de lugar no imaginário infantil, os personagens de Monteiro Lobato habitam um mundo que não existe mais e não é referência para os pais das crianças de hoje.
Não que isso seja um problema em si. Na verdade, boa parte do acerto desse ‘Sítio’, que estreou a quarta temporada nesta semana, está no fato de tratar essa distância sem ansiedade. Ou seja, não há nem um esforço artificial em ‘atualizar’ nem de arrastar didaticamente as crianças para um passado já remoto. O universo criado por Monteiro Lobato é tratado como um mundo fantástico, com animais falantes e seres mágicos.
Funciona -para crianças pequenas, sobretudo. Ou estava funcionando até 2004, quando passou a perder audiência sistematicamente para os desenhos do SBT. O alerta vermelho deve ter acendido em algum lugar e transformaram a estrutura de histórias curtas que imperava até então em uma ‘novelinha’ a se desenrolar em 180 capítulos.
Não dá, ainda, para saber se essa é uma solução para a questão da audiência, mas já salta aos olhos que a ‘novelização’ do ‘Sítio’ traz para a trama o amor romântico e o trato ‘realista’ de lugares e personagens, ainda que pela caricatura. De cara, já no capítulo de estréia, na segunda-feira, há a formação de um par romântico, marcado pela diferença social. Não, nada com Narizinho e Pedrinho, que continuam castos como Monteiro Lobato os desenhou mais de 80 anos atrás. São personagens novos, João da Luz e Cleo, dois adolescentes fugidos -ele, de uma instituição para menores e ela, da madrasta-, que serão acolhidos pela turma do ‘Sítio’.
O que, aliás, isso de ser acolhido está bem de acordo com o espírito do ‘Sítio’ – várias das histórias de Monteiro Lobato começam assim.
Já a caracterização ‘típica’ do Arraial dos Tucanos e a importância que devem assumir as tramas envolvendo os personagens para encher tantos capítulos parecem ser justamente o que Lobato gostaria de evitar.
O que é de perguntar é se os personagens do ‘Sítio’ suportam ser espectadores de uma narrativa estranha. Por mais que Lobato se apropriasse de diversas narrativas, da mitologia grega ao folclore brasileiro, ele sempre fazia seus personagens acabarem como protagonistas, mesmo que em aventuras alheias, como nos trabalhos de Hércules.
Não parece haver muito espaço para os personagens do ‘Sítio’ em peripécias românticas, mesmo que sejam bem ingênuas, nem na abordagem cômico-realista do ambiente rural. Ou melhor, até que há para um deles: a extraordinária Emília, cujo espírito inquisidor às raias da impertinência incomoda qualquer esquema. E vivida pela ótima Isabelle Drummond, primeira ‘atriz-criança’ a interpretar Emília, é ainda mais especial.’
TV DIGITAL
‘Emissoras pressionam Lula por TV digital’, copyright Folha de S. Paulo, 8/04/05
‘As principais emissoras de TV do país estão se articulando para entregar ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva uma carta assinada por todas elas, na qual pedirão ‘maior atenção’ e ‘urgência’ na questão da TV digital.
As redes avaliam que o governo está perdendo tempo ao insistir em um Sistema Brasileiro de TV Digital (SBTVD). Estão insatisfeitas, porque, há um ano, quando foi criado, o SBTVD tinha até março para apresentar o relatório final com a definição do modelo a ser adotado pelo Brasil _o prazo foi adiado para o fim do ano.
Para as TVs, o governo precisa urgentemente definir qual será o padrão de modulação a ser adotado, entre o japonês, o americano e o europeu. Avaliam que o Brasil não tem tecnologia para desenvolver um. O SBTVD está pesquisando, mas não tem compromisso de criar um padrão. Além do padrão, as pesquisas envolvem sistema operacional e aplicativos, que, juntos, formam um sistema.
As redes alegam que o Brasil está ficando defasado e que não avançou nada desde 1999, quando o governo fixou 2001 para o início das transmissões digitais.
Ao assumir, o governo Lula adotou o discurso de um sistema brasileiro. Atualmente, estão sendo investidos R$ 36 milhões de recursos públicos em pesquisas.
A carta ao Planalto foi sugestão da Globo, encampada pelas demais, via Abert e Abra (Associação Brasileira de Radiodifusão).
OUTRO CANAL
Troca Ex-Globo e Band, Alberto Luchetti, sócio da AllTV, canal de TV na internet, é o mais cotado para assumir a direção de jornalismo da TV Cultura, no lugar de Marco Antonio Coelho, que será ‘promovido’ a diretor de rede (vai cuidar de afiliadas).
Calouro 1 O apresentador Raul Gil resolveu acatar a sugestão do presidente Lula e abriu espaço em seu programa na Record para o garoto Luan Peterson. Em março, Lula ouviu Luan cantar em uma cerimônia em Erechim (RS). Ao discursar, disse três vezes que Raul Gil deveria dar uma chance para ele.
Calouro 2 Luan Peterson já gravou sua participação no programa de amanhã, que mostrará vídeo com o apelo de Lula. Agradou e voltará no sábado seguinte.
Retranca O ex-volante Dunga, capitão da seleção brasileira que conquistou o tetra, em 1994, fará parte do júri de ‘Joga 10’, ‘reality show’ projetado e bancado pela Nike, que a Band exibirá. Zagallo, coordenador técnico da seleção, será o líder do júri. O programa pretende revelar um novo meia-atacante.
Sobe Apesar de já ter sido exibida pela Manchete entre 1996 e 1997, a novela ‘Xica da Silva’ aumentou em 77% a audiência do SBT no horário (21h15) em sua primeira semana de reprise. A trama fechou a semana passada com média de dez pontos no Ibope.’
SBT
‘Silvio Santos entra no ramo de cosméticos’, copyright Folha de S. Paulo, 7/04/05
‘O SBT fechou parceria com a empresa de cosméticos Pierre Alexander, que Silvio Santos tentou comprar há dois anos.
Pelo acordo, inédito na emissora, o SBT cederá à Pierre Alexander espaços publicitários em seus intervalos e terá, em troca, participação no faturamento da empresa. O contrato é de um ano, renovável, e vale a partir deste mês.
A Pierre Alexander faturou R$ 110 milhões em 2004. É a terceira maior do país no segmento de venda direta ao consumidor, atrás apenas da Natura e da Avon. Como o SBT, seu foco é o consumidor de classe C _os produtos são mais caros do que os da Avon e mais baratos do que os da Natura.
Segundo Juracy Monteiro, diretora-geral da Pierre Alexander, o SBT entrará com um espaço de mídia de R$ 10 milhões de abril a dezembro. As veiculações começam neste mês, nos programas de Hebe Camargo, Adriane Galisteu, Silvio Santos e Ratinho. Serão dois comerciais por dia.
Com a ‘sociedade’ com o SBT, a Pierre Alexander espera aumentar de 60 mil para 100 mil sua rede de representantes autônomos e melhorar sua penetração no Sudeste _a empresa é mais forte no Sul, onde foi fundada há 24 anos.
‘Nossa expectativa é crescer 40% neste ano’, afirma Monteiro.
Pelo acordo, as revendedoras da Pierre Alexander oferecerão a aposentados e pensionistas linha de crédito do banco Panamericano, do Grupo Silvio Santos.
OUTRO CANAL
Revisão Mudanças na Cultura: Marco Antônio Coelho deixará a direção de jornalismo para se dedicar ao relacionamento com as afiliadas _TVs ditas educativas, geralmente controladas por políticos, que retransmitem a emissora e geram algumas horas de programação local. Coelho tentará dar um padrão a essa rede.
Paradigma A Record quer surpreender muita gente com ‘Essas Mulheres’, sua próxima novela das 19h. O novo presidente da emissora, Alexandre Raposo, sugeriu a Marcílio Moraes, autor da trama, que é de época, que escreva cenas com algum erotismo, como banhos de rio e cachoeira, sem chegar a mostrar as mulheres nuas.
Pandora 1 Executivos de TV e publicitários acreditam que a Globo começará nos próximos dias a vender cotas de patrocínio da Copa de 2006, de forma fechada, apenas às empresas que têm prioridade (patrocinadores da Fifa e das transmissões do Mundial de 2002).
Pandora 2 Especula-se que a Globo vai pedir R$ 84 milhões por cota de patrocínio. Um valor muito superior ao de 2002 _R$ 35 milhões na tabela. Willy Haas, diretor-geral da área comercial da Globo, nega. ‘Ainda não iniciamos o processo de planejamento comercial da Copa’, diz.
Caixa-forte A Record renovou contrato com Milton Neves por mais quatro anos. Ele é o rei do merchandising na emissora.’
FLORIBELLA
‘Band faz ‘Floribella’ e perde identidade’, copyright Folha de S. Paulo, 6/04/05
‘De tempos em tempos, a corrida pela audiência entre as emissoras de televisão aberta gera a produção de novelas.
Investimentos recentes da Record e a estréia de ‘Floribella’, anteontem, na Band, indicam que passamos por mais um desses momentos. Qual será a chance das novas produções?
Esforços bem-sucedidos no passado possuem uma característica comum: fogem das fórmulas consolidadas na Globo.
A finada Rede Manchete iniciou os anos 90 com ‘Pantanal’. Com visual diferente e horário pós-novela das oito, a experiência repercutiu, mas não durou.
A Globo recontratou Benedito Ruy Barbosa, que, de volta à casa, escreveu os títulos de maior sucesso da década, com direito a algumas das diferenças propostas na Manchete, como longas tomadas em plano geral de lugares bucólicos, de natureza ‘exótica’.
A Cultura nos anos 80 fez ‘Mundo da Lua’, uma novela infantil, com bom elenco de teatro que obteve índices significativos no início do horário nobre.
O SBT absorveu o horário. Vira-e-mexe obtém seus picos no Ibope com enlatados infantis ou adultos, ‘hipermelô’, exibidos nessa mesma faixa, no início da noite.
A Band segue os passos da concorrente paulista e ataca com uma versão brasileira de um grande sucesso argentino.
A novela mistura de ‘A Noviça Rebelde’ com ‘Chiquititas’, ‘Menudos’ e MTV. Tem o popular visual bem moderno, graças a alguns poucos efeitos especiais e a uma edição, digamos, ultra-rápida. Mas o roteiro é fraco, e o horário, pós-jornal, errado. O programa não combina com a emissora conhecida por seu jornalismo, especialmente o esportivo.
As emissoras continuam a apostar na velha fórmula novela-jornalismo, até que se prove o contrário. Para variar, a Band poderia, e é isso que se espera dela, investir nas marcas de bom jornalismo que a distinguem.
Esther Hamburger é antropóloga e professora da ECA-USP’