Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Bernardo Scartezini


‘Tom Wolfe, perceba, não chega a ser um camarada modesto. Sem falsos pudores, ele se coloca entre os grandes escritores dos Estados Unidos na segunda metade do século 20. Mas… Calma lá, antes de a gente muquetar esse mala metido a besta, vamos ouvir seus argumentos. Eles são fortes.


Os argumentos de Thomas Wolfe, 75 anos, estão ali nas páginas de Radical chique e o novo jornalismo. Compilação lançada pela editora Companhia das Letras dentro de sua série Jornalismo literário, que foi inaugurada pelo clássico de Truman Capote, À sangue frio, e ainda conta com títulos de escribas como Joseph Mitchell e Gay Talese, além dos brasileiros Zuenir Ventura e Joel Silveira.


Esse tal de novo jornalismo – ou jornalismo literário, são sinônimos – surgiu na imprensa norte-americana em algum ponto impreciso dos anos 50, sendo referendado em forma de livro no best-seller À sangue frio (1966). Pode-se definir novo jornalismo como o texto jornalístico que toma emprestado algumas técnicas da literatura. Grosso modo. É o que fazem – ou já fizeram em algum ponto da carreira – Norman Mailer, Saul Bellow, Hunter S. Thompson, entre outros, além dos supracitados, além do próprio Tom Wolfe e além de Philip Roth (apontado como o melhor da turma pelo próprio Wolfe).


Tom Wolfe, o mias bem-humorado dos novos jornalistas, tira um sarro tremendo dessa geração. Diz que são todos periodistas ególatras cansados do batente numa redação, prontos para tirar o time de campo, se recolher numa cabana no meio do mato e escrever O Grande Romance. É por aí, se vermos com uma dose de sarcasmo. Acontece que essa turma – de fato – derrubou os romancistas tradicionais e publicou as melhores crônicas sobre a vida norte-americana no último meio século. São textos como A luta (Mailer), Pastoral americana (Roth), Fear and loathing in Las Vegas (Thompson) ou Radical chique (Wolfe, presente nesta compilação).


Wolfe, assaz didático, enumera os quatro recursos literários apropriados por seus coleguinhas. 1) reconstrução da cena, 2) reprodução fiel de diálogos, 3) adoção de diferentes pontos de vista na narrativa e 4) registros de gestos, maneiras, cacoetes, sotaques dos envolvidos, minúcias de mobília e detalhes, detalhes.


Quando dá certo, é uma beleza. Herança direta daqueles grandes cronistas do início do século 20, F. Scott Fitzgerald e Ernest Hemingway. Caso do lisérgico O teste do ácido do refresco elétrico, romance jornalístico de Tom Wolfe editado por aqui pela Companhia das Letras nos anos 90. Wolfe deixa sua querida Nova York para rodar pelas estradas californianas ao lado de luminares da contracultura daqueles anos 60, como o escritor Ken Kesey, o psiquiatra Timothy Leary, a banda Grateful Dead e seu amigo (recém-finado) Hunter Thompson. Boa viagem.’




INCLUSÃO DIGITAL
Aluisio Alves


‘Governo adia lançamento do programa para maio’, copyright Gazeta Mercantil, 11/04/05


‘O programa PC Conectado, cujo lançamento chegou a ser anunciado para o próximo dia 15, deve ficar para maio. Foi o que informou o assessor técnico do Palácio do Planalto César Alvarez, responsável pelo projeto. Alvarez negou ter anunciado o dia 15 como data oficial do lançamento. ‘Eu nunca disse que seria nesse dia.’


Segundo o assessor, alguns pontos ainda estão por ser definidos, como os incentivos fiscais e a escolha dos softwares que deverão acompanhar os computadores vendidos no âmbito do programa. ‘Só a parte tributária deve levar mais umas duas semanas’, adiantou.


No caso do sistema operacional, a Microsoft ainda tenta emplacar o Windows. Na última segunda-feira, a empresa apresentou ao governo uma versão melhorada do Windows XP Starter Edition. O formato original do programa, o mesmo que é vendido na Tailândia, não permite a conexão dos computadores em rede, nem que os usuários consigam manter mais de duas janelas de programas abertas ao mesmo tempo. Por isso, o governo considerou a proposta da Microsoft insuficiente.


A Microsoft rebateu as críticas feitas por integrantes do governo ao XP Starter Edition, sistema operacional apresentado pela companhia para participar do programa PC Conectado. Por meio de sua assessoria de imprensa, a fabricante de softwares considerou que foram disseminadas informações errôneas sobre Starter Edition, uma espécie de versão simplificada do Windows.


Nesta semana, o presidente da Sun MicroSystems no Brasil, Cleber Morais, disse que o OpenOffice, pacote de aplicativos da companhia para escritório, com código aberto, tinha sido o escolhido o software escolhido para o programa, o que não foi confirmado pelo assessor da presidência da República. ‘Primeiro vamos discutir a nova proposta da Microsoft’, disse o executivo.


O objetivo do PC Conectado é colocar nas lojas 1 milhão de computadores com preço próximo de R$ 1,4 mil, sem contar o incentivo tributário do governo. Os juros para o financiamento dos computadores, em 24 vezes, ficariam em cerca de 2% ao mês. O acesso discado à internet teria uma mensalidade de R$ 7,50, com direito a 15 horas de uso por mês.’




INTERNET
Bob Tedeschi


‘Amazon.com parte para o mercado de impressão’, copyright O Estado de S. Paulo, 12/04/05


‘Certo, a Amazon.com pode vender livros. Mas pode fazê-los? A própria empresa levantou esta questão, entre outras, na semana passada, quando comprou a BookSurge, uma gráfica de impressão de livros com sede em Charleston, Carolina do Sul, especializada em impressão sob encomenda.


A BookSurge, que era de propriedade privada, está entre a meia dúzia de empresas que surgiram durante o surto de crescimento das empresas pontocom que dependem da tecnologia da internet para imprimir uns poucos livros de cada vez ou até mesmo um de cada vez.


Esses serviços têm sido muito populares entre escritores que não conseguem ou não estão dispostos a fazer contratos com cada editora e que não querem gastar milhares de dólares para fazer uma tiragem de 2 mil exemplares pela tradicional impressão offset. As editoras também têm usado as empresas de impressão digital para atender pequenos pedidos de títulos desconhecidos.


A Amazon.com se recusou a dar detalhes mais específicos sobre a aquisição – sua segunda em cinco anos. ‘Sentimos que podemos fazer grandes coisas juntos. Apenas não estamos dizendo o que poderá ser’, disse Patty Smith, porta-voz da empresa. Não obstante, a Amazon parece uma boa parceira para os candidatos a escritores BookSurge, porque talvez atraia mais clientes de literatura do que qualquer outro site de comércio eletrônico.


A transação com a BookSurge, cujos termos não foram anunciados, talvez ajude também a Amazon a proteger o que resta de uma parte crucial do seu negócio, disse Mark. S. Mahaney, analista da empresa de investimentos American Technology Research.


‘Qualquer coisa que impulsione as vendas de livros é bom para o negócio da Amazon e para as ações’, disse Mahaney. ‘Isso poderá ajudar’. Segundo Mahaney, a venda de livros e filmes compõe o grosso da média de vendas da Amazon de US$ 2,6 bilhões na América do Norte em 2004.’




O Estado de São Paulo


‘Vida em comunidade digital’, copyright O Estado de São Paulo, 11/04/05


‘A chave para desfrutar e entender a gigantesca mudança tecnológica que nos seduz e aterroriza é a palavra ‘comunidade’. Só que agora não é mais aquela coisa hippie, de dividir o arroz integral e o odor do chulé com o companheiro de quarto. O papo é mais veloz.


Trocamos experiências e informações com a mesma agilidade com o vizinho idoso do andar de baixo ou com uma criança na periferia de qualquer cidade do mundo.


Só que, quando se fala em ‘revolução digital’, imaginamos um cenário high tech, cheio de computadores e efeitos especiais, como numa daquelas vinhetas limpinhas da Rede Globo.


Na real, a origem do termo e o próprio DNA desta revolução é coisa do começo do século passado. Um funcionário da ITT, International Telephone and Telegraph, apareceu com uma invenção que não ficou tão famosa como o telefone ou a lâmpada. Mas foi o estopim da grande mudança.


Parece historinha para nerd, mas vale a pena ouvir. Em 1938, o inglês Alec H. Reeves patenteou o PCM, Pulse Code-Modulation. Conseguiu transformar ondas em códigos numéricos.


Para realizar a façanha, Reeves dividiu a curva do som em amostragens pequenas. Em inglês, samplers. Quer dizer, o inventor deu uma ‘sampleada’, como dizem hoje os DJs de festas rave, na velha onda sonora. Está vendo como o cara era moderno?


Transformada num pacotinho de números, a voz no fio do telefone pode percorrer longas distâncias sem sofrer muito com os percalços da viagem. Ao contrário do impulso elétrico, aquele que fazia analogia com a voz do cara do outro lado da linha, o som codificado em números não se deteriora com o tempo nem com a distância. O pacote também pode ser facilmente manipulado. Permite cópias idênticas à matriz original.


Resultado: no alvorecer da nossa era digital, num piscar de olhos, comunidades virtuais passaram a trocar arquivos com suas músicas prediletas. As poderosas multinacionais, que até então faturavam em cima da fórmula mágica da multiplicação dos CDs, ruíram como castelos de cartas numa ventania. Um duro aprendizado da rima de velocidade, filha da revolução digital, com comunidade, instinto humano universal.


Mas as gravadoras, coitadas, não estão sozinhas nesse drama. Os governos são surpreendidos a cada dia por novas modalidades de crimes. Os criminosos, por sua vez, são surpreendidos de calças curtas das maneiras mais inusitadas. As empresas passam por uma remasterização complicada. Os pais com filhos jovens, então, nem se fala.


Todo mundo tem que se reinventar. Especialmente aquela instituição que está no topo do pódio de estruturas analógicas resistentes à conversão digital: as instituições de ensino. A maioria delas, entre as que podem, é claro, usam a internet como mera fonte de pesquisa. Um enorme desperdício de talento e dinheiro.


Como o próprio nome sugere, a internet é uma gigantesca rede de relacionamentos. É hora de os queridos mestres, ao invés de proibir a garotada de entrar no Messenger, no Orkut, nos fóruns, blogs e outras modalidades de comunidades virtuais, como o nosso Link, tentarem entender o porquE do sucesso deles.


Não tem remédio. Quem quiser ser professor nesse novo milênio vai ter que entender e aprender a usar, e bem, cada uma dessas ferramentas.


Para animar, sugiro uma visita a um sensacional exemplo de comunidade na rede: a Wikipedia (wikipedia.org). Trata-se do projeto da maior enciclopédia da História. Criada de forma coletiva, já possui mais de 1 milhão de artigos. Para efeito comparativo, a Britânica conta com ‘apenas’ 120 mil.


A Wikipedia é aberta a colaboradores espalhados por todas as partes do globo, a consulta é de graça. Tem gente escrevendo em quase uma centena de línguas, inclusive o português. É o mesmo conceito das primeiras enciclopédias criadas pelos filósofos iluministas franceses. Só que turbinada pela tecnologia digital.


Descobri por lá que a palavra ‘comunidade’ é junção do radical latino munus, que significa presentes, com o prefixo cum, que quer dizer compartilhado.


Ou seja, a internet nos oferece a possibilidade de troca de conhecimento e afeto na velocidade da luz. Mas as escolas ainda teimam em utilizá-la como uma espécie de lista telefônica. Ou a velha Barsa. É hora de ir além do cut & paste (recortar e colar).’