‘O SBT começa a mudar a estratégia comercial de suas oito emissoras próprias, chamadas internamente de filiadas. ‘Queremos regionalizar a programação, abrir espaços para pequenos anunciantes e para campanhas sociais, realizando um trabalho que dê frutos para a sociedade e, obviamente, para a empresa’, diz Maurício Abravanel, sobrinho do ‘patrão’ Sílvio Santos, que acaba de assumir a direção regional do SBT Ribeirão Preto.
O SBT trocou diretores e gerentes em quatro das oito filiadas: Ribeirão Preto, Brasília, Belém e Porto Alegre. Segundo Abravanel, as emissoras de São José dos Campos, Rio de Janeiro, Nova Friburgo e Sorocaba permanecem com os mesmos diretores, que já têm o perfil definido pela cúpula do SBT.
Segunda maior rede de televisão do País, atrás apenas da Globo, o SBT divulgou ter registrado lucro em 2004, depois de dois anos no vermelho, graças a um salto de 35% na receita, que, segundo passou dos R$ 750 milhões. (No último final de semana, a empresa realizou em São Paulo um workshop para treinamento do pessoal de venda e definição da previsão da receita para este ano. O encontro teria a presença de Cláudio Venâncio, diretor de mídia da agência Fischer América).
Com 107 emissoras entre as filiadas e as afiliadas (não-próprias), a rede de Sílvio Santos cobre 4.860 municípios brasileiros, com população total de 172,9 milhões de habitantes e Índice de Potencial de Consumo (IPC-Target) de 98,473, segundo o Atlas de Cobertura 2005, do SBT.
‘Precisamos mostrar ao mercado o real tamanho do SBT, que continua sendo, de longe, a segunda maior rede do País’, afirma Abravanel, defendendo a empresa em relação ao crescimento de concorrentes como a Rede Record, a terceira em audiência e receita. ‘Qualquer emissora precisa dobrar a audiência para chegar perto da gente’, acrescenta.
Segundo medições recentes do Ibope oferecidas pelo SBT, a Rede Globo lidera com 44% de audiência na programação geral. Atrás, vem o SBT, com 20%, seguido pela Record, com 11%. Os dados, coletados por medidores eletrônicos (‘people meter’), referem-se à praça de São Paulo.
‘O problema é que as medições com res eletrônicos (‘people meter’), referem-se à praça de São Paulo.
‘O problema é que as medições com são feitas só em São Paulo, Rio e outras capitais. No interior, realizam-se pesquisas espaçadas, por meio de questionários’, diz Abravanel. ‘Numa região como Ribeirão Preto, as pessoas sentem-se meio constrangidas em dizer, por exemplo, que assistem ao programa do Ratinho’, afirma Abravanel, questionando a precisão dos resultados das pesquisas por questionários.
‘Não tenho problema em competir com a Globo, que é excelente. Mas também não me importo com as pesquisas que ela faz no interior’, diz o executivo. ‘O que me incomoda é o fato de as outras emissoras se colocarem perto do SBT. E é isto o que vou dizer ao mercado, com todas as letras’, insiste. No próximo dia 27, Abravanel realizará em Ribeirão Preto um evento para o mercado publicitário no qual apresentará suas novas diretrizes. ‘Queremos novos formatos comerciais, que abram espaço para os pequenos e médios anunciantes. Com melhores oportunidades, eles vão crescer e se tornar anunciantes mais ousados nos próximos anos’.
O SBT Ribeirão Preto, segundo Abravanel, cobre 89 municípios, com população de 3,3 milhões de habitantes e um elevado IPC-Target de 2,544. O consumo domiciliar urbano na região foi de US$ 8,2 bilhões no ano passado. Além de Ribeirão, a emissora abrange cidades como Araraquara, São Carlos, Franca e Barretos.
Em princípio, a equipe comercial, administrativa e de jornalismo do SBT Ribeirão Preto, num total de 70 pessoas, será mantida. A grade de programação local é que deverá ser alterada. ‘Em poucos dias, recebi 15 propostas de programas, mas a decisão final caberá ao telespectador e ao mercado publicitário’, afirma Abravanel. ‘Queremos entre duas e três horas de programação local’, informa.
Atualmente, a programação local resume-se ao telejornal ‘Noticidade’, que vai ao ar durante meia hora, de segunda a sexta-feira, a partir das 12:30 horas, e a dois programas dominicais: ‘Domingo no Rancho’ e ‘Carros, Motos & Cia’, apresentados pela manhã.
Para vender seu peixe aos publicitários e anunciantes, Abravanel deverá realizar pesquisas de opinião, ‘seja com métodos tradicionais ou procedimentos mais ‘seja com métodos tradicionais ou procedimentos mais caseiros, como, por exemplo, pela Internet’. Neste caso, ele cita o surveymonkey, que dispara e-mails com questionário para um público direcionado.
Publicitário graduado pela Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) com MBA em Gestão de Comunicação Empresarial, Maurício Abravanel tem apenas 27 anos. Fez carreira como redator publicitário em agências como a Publicis Salles Norton, onde assinou trabalhos para as marcas Cônsul, Bradesco e Yoki, entre outras. Passou parte da infância em Araraquara, no interior paulista, terra natal de sua mãe, e durante anos escreveu crônicas para jornais daquela cidade e da vizinha São Carlos.’
NET EM CRISE
‘Net Serviços: pague para ver!’, copyright Gazeta Mercantil, 11/04/05
‘Quem acompanha a história da Net Serviços no mercado de capitais sabe que a companhia, mais do qualquer outra, viveu momentos opostos.
Tendo sido a menina dos olhos do mercado financeiro durante o boom das empresas de internet vivido no final da década passada e tendo suas ações atingido múltiplos exuberantes, o baque foi igualmente espetacular.
Suas ações caíram vertiginosamente e a companhia enfrentou dificuldades, sendo obrigada a suspender o pagamento de suas obrigações financeiras no quarto trimestre de 2002, mesmo após uma primeira recapitalização alguns meses antes.
Hoje, a Net Serviços reencontrou o seu rumo, muito mais forte após passar por tamanhas provações.
Sob o comando de Francisco Valim desde fevereiro de 2003, a companhia passou por uma completa reestruturação, não apenas financeira, mas também operacional e acionária.
Anunciada em 22 de março deste ano, a conclusão de sua reestruturação financeira contou com a adesão de credores representando 98% de sua dívida. Com essa operação, e considerando ainda a conclusão do aumento de capital atualmente em curso, a sua dívida bruta será substancialmente reduzida e passará a representar apenas 1,3 vez a geração de caixa operacional medida pelo EBITDA.
Se por um lado a reestruturação era absolutamente necessária para uma recuperação bem-sucedida, não é apenas isso que torna a Net tão atraente nesse momento. Desde a suspensão dos pagamentos de suas obrigações financeiras, a companhia não perdeu tempo e investiu para assegurar sua recuperação operacional.
Nas palavras de seu presidente, Francisco Valim: ‘Nós estamos trabalhando com um círculo virtuoso a nosso favor. Investimos muito na melhoria dos nossos serviços e no atendimento de nossos clientes, o que, somado a uma política adequada de vendas, tem resultado em uma forte expansão de nossa base de assinantes, inclusive para produtos de maior valor agregado, resultando em melhores resultados financeiros, o que nos permite reinvestir na qualidade de nossos serviços e em nosso plano de marketing’.
De fato, os resultados dessa política têm se traduzido em números bastante positivos. A base de assinantes de TV por assinatura, antes de estável a declinante, tem crescido trimestre após trimestre, com taxas de desconexão (churn) declinantes. Ao mesmo tempo, a base de assinantes do serviço de internet banda larga – o Vírtua – dobrou por dois anos consecutivos.
Junto a esse crescimento, a qualidade de serviço e atendimento vem melhorando consistentemente e as pesquisas de opinião com seus assinantes mostram que seus clientes estão efetivamente cada vez mais satisfeitos.
Produtos de alto valor agregado têm sido fundamentais nessa estratégia. O pay-per-view vem obtendo resultados excepcionais com o Campeonato Brasileiro e o sucesso do Big Brother Brasil.
Adicionalmente, novos produtos de valor agregado têm sido lançados com boa recepção do público, como a TV Digital e a grade mais completa de programação do mercado, hoje com a inclusão da família de canais HBO à sua consagrada grade com os canais Globosat, inclusive a família Telecine.
Além disso, a Net começa a planejar o futuro. A companhia já dispõe da tecnologia para implementar o serviço de Voz sobre IP (VoIP). Nesse sentido, conta com outro trunfo: a conclusão da reestruturação financeira permitiu que a Telmex-Teléfonos de Mexico se tornasse um de seus sócios controladores, trazendo a experiência do maior player latino-americano de telecomunicações para os serviços de banda larga e os supracitados serviços de voz. Além da Telmex, a Net continua contando com o know-how da Globo, maior conglomerado de mídia da América Latina, para os serviços de TV por assinatura.
O diretor financeiro da Net, Leonardo Pereira, ainda destaca: ‘A Net é a única empresa do Nível 2 de Governança Corporativa da Bovespa que atende todos os requisitos do Novo Mercado, exceto pela questão de termos ações preferenciais. Além disso, adotamos praticas de transparência que incluem divulgação simultânea em BR e US GAAP, bem como conferência e reunião pública para discussão dos resultados.’
De fato, a governança corporativa da Net está bastante acima da média, mesmo entre as principais companhias abertas brasileiras.
Além disso, a Net Serviços é hoje a única empresa de capital aberto do setor de TV por assinatura, sendo, portanto, a única alternativa de investimento nesse setor. As ações da Net possuem uma significativa liquidez, sendo negociadas na Bovespa e nos principais mercados globais como a Nasdaq nos Estados Unidos, através de ADRs, e na Latibex na Espanha.
Nossa Opinião
Acreditamos que as ações da Net possuem hoje potencial de valorização. Seus resultados operacionais e financeiros têm continuamente apresentado taxas de crescimento excelentes para suas atividades atuais.
Além disso, a companhia tem evoluído para novos serviços e produtos de maior valor agregado, tendo uma boa recepção no mercado.
Finalmente, a reestruturação financeira eliminou o principal fator negativo que impedia a recuperação da Net no mercado acionário.
Assim, recapitalizada, a companhia possui novamente a solidez financeira necessária para garantir o crescimento sustentado de seu negócio, agora com o apoio de um importante acionista estratégico, a Telmex, que adiciona sinergias e experiências-chave para a Net Serviços.’
TVA
‘TVA vai oferecer VoIP residencial’, copyright O Estado de São Paulo, 11/04/05
‘As operadoras de TV por assinatura estão apostando cada vez mais no mercado de voz sobre IP, tecnologia que permite a comunicação de voz pela internet banda larga.
A TVA, que já oferecia o Ajato voz, destinado às empresas, vai lançar no próximo mês um serviço mais completo e que também será vantajoso para assinantes residenciais, segundo o diretor de novos negócios e tecnologia da companhia, Amilton de Lucca.
Agora, a grande vantagem é que, além de poder fazer ligações do telefone IP para um convencional, seus clientes também poderão receber chamadas. A TVA ainda promete tarifas bem mais baratas, mesmo se as chamadas forem para telefones convencionais com outro DDD.
‘O objetivo é ter um telefone avançado em tecnologia, mas bem semelhante ao modo de usar de um equipamento convencional ‘, diz Lucca. A conexão será feita através de um aparelho chamado ATA, que custa R$ 399, uma espécie de adaptador que interliga o cabo de rede da internet, o computador e até dois telefones convencionais.
O usuário não precisa estar com o computador ligado para usar o serviço, e ainda terá outras vantagens como acesso da caixa postal e consulta da conta parcial pela internet.
Lucca conta que a empresa está seguindo a mesma estratégia desde 1999, quando lançou o serviço de banda larga, que é acompanhar a tendência mundial de operar três serviços na mesma estrutura.
Para oferecer VoIP, a TVA fez uma parceria com a Net2phone, desenvolvedora da tecnologia que vai ser usada, e com a brasileira Primeira Escolha, que possui licença do serviço.
Ele ainda afirma que, segundo o conceito que está em discussão no mundo, o serviço da TVA será ‘o primeiro telefone VoIP de verdade’, em que a distância geográfica nunca é considerada.
A Net, outra provedora de TV por assinatura, também promete entrar nesse mercado. Na semana passada, ela divulgou que está em fase de testes e que pretende disponibilizar o serviço ainda este ano. Apesar disso, ao ser procurada pelo Estado, a empresa se recusou a falar sobre o assunto.
A operadora de telefonia GVT oferece VoIP desde setembro do ano passado.
Ela afirma que outras empresas do ramo ainda não oferecem esse serviço porque temem perder a receita de ligações de longa distância. Mas que logo os usuários estarão exigindo esse tipo de serviço.
O sistema usado é bem parecido com o que vai ser lançado pela TVA, mas a GVT afirma que só tem vantagem quem contrata um plano especial para uma determinada cidade, pois passa a pagar tarifa local quando liga para algum número do município escolhido.
Quem quiser contratar o pacote de 180 minutos da GVT, além de adquirir o ATA, paga uma mensalidade de R$ 29,80 e tarifas extras com ligações para celular.
Existem ainda outras empresas que já oferecem esse serviço como a Redevox (www.redevox.com) e a Transit (www.i9transit.net).’
JOVEM GUARDA NA TV
‘Jovem Guarda festeja sua inexistência’, copyright Folha de S. Paulo, 11/04/05
‘Jovem Guarda, a rigor, foi um programa de TV apresentado por Roberto Carlos. Neste 2005 comemora-se 40 anos de sua estréia na TV Record. Foi um ‘Domingão do Faustão’ da época, mas dedicado só à música.
De programa de TV virou mito por três motivos: o extraordinário e perene sucesso pessoal de Roberto Carlos (e seu Sancho Pança, o grande Erasmo); ter sido adotado pelo tropicalismo como um dos ícones de uma canção popular desprezada como lixo cultural pelas elites bem pensantes (simbolizada na MPB de extração universitária); ter introduzido de fato no Brasil, talvez único país do Ocidente a estar até então incólume ao rock e congêneres, a cultura pop jovem e globalizada. Esses três fatos transformaram a Jovem Guarda de programa de TV em fenômeno sociológico.
Bons momentos nada têm a ver com a Jovem Guarda
Mas, como diria Tim Maia, que ensinou violão a Roberto, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. E a Jovem Guarda, de fenômeno sociológico virou, empurrado pela nostalgia da juventude perdida, movimento musical.
Não é fenômeno exclusivamente brasileiro. A intelectualizada França também celebra roquinhos tipo ‘Banho de lua’ como símbolo da canção francesa dos anos 60, fingindo esquecer que se trata de ‘Tintarella di luna’, uma canção italiana que, como os rocks-baladas americanos da época, era lançada simultaneamente no mundo inteiro por intérpretes locais, vertida para a língua nacional.
O CD/DVD ao vivo ‘Um barzinho, um violão – Jovem Guarda’ (Universal) celebra justamente tudo que a Jovem Guarda não é, um movimento musical. Por isso, seus melhores momentos nada tem a ver com a tal Jovem Guarda. Como quando Zeca Pagodinho canta o samba-jóia ‘Coqueiro verde’, um Erasmo Carlos das melhores safras, 1970, acompanhado dos violões de Mauro Diniz e Carlinhos 7 Cordas.
Musicalmente, à exceção de pouco mais que a produção de Roberto e Erasmo – e que só ficaria boa mesmo quando a JG já era precoce saudade – a Jovem Guarda era só roquinhos e baladas de branco, apelidados de iê-iê-iês, americanos, italianos, ou, se brasileiros, copiando o seu chacundum, seu clima caipira e suas letras melosas.
O charme do disco é trazer as canções dos tempos da Jovem Guarda em interpretações de artistas de fora do ‘movimento’ e em versões (como se convencionou chamar) acústicas. Mas, como se viu no caso de Zeca, a amplitude estética é tão restrita que se recorreu a canções de fora. Como, da mesma boa safra de Erasmo, a tão triste balada ‘Sentado à beira do caminho’, por Fernanda Porto. Ou ‘Se você pensa’, por Pedro Mariano, um Roberto Carlos de 1968 começando a sua melhor fase, já influenciado mais pela música negra do que pelo sem-gracíssimo ie-ie-iê.
De fato, da época da JG pouca coisa sobreviveu. Basta ouvir intérpretes do nível profisssional de uma Daniela Mercury ou de um Roupa Nova em canções fragilíssimas como ‘Esqueça’ (versão de ‘Forget it’) ou ‘Pensando nela’ (de ‘Bus stop’), esta com bela performance vocal do conjunto, que jamais entrariam no repertório deles. Ou Fernanda Takai (do Pato Fu) e Rodrigo Amarante (Los Hermanos) cantando, até bonitinhos se fosse cena de um filme nostálgico, a balada ‘Ritmo da chuva’ mostrando que o futuro rock brasileiro nada tem a ver com a Jovem Guarda – o rock brasileiro é originário do tropicalismo (Mutantes) e de influências várias do rock anglo-americano; a Jovem Guarda é, isto sim, origem da moderna música brega brasileira e sobretudo do neo-sertanejo.
Ideologicamente, Caetano abre o disco reinventando, numa daquelas suas certeiras versões voz e violão para babas antigas, ‘Só vou gostar de quem gosta de mim’, sucesso de Roberto, raro exemplo autoral de Rossini Pinto, o maior dos versionistas.
Mas a mais representativa faixa é a de Luiza Possi, na balada caipira ‘Coração de papel’, de Sérgio Reis. Este autor sim mantém-se, até hoje, no espírito original da Jovem Guarda.’