Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O Estado de S. Paulo


‘O diretor do Estado, Ruy Mesquita, foi homenageado ontem pelo programa Observatório da Imprensa, da TVE. Ruy Mesquita, que completa esta semana 80 anos, 56 deles no jornalismo diário, falou da posição atual dos jornais na sociedade e dos caminhos do jornalismo impresso e deu ênfase à questão opinativa.


Segundo ele, por causa de meios de comunicação como a TV e a internet, o leitor já dispõe de muitas informações, o que torna a parte de opinião do jornal tão ou mais importante que o próprio noticiário. ‘Fala-se muito na imparcialidade, mas isso não significa neutralidade, e o que caracterizou o Estado foi sempre o fato de assumir sistematicamente posições em situações graves’, disse. ‘A grande força do Estado sempre foi a página 3’, afirmou, referindo-se à página que traz os editoriais do jornal.


Ruy Mesquita afirmou que o destino da imprensa depende mais da capacidade de completar a informação. ‘A parte opinativa ganhou mais importância’, disse.


De acordo com ele, a entrada dos grupos tradicionais de comunicação em novas mídias, como internet e agências eletrônicas de notícias, ‘é natural e está acontecendo’.


A ALMA DO JORNAL


Para o diretor do Estado, a gestão empresarial do jornal não deve afetar a parte editorial. ‘A redação é a alma do jornal. Se você aplicar à imprensa os mesmos critérios de lucro que as empresas buscam, o jornal estará caminhando para a sua morte’, afirmou. Para ele, se predominar a necessidade de se fazerem concessões em nome da necessidade econômica, não haverá futuro para o jornal. ‘O que dá condições para o jornal ser rentável é o respeito do público, que se dá pela coerência, que é a grande marca do Estado.’


Ruy Mesquita afirmou que o Estado sempre lutou pelo aperfeiçoamento das instituições brasileiras e pela instalação da democracia de verdade. ‘A eleição do presidente Lula consolidou um processo de democratização pelo qual o Estado sempre lutou.’


Dois dos quatro filhos de Ruy Mesquita, João Lara Mesquita e Fernão Lara Mesquita, participaram do programa por meio de gravações. Nos estúdios, além do apresentador, Alberto Dines, participaram o editor de Opinião de O Globo, Aluizio Maranhão, e o jornalista Wilson Figueiredo, do Jornal do Brasil. O programa será reprisado no sábado, às 22h30.’





CASO MAURO RICARDO
Luís Nassif


‘O efeito manada e a mídia ‘, copyright Folha de S. Paulo, 13/04/05


‘Não há nada mais fácil no mundo do que roubar doce de criança, abusar de bêbado e provocar efeito manada na mídia em torno de fumaça.


Confiram-se os ‘escândalos’ envolvendo o secretário das Finanças do município de São Paulo, Mauro Ricardo -assim como o caso da remessa de US$ 12.000 pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles (não confundir com a reportagem da revista ‘Carta Capital’ sobre as empresas ‘offshore’ de Meirelles).


De repente, Mauro Ricardo é jogado no olho do furacão, acusado de ter sofrido três processos. Sai a reportagem, a imprensa passa a repercutir o caso diariamente. Quais são as acusações?


Em 1996, ele foi indicado para a Suframa (Superintendência da Zona Franca de Manaus), um antro de desgoverno, de abusos contra o dinheiro público. Foi um custo a manutenção da sua indicação. Precisou muita reportagem a favor na imprensa para que Fernando Henrique Cardoso ganhasse coragem de mantê-lo, indo contra aliados políticos.


Para roubar, antes é preciso desestruturar. A Suframa estava desestruturada em dois departamentos fundamentais: a procuradoria e a auditoria. A procuradoria era incumbida de defender a empresa nas ações judiciais. Havia um contencioso por volta de US$ 3 bilhões. E não dispunha de advogados.


Foi solicitada ao governo federal autorização para contratar advogados. Havia a necessidade de concurso público. Enquanto corria o taxímetro, para não perder as ações, decidiu-se contratar provisoriamente advogados avulsos. Foi aberto um processo público de pré-qualificação, e se ofereceu a cada selecionado um salário mensal de R$ 2.500. Foi feita a publicação no jornal e foram contratados sete advogados, para entrar em um jogo que movimentava bilhões de reais.


Ao mesmo tempo, contratou-se um auditor aposentado do governo, com experiência em auditoria pública e em Zona Franca de Manaus, para organizar normas e procedimentos.


O Tribunal de Contas glosou o procedimento. Não houve julgamento de mérito, não se imputou acusação de desvio de recursos nem nada.


Era apenas uma questão burocrática de utilizar o procedimento correto -enquanto isto, a Suframa lidando com pendências de bilhões.


O Ministério Público entrou com uma ação de improbidade administrativa, baseada exclusivamente na decisão do TCU. Mauro recorreu, o TCU reformou a decisão.


Mas o Ministério Público prosseguiu com a ação. Chegou até uma juíza, que proferiu a condenação, foi feita a apelação. Mas, nesse ínterim, virou manchete.


A segunda ‘acusação’ foi a de ter repassado recursos para uma prefeitura efetuar uma obra de recapeamento, que estava sob suspeita de superfaturamento. Nem se comprovou o superfaturamento. Comprovado, a responsabilidade seria do prefeito. Virou ação, virou manchete.


A terceira acusação foi a de ter recebido auxílio-moradia de R$ 600 mensais quando foi dirigir a companhia de saneamento de Minas.


Três pedras de gelo, nenhum uísque, e tem-se esse porre geral.’